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sexta-feira, abril 30, 2010


Navalhadinha:

Agora, com o peso da idade, sentia em sí que ia morrer. Seu coração era uma usina de arrependimentos e frustrações sem fim, mas agora não havia mais tempo. Queria que o tempo voltasse, mas isso nunca é possível.
Chorou aquela dor, como nunca chorou, uma criança e um velho ao mesmo tempo. Arregalou os olhos para o seu filho, que assistia sua dor:
-Chama todos, eu quero ver o rosto de todos uma ultima vez...chama...por favor.
Tudo que se ouvia naquela sala, era um relógio.

Luís Fabiano.

Amor pelo navio que afunda.

Houve um tempo em minha vida que tinha muitos “amigos”. Creio que me entendem, um bando de gente que fica próxima de ti, conversam contigo,bebem contigo, sorriem rápido.
Isso é algo fácil de manter, basta chamar, oferecer-se, sempre existe gente disposta, a festas.
Porem quando a merda começa a entrar a cântaros na tua vida, se ficar apenas um, você esta no lucro. Não que isso me preocupe muito, contrário sempre tive uma profunda descrença em relação ás pessoas, aprendi isso muito cedo, com dez anos de idade.
Não me iludo com nada ou ninguém. Absolutamente todos são capazes de qualquer coisa. Isso não me espanta, eu considero natural e humano. Digo sempre isso, as pessoas do aquário. Nada de espanto, não sou pessimista ou otimista, as coisas são o que são, e ás vezes é meio inescapável.
Pessoas que amam são capazes de matar, pessoas que odeiam são capazes de amar, tudo sempre é a motivação, por detrás da capa. Fico calmo, respiro, relaxo e sinto-me em paz. Pois posso receber a “facada”, daqueles que eu amo e que amam, isso não é nada impressionante. Ao menos para mim.
Este foi um tema de um assunto em família, falava com minha mãe tais coisas,ela se espanta, diz que jamais faria algo de ruim comigo. Mas sei que ela teme as próprias reações, todos temem por isso é tão difícil admitir.
O que quero dizer é: na hora que o bicho pega, todo mundo vira bicho, mostrar garras e dentes é fácil, é preciso apenas saber provocar.As vezes faço de propósito.
Deixei o assunto para outro momento.
O telefone toca, não gosto de telefonemas matinais, costumo manter o telefone desligado a noite e na parte da manhã. Tais telefonemas costumam ser perturbados, sempre são problemas, alguém que morreu, alguém que foi hospitalizado,alguém doente, problemas dos outros. Tem vezes que estou saturado disso, cansa, então me desligo, é o que tenho feito ultimamente, me desligo de tudo. Caí na asneira de atender o telefone. Puta que pariu, era Francisco, velho amigo, bem ao menos ele achava-se meu amigo:
-Fale Chico, que passa hã?
-E ai negão, tudo bom cara?
-Sim,sim e contigo?
-Nada bem,to me separando...
-Bem vindo então Chico,ao meu clube...(risos)
-To triste cara,a situação não é fácil, a Rita ta muito doente,mas não dá mais pra segurar,to cansado, ela me cansa, to a horas nessa.
-Tais comendo alguma vagabunda por ai?
-Não cara, nem condições psicológicas tenho para isso.
-Que isso Chico, condições psicológicas? Adorei essa, amigo quando o pau sobe,manda-se a merda a psicologia, o que sobra é um animal, duro. As pessoas adoram disfarçar isso, mas na pratica sabemos que não dá.
-Bom, mas não to pensando nisso agora. To cansado, meio desanimando, não sei se to fazendo a coisa certa, acho que não sei de mais nada, por isso te liguei.
-Pra que estas me ligando então? A vida é feita de pseudo certezas, tu precisa saber exatamente o que queres fazer, para evitar arrependimentos. Isso é crucial cara,não faz nada se tiver em duvida.O segredo é esse.Posso te dizer isso cadeira, tenho muitos defeitos,alias mais defeitos que qualidades,mas nunca me arrependo de nada faço.O que fiz até hoje faria novamente sem hesitar.
-É, mas tu já te separou quantas vezes?Tens prática.
-É melhor nem falar nisso, o numero é maior que as pessoas imaginam,mas tenho evitado de falar nisso, quem sabe se espanta.
-Sei,sei.
-Mas que a Rita tem?
-Câncer, esta muito depressiva , reclamando de tudo, que Deus é injusto com ela, que os parentes não dão bola para ela,me destrata muito, diz que tenho outra mulher na rua,que estou com nojo dela porque ela esta ficando podre em vida, e mais um monte de coisas cara, ela ta me levando o desespero, a tal ponto que não sei se gosto dela ainda, e isso é que me incomoda, não sei se é amor ou pena de deixá-la sozinha.
Comecei a rir.
-Cara isso não tem graça.
-Eu sei, desculpa, mas essa é autentica situação, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Acho que tu tá fodido Chico. Eu não sou um bom conselheiro para estes assuntos, talvez se todas as minhas ex, estivessem doentes, realmente doentes, eu esperasse um pouco mais, faria um exercício de carinho, gentileza e humanidade, não por pensar nelas, mas por pensar em mim, para evitar que eu me arrependa.O arrependimento é capaz de matar cara, tenta evitar isso. Conheço gente que achava que agüentava, depois descobriu que não era possível, choram a alma, mas aí já é tarde demais.
Fico um silencio no telefone, gosto de tais silêncios, geralmente é a hora que alma fala.
-É cara, acho que tens razão, pena é um sentimento muito fodido, mas pode ser menos fodido que o arrependimento.
-É isso Chico, a escolha é tua, espero que sejas feliz.
-Cara tu é meu guru. Valeu.
-Abraço Chico.
Fiquei eu com meus problemas, o cara não tem noção, sou um guru falido, que não consegue orientar a própria vida, vivo fazendo o melhor para mim, tentando apenas ficar em paz, pois a paz é algo assim, você pode importar-se com o mundo ou importar-se consigo mesmo,mas não da pra servir a dois senhores ao mesmo tempo.
Chico não iria separar-se, senti isso, talvez fosse melhor ele aturar a esposa, deixar ela ficar forte ou morrer, e depois, bem depois ele que visse o melhor.
Agora chegava de Chico, voltei para minhas questões mais interessantes, a hora que você precisa mostrar garras e dentes a quem ama...

Luís Fabiano.
A paz é manter-se afiado ou entregue.

quinta-feira, abril 29, 2010



Navalhada Curta: Minha cota imbecil.

Normalmente não respondo nada no transito. Também não respondo nada quando em ofendem, houve tempo que tinha algo a defender em mim mesmo,algo chato, mas atualmente não defendo nada.E vou dizer,me sinto imbecilmente satisfeito.
Basta desconectar-se, dar um foda-se, e a paz de espírito vem, de graça. Tenho agito assim em relação a meus problemas e outras coisas, deixo rolar.
Mas, nem todo dia, é dia.
Quando saí do estacionamento, fazia a volta pela praça principal da cidade, vi que via um pedestre, parei antes da faixa de segurança.
Detalhe, eu parei!! Isso as vezes dá arrependimento, pois a vontade real era acelerar.
Explico.
Quando parei antes da faixa, uma mulher e seu namoradinho, param no meio da faixa e ficam me xingando...apontando o dedo,dizendo umas coisas que na entendi, fazendo cena e se colocando em clichê grosseiro.
Tive aquele momento silencioso, pensei:” Que eu faço? Acelero?Desço do carro e faço uma cena? Faço uma imitação de irritação ?”.
Achei que precisava fazer algo, decidi pelo teatro. Desci do carro rapidamente, fiquei imitando ela, nos gestos. Ela assustou-se, imaginando que eu fosse agredi-la:
-Saí de perto de mim..saiiii...
E eu comecei a imita-lá, na coreografia gestual,e a rir.
Ela ficou muito puta, foi embora me xingando... quase morri rindo,dela e de mim mesmo.
Acho que com o tempo, estou ficando cada vez mais idiota, um idiota completo, divertido as vezes.

Luis Fabiano.

Navalhadinha:

Ela chegou falando sem parar,uma matraca. Sempre foi assim,chata, descontava suas desgraças em quem tivesse por perto. Jorjão sentado,não ouvia nada, remoia seus próprios problemas, sentia-se prensado contra uma parede,esmagado lentamente.
Era preciso fazer algo, agora. Ela não percebeu a tempestade eminente, quando viu Jorjão na sua frente, sentiu um calafrio, era a bola da vez.

Luís Fabiano.

quarta-feira, abril 28, 2010


Trecho “...


-Bom, to achando que cometemos um erro, mas agora é tarde demais.
-Tarde demais- repetiu Bill
-Portanto – continuou Tony,enchendo o copo – já que não há mais remédio ,não custa dar uma olhada.
-Uma olhada?
-É,uma olhada nele.
-Tu tem coragem? –perguntou Bill.
-Sei lá.
-Não tá com medo?
--Claro que to. Não fui treinado pra esse tipo de coisa - disse Tony.
-Ta legal. Tu tira o lençol – disse Bill - ,mas primeiro enche meu copo.Enche o copo,aí tira o lençol.
-Tá – disse Tony.
Encheu o copo de Bill.Depois chegou perto da cama.
Tá legal – disse Tony-,ai Vai!
-Santo Deus!- exclamou Bill - é uma mulher! Ainda moça.
Tony abriu os olhos.
-É.Era moça.Puta merda, olho só essa cabeleira loura.Termina lá embaixo da bunda.Mas tá morta! Horrenda e irremediavelmente morta ,pra sempre.Que pena! Não dá pra entender.
-Pra mim não tá com cara de morta – disse Bill.
-Mas tá.
-Espia só esses peitos! As coxas! A xota! A xota tá até com cara de viva!
-É disse Tony – dizem que a xota é a primeira coisa a gozar e a ultima a se estrepar.
Tony se aproximou e encostou a mão na xota.Depois levantou um seio e beijou aquela porcaria morta.
-Que coisa mais triste,tudo é tão triste - a gente passa a vida inteira feito bobo pra depois morrer que nem besta.
-Tu não devia tocar no corpo - disse Bill.
-Ela é linda,mesmo morta, é linda.
-Sim,mas se estivesse viva,não olhava duas vezes para um pé-rapado como tu.Tá sabendo,né?
-Claro! Justamente por isso! Agora não dá pra ela dizer:”não!”
-Que tu ta querendo dizer porra?
-Tô querendo dizer - disse Tony – que to de pau duro.Duro que é um ferro!
Depois ,voltando para perto da cama,começou a beijar os seios,passando as mãos por aquela cabeleira toda e finalmente,encostou os lábios na boca da defunta,num beijo que unia vivos e mortos.E ai foi pra cima.
Estava ótimo.Tony enfiava e girava.Uma foda como nunca tinah dado antes! Ai rolou de lado e se limpou no lençol.
-Porra, Bill, que bacana, isso foi lindo!
-Ta maluco! Tu acabou de foder uma morta!
-E tu vem fazendo isso a vida inteira – mortas com almas mortas e xotas mortas – só quem sabe!Sinto muito Bill.”

Crônica de um Amor Louco - Charles Bukowski.

Navalhadinha:

“Ela queria que ele sentisse raiva, ao menos seria alguma emoção, que a matasse.Mas não,nada, ficou olhando serenamente para ela e sua amiga nua. Sentou-se, acendeu um cigarro.
Ela vestiu-se, disse para sua amante:
-Vá embora por favor, acho que nada vai acontecer,nunca acontece.
-Tá.
Quando ela bateu a porta,ficou pensando: me mato ou mato ele?
Santo dilema, foi até a cozinha.”

Luís Fabiano.

O prazer da tragédia.

Sou um alienado proposital. Conforme digo para as poucas pessoas que convivo: não preciso saber notícia alguma, porque quando algo relevante acontece, as pessoas falam, repetem e ficam horas fazendo comentários cheios de propriedade vazia. É só ficar escutando.O prazer de cada um.
Mas não sou estático, as vezes mudo de opinião a respeito de tudo, as vezes acho que é melhor ver alguma noticia,fazer um ar de pessoa informada do dia a dia, talvez para ter algo inútil a dizer também, afinal sou filho de Deus, tenho direito a minha cota de idiotice diária, que a vida concede a cada um.No entanto quando isso acontece, escolho algum telejornal, dos diversos canais, tento assistir, o que vejo me deixa enojado.Desligo a tevê.
Dependendo da linha política destes telejornais, o comentário do ancora é por vezes pior que as noticias. Explico. De uns tempos para cá, todos os telejornais dão a noticia, e depois os ancoras comentam um com o outro a referida noticia. Antes apenas alguns ancoras consagrados faziam isso, isso lhes caracterizava um estilo marcante, estilo é importante. Mas hoje virou oba-oba, o cara da uma noticia sobre assassinato,por exemplo, então ele toma partido de A ou B, comenta, julga e alguns caso até já diz uma sentença.Fácil, fácil.
A televisão está cheia de carinhas novas, nada contra o “progresso”,mas acho que se deveria ter um critério. Fico com saudade dos telejornais que apenas davam a noticia friamente, deixando para o publico julgar a situação se assim o quisesse.
Tem alguns apresentadores que chegam a ser passionais, ficam irritados,ofegantes, e dão sua medíocre opinião!Grande teatro. Naturalmente que minha opinião é diferente em se tratando de comentaristas, esse sim, creio que tenha, que expressar sua opinião de forma contundente, em tese o comentarista é mais aprimorado intelectualmente, possui grande experiência, e sabe dimensionar se não o tamanho da verdade, ao menos a proximidade com esta.
Tenho grande admiração por comentaristas de atitude forte, cada vez mais raros hoje em dia.Onde existe uma fabrica de papagaios.
Estes dias via o telejornal de nossa cidade,eis que me deparo com comentários terríveis a respeito dos problemas diversos que a cidade tem, que todas as cidades tem.Achei uma coisa meio covarde,usar um meio de imprensa, para futucar feridas que sabemos que todas as cidade tem, grandes, pequenas ou médias.Digo covarde, porque acho muito fácil apontar defeitos,qualquer imbecil consegue fazer isso,apontar um defeito em alguém todos nós podemos fazer, e fazemos.Enfiamos nosso bisturi ali e ficamos mexendo...
No entanto, ser parte da solução quem o é?
Dizer que a cidade é suja, tem carroceiros no transito, motoristas irresponsáveis, pedestres imprudentes, que existem buracos aqui e ali, que as crianças estão nas ruas, ou que a morte de fulano de tal era algo anunciado...
Posso escrever paginas e paginas deste tipo de coisa, porque é fácil, apontar é fácil. Entendo isso como imprensa corrosiva, marrom, que explora até a ultima gota de lagrima sejam de vitimas ou algozes. Mas que na semana que vem, não tem mais importância alguma, porque existem coisas mais importantes que ocorreram, tudo cai onde deve realmente cair,no vão daquilo que é desimportante, porque não “vende” mais.
Logicamente que minha opinião a respeito disso, é algo profundamente desimportante, eu faço por mim mesmo, por minha alienação.Defendo minha alienação com unhas e dentes. Não gostaria de ser diferente. Uma vez eu já escrevi a respeito, com outra abordagem, que continua sendo verdadeira: não existem notícias novas, nenhuma única noticia é nova, elas são contínuos releases de muitos anos atrás, política, policia, economia, noticias internacionais tudo esta exatamente igual, sem mudar uma única virgula.
E de tanto ver tal repetição, criamos uma nova geração de alienados, os alienados inconscientes, insensíveis e duros, que começam a não importar-se com que esteja acontecendo.
Se matam, se morrem, se estupram, se morrem quarenta mil crianças por dia na áfrica! Que áfrica? A tá, lá na áfrica não é? Que isso tem haver conosco? Ralem-se os que morrem lá, nós temos os que morrem aqui, em nossa guerra informal, do crime e do transito etc...
Mas que não é muito importante também, pois o capítulo da novela que esta no fim, o reality show deste ou daquele canal, que na verdade não passa de irreality show!!
Bom não interessa, ao final o que realmente tem importância, é o dinheiro, quem irá ficar com ele. No fundo não passa disso, um palco de emulação cujo fundo é financeiro.
Estou errado?Gostaria de estar.

Luís Fabiano.
Se a conta está gorda,eu compro a paz.

terça-feira, abril 27, 2010

Dica de Filme: Crazy Heart (Coração louco)

A idade passa, alguns melhoram outros pioram. Jeff Bridges vive um decadente e bêbado cantor country, passou a vida perdendo, mas em dado instante cansamos de perder.
Ás vezes se tenta recuperar tempo perdido, ás vezes dá certo, outras nem tanto. Mas ao fim acabamos percebendo que a única coisa que se tem, verdadeiramente é a você mesmo, você é seu templo ou seu inferno, o restante são coadjuvantes. Para mim o ator está no ponto máximo, ele cantou as musicas do filme e ganhou Golden Globe por sua ótima performance.


segunda-feira, abril 26, 2010


Vacas Magras, fodas gordas.

Houve um tempo em que eu pensava somente com o pau. Isso tinha dois lados, para a mulher que estava na época, era ótimo, ela entendia isso como amor, algo tão vital como ar, este lado era bom.
Ela fazia o perfil que mais me agrada, a safada até o osso, vulgar quase grosseira, sem polidez sofisticada, crua como a natureza selvagem. Isso mexe forte comigo. Pouquíssimas me causaram isso.
Já o outro aspecto,tanta trepada, eu ficava cansado demais para pensar em fazer outra coisa, a não ser trepar e trabalhar, um turno apenas. Nesta época não tinha nada na cabeça, a vida resumia-se ao mais simples possivel.
Com o tempo fui complicando as coisas.
Éramos muito pobres na época. Tudo era racionado. Eu tinha um empreguinho de balconista, um patrão chato,detalhista ao extremo. A empresa não ia bem, ele sabia disso, descontava sua frustração em nós, os três funcionários miseráveis.
A merda é algo curioso, não demorou muito para o Sr Alberto, sua esposa o trocou por um cara mais jovem,estilo tatuado e com muita disposição.Depois não sei o que aconteceu.
Alguém tão detalhista como Alberto, chato demais, torna-se insuportável com o tempo, eu ria sozinho desta merda toda, imaginando que sexo com Alberto deveria ser algo cirúrgico, muito minucioso.
Tudo era contraponto nesta época.Eu fudia demais e me fudia demais também.
Quando chegava em casa, Jeane estava ociosa, desempregada,a casa resumia-se a um quarto e um banheiro em uma vila estreita, o lugar era uma espécie de cortiço.
Faço escolhas estranhas em minha vida, lembro que saí de casa, que era bem melhor, para parar neste lugar. Era perigoso e muito miserável, mas estranhamente, junto a ela havia algo transcendente que não entendia muito bem, não sei se era amor, uma carência mutua, uma pobreza de espírito, ou tudo era o melhor sexo que tive naqueles meses. Não sei.Não gosto de ser tão minucioso com detalhes.
Mas junto a ela estava feliz, comiamos coisas simples, era um arroz com qualquer coisa. Depois víamos uma televisão bem pequena, que pegava apenas um canal, acabávamos indo dormir. Jeane tinha sua cota de quatro fodas por dia. Coisas de ser jovem, eu certamente não trepava tão bem assim, mas ela gostava da função.Acho que o negócio dela era quantidade.
Usava uma saia de jeans, ou minissaia,(coisas que adoro) sentava-se de pernas abertas na minha frente, era o suficiente, não havia muito o que dizer, nos gostávamos.Minha mão subia por sua perna e encontrava a buceta bem molhada, com pelos abundantes. Meu estilo até hoje.
Por aqueles poucos meses fomos felizes. Sem grana, sem bebidas,sem grandes estruturas, mas felizes.
Foi então que arrumei um emprego um pouco melhor no hospital. Ela começou a fazer faxinas, eu comecei a ganhar um pouco melhor,vestir-me melhor também. Não que isso tivesse importância pessoal, mas o trabalho precisava de uma aparência melhorada. Comprei umas duas ou três camisas, duas calças e um sapato. O meu estava furado embaixo,mas ninguém sabia.
Agora quando chegava aquele quarto reduzido, Jeane estava cansada, eu também, no entanto ela queria a foda dela. Mas eu não tava afim, queria ficar jogado numa cadeira, deixando a vida passar um pouco, olhando tevê.
Minhas roupas tinham cheiro de formol,isso a irritava, eu e meus mortos repletos de cortes. No inicio achava o trabalho intrigante, depois você aprende a cortar pedaços bem fininhos dos tecidos,fiquei um mestre com o bisturi.O negócio era tão afiado, que eu passava sobre a pele do meu braço, fazia um corte tão fino, mas tão fino, escorria um filete se sangue mas não tinha dor, acabei descobrindo sozinho isso e outras técnicas.
Passamos a não trepar mais naquele ritmo louco que tínhamos. Para Jeane eu a havia deixado de amar,não havia, apenas as coisas tinham mudado. Um dia chego em casa e ela aos berros:
-Tu não me fodes mais, já faz uma semana que não trepas comigo, tens outra? Estas comendo alguma morta no hospital? As enfermeiras vadias...?
-Ei, Jeane, ei, calma, calma...as coisas mudam...
-Mudam porra nenhuma, se não vais me comer, então vai embora, sai daqui...
Na época não senti raiva, talvez pena, ela não entendia meu cansaço,não entendia nada,e eu não queria ficar explicando.Para fuder quatro vezes por dia é preciso ser vagabundo não fazer nada,simples, faça as contas, quatro vezes por dia, sete dias da semana? Vinte e oito fodas semanais. Cento e doze fodas mensais, mil trezentos e quarenta e quatro fodas anuais? Que isso? Terminamos assim, fui embora enxotado do cortiço, não houve adeus ou lágrimas,prefiro assim, nunca mais voltei lá. Mas Jeane marcou minha existência, minha preferência por mulheres depravadas,chulas, grosseiras, sensuais, putas de corpo e alma.
Coisas que marcam a alma, lembro que na época da grana curta nunca broxei com ela, depois de quatro fodas diárias. Comecei a broxar depois que minha vida mudou, com mulheres assépticas demais, bem comportadas, limpinhas em demasia. Sexo não pode ser somente amorzinho cheio de ternura, é preciso um pouco de brutalidade, um carinho e um chicote.Ainda hoje penso assim, porem não é fácil entender.

Luis Fabiano.
Trecho “...

Mas a diretora da rádio – era uma mulata filha de Oxum,mas falava alemão e gostava de passar por elegante e comedida- me dizia que aquelas notas eram corretas e sensatas.Sempre as qualificava do mesmo jeito.E isso era insuportável.
Desde então me incomodam muito estas duas palavras: correto e sensato.São falsas e pedantes.Servem para ocultar e mentir.Tudo é incorreto e insensato.Toda a historia,toda a vida,todas as épocas foram incorretas e insensatas.Nós mesmos.Cada um de nós,por natureza, é incorreto e insensato, só que nós reprimimos para voltar para o cercado como boas ovelhas, e aplicamos rédeas e mordaças em nós mesmos.
Levei essa vida dupla durante muito tempo:correto e sensato na estação de rádio.Incorreto e insensato no cortiço com Miriam.Ainda não me sentia livre,mas já estava no rumo.A verdade é que não me interessa coisa nenhuma que progrida limpidamente de um ponto a outro, e que se sabia perfeitamente que tal linha começou aqui e terminou ali.Não.Nunca se deve pretender ser correto e sensato e levar uma vida linear e exata.A vida é muito imprevisível.”

Trilogia Suja de Havana - Pedro Juan Gutierrez.

domingo, abril 25, 2010


Sugando vômito de canudinho.

Ultimamente ás pessoas tem falando e escrito coisas muito estranhas. Cheias de julgamentos,sobre mim e meus escritos. Sinceramente eu não entendo, porque, pra mim não a faz a menor diferença. Se gostam ou não gostam, este é um prazer onanista, bem ou mal eu me divirto, não tenho como ser ofendido. Fiquem a vontade, caguem,vomitem, arrotem,peidem, o banheiro é nosso.
Estes dias recebi um email dizendo que; gostaria que eu fosse mais “certinho”,que inclusive minha vida fosse mais normal como a vida de todas as pessoas.Que eu fosse um homem que se apaixona ternamente, que faz tudo bonitinho para sua esposa, um daqueles homens de casa, que passam arrumando coisas no lar, e que ao final do dia estivesse carinhoso sempre.
Escreveram outras merdas semelhantes, mas deletei. Na hora que li isto lembrei-me de minha terceira esposa, que tinha mania de limpeza, alias asséptica demais. Porque este era o sonho dela, que fosse deste tipo. Pedia pra mim fazer algumas tarefas domésticas de final de semana, consertar coisas em casa. Mas eu não tenho a menor vontade ou vocação pra isso. Minha atividade em casa no ponto maximo, é trocar uma lâmpada.Outras coisas acho melhor chamar alguém pra fazer.
Nesta época ela queria que eu fosse como um vizinho, o Marcos, que chegava final de semana, o cara fazia uma revolução em casa, pintava,lavava os carros, batia o tapete, fazia um muro, levava a criança no parque e certamente ainda tinha tempo para uma super trepada.
Eu ficava sentado olhando tudo isso, tomando alguma coisa, só de olhar o cara me dava um cansaço.
Ela ficava profundamente raivosa, dizia algumas coisas elogiosas do tipo: tu és um inútil, tudo eu que tenho que fazer.... aquilo não conseguia me comover.Não sofro de orgulho ferido, aliás nem tenho orgulho.Eu ficava num canto rindo, ela entrava em desespero.
Dizia ironicamente:
-É meu bem, o amor tem destas coisas...
Ela ficava algumas horas sem falar comigo, mas no final vocês sabem, tudo terminava em uma trepada reconciliadora. Alias estas são as melhores, cheia de algo vital que o tédio consome, carinho, tesão e outras coisas.
Não precisava esquentar a cabeça, é só ficar quieto. O que mais a irritava era esse meu jeito calado, não sou de bater boca, discutir, acho coisa de lavadeira e inútil. Deixo as pessoas derramarem o que quiserem encima de mim até que se cansam, como não dou bola, fica tudo bem. Eu sempre venço.
Talvez este email seja dela,não sei. Também não tem importância. Mas fato que se quisesse estar casado estaria, ter uma vida bonitinha assim é fácil. Fiquei pensando a respeito, creio que se essa fosse a minha única opção, eu ter que me converter em um maridinho exemplar e essas coisas que as pessoas esperam uma das outras, eu creio que preferia pular aqui do quinto andar sobre as grades de ferro. Dar-me um tiro também poderia ser, afinal suicídio não é crime.
Não tenho a menor vocação para essa perfeição almejada, cortejada pelas pessoas. Como diz um grande amigo: eu me sinto seqüestrado pela arte.
Possivelmente eu não queira saber de mais nada, faço este estilo, mergulho fundo para ver onde vai dar e se me canso volto a superfície. Não tenho a menor ambição de se exemplo para nada ou ninguém, alias eu creio que as pessoas que não gostam de mim, perdem grande tempo me dando atenção, porque?
Eu já tentei explicar, sou uma espécie de doença.Depois que você tem uma doença durante um bom tempo, você acaba acostumando com ela.
Me dizem muito isso, que queriam que eu fosse assim ou assado.Naturalmente mulheres.Só posso entender que elas estão em desespero. Serei franco. Não sou bonito,inteligente, bem dotado ou rico.Nada disso.Bem o contrário,e ainda grosseiro. E ainda sim existem propostas, eu entendo isso como um ato de desespero, uma patologia.
Não pretendo mudar uma linha de ser, não pretendo me tornar um maridinho exemplar,alias não pretendo ser porra nenhuma.

Luis Fabiano.
A paz é sorver vômito de canudinho.

sábado, abril 24, 2010


Trecho “...


“-Porra, vida é sempre vida e é sobre isso que eu escrevo,cara!Não tem mais nada! Que diabo de historia essa?
Henry Mason solta um suspiro profundo e se recosta na cadeira. Os artistas são uns verdadeiros chatos de galocha,e míopes,ainda por cima.Quanto tem êxito,acreditam na própria grandeza,por piores que sejam, e quando não tem, a culpa é sempre de alguém e não deles,não foi por falta de talento.Mesmo que sejam os piores do mundo, sempre crêem que são gênios .Se julgam melhores que Van Gogh,Mozart ou duas dúzias de outros que esticaram a canela antes de ficar com o rabinho envernizado pela fama.Agora ,acontece que para cada Mozart existem 50.000 imbecis insuportáveis que continuam escrevendo coisas péssimas.Só os bons desistem do lance – como Rimbaud ou Rossini.
Burkett acendeu outro cigarro,mais uma vez segurando a chama do fósforo no ar enquanto falava.”


Crônica de um amor Louco – Charles Bukowski

sexta-feira, abril 23, 2010

Acústico MTV - Ultraje a Rigor – Filho da Puta.

Às vezes falta irreverência, o Ultraje tem isso de sobra. A musica fala boas verdades irreverentes, o ser tem de saber debochar de si mesmo para ser saudável. Quem não ri de si mesmo é um autêntico filho da...
Bom final de semana a todos.


Navalhadas Curtas: De Romualdo a Roma

Que diabos esta acontecendo com mundo?
As vezes acho que tudo esta virado de cabeça para baixo, sinceramente não me importo, é apenas fria constatação despretensiosa.
Talvez eu goste assim, se todas as minissaias do mundo estivessem de cabeça para baixo, elas estariam erguidas acima da cintura, bem isso não é uma má ideia.
Cada vez menos tenho vontade de sair a rua, de ver gente. Não preciso. Mas tenho intervalos de trabalho, e se o Magalhães não me salva, fico perambulando como vagabundo, e neste dia foi assim.
Lá perto do porto encontro uma bixa espalhafatosa, aparentava quarenta anos, produzida dentro daquilo que era o melhor para ela. A achei terrível, nem todo mundo tem sorte.
Quando nos aproximamos, traços daquele rosto me pareceram familiar, e eram. Era Romualdo. Servimos no quartel juntos, naquele tempo ele era Romualdo, hoje...
Ele me reconheceu também, veio de braços abertos me cumprimentar, relaxei. Apenas para constar, quando servimos juntos, ele era da minha Companhia, fazia um perfil algo diferente. Era bombado, puxava ferro, vivia gritando com os outros, e louco por uma confusão. Vi três brigas dele, era bom de porrada. Autentico porrador. Tomava umas porras injetáveis que era para cavalo. Tomava uma dúzia de comprimidos, alguns meio proibidos, ficava muito agitado,nervoso mesmo.
Eu achava um circo de horrores.Divertido. O negócio dele era academia, malhar e ficar muito forte.Cada um com seu sonho.
Lembro que um dia pensei: “puta merda, este cara tá macho demais, isso um dia vai da merda...” Logicamente não sabia do futuro, mas sem duvida algo havia acontecido. Voltei a mim:
-E aí Romualdo, tudo bom cara ?
-Fabianoooo, quanto tempo hein...continuas com a mesma carinha lindooo....
-É Romualdo, é coisa de negro, agente não envelhece assim...
-Eu sei...e são muito fortes...(risos...)
-Pois é, então que mudança hein ?
-Sim, eu agora não sou mais Romualdo, sou Roma que é amor ao contrário...
Comecei a rir meio incontrolável.
Mas eu queria saber como um marombeiro tinha se transformado tanto, mas não sabia se devia perguntar. É preciso saber jogar quando se quer saber algo. Sou hábil nisso. Elogiei suas novas qualidades. Fiz uma associação com esporte radical, Roma riu e confessou:
-Nunca fui satisfeita comigo mesma, mas não queria ceder a isso. Eu não tinha coragem de admitir, numa sociedade de machos, ser diferente é ir contra as regras, então me esforcei para seguir as regras. Mas não deu certo. Comecei a frequentar o meio por mera curiosidade, então quando fui ver, estava de quatro dando a bunda.Uma delicia,impossível deixar de dar.
Falou mais algumas coisas,e convidou-me para uma festa alternativa, disse que ia pensar se iria. Realmente não sei se vou. Roma disse que fará um show nesta noite.
Nos despedimos com um abraço.
A porra deste texto, era para ser uma navalhada curta, mas a realidade impulsiona a contar detalhes.Azar,foda-se.

Luis Fabiano.

quinta-feira, abril 22, 2010


Nem beleza, nem fealdade

Eis aqui,
simples e nu.
Das marcas de minha pele,
Pedaços que perdi...
Fragmentos do meu coração.
Hora de aço,
hora espuma.
Paixão destroçada,
Abraços aos ventos.
Teus beijos achados
E pedidos.
Encontrados.
Ali...
Neste espelho raso
Lacero-me,
me firo,
machuco-me,
me dói.
Me ama.
Pudesse de uma vez,
Rasgar os véus de minhas ilusões.
Mas estou apenas nu aqui.
É tudo que é.
Querem mais,
querem o que
Não é real em mim.
Brilho que não tenho,
uma voz que emudece,
Filhos não tidos,
O amor que não sinto.
Eis tudo que posso dar.
Uma nudez vil,
sem retoques ,
Sem refinos,
sem gosto doce
e sem prazer.
O ultimo gole de cerveja quente.
Não é muito,
talvez seja nada.
Mas é tudo que tenho a dar.
Um imenso copo,
onde misturam-se,
Paixão, raiva, ternura,
eu nu.
Saúde!

Luis Fabiano.



Trecho “...

“ Bom, nos vestimos,nos sentamos de novo na rua.Tomei mais um copo de aguardente e logo fui embora.
Depois contei para Hayda. Algum tempo depois sem dar importância . Na realidade, acho que nunca fui importante para Hayda. E contei isso como uma coisa divertida, porque foi a trepada mais rápida e desastrosa que dei na minha vida.Hayda não se zangou, mas depois discutiu com Caridad.Censurou que ele tivesse embebedado o amante da irmã para trepar com ele.Enfim, esses ciúmes de mulher.
Que eu nunca entendo porque são polvilhados de um egoísmo vulgar, de bolero barato.Só se dever ter ciúme do que vale a pena.Do que é verdadeiramente importante.Não devemos desgastar-nos sentindo ciúmes de tudo.Mas as mulheres não pensam assim .São capazes de sentir ciúme ao mesmo tempo e com igual intensidade e veemência do marido,do amante e de dois namorados.Têm muita habilidade para a vida.Ou muito sentido pragmático.
Essa historia ficou soterrada muito tempo entre nós três.Mas hoje estávamos de novo sozinhos, Caridad e eu.A filha estava brincando na rua.O marido andava por ai.Agora pesca.Já se esqueceu do beisebol.E me ocorre dizer a Caridad:”Se tivéssemos uma garrafa de aguardente...lembra aquela vez?”
-Não. Se tivéssemos uma garrafa de aguardente não acontecia nada.
-Por quê?
-Porque tem gente que quando bebe deixa de ser homem.E fica com a língua solta.Fala demais.
Continuamos assim. Por pouco não me expulsa da casa. Segundo ela, eu sou um merda miserável porque contei para a irmã dela. É a que tem maiores direitos sobre mim é ela, que foi a primeira. Ah, que confusão. Nunca entendi muito bem todos esses valores éticos com direitos e deveres. Sou um cínico . Assim é mais fácil. Pelo menos para mim é mais fácil.”

Pedro Juan Gutierrez - Trilogia Suja em Havana.

Saco Cheio.

Por vezes bate um tédio. Aí sempre inventando alguma coisa pra fazer, ou fico mais quieto ainda, até que passa. Acabo entendendo que em dado momento tudo cai na sua realidade. Essa é repetitiva, mecânica, uma engrenagem para nos mover, fazer o que tiver que ser feito. Cotidiano, monotonia.
Fiquei pensando nisso, não adianta a mais profunda e refinada emoção, ou os abismos sem fim da dor, ao final ambos acabam causando tédio, amor ou ódio, dias de verão ou noites intermináveis de inverno.O ser humano não é diferente da natureza.
Já tinha resolvido este dilema quando o telefone tocou.Não sei, eu não gosto de atender telefone, pode ser um trauma desconhecido, ainda mais a noite, sempre tem alguma propósta as vezes inocente demais. Não gosto muito de inocência, sempre soa a algo meio falso. A maioria dos que se dizem inocentes, estão culpados até o ultimo fio de cabelo. A voz de Simone no telefone parecia meio fanha, talvez ranhenta não sei:
-E ai Fabi? Em casa? Vamos bater um papo, tomar uma gelada...essas coisas.
-Ei calma, estas parecendo uma metralhadora .Tenho preguiça de sair de casa.
-É tu sempre tem, as pessoas precisam te ver cara...
Comecei a rir. Melhor para elas não me ver.
Simone é uma coroa interessante, tem sessenta anos e consegue manter um olhar de menina, tetas grandes, boa pele. Deve fazer reposição hormonal. Nos conhecemos no serviço, a atendi particularmente algumas vezes, mas nunca rolou nada. Por isso digo, ela me vê como o amigo do coração. Eu a vejo como uma boa trepada, talvez um dia. Não gosto destas posições, amigos do coração geralmente não trepam. Fica tudo naquela aspiração nevoenta, cheia de pureza espiritual, isso nem é humano.
Disse:
-Simone, não quero ver nada ou ninguém, eu já vi tudo na vida daqui onde estou. Ao final são pessoas e nada mais, previsíveis como todos.
-Fabiano, um papo, uma ou duas geladas apenas...vai ser bom, não vai te arrancar pedaço?
Pensei em perguntar se ao final iriamos transar? Mas não fiz, acho que deveria ter feito. Economiza tempo.
-Ok, Simone, no bar da esquina o Dom.
-OK, em meia hora estou lá, beijo fofo.
Saio de casa, sem vontade de sair,não esperando nada, porque nada acontece.Tenho essa perspectiva de encarar a vida. Nunca espero nada, acabo sempre no lucro, gosto de pensar que a vida deve ser uma surpresa, mas no fundo sei que não é. Quando se vê as coisas como vejo, não há surpresas, tá tudo pronto. Saí de casa sabendo que seria uma perda de tempo. Não costumo errar.
Chego no bar, Simone esta lá com uma amiga e um outro cara.Puta que pariu, caí nesta cilada.Um par de casais não conversam nada de presta.Quando via cena, já comecei a sentir saudades dos meus livros, minha solidão.Agora era tarde.
Fui apresentado, a única chance de tornar aquilo interessante era ficando um pouco bêbado. A cerveja veio, tomei uns goles e não tinha comido nada.Logo me senti melhor.
Percebi que o tal de Caio não gostou muito de mim. Fiz questão de irritá-lo um pouco mais:
-Então Caio, qual é teu time?
-Sou Xavante, com orgulho e coração.
-Sei.
-E tu, pelo jeito és Pelotas...?
-Não, detesto futebol. É que não tinha nada pra dizer, como noventa e nove por cento dos homens gostam de futebol, talvez isso fosse um pontapé inicial...um gol...
-É...
A meninas conversam sobre qualquer coisa, mulheres juntas falam de tudo, tem sempre assunto, pode ser a maior merda do mundo,são inimigas do silencio, ficam falando, falando. Por fim, o casal “amigo” ,cansaram-se e foram embora. Pensei em tentar seduzir Simone, talvez a tal trepada saísse.
Ela ficou falando do serviço, das dificuldades que tinha, a falta de grana, que agora estava interessada em espiritismo, havia se encontrado na vida. Parei de escutá-la. Me afastei. Fiquei com meus pensamentos bêbados: porra, como eu to sem saco para essas coisas de sedução. Creio que se uma mulher qualquer não chegar esfregando a buceta minha cara, eu não vou ficar batendo papinho besta para ela abrir as pernas. Ei facilite as coisas...
Emulando aquela sedução lírica, cheia de carinho, papo furado e falso romance. Talvez eu fosse cheio de carinho, se Simone apenas dissesse: ”Vem Fabi, me come bem gostoso, me faz gozar.” Isso economiza um tempo enorme. Mas iria acontecer, ela esperava que dissesse algo. Não disse nada.
Tomei o resto de cerveja e levantei, ela ficou me olhando:
-Que vais fazer?
-Tchau Simone, boa masturbação.
-Que isso cara...que isso...
Mas eu já estava longe demais.

Luis Fabiano.
A paz ás vezes é um saco vazio.

quarta-feira, abril 21, 2010


Navalhadas Curtas: Improvisação

Chegar bêbado em casa é uma experiência que eventualmente me ocorre. Sem problemas, as vezes é uma festa, um bate papo nos botecos mal freqüentados da cidade. Nestes lugares encontro gente de verdade, sem artificialismos, são o que são. Nisso tudo, a cerveja vai descendo tranqüila, gelada e sem contra-indicação.
Um dia estava num destes bares, já tinha esgotado a paciência, era melhor ir para casa, deitar, adormecer lentamente. Quase um paraíso.
Quando chego em casa, minha irmã o noivo estavam muito a vontade, não dei bola. Fiquei olhando um pouco televisão, não tinha de bom. Estava me mijando.Quando resolvi ir no banheiro, ambos estavam tomando banho.Não esquentei a cabeça.Deixei passar o tempo. Passou quase uma hora, definitivamente aquilo não era um banho.Eu entendia.
Comecei a andar pelo apartamento,a procura de uma solução, não desceria do quinto andar para mijar na grama, embora a idéia tivesse me ocorrido.Pensei também em abrir a janela e fazer lá de cima, como um chafariz.Mas não.
Procurei um balde, todos estavam ocupados, mas que porra! Tinha a impressão que não iria agüentar, foi quando olhei a pia da cozinha: tão linda, tão limpinha em aço inox brilhante, hesitei um pouco, por fim a vontade venceu os escrupulos.
Abri bem a torneira, tirei o bixo pra fora,hummmmm.
Comecei a rir sozinho enquanto mijava...

Luis Fabiano.

Pérola do dia:

“É preciso trepar com a vida, quem o faz é feliz.”

Luis Fabiano.

terça-feira, abril 20, 2010


Trecho “...

“Atravessava uma fase de azar ou tinha perdido o talento. Foi Huxley, ou um dos seus personagens, creio eu, que disse em Contraponto: ”Qualquer homem pode ser gênio aos vinte e cinco anos: aos cinqüenta fica bem mais difícil.” Ora eu estava com quarenta e nove, o que não é cinqüenta - faltavam alguns meses.E já andava devagar, quase parando.
Tinha lançado, recentemente, um pequeno volume de poemas: O Céu é a Maior Buceta que Existe, que me rendeu cem dólares quatro meses atrás, e agora esse troço virou preciosidade de colecionador, cotado a vinte pratas nas livrarias de edições raras. Nem sequer tinha um exemplar de minha própria obra.
Um amigo, se aproveitando da minha bebedeira, havia roubado o único que tinha.Amigo?
Andava azarado. Genet, Henry Miller, Picasso e ao sei quem mais, me conheciam, e no entanto não conseguia emprego nem para lavar pratos.Tentei num restaurante,mas só fiquei uyma noite com minha garrafa de vinho.Uma gorda descomunal,sócia da casa, proclamou: “Mas este homem não sabe nem lavar prato!” Fui despedido naquela noite.Mas a todas essas,já havia bebido duas garrafas de vinha e comido metade de uma perna de ovelha que haviam deixando bem atrás de mim.
De certo modo era terrível fracassar desse jeito, mas me doía,acima de tudo,lembrar que tinha lá em São Francisco uma filha de cinco anos, a única pessoas que eu amava no mundo, que precisa de mim, e de sapatos, vestidos,comida, carinho, cartas, brinquedos e, de vem em quando ,uma visita.”

Charles Bukowski - Crônica de um Amor Louco.

Alma de porco espinho.

Um momento breve e sereno,
brilho de uma estrela
Beleza repleta
de sua poesia.
piscar de olhos,
provocante,
Desejoso, indecoroso.
Cria de um universo.
Entre sim e não.
Verdadeiro e ilusório.
Assim ficam,
comunhão de desejos silenciosos.
Nenhuma ação.
Um espera pelo outro.
Seus machucados falam mais alto,
feridas cicatrizadas,
ás vezes tornam a abrir.
Entre prazer e dor.
Ficam em segurança,
segurando-se,
lentamente morrendo,
só e juntos.
Sem risco,
sem vida,
sem emoção,
sem nada.
Fitam o céu a espera,
Mas nunca não chovem glórias
ou felicidades.
Nunca é assim.
Tão fácil,
tão gratuito.
Agora estão fatigados demais.
Massacrados por suas dores,
por um
Grito que não conseguem calar,
é preciso
Abraçar algo,
alguém...
Correm um para outro.
Desespero,
amor,
fé e desejo misturam-se.
Emoção bruta. E
Explodindo veias,
Rasgando a alma.
Naquele dia nasceram novamente.
Não percamos mais tempo,
não nos percamos mais.
Nunca mais.
Nunca mais.

Luis Fabiano.
De tanto querer um dia...


segunda-feira, abril 19, 2010


Confundindo as Bolas.

Sou um cara que não me choco com nada. Acho que não tem porque, basta olhar um pouco o mundo que se vive, puta que pariu, acontece tudo e qualquer coisa. E logo-logo a mídia se encarrega de tornar barato qualquer coisa.
Como um veneno que você vai tomando pouco a pouco, até ficar tão anestesiado que tem a impressão que tudo sempre foi assim e que nada vai mudar. Autentica droga digital. Claro que no fundo não me importo com isso, foi apenas uma constatação.Tenho pensamentos esparsos, vagos e deixo ser assim, dá uma boa sensação.
Geralmente minhas manhãs são de plena vagabundagem mental, leio algumas coisas, fico pensando algumas besteiras e vomito uma ou outra aqui. Mas naquela manhã não seria desse jeito, fui atender um novo cliente, não conhecia o cara, mas achei a voz dele muito fina no telefone, tudo bem.Sem me conhecer elogiou minhas qualidades técnicas, que fulana de ta tal disse que eu era bom.Achei meio papo furado, sou apenas a porra de um técnico comum, cuja a qualidade varia devido as circunstancias.
Já tive cliente chato, que desisti de atender, porque gosto de fazer por prazer e pela grana, mas essa historia que o cliente tem sempre razão, realmente não é comigo. Ele pode ou não ter razão, ás vezes o cara é um tremendo burro, e não tem o que fazer. Foda-se.
Tentei me animar um pouco, fui na casa do cara.Uma bela casa,mas não me impressiona isso, ter muita grana,aparências perfeitas. Só aparências, pra mim basta olhar uma privada cheia, bem entupida, que se sabe que ali tem muito do ser humano.
Quando cheguei a porta, fui bem tratado, um senhor da voz fina que havia me chamado, muito tranqüilo sem pressa.Geralmente querem que eu resolva tudo correndo.Sentamos um pouco na sala para conversar antes de eu ver o problema.
Educado demais, homem pode ser educado mas nada em excesso.Aí fiquei sabendo que era solteiro,mas a casa impecável, muito feminina,ele mesmo decorou. Entendi, não era preciso dizer nada. O cara não fazia questão de esconder-se, gostei disso.
Me mostrou a sala do computador, que ficava em uma imensa biblioteca,muito bela, gosto muitos de livros.Tudo ia bem.Me senti a vontade, e o cara também, talvez a vontade demais. Sentou-se ao meu lado e num gesto inesperado, colocou a mão no meu joelho. Senti o drama. Lembrei-me na hora de uma vez que estava em uma casa de jogos, tinha dezenove anos, um cara fez exatamente a mesma coisa, passou a mão no meu pau também. Não tive duvidas naquele tempo, dei um soco direto no olho cara, que saiu correndo meio assustado. Ninguém ficou entendendo nada.
Mas a situação era diferente, apenas olhei para ele, sorri e disse:
-Talvez não seja uma boa idéia.
-Hum...desculpe senhor Luis.É que...
-Tudo bem, não explica nada, sou um cara que não tenho preconceitos de nada, apenas não é a minha, não me toque.O resto é tranqüilo para mim.
-Certo, certo, tu me desculpa, foi uma coisa de tentação...
-Ok, entendo.
Ficamos em silencio um pouco, mas ele não parecia muito contente. Eu estava terminado o conserto, praticamente havia me esquecido dele. Quando terminei, voltamos a sala, era o final da manhã, me ofereceu uma bebida, fiquei meio tentado, mas não, eu tinha que trabalhar a tarde. Então me pergunta querendo puxar papo:
-O senhor é homofóbico?
-Não, nada disso. Não tenho nada contra a nada,apenas tenho minha preferência. Tenho amigos que são casados, do mesmo sexo, muito felizes, tenho outros clientes que são gays, tudo tranqüilo, beijam-se na minha frente, nada me choca. Quero que as pessoas sejam felizes.
-Existe muito preconceito. E mesmo tendo uma posição como a minha, muita gente me olha atravessado.
-Não tem o que fazer, atitude mental e ética é coisa de evolução. As pessoas tem outros problemas em si, descontam em ti, é mais ou menos por ai. As pessoas estão sempre dentro de um aquário.Agem do mesmo jeito,previsível.
-O senhor é bem articulado Sr.Luis.
Comecei a rir, articulado nada, sou cínico disse:” E tu ta querendo que eu te coma.Relaxa não vai rolar.”
Ele riu também, soltou-se. Disse:
-É, é mesmo...
-Deixa de papo furado e da minha grana que vou embora.
-Claro, claro, tá aqui.
Peguei o dinheiro e sai de lá. O velho queria amor, mas comigo não dava.
A memória é terrível, sai de lá lembrado, quando estava no quartel, tive um colega que disfarçava bem, enganou todos, os tenentes e outros oficiais. Mas o negócio dele era dar pra todo mundo, quando tirava guarda.
Muitos colegas comeram ele, assisti as cenas algumas vezes, mas o cú dele não me chamava atenção. Um dia estávamos de guarda ,era madrugada, ele estava na guarita, baixou a calça e disse:
-Ei, ei olha aqui...
Aquilo não era um cú, era um túnel negro.
-Obrigado, fica pra outra vez.
Ele não ficou nada satisfeito, nunca ficam. Mas a historia dele não terminou bem, um dia pegaram ele no banheiro e expulsaram ele, com todas as desonras que caracterizam.
O velhote de voz fina, só queimava a postura que dos gays. As coisas não precisam ser assim, homossexualismo e perversão não são sinônimos, ás vezes as pessoas confundem tudo.Que merda.

Luis Fabiano.
A paz ás vezes é não ficar com cú na mão.

domingo, abril 18, 2010

Dica de Filme: Amores Brutos (amores perros)

Considerado um dos mil filmes melhores do mundo.É pra quem tem estomago e coração,um caleidoscópio de situações aparentemente isoladas que envolvem cães, pessoas e amores profundos.
Cada um pensa em si, enquanto cães machucam-se e morrem, mostrando hora seu carinho, hora sua brutalidade, como as pessoas que tornam-se passionais, amam, agridem-se e agridem por amor,querem desesperadamente ser feliz assim.
O filme vai mostrando pouco a pouco fragilidades,expondo visceralmente com toda força o fundo das emoções humanas, começa por aparências,depois as coisas torna-se reais.Bonitas e feias.
Os cães são pano de fundo, subconsciente humano, forte, brigando e desejando. Prestem atenção em especial, em uma rinha sangrenta de cães.


Luis Fabiano.

Navalhadas Curtas: Conselhos.

Tem sempre gente querendo me aconselhar. Talvez tenham boas intenções, mas eu nunca pergunto conselho para ninguém, nunca aconselho nada também, detesto me intrometer na vida alheia.
Dia destes um colega, que tenta candidatar-se a amigo, possivelmente depois deste escrito vai esquecer a idéia. Todos são sensíveis demais.
Disse-me ele:
-Fabiano, deverias arrumar uma namorada, alguém.Precisa casar cara...
-Pra quê?
-Por que aí podemos fazer programas de casal, sair juntos etc..etc..
Pensei comigo, lembrando da mulher dele, uma baixinha arretada com longos cabelos negros, seios bons e coxas gordas, bem gostosa para minha ausência de padrões. Talvez fosse interessante transar com ela. Eu estava pensando sério.
-Mas tu acha que tua esposa irá topar?
-Como assim?
-Claro cara, programa de casal, eu arrumo uma mulher, saímos os quatro, fazemos troca de casal e essas coisas, um bom programa, já fiz isso, tenho alguma experiência, costuma ser excitante...
Vagner fica me olhando e meio rindo amarelo, achando que estou brincando. Mas quando olha bem nos olhos, percebe que falo sério, explica-se:
-Não cara, não é isso que tava pensando, não gosto destas coisas, tu tá louco?
-Calma brother, relaxa, tava pensado em algo diferente, só isso...não quer tudo bem.
-Cara, vai te fuder, não dá pra falar contigo.
Foi embora pisando pesado.
Fiquei rindo, pensando:”nossa quanta sensibilidade...”


Luis Fabiano.

sexta-feira, abril 16, 2010


Navalhada Curta: Tapa cheio de amor.

Mexer no baú da memória é isso. Fica a poeira no ar.
Na época andava a pé pela cidade, era bom, cheiro da rua, da noite. Não gostava de estudar, mas a função de ir e vir, parar em botecos com colegas, beber qualquer porcaria,vodka misturada a um refrigereco, bom ficar levemente alto.
Aquele dia vinha sozinho, subindo pela Osório, eram vinte e três horas e alguma coisa, quando passo na frente de uma escola, ouço uma discussão dramática, em seguida o inconfundível som de um tapa, aqueles de mão cheia.
Paro na hora.
Um casal discutia freneticamente, o cara não hesitou, deu uma porrada certeira,deixo cinco dedos na cara dela. A mulher cai no chão, todos que ali estavam ficaram estáticos. Novela da vida real, fodam-se “reality shows”. Surpreendentemente, a mulher levanta-se, segue sua ladainha, como se nada tivesse acontecido:
-Pedro, eu te amo, não faz assim comigo Pedro, volta pra mim Pedro...por favor Pedro...
Pedro andava rápido, queria livrar-se dela, mas era pior que merda de cachorro no sapato.
Na época pensei: ”baita vagabunda, adora apanhar. Pedro, dá mais uma porrada nela,ela vai gostar...vai gozar a cadela.” Nelson Rodrigues dizia: mulher adora apanhar,mas homem não gosta de bater.
Se ele tivesse visto aquilo.
Pedro sobe numa moto, ela gruda-se nele, ambos saem noite a fora em alta velocidade, não sei que fim deu aquilo, mas o amor é assim mesmo, de vez em quando precisa de movimento pra não morrer,um tapa, um chicote,uma puxada de cabelo e lambidas sem fim.
Aquele dia a trepada deve ter sido muito boa.

Luis Fabiano.

Tudo Fala

Quando se está em silêncio,
ouve-se tudo.
Até as coisas que são mudas, mortas.
Gosto de me ouvir quando estou assim.
Sons inarmônicos,
vozes que se distorcem.
Tive um desses momentos.
Olhos param de piscar,
fico olhando o nada
Ouvindo, ouvindo-se...
Algo congela-se,

a bebida não desce na garganta,
A fumaça não vai para o pulmão.
A fronteira entre o profundo e o raso.
Lucidez involuntária, acidental.
Ali fiquei,

olhando uma janela de vidro,
Ficava entre andares de um outro prédio.
A única coisa que podia ver,
Pernas, pedaço de pernas.
Do joelho para baixo.
A voz das pernas.
Sorri um pouco...
Vi algumas passarem.
Passou uma bem fininha,
usava saia curta.
Branca como gaze,

salto alto.
Essa falou alto.
Uma tatuagem negra nela ficaria perfeita,
A benção da natureza.
Contrastes da perfeição.
Não precisava ver mais nada.
Aquele pedacinho dela era perfeito.
Escutei-a com carinho.
Se foi pelo corredor.
Carregou um pedaço de mim,
Um pedaço feito de rara ternura.
O resto dela não importava mais.
O resto sempre corrompe o que é puro.
Como a alma fala pelos pincéis,
Pela pena, pela perda.
Foi como tivesse a beijado, o
Primeiro e inesquecível beijo.
Voltei a mim.

Luis Fabiano.
Uma fotografia não fotografa nada

quinta-feira, abril 15, 2010

Poema:

Compartilho com vocês um lindo poema de Bukowski lido por Bono, vocal do U2. Não é preciso dizer nada.Curta e vaá com tudo.




Navalhada Curta: Educação a moda antiga.

Vivemos em tempos de ideais politicamente corretos. Vão a merda com isso. O politicamente correto tem um fedor de cinismo brutal. Quando vejo gente falando em politicamente correto, percebe-se de cara, tais pessoas nunca se fuderam na vida.
Como diria Bukowski,”somente dementes, loucos e pobres sabem o sentido da vida, o restante faz apenas idéia.”
Vinha pelo calçadão, olhando aquele imenso aquário humano, então me sai de uma loja famosa, a mãe dando alguns petelecos no filho desobediente, nada demais, um pequeno tapa na bunda, apenas para ele não esquecer o ocorrido.
Até diminuí a velocidade para olhar.
Algumas pessoas ficaram “chocadas” com tal atitude da mãe: onde se viu? Bater no menino? Que horror. Alguém queria chamar um guarda, essas coisas de pessoas que não cuidam bem da sua vida, tem tempo para vida alheia.
A mãe muito elegante,linda , não tinha jeito de pobre, bem vestida,bom sapato e cabelos muito bem arrumados. O menino chorou apenas um pouquinho,em seguida parou, foi para os braços da mãe.Ela saiu muito tranqüila.
Os segui.
Na quadra seguinte o menino estava sorrindo, brincava feliz.
Fiquei pensando, nestas pessoas que defendem a torto e a direito as crianças. Não estou falando de espaçamento brutal cujo fito final é maldoso, estou falando de educação. Um tapinha hoje pode corrigir o muito do amanhã. As vezes ficar só no papinho não adianta, a vida não nos ensina no papinho bonito, é se fudendo pesado que se aprende.
Que merda, pensei nestas notícias de todo dia, de adolescentes que nunca apanharam na vida, de boa família ,boa educação, boas escolas, um belo dia matam, se voltam para drogas,para o crime de toda sorte.
Sou a favor da educação, não violência, apenas isso. Acho que essa permissividade da proposta atual de educação, não educa ninguém, é uma notável fabrica de monstros, de pessoas que acham que podem fazer o que quiser, porque não dá nada.
Detesto este assunto.

Luis Fabiano.

quarta-feira, abril 14, 2010


Trecho “...

“ Cuidado pessoal, tenho feito musculação.
Vou só beber meu vinho e já vou.
Chega de papo furado e vamos direto ao que chamam de “arte”.
Estilo.
Estilo é a resposta de tudo.
É um jeito especial de fazer uma tolice ou algo perigoso.
Antes fazer uma tolice com estilo, do que algo perigoso sem estilo.
Fazer algo perigoso com estilo, é o que
Eu chamo de arte.
Uma tourada pode ser arte.
O boxe pode ser arte.
Amar pode ser arte.
Abrir uma lata de sardinha, pode ser arte.
Poucos têm estilo.
Poucos mantém o estilo.
Já vi cães com mais estilo que os homens...
Apesar de que poucos cães tem estilo.
Gatos tem muito mais estilo.
Quando Hemingway estourou seus miolos ,teve estilo.
Há pessoas que dão estilo.
Joana D “Arc tinha estilo.João Batista, Jesus, Sócrates,Cesar, Garcia Lorca.
Conheci homens na prisão com estilo.
Conheci mais homens na prisão com estilo do que fora.
Estilo faz a diferença.
O jeito de fazer.
O jeito de ser feito.
Seis garças tranqüilas na beira de um lago...ou
Você ,saindo nu do banheiro sem me ver."

Charles Bukowski – Discurso do Estilo.

Tive a grata satisfação de encontrar na internet, um filme de 1982, que conta a vida louca de Bukowski, numa interpretação de Ben Gazarra, é sensacional. O filme leva o nome, de um dos mais famosos livros de Bukowski – Crônica de um amor louco.
O discurso acima foi tirado do filme, ele bêbado, com uma garrafa de vinho na mão, diante de uma platéia mirrada de debochados. O filme fala por si, repleto de marginalidade autêntica e sem maquiagem, afinal este é o segredo, não maquiar nada.

Luis Fabiano.

Doença Feliz




Doença Feliz.

Ninguém gosta de estar doente. Alguns gostam, mais aí a coisa é mais grave, que as banais aparências. Uma coisa é certa, a escrotidão da alma humana é sua doença mais grave. Pegue qualquer pessoa, chafurde no fundo de sua alma, certo que você encontrará merda fresca e cheirosa.

Tive todos estes pensamentos depois que encontrei Clarissa. Aparência é algo foda, mente tudo, até os ossos. Trabalhamos no hospital juntos, na época era muito gorda, enfermeira, foi atração a primeira vista. Eu era casado e jovem demais cheio de tesão, ela era conhecida no hospital, a fama de uma vagabunda autêntica. Amigos já haviam dito que Clarissa era quente demais...Clarissa oh yes...


Fui conferir. 

Realmente uma gordinha maravilhosa, um belo sorriso, uma boca de capaz de nos catapultar diretamente para o paraíso. Adorava oral, era uma especialista.Como se tivesse uma buceta na garganta. Você sabe, existem mulheres que te chupam, mas fazem por estética e agradecimento, no fundo não gostam de ter um pau na boca. Não tem problema... e outras fazem disso um dom.

O homem sempre percebe, uma mulher que não chupa com a alma, é apenas mais uma chupada, talvez até um cachorro chupe melhor.
Nossa primeira vez foi em uma das camas de paciente, recém usada, lençóis sujos mas muito tranqüilo. Me chamou pelo telefone interno:


-Vem aqui...tem uma surpresa...
-Aqui onde?
-No andar debaixo ao teu, não vai ter ninguém, a sala de procedimentos...
-OK, to indo.

Parei de fazer o que estava fazendo, desci. Chego lá, abro a porta devagar e lá esta ela, com aquela saia branca, algo erguida, mostrava as meias brancas e pernas muito grossas.Adorei. Parecia ter saído de uma sexy shop ou filme porno. Cheguei devagar perto dela, nossas bocas se colaram com fome, sede e muito tesão. Ela fez tudo sozinha. Baixou minhas calças e ficou ali, sugando com desejo.

É bom ver uma mulher fazendo isso. Me senti o mais macho da Terra.Ficamos assim um bom tempo. Então fomos para cima da cama, ela ficou ali em bom meia nove, me ofereceu a maior buceta que já vi na vida. Adorei, gozamos um na boca do outro. Minha cara ficou toda lambuzada, o gosto dela era fantástico. Queríamos seguir, mas não dava, o local, poderia chegar alguém. Fiquei pensando naquela bunda enorme dela.


Gostaria de pô-la de quatro, fazê-la gozar assim. Aquela bunda gigantesca, talvez meu pau nem alcançasse lá, mas tudo bem ,iria tentar, diria para ela na hora:”isso minha porquinha gostosa, mexe essa bundona, mexe gostoso...”


Trepamos mais algumas vezes, depois eu troquei de hospital, nos distanciamos e nunca mais a vi.Mas ficaram lembranças na minha mente, na verdade não ficou nada. Só vim a me lembrar disso porque tornei a encontrá-la estes dias. A reconheci pelo rosto e pela boa é claro. Fisicamente parecia outra pessoa, estava muito magra, magra demais alias. Creio que se fosse assim tão magra na época, talvez não tivéssemos tido nada, ela fatiaria meu pau com os ossos pontudos.
Ia passando pelo corredor:


-Clarissa?
-É, Fabiano?
-Sim sempre, puxa guria que bom te encontrar.


Ela sorri timidamente. Nos abraçamos, vejo que esta casada, fico contido, talvez não seja melhor perguntar o telefone, quando vamos sair etc...etc...
Visto a aparência de um cara sério. Pergunto:


-Então Clarissa, como estas elegante, magra como manda a moda, estas muito bonita...

Fica um certo silencio na conversa. Algo esta errado, então ela dispara:

-É que estou muito doente, Fabiano...câncer...

Engulo meio a seco, mas permaneço firme. Digo:

-Bem, nem tudo na vida ás vezes é para o mal. Estas muito linda assim magra, conforme a estética atual, onde tudo mundo deve imitar uma vareta de bambu.
-Acho que preferiria estar gorda, muito gorda e saudável.
-Clarissa, não se pode ter tudo, tudo tem seu preço.Sei que é uma merda estar doente, mas tenta aproveitar algo de bom que possa proporcionar. Doenças graves costumam trazer grandes mudanças.
-Todo mundo fala que vou me curar,mas to cansada, mas eu não sei, tenho muito medo de morrer, deixar marido, uma filha...
-Bom então tenta não morrer, uma coisa é certa, tudo na vida é possível de ser alterado, tudo, mas é preciso ser autêntico e verdadeiro no desejo.


Meu olhar percorreu o corpo dela, estava magra demais, sem bundona, sem tetas, sem coxas. Era a sombra do que tinha sido. Puta que pariu, olhei para cima, talvez Ele tivesse alguma razão desconhecida.Sempre tem.


-Pensa nisso Clarissa, tu estas muito bem para os padrões atuais, para mim nem tanto, gosto de carnes com alguma gordura...rimos


Ela sorriu disse:”tu lembras como eu era ne ?”
-Mas claro, adorava...
-Safado, tu não vais amadurecer nunca, cara ?
-Não to preocupado com isso...tanta madureza as vezes é uma merda...


Ela precisava ir, eu também precisava trabalhar.

Nos despedimos, trocamos emails e msn para não perder o contato. Disse a ela que escreveria algo sobre ela. Disse que usaria o primeiro nome.

Nos abraçamos novamente, ela sorriu como antigamente, um belo sorriso.
Não sei qual o final desta historia, mas ela parecia feliz naquele momento, talvez seja isso, a vida vale por estes momentos mágicos, ás vezes por uma futilidade estética. Na verdade tudo muda sempre, nunca se sabe o próximo capitulo.Mas quando penso nela, sinto ternura e respeito, não tem nada haver com a doença, mas quero que fique boa, essa é a coisa real ao final.



Luis Fabiano.

Magra, gorda, afinal qual o peso da alma?

terça-feira, abril 13, 2010


Pérola do dia:

" Não precisa colecionar amores pequenos,
tenha apenas um grande."

Magalhães.



Verdade Nua.

Quando acordei, ela estava lá.
Luz e sombra de meus sonhos, pesadelos.
Naquela noite não dormira bem.
Alguém tentava me matar,
sempre tentam,
mas acordo na hora agá.
Me safo de mim mesmo.
Porque não posso sonhar com coisas mais amenas?
Como um buquê de bucetas rosadas ?
Acabo rindo de minha auto-palhaçada.
Não me levo a sério.
Acho que a ninguém.
Ás vezes o ser humano é ridículo demais.
Sozinho, parece que fica pior.
Fico olhando no escuro, o escuro.
Penso em verdades se esfumaçando,
Melhoro o pensamento,
penso nelas despindo-se.
Assim fica melhor.
Mais humano.
A verdade dança suavemente
Quase como uma serpente.
Tão linda,
tão perigosa.
Foi tirando o vestido vermelho.
Estava sem sutiã.
As tetas são lindas,
Pouco importa que sejam caídas,
duras ou com pêlos
nos mamilos.
Não importa.
A calcinha branca como algodão,
Não esconde nada.
Gosto assim.
Nem tão pura, nem tão suja.
Nem tão limpa.
Fica assim longe, insinua-se
Para mim já basta.
Não quero toca-lá,
Não quero que mude,
faça o que quiser.
Acho que me deixaria morrer assim.
Excitado.
A verdade nua,
com uma longa katana na mão.
Vem pra mim,
Num golpe seco, atravessa meu coração.
Sem volta.
Nos últimos estertores da morte,
Ela ainda dança nua a minha volta.
Bom demais morrer assim.

Luis Fabiano.
Para a paz, dispa-se agora, não amanhã.

segunda-feira, abril 12, 2010


Trecho “...

“...o que é uma perda de tempo infernal - como tudo, aliás que não seja uma boa trepada, um dia de sorte na máquina de escrever, um período de convalescença ou a crença cega que se possa ter numa espécie de amor & felicidade futuros .
No fim todo mundo vai parar mesmo no penico de excrementos do fracasso – na morte ou no erro, dependendo do nome que cada um preferir.
Não sou homem intelectual, mas acredito piamente que a gente deve se adaptar ao que vem pela frente, o que se poderia chamar de experiência, ainda que não se tenha muita certeza de que junto com ela se adquira sabedoria. Além disso, é bem possível também que uma pessoa passe uma vida inteira de erros constantes numa espécie de estado de torpor e horror.Você já viram esses rostos, eu já vi o meu.
Quando me surge pela frente essa baita mulherona, uma enorme baleia de gordura fedorenta saudável, se encostando em mim com toda aquela bola de sebo, esmigalha os dois olhinhos, a boca e o resto contra a minha cara e pergunta:
-Quanto esta dando o primeiro cavalo?
-Ah, minha senhora, vá se fuder, cai fora, não atrapalha, vê se te manca!! Te arranca daqui!
Ela se arrancou, o prado vive cheio de gente maluca. Os portões nem abriram direito e já estão chegando

Crônica de um amor louco - Charles Bukowski.

Navalhadas Curtas: Uma manhã.

Trabalhar sábado pela manhã é um tédio necessário. Normalmente sou acordado cedo pelo despertador, o restante é tudo no automático. Fazer barba, tomar café e sair.
Mas não naquele sábado. A vida é uma surpresa ás vezes, nem sempre boa, mas curiosa. Quando fui pegar o carro no estacionamento,outro carro havia bloqueado a saída. Avaliei a distancia, não dava pra sair. Normalmente não gosto de importunar ninguém, estava a ponto de pegar um taxi e tudo certo.
Mas o zelador disse:
-Esse carro aí é do setecentos. Ela sempre deixa aí, mas hoje teve azar.
Sorriu sozinho. Entendi a colocação. Fui até o setecentos.Bati a campainha, a porta se abre:
-Ta bem, tá bem, já sei, sei...
Não precisei dizer nada. No entanto a senhora abriu a porta como estava vestida para dormir, um baby doll, lindo rosa transparente. É claro que ela não é nenhuma modelo.Uma senhora por volta de sessenta anos, muito obesa, com imensos pares de seios próximos a cintura,coxas flácidas. Confesso que achei ótima.
Desci para esperá-la.
Quando ela chega, a surpresa segue, ela foi como estava, adorei, pude ver as tetas com mais detalhes, muito grandes e com bicos bem grossos e pontudos. Gosto de bicos assim. O cabelo parecia uma espécie de guerra inacabada, um tornado a havia atacado, olhos remelentos e semi nua. Uma imensa calçola lhe cobria as partes intimas, um grande fraldão branco, muito bom aquilo, o zelador também achou. Riamos para ela, mas ela nem bola. Tirou o carro e ainda me agradeceu. Parei o carro ao lado dela, dei uma última olhada para as tetas murchas e disse:
-Eu agradeço...

Luis Fabiano.

domingo, abril 11, 2010

La Barca - Luis Miguel.

A musica é uma poesia. Alguém parte, o tempo passa, mas não faz passar um sentimento tão grande, tão lindo, que nem distâncias,nem abandono ou mesmo as sombras da alma humana ,nada faz com que se altere.
Um dia porém, a barca a trás de volta, nada será como era antes, tudo será novo, porque o amor é assim, desconhece tempo ou julgamentos.
Estaremos sempre esperando o teu regresso.

Luis Fabiano.

sábado, abril 10, 2010


Remando das trevas, para luz ( A vida de Márcio)

Gostamos que na vida tudo tenha uma explicação limpa e lógica. Mas somos nós que queremos isso, ninguém se importa. Quando penso nisso vem a questão do destino em minha mente. Será que Deus resolve estas questões arbitrariamente? Por convicção sei que não, seria muito injusto esperar do Pai amoroso que ele nos estuprasse lentamente, com carinho e ainda dissesse que a culpa é nossa?Não.
As vezes quando vejo a vida de algumas pessoas, parece que não há escolha. A pessoa nasce naquela condição, tudo determinando para o caminho “esquerdo”, sem chances de talhar algo bom em sua vida.
O resto da historia nos sabemos, termina sempre do mesmo jeito. Parece que aquelas pequenas vozes ocultas do ser humano, se fazem ouvir,um sussurro, na mente, no coração, os filhos da puta, anjinhos e demônios, disputando mais uma alma no jogo da vida.
Quando nos mudamos para a Cohab Fragata, posso dizer que foi uma mudança radical. Era longe de tudo, realmente muito longe, mas a casa era nossa ao menos, era que meu pai dizia. Antes morávamos mais no centro da cidade, mesmo lá, eu tinha apenas dois ou três amigos, nunca fui de muitas amizades, sempre preferi mais a minha solidão.
Custei muito a fazer amigos no lugar novo. Estava com onze anos e tentei aprender a jogar futebol, já que era só que lá se fazia. A praça era muito boa,bem organizada, mas futebol não era a minha. Meu pai me deu a real:
-Tchê, futebol não é pra ti, és muito duro. Perna de pau mesmo...
Lembro que não fiquei triste, era uma realidade. Não jogo futebol e também não danço, é uma falta grave, já que consideram que quando se é negro, tem que se saber isso por consciência racial. Mas não meu caso, tenho orgulho disso.Prefiro ser inglês nos modos.
Foi nesta praça de futebol, que conheci Márcio. Na época pensei que era melhor não tê-lo conhecido. Ele era magro, franzino, tinha cara de mau e gostava de brigas. Vi ele espancando um colega na época, bateu até sair sangue.Apenas apreciei a luta. Vi o riso na sua cara. Mas estávamos todos na praça.
Logo fui avisado que o Márcio era um marginal, que deveria me cuidar dele. Entendi o aviso. Um dia ele veio falar comigo, nos apresentamos. E fomos tentar jogar futebol. Eu era muito ruim. Quando alguém é ruim assim, costumam colocar no gol. Virei goleiro e tomei muitos frangos. A cada gol que tomava, Márcio vinha furioso para cima de mim. Tenho uma péssima qualidade, sou muito paciente. Me tirar do sério não é fácil, escuto muitas coisas, relevo quase tudo que ofende, me sinto muito bem sendo assim.Gosto de absorver golpes.Tive duas oportunidades de perder o controle, confesso que não foi bom para ninguém, me machuquei e machuquei muito outras pessoas.É bom deixar demônios bem guardados.
Neste dia eu me desentendi com o Márcio, tivemos uma briga, nos machucamos bastante. Não sei se apanhei eu bati mais. Mas a partir daquele dia tudo foi diferente. Minha mãe ficou conhecendo a mãe dele, da pior maneira possível.Aquela briga rendeu.
Ali a historia de Márcio apareceu.
Eles eram pobres, mais pobres que nós. A casa de Márcio era um barraco quase caindo, o pai dele estava preso, havia matado um cara por vingança, eles tinham a caçula. Lembro que quando a vi naquele lugar imundo, enrolada em uns panos sujos, me senti muito mal, o lugar tinha um cheiro terrível, uma mistura de merda, urina e fuligem. Eles não tinham comida, o fogo era no chão, com alguns carvões em brasa. A mãe de Márcio, Dona Maria, tentava sustentar aquela família ali, sozinha, até hoje não sei o que ela fazia.
Algumas vizinhas diziam que era prostituta.Talvez fosse mesmo, não sei.Marcio era uma revolta em pessoa, por tudo.Minha mãe fez eu apertar a mão dele,eu fiz, mas lembro que nunca mais confiei nele.Tenho estas fatalidades.
Fomos todos crescendo, aprendi a evitar Márcio e as brigas. No entanto todos íamos notando que ele estava ficando cada vez pior. Sempre metido em brigas, depois vieram as drogas, os furtos. Um dia apareceu todo quebrado, haviam batido muito nele, perguntei com satisfação de vê-lo assim:
-Que houve Márcio?
-Me cagaram a pau.Mas eu vou pegar cada um deles, sozinho, vão pagar muito caro o que fizeram, são uns covardes, eram cinco contra mim.Mas eu vou fuder eles.
Havia uma raiva real nele. Teria sua vingança, mais tarde vim a saber disso. Ele era um tipo muito duro, não teve escolha, era endurecer para viver, para não passar fome. Tínhamos a mesma idade, ele não sorria nunca. Tudo que saia dele eram agressões, nunca ficava relaxado. Mantinha os meus outros colegas com medo dele. Tinha orgulho disso, de ser o mais temido entre nós.
Um dia Márcio e sua família desapareceram. A casa foi abandonada, nunca ficamos sabendo que tinha havido, para onde Márcio sua mãe e família haviam ido.Pensamos no pior. O barraco abandonado, parecia habitado por fantasmas. Fomos lá ver, nada, a casa quase caindo. Nesta época eu comecei a trabalhar, contava com quinze anos, me distanciei de tudo, de amigos de estudos. Passei a curtir musica.
A musica passou fazer uma diferença imensa em minha vida. Meu primeiro três em um, um bom aparelho de som, a coisa que mais sonhava. Gastava minha grana toda em discos de boas bandas, Rush, Pink Floyd, Led Zepellin, o melhor.
Então um dia no calçadão eu tornei a encontrar Márcio. Agora bem maior, mais forte, repleto de cicatrizes, cuidando carros na sete de setembro. Quando me viu chamou:
-E aí Fabio? Beleza hein...
-Márcio? Bá cara quanto tempo, achei até que tivesse morrido meu...
-Não morro Fábio, sobrevivo.
-E então Márcio, me diz, que aconteceu contigo cara?
-Faz tempo né? Só me fudi na vida Fábio. Desde que me mudei la da Cohab, passei a morar na rua, tava cansado de tudo. Cansei da minha mãe, da minha irmã sempre chorando.Abandonei tudo. Entrei numas de roubar, tava até me dando bem, eu quero só a grana, nada de muita violência. Só uns tapas.Mas aí os “home” me pegaram.Me trancaram,me encheram de porrada, fiquei la uns meses. Me chamavam de ladrãozinho de merda. No inicio aquilo me assustou um pouco, mas depois acostuma. Quem apanha de de cano de ferro, agüenta qualquer coisa nada vida!
-Márcio depois disso, aprendeste alguma coisa? Ficaste melhor?
-La ninguém fica melhor, agente saí pra ficar pior. Mas não sei, eu tinha em mim algo que era pra me afastar da vida difícil, mas não via pra onde ir? Sabes como é, tudo era pra dar errado, Fabio, ser honesto é muito difícil. Fico com aquela coceira puxando para o mal, as vezes eu caio. Mas ai, eu conheci a Joana, minha preta.
-Tais casado Márcio?
-É, minha preta e eu, tenho duas meninas, fico me virando pra dar de comer pra elas.Minha preta trabalhar muito, fico aqui cuidando carro, fazendo alguma correria daqui e dali. E vou levando. Falando nisso Fábio, não tens nenhum ai pra me dar uma força...
-Tenho Márcio, fica com estes dez aí...
-Grande Fábio magnata, ta bornado hein...parece te desse na vida...se tu fica rico tu não vais mais conhecer os amigo?
-Para com este papinho Márcio, eu apenas trabalho e tive um pouco de sorte, é isso, na vida é preciso ter um pouco de sorte também.
-E a esposa?
-Que esposa? Não to casado, to separado de umas quantas, mas ninguém faz muita questão de me ver. Normal.
-Cara tens que ter umas “cria”, uns ranhentinhos pra cuidar, faz bem, eu gosto de minhas filhas, e quem tocar nelas eu mato...
-Não sei Márcio, acho que cada um tem sua história, a minha não é com filhos, não é com casamento, nada disso, fico sozinho sempre.
-É to ligado, tu sempre ficava olhando a turma de longe, não se misturava...qual é ...
-Da bola não cara,ainda não me misturo,gosto de ver os outros de longe mesmo.
-Mas deixa eu te falar Fábio, agora me chamam de Nego-Mel .
-A troco?
-Só gostoso Fabio,( riu ) a minha preta que me apelidou assim, gostei combina comigo.
Nosso papo ficava cada vez mais surrealista, a vida dá voltas, parece que Nego-Mel, tentava remar para a luz, a vida é difícil, mas agora ele até sorria,será mesmo que ele encontrou o caminho?
Talvez Joana, como a Maria Lúcia, mulher de Santo Cristo na historia do Faroeste Caboclo, musica do Legião Urbana, acontecia na vida real? Nego Mel o santo cristo de Pelotas.
Dei a grana pra ele, fui embora, antes de ir embora ele me abraçou e me desejou sorte, fui embora ,e o vi de longe cuidando carros, tentando organizar a vida. Não sei o que senti, mas uma coisa era certa, estava feliz por Nego-Mel.

Luis Fabiano
A paz, é tentar remar lentamente para o melhor.