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quarta-feira, agosto 31, 2011

“ Bundófilo “

Eu que não sabia de mim
Como ideia sem eco
Corpo sem alma
Olhos que dançam nas órbitas
Perseguindo-a incansável
Gingando malemolência
A cada passo

Ela anda com graça e descaso
Saltos altos que quicam
Como a força de ovos que se quebram
Ela mexe a promessa do paraíso
O berço das agonias
Hipnotizando-me em selváticos desejos

Sou isso e nada mais
Animal no cio eterno
Cavalo excitado com o cheiro de sua égua
A verga que desponta desafiadora
Aos olhos de Deus
Ela requebra sem requebrar nos passos discretos
A bunda magica dos meus sonhos
Que peide, cague e feda sem fim
Mas que ame
Tanto quanto eu a amo

Desnuda e cega
És treva do esplendor
Inspiradora de minhas punhetas sem fim
Alegria e regozijo dos meus desalentos
Pois descobri o que sou...
Nos errantes descaminhos do querer
O Bundófilo de alma...

Luís Fabiano.
Momento Boa Música

Chico Buarque – As Vitrines

A música é uma delicadeza que permeia nossa alma no assalto da beleza



Encurralado


Puta que pariu, é tudo que posso dizer, como um lamento enclausurado de minha alma, prisão densa de minhas limitações, estertor de forças que se perdem sem esforço. Um pensamento que vaga como onda impetuosa, em direção a nada, encontrando nos junto a entranhas na praia, se diluindo na areia.

Não me revolta com a realidade, pois isso é tolice e perda de tempo. A única revolução possível parte de nós mesmos, em uma solidão tão profunda, um ringue onde enfrentamos nosso pior inimigo. Não paro de pensar o porquê, um martelo golpeando minha mente fazendo em frangalhos meu coração. E então, como benção malditas do tempo, nos reconstruímos e somos levados ao poço das indiferenças lacerantes e contumaz. Como somos filhos da puta maquiados. Enforcamos nossos melhores ímpetos com elegância maldita.

Tenho todas as explicações filosóficas e evolucionistas da natureza dolorida da razão humana, mas nada, nada consola o aplaca o grito animal, o urro da alma.

A rua estava tranquila naquele horário de meio dia. Pessoas comiam em restaurantes, alimentam-se, aplacam a fome, fazem sua fotossíntese. Eu caminhava como um vagabundo, meus passos lentos como uma lesma leprosa, olhando a paisagem, sorvendo o tempo como um vampiro feliz, de consciência tranquila em meio a tanta merda, como ser diferente?

O canalha bastardo é uma nota que entoo com orgulho. O filho da puta fio de navalha, ou você odeia ou ama. Não há meio termo, o que de certa forma nos força a verdade. Não pode haver dissimulações feitas de sorrisinhos amarelos, não pra mim. Não.

Mergulho na existência com toda a intensidade, vivendo tudo em alta velocidade, os freios ficam esquecidos. Sou o verme que se você deixar entrar na alma, e vou te amando enquanto te devoro e me deixo devorar.

Ele vinha vindo de bicicleta. Uma bicicleta velha meio destruída, enferrujada, pintura totalmente gasta. Foi parando devagar, parecia algo desorientado. E a encostou no meio fio. Quando viu que estava em segurança, como um apelo de ancora para que ficasse firme ao meio fio. Então se sentou no mesmo meio fio. Diminui meus passos, fiquei atento. Então colocou a cabeça entre as mãos e a baixou num gesto que sem uma única palavra queria dizer: não aguento mais...

Rosto desgastado, sujo, roupas puídas, dentes podres, um cheiro que mesclava suor e merda, era um asco. Sentia-se asqueroso, a bicicleta era seu bem e a Barroso também. Queria ficar plantado ao meio fio, queria virar asfalto, pedra, queria ser qualquer coisa sem vida, queria que a morte viesse agora, agora... por favor...

Meu coração se confrangeu dentro de mim, uma lesma que se contorce em uma chapa aquecida. Realidade infame que nos viola, um estupro pacifico, silencioso, sem gemidos ou lagrimas de dor. Endurecemos-nos como o asfalto. Olhei para meu relógio, não tenho tempo pra nada. Agarrei-me a esfarrapadas possibilidades, e mesmo vendo tudo isso passei, porque é assim. É preciso endurecer o intimo transforma-lo em pedra, converter os outros em criaturas abandonadas de Deus, afinal ele também esta indiferente, e a porra dos anjos? O que fazem esses merdas? Voando em céu imaginado e lambendo o divino rabo?

Voltei a mim, os passos pesaram como chumbo. Olhei o céu, o sol brilhava indiferença, meus sentimentos setas de apelo apontado em todas as direções, queria salvar, me salvar. Enquanto meus carinhos raspavam o chão, misturando-se a sujeira, querendo criar raízes em meio a tanta dureza. Arrancar em meio impossível, a pureza e as esperança. Desejei que o próximo passo fosse feito de asas, leve e mais livre.
A Barroso ficou tão estreita...


Luís Fabiano

terça-feira, agosto 30, 2011


Navalhadas Curtas: Armário...?


Tenho caminhado mais pelas ruas que o normal, necessariamente não sei se é uma boa ideia. Não sou adepto do esforço físico ou tão pouco esporte. Deste ultimo então tenho ojeriza, tenho pra mim que esporte mata, não existem atletas longevos então... quer morrer comece a se exercitar...
Outra, sou um antisocial convicto...então...

Nestas caminhadas encontrei um velho conhecido. Esportista, forte, musculoso, o Adônis dos tempos modernos.

-E ai Juliano, tudo bom? Quanto tempo cara... bah...
-É verdade Fabiano... que saudade do nosso tempo de quartel...que tempo bom...

Achei aquele assunto começou meio estranho, mas...segui:

-É vero Juliano, que tu tens feito?

Para me responder, se aproximou muito de mim, colocando a grande mão sobre meu ombro, numa intimidade sem sentido... mas logo entendi. O armário havia se aberto...

-Eu virei cabelereiro... to muito feliz né...quando nos conhecemos a vinte anos atrás eu ainda era homem...agora Fabiano eu sou outra(o)...
-Porra cara que legal, estas felizes?
-Sim muito feliz, foi uma barra com mamãe e papai... mas depois só foi...
-Legal Juliano, então viva a vida meu camarada.
-É verdade...eu vivo e muito ohhh

Despedimo-nos, ele queria me beijar, mas achei melhor não. Fiquei pensando, a vida muda tudo mesmo, conheci um cara mal encarado e fortão há vinte anos, agora fui apresentado a outra pessoa.
A felicidade tem caminhos misteriosos mesmo.


Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica







segunda-feira, agosto 29, 2011


Rum

Destampar a garrafa
É abrir as pernas da fêmea amada
O cheiro pulsante
Forte secreção de desejos
E sonhos em silencio inflamado

Levo a garrafa ao nariz
Como um transe mediúnico
Sem entidade espiritual
Mergulho em sugestivo sonho
Aromas de amor

Ela esta despida com pelos não aparados
Na xoxota, nas axilas e na bunda
Um pouco suada do dia
A pérola em alto mar marejada de cristal
Sirvo-a em um copo largo com uma pedra de gelo
E tudo se torna paraíso sem promessa
As doces caricias intimas

Do gosto macio descendo pela garganta
Na boca o frio...
Na garganta a lava do vulcão
Acordando meus instintos mais brutais
A ferocidade do Tigre
Quero fode-la com um bom cinto de couro
E tapas fortes na bunda linda
Quem embala meus sonhos

Agora já não há volta
Vou bebendo mais de sua alma
Embriagando-me de sua espectral imagem
A realidade torna-se turva
E desmaiada textura
Diviso a fronteira onde os espíritos nascem
Onde o humano morre

Tomarei mais um cálice
Para que nada se cale
Nas perversões de minhas esperanças

Abraça-me no meio das tuas pernas
Serve-me de quatro e quente
Ama-me até quase o ultimo gole de teu sumo
Seja minha por inteiro
Sem gelo e pura
Com aquele brilho dourado de sol

Luís Fabiano
Áudio Poema

- O Veneno -

Poema e voz
Luís Fabiano






O whisky de Marivera


Gosto daqueles que se destroem paulatinamente. Castelos que o tempo abençoa com as ruinas, com o desgaste, a tinta que descasca, o corpo que implacavelmente queda-se ante o peso da vida, dos vícios, desta aventura louca que é estar vivo neste mundo de merda e mel.

Assim os desprezíveis se tornaram meus mestres, os viciados de toda sorte, ladrões de alma, assassinos, os mendigos os meus heróis sem final feliz, com o gosto asqueroso da vida verdadeira, e com janelas que se abrem para o nascer do dia, o sol, a fuga e o próximo gole. Foi cultivando as minhas piores virtudes que conheci sem querer, Marivera.

Na época uma grande amiga havia se hospedado em sua casa. Andou enfrentando uns problemas viscerais, que a levaram a um beco sem saída. Não quero falar disso. Puta merda, quando não há saídas, é preciso cavar uma, ainda que seja em si mesmo, neste momento, encurralado só existe uma...

Depois disso, Marivera que também não fazia o perfil mais excelente de normalidade, entrou em cena ruidosamente. Curiosamente, ela é da área de saúde mental, psiquiatra ou psicóloga não sei. Não poderia ser melhor. Tudo me parecia uma imensa novidade contraditória naquele momento.

A vida de Marivera em casa, era a poesia do caos buscando balburdia. Achei isso belo. Em seu estado normal, falava alto, reclamava e falava demais. Essa era parte ruim. Mas toda moeda tem duas faces. Possivelmente por minhas afinidades de insanidade, acabei gostando da outra face.

Passei a frequentar a casa de Marivera, em primeiro fito de visitar minha amiga, depois como sempre, as coisas mudaram. Minha amiga melhorava a olhos vistos, e isso era muito bom, no fundo quero que todos sejam felizes e se deem bem. Gosto muito dela.

Porem, hábito não faz o monge. Visitava-as sempre a noite, após as vinte e duas e trinta, quando normalmente saio de meu trabalho. Para mim um horário perfeito, a noite começa sempre e todos os dias após isso. O momento onde abro o meu coração filho da puta, e deixo a madrugada entrar nele lentamente como sereno, vou me tornando o paraíso ou inferno que a noite sussurra. Entre os vícios e o amor, as melhores coisas da vida.

Acabei ficando intimo de Marivera. Ela tinha o excelente hábito de depois das vinte e três e trinta, sentar-se a mesa com um imenso copo de whisky, caprichado, colocava roupas mínimas de dormir e ficava aquela mesa, bebendo silenciosamente com olhos perdidos em um horizonte sem fronteiras, fumando um cigarro atrás do outro automaticamente, com olhos apagados e as vezes algumas lagrimas.

Tudo aquilo pra mim era a cena de um problema, um maremoto anunciado. Tenho faro aguçado para carências de todos os tipos. Faro de tigre, e para um tigre todos são presas, mesmo os mais próximos. Acho que sou realmente assim.

Então passamos a nos sentar os três a mesa. Marivera, eu e minha amiga. Não preciso dizer que em algum momento pensei em uma festinha com as duas. Seria fantástico. Whisky mexe com meu sistema nervoso, como o rum, fico mais louco que de costume, deixo a imaginação e a putaria rolar sem freios, gosto de fazer o devaneio da insanidade e urrar quando ejaculo, gritar como um animal furioso, entre a raiva e o amor.

Mas com as duas não rolou infelizmente, a oportunidade não apareceu ou ambas não eram tão loucas quanto eu. Minha amiga devido as circunstancias extremas, havia “perdido” a buceta. Mas não Marivera. As noites avançavam cada vez mais, conversávamos muito. E Marivera soltava-se mais, bebia mais e começou a tomar umas bolas, para apimentar as coisas. Dizia:

-To muito desanimada, to cheia de problemas, então neste momento fico solta...tu não te importas né...

Ela me fez um olhar significativo, engolindo um comprimido com whisky. Aquilo foi gasolina na fogueira. A alça do baby doll havia caído do ombro deixado parte das imensas tetas a mostra. Minha amiga talvez pressentindo o perigo no ar, inventou algo e foi dormir.

Então comecei fazendo uma massagem nos ombros de Marivera, ela sorria, gemia baixinho. Eu estava com uma ereção tremenda, meio alto e com vontade de fazê-la engolir toda a minha porra. A massagem desceu para os seios, então ela levanta-se rapidamente derrubando as cadeiras, e nos beijamos na mesa da sala. Minha mão desceu a xoxota, e estava inundada, com cheiro forte, como gosto, meti dois dedos com facilidade ela sorria, e sem perder mais tempo, a penetrei na sala de frente ao um crucifixo, tendo a madrugada como testemunha, enquanto Marivera berrava como uma cadela no cio, a puta redimida pelo diabo. Aquilo foi bom como olhar a Monalisa.

Tenho certeza que todos na casa escutaram nossa trepada alucinante, sua filha, as empregadas e minha amiga. Gosto da discrição das pessoas. Todos se comportavam, nos dias que sucederam como se nada houvesse ocorrido. Essa limpeza de posições é meu deboche original, como mijar na sala.

Passamos a repetir isso quase todas as noites, bebidas e muito sexo selvagem. Gosto disso. A poesia de olhar distanciado ficou pra trás, e nos convertemos no que somos, animais cheios de desejos, com putaria no sangue, com alma puta e sonhos que se desfazem, afogados ao prazer. Tem coisas que não interessam.

A merda dos sonhos, ante o ataque frontal da realidade inviolável, é um picolé que se desfaz ao sol. Pensava isso agora. Mas a bem da verdade, Marivera sã, sem suas drogas e bebidas, era uma pessoa insuportável, pesada como um chumbo sem asas, falando todas as merdas de seus problemas intermináveis, reclamando e gritando. Porem um copo de whisky depois... poderia fazer par com a virgem Maria.

Mantivemos isso por um bom tempo. Mas como já sei, tais coisas estão na disposição para o desgaste, o consumo que se consome e mergulha desaparecendo em lembranças suculentas. Boas lembranças. Sou um punheteiro romântico e eterno, enquanto escrevo pacificamente, estou com uma ereção eterna, e minha alma inflama-se como a baba do demônio. Pois assim se vive. Dou-me inteiramente a vida, me entrego ás vagas impetuosas da existência, da paixão e do amor.

Quero beber o gole mais forte da vida, me consumindo entre a dor e o amor, suando, sangrando e em paz, como uma prece ao Criador, a minha prece entoada a cada dia, a cada abraço, a cada revolta, a cada sorriso.


Luís Fabiano.


domingo, agosto 28, 2011

Momento boa Música

A voz doce e melancólica de Calcanhoto acrescentou dor a música, linda.







Macho de sete...

Gosto de números impares
Como inquietações e desassossegos
Sem pares tediosos de encaixe perfeito e surreal
Modorra enfadonha de certezas previsíveis como a morte
Sete sorrisos
Sete lagrimas
Sete menstruações
Sete vaginas
Quatorze seios
Algumas almas
E poucos pelos

Sinto-me ejaculando eternamente
Nadando entre recifes e corais
Vez por outra
Alguém se fere
Não posso fazer nada
Todos aprendemos do pior jeito
Existem momentos que tudo transcorre bem
E nada voa em minha direção
Nem facas, dentaduras, cuecas sujas ou porta retratos

A maioria delas não quer por inteiro
Querem montar o quebra cabeça faltando peças
Uma perna, as mãos o pau...
Detestam minha alma canalha
Se pudessem sugariam minha alma pelo pau
Ficariam mais felizes
Minha alma a porra em suas gargantas
Mas não acontece
Sou a dor que gostam
A promessa sem realização
A verdade que não dá repouso
A lâmina abandonada sobre a mesa

Mas tudo se transforma
Não sou como as estações
A existência aponta os caminhos
E agora deixo minha embarcação mais leve
Deixando coisas pelo caminho
Isso é a única coisa que importa
É estar em paz enquanto lanças transpassam a alma
Quando o açoite estala entoando musicas de agonia
Mas seja como for
Sou macho de sete.

Luís Fabiano

sexta-feira, agosto 26, 2011

Momento Mestre

Nelson Rodrigues – A Vida como ela é

-A Futura Sogra-




Talos de mim

Ela recorta flores tenras
Em vasos de cristal
Desfruta a vida na morte delas
O verme devorando entranhas
Enquanto a saudade
Rasga, dilacera e rompe
O grito que não alcança outras galáxias
Asteroides riscando esperança
O coração ecoando incansável fluxo

Sente saudade do vampiro
Dos dentes afiados perfurando sua carne
Os hematomas
Restos doloridos do amor
As porradas atordoantes que a levavam a outro mundo
Sente falta de outra dor em sua dor
A dor que é ponte
Para o outro lado

Ela corta margaridas
Rosas vermelhas
E lírios
Deixa-os no talo
Como se sua alma estivesse ceivada
Na ânsia de encontrar irremediável paz
A puta bandida sorridente chora
A vagabunda Divina não voa
A virgem de porra nenhuma goza giletes
Mas ali
Apenas a mulher saudosa

Excita-se quando se lembra dele
A ponta do amor enredada nas tramas do desejo
Sua alma amarrada aos seus pentelhos
Vampiro...vampiro...
Vem matar-me uma vez mais e sempre
Vem sorver minha vida aos poucos
Meu sangue, minha merda, minha dor
És a desgraça que me faz bem

Essa foi sua prece...
Por que putas também oram
E naquela noite infame sem fim
Tudo foi silencio e mutismo
Deus e o Diabo estavam de folga
Os ratos e ambulâncias ainda estavam ali
E como sempre
Ela estava entregue a si mesma
Como eu e você.

Luís Fabiano



quinta-feira, agosto 25, 2011


Brutal e Doce

Passei por Rosane na rua, e num olhar ambos nos reconhecemos. Cumprimentei-a, escavado a memória, lembrando-me das boas punhetas que pra bati em homenagem a ela, quando éramos ambos mais jovens. Ela sempre foi mais velha, mas aqueles olhos verdes e cabelos pretos eram... hoje nem tanto.

O rosto sulcado, os olhos sem brilho, o entardecer sem musica, o tempo trabalhando decepções, cultivando dores. Convidei-a para um cafezinho, ela aceitou. Normalmente sou suave, mas o brutal, como um monstro que se retorce dentro de mim, nasce como um bom pedaço de merda... sem polidez, puro, feio e verdadeiro.

Disse-lhe secamente:

-Sabe Rô, tu animaste muitas e muitas punhetas minhas...

Ela me olha, surpresa e presa em silencio, como se estivesse congelada, chocada, deveria ter corrido mas... É preciso causar isso ás pessoas... ali ela sentiu que estava viva, fugiu da morbidez.
Sorri como um bom canalha, Rô não foi embora. Aquilo era uma concessão subentendida de silêncios e orgulho algum prazer.


Luís Fabiano


quarta-feira, agosto 24, 2011



Navalhadas Curtas: Porão dos gnomos


Ela estava um muito alta, um coquetel humano de felicidades adquiridas, drogas, bebidas, cigarros e outras coisas que nem sei... Fiquei com minha cerveja. O estranho rosto dela viajando em algum lugar, era bonito de ver, o semblante calmo de um yogui.

Então começou a ver gnomos coloridos na mesa, ratos gigantes e baratinar o lugar. Doidona e criando confusão. Eu estava bêbado demais para dizer algo, eu achei graça, enquanto ela tentava matar gnomos com tapas. Sua blusa se abriu e as tetas pularam como sapos para fora. Todos riram. Gosto de shows gratuitos.

Uma amiga ajudou a acalma-la, e acabaram se beijando suavemente. Aquilo foi lindo, gosto de beijo entre mulheres, tem musica e é calmo. Talvez seja o brutal em mim tenha se retorcido querendo tornar-se espirito. Deixando toda a merda pra trás.

Acho que não. Gosto da merda. Amo muito minha selvageria, meu coração de pedra e o deserto sussurrando indiferença cotidiana. A vida.

A um metro de mim, elas trocavam beijos mais intensos, caricias nos seios. Não queria mais nada, a não ser ver aquele amor alucinado, feito do que não existe, o fruto da fé criando Deus e os anjos filhos da puta, naquele porão maldito uma luz brilhou, e o que alucina se salvou.

Luís Fabiano.

Locomotiva

A vida passa veloz
Piscar de olhos
Uma ponte que se faz e desfaz
Dentro de mim uma caldeira de emoções
Ódio e amor travam a épica luta
Quero fugir dos trilhos
Enquanto aviões riscam o céu
Gondolas deslizam suaves
A alma mistura-se ao aço
Parafusos a velas desfraldadas de seda
O vento ao voo
Arrastando sua carga pesada
Tentando alcançar destinos

O trem dança nos trilhos
A máquina aflita de esperanças alucinógenas
Sem jamais decolar
O maquinista olha a noite
Cometas fulgurantes silenciosos
Tudo que tem é o seu destino
Deus, diabo o limbo
Realimentando a caldeira
Medo, coragem, decepção, paz e lágrimas
Que o trem ande mais rápido
Que se abrace ao destino
Que afague as estrelas inalcançáveis
E descanse ao sereno

Luís Fabiano

Momento Boa Música
Ricardo Fragoso - Balada de Sonmos

terça-feira, agosto 23, 2011



Navalhadas Curtas: Desconhecida depressiva


O telefone celular toca de madrugada. Bebi vinho demais, esqueci-me de deixar essa merda no silencioso. Não gosto de telefonemas de madrugada. Irremediavelmente atendo, com voz rouca de sono e breve irritação de réptil acuado:

-Aloooo
-Fabiano?
-Claro porra, querias que fosse Jesus Cristo?

Não reconheço a voz.

-Fabiano, aqui é Alessandra, eu gostaria de falar contigo agora pessoalmente, é possível?
-Olha Alessandra, três e meia da manha, frio, eu não te conheço e tu queres falar comigo? E como você quer falar comigo?
-Sou amiga da Josi tua amiga sabe, ela disse que tu tá sempre disponível pra um papo, eu tenho depressão séria, to me sentindo sozinha e acho que seria bom...

Pensei comigo: essa puta já incomodou todo mundo, agora eu sou o fim da lista, a opção descartável, quer saber? Nada feito.

-Escuta meu benzinho... não da ok, vá se deitar com esse frio, se masturbar um pouco, ou pule da ponte do Rio Grande, tá bom? Você precisa resolver isso de uma vez... tudo que se acumula na vida é uma merda...então...

Ela desliga o telefone bruscamente.
Voltei a dormir.

Luís Fabiano
 
Pérola do dia :


“ Homens que verdadeiramente gostam de mulher, não avaliam suas imperfeições físicas, entendem cada forma como única, e aproveitam a viagem pelos seus corpos e almas, não há imperfeições, virtudes a busca de compreensão.”


Luís Fabiano.

Poesia Fotográfica...




segunda-feira, agosto 22, 2011

Pérola do dia :

Se algo que detesto na vida, é a petulância de considerar-se uma pessoa séria, excepcional, ou com atributos especiais, o mais importante na vida é jogo, é sorrir e ter bom humor.”


Pedro Juan Gutierrez

domingo, agosto 21, 2011



A historia de Marcelinho


Em minha infância tive alguns momentos marcantes, pontuais que determinaram minha personalidade atual. Eu era naturalmente arredio, e muito longe de ser inocente, como hoje. Não me considerava uma criança ”normal”, havia uma maldade e malícia em mim, a qual eu estava completamente consciente, e exercia não a guisa de criancice. Não.

Sabia que fazia errado, ainda assim fazia. O adulto que hoje sou não mudou muito, talvez agora a crueldade tenha se amenizado um pouco. As porradas existenciais jamais me assustaram, por muitas vezes me sinto uma pedra, que não se altera mesmo que os golpes mais lacerantes me acertem. Porem mudei um pouco.

Mudo de conformidade ao que tenho plena certeza. Mesmo sem saber o que é certo, o quanto é certo, e em que se agarram as certezas. Seja como for, deixo margem. Uma boa margem para que as pessoas me fodam e sejam felizes, e não me torrem o saco, apenas quero isso. Uma derrota previsível que me da paz. Fiquei bom nisso.

Gostava de Marcelino, tínhamos por volta de quatorze anos. Não gostava dele por ele. Tinha aquele aspecto sujo, a falta de banho diário, um nariz com uma constante coriza, que ele limpava na manga da camisa. Ele morava a uma quadra da minha casa. Era tudo muito estranho, nos éramos todos pobres, Marcelinho beirava a miséria. A casa era um barraco semidestruído, uma sujeira para todo lado. Confesso que aquela sujeira não me fazia mal.

Frequentava a casa dele, e sempre haviam garrafas vazias pelos cantos, uma pia de louça suja, uma geladeira quebrada, as paredes rachadas, pontas de cigarro pelo chão, ainda sim Marcelinho sorria, era um sorriso sem graça, um sorriso prisioneiro e inescapável.

Mas como disse, minha amizade com Marcelinho não era interessante, saiba que ele realmente não me interessava. O mesmo não posso dizer de sua mãe. Aos quatorze anos, em tenra idade aquela mulher velha, de tetas enormes e caídas, me chamava atenção mais que tudo nesta vida.

Sempre gostei de mulheres mais velhas. Uma mulher mais velha coloca qualquer outra jovem no bolso, elas são mais soltas, mais loucas, mais bêbadas, mais abertas e fodem como anjos. Que eu me lembre, tive apenas em minha vida uma mulher mais jovem que eu. E foi a pior de todas. Uma impaciência, mortal e cansativa. Não sou de dar explicações, não creio que precise explicar nada. Ela me exigia constantemente explicações definitivas.

Na ultima vez que pediu, eu disse que responderia assim: Adeus. E sai porta a fora. Foi como desligar um botão, sem gosto, sem alma, sem nada.Click. Apenas foda-se e viva. É preciso muitas vezes ser uma bigorna existencial, para não machucar-se. Raramente em minha vida, confiei em alguém. Minha confiança era medida pela possibilidade que essa pessoa poderia-me foder a qualquer momento. E sempre acontecia, por que os seres humanos são completamente previsíveis. Todos. Nunca me enganei. E nestas coisas emocionais, somos cativos que batem asas com a gaiola junto, pesando em nossa consciência.

A mãe de Marcelinho era maravilhosa Mais tarde vim a saber que era puta de profissão. As putas...eu adoro as putas, todas as putas sejam elas como sejam. Tive caso com três ou quatro e foi no mínimo curioso. Ter uma mulher publica não me incomodava. Como um narcótico, gostei o tipo de vida. Compartilhávamos algumas coisas, ás vezes elas traziam alguma amiga e depois de beber um pouco, fazíamos a três ou quatro. Uma festa. Posso dizer que trepar a três ou quatro não é tudo isso. É mais ideológico, na pratica cansa muito e sempre tem alguém querendo mais... mas a experiência foi boa. Quando você sai de uma merda assim, tem a impressão que é o super macho, essa sensação é ótima, melhor que qualquer droga.

A mãe de Marcelinho, no inicio era recatada, eu frequentava a casa deles, e ela sempre mais ou menos vestida. Porem com o tempo e a intimidade, ela passou a andar com seios a mostra, provocante. Que maravilha, eu adorava ver aquilo. Já tinha visto as tetas de minha mãe, primas e tia... mas não era mesma coisa.

Dona Zuleica, era fantástica. As tetas caídas, com bicos grossos e negros como a noite. Ela alimentou as minhas punhetas durante tempos e tempos. Bons tempos. Um dia ela apareceu só de calcinha. Uma calcinha horrível e esfarrapada, eu lembro era branca. Puxa vida, deixava a mostra a vasta pentelhama do púbis. Um pelo grosso e vaso que subia pelo umbigo. Aquilo era uma poesia. Como gosto disso. Lembro que fiquei de pau duro na hora, pedi licença para ir ao banheiro. Uma bela gozada nas paredes imundas e fétidas de dona Zuleica. Gozei tendo por testemunha única, um enorme cagalhão abandonado no vaso.

Depois as coisas foram mudando. Dona Zuleica passou a trazer diversos amantes para casa. E Marcelinho foi sofrendo atrocidades. Lembro que todos na rua chamavam Marcelinho de filho da puta. Bem, isso era verdade, mas eu achava ofensivo, não era certo. Ou era a minha paixão por dona Zuleica. Nunca julguei situação alguma. Cada um faz o que acha que precisa, e sente como sente, vive como vive. Temos dentro de nós uma nascente e um cemitério, vamos vivendo ao sabor que conseguimos sentir.

Então vieram as surras. Os amantes de dona Zuleica foram ficando mais a vontade e piores, naquela casa destruída. Marcelinho, ignorado, todos bebiam demais, e Dona Zuleica colocava Marcelinho pra fora, seja hora que fosse, madrugada, tarde ou noite.

Ele agora não sorria mais, e ficava calado olhando o vazio, como se uma sombra o envolvesse. No pude mais frequentar a casa de Marcelinho. Um dia o encontrei com nariz sangrando e o levei lá em casa, minha mãe fez o que pode, porem não queria meter-se na criação de outras pessoas. Neste tempo crianças não tinham direitos.

Mas nada foi suficiente. Dona Zuleica agora era uma puta viciada, bêbada e louca. Se por um lado eu achava isso fantástico, por outro era uma miséria suprema eu sabia. Mas nestas circunstancias, era esperado que a desgraça viesse. Somos assim, condutores e protagonistas de nosso próprio roteiro.

Um dia, ouviu-se uma freada brusca, todos acorreram, mas era tarde demais. Era Marcelinho que se jogara na frente do carro, e morria sob a luz do sol de verão. Dona Zuleica não estava em casa. Quando chegou era muito tarde e drogada, não se deu conta. Ficou sabendo pelos vizinhos o ocorrido. Nos dias que se seguiram, a casa foi abandonada, as portas ficaram abertas e janelas também. Como se alma tivesse saído. Tudo ia se deteriorando, aquela casa vazia gritava uma dor sem fim, como unhas afiadas tentando arranhar o céu sem estrelas.



Luís Fabiano.


sábado, agosto 20, 2011


Calcinha preta de renda

Ela esmurra a vida
Tentando devolver os golpes
Fica linda em sua dor
Dos olhos uma nascente
Da inquietude do coração
Navegador solitário em alto mar
O vento que ainda não chegou

Mais um round
Não sabe se continuará de pé
Nunca sabemos essas coisas
E tudo que temos
Nossa vontade inquebrável como as ondas incansáveis
Uma luta contra quem?
Sobreviver hoje e amanha também
Agarrado a fiapos de esperanças cintilantes do amanha
Ela resiste

Fica linda em sua dor
Entre o véu de suas lagrimas
Dentro de suas calcinhas pretas
Andando na minha frente assim de um lado para o outro
Não sei o que é exatamente
Tenho vontade de penetrar-lhe a alma
Injetar a porra mais profunda do que reverbera em mim
Germe de vida sem cauda
Misto de minhas paixões e loucuras
Fazer casa entre suas tetas
Bicos mais duros que titânio

Outro round
Ela respira fundo e agora sabe
É preciso resistir, assim se vence a luta
Resistir com todas as forças
E mesmo que tudo pese
Pois a vida ama quem resiste
Busca forças naquilo que lhe move a alma
A âncora imponente
O porto seguro das bênçãos
Enquanto o ultimo round não chega
O gongo ainda não tocou.

Luís Fabiano.

sexta-feira, agosto 19, 2011

Pérola dia:


Eu explico a vocês o que é decepção: decepção é fazer uma força tremenda para cagar o máximo que você pode, e quando levanta para olhar a obra, encontra apenas dois mirrados "fetos" de merda.”

Luís Fabiano.

quinta-feira, agosto 18, 2011

Momento Mestre

Nelson Rodrigues – A Vida como ela é

- Boa Menina –




Navalhadas Curtas: Mentir ou não mentir, eis a questão!


Ela estava com o rosto congesto quando lhe falei a verdade. A verdade não me é um vício, e normalmente não tenho pudor ou consciência de culpa em mentir. Aquela seria uma boa ocasião pra isso. Inventar qualquer merda como já diz dezenas de vezes.

Mas premido por desesperos internos, a verdade seria melhor, como uma boa dose de rum sem gelo. Rosane grita, a raiva era daquelas passionais. O pior tipo. E dispara:

-Porque tu não me queres mais?
-Nosso tempo acabou... deu...the end.
-Como assim? Tu não gostas mais de mim?
-É.
-Tem outra?
-Tenho...
-Melhor que eu?

O silencio, era o meu pensamento decidido, minto ou não? Foda-se. A verdade é mais cruel que a mentira.

-É, ela é muito melhor que tu.
-Por quê? Que ela tem ?
-Personalidade, sobretudo me respeita muito... não invade, não força, não prende...e me faz voar.
-É uma vagabunda fingida... logo tu enjoas... eu sei que és assim...um cafajeste incorrigível.
-Não me elogie, porque eu posso ficar vaidoso.
-Ouve bem Fabiano... não te ilude, essas coisas não duram... ouviu... não duram... é minha praga, tu verás.

O olhar dela, de fera machucada, sua raiva verdadeira. Não construí castelos de cristal, nem prometi porra alguma.
Dei as costas e fui embora, deslizando macio, na trilha da verdade. Não me lembro de ter sido tão verdadeiro.


Luís Fabiano.
Pérola do dia:



O politicamente correto está acabando com mundo.”


Pedro Juan Gutiérrez

quarta-feira, agosto 17, 2011



Canção brutal da alma

Essa é a minha musica
Quando seu olhar dardejante dispara indiferenças
Mas o corpo
A égua, a vaca, a puta
O anjo endemoniado
Sedenta
Clama no silencio minha boca insaciável
Caricias do vampiro bom
Afagos lancinantes da dor
O gozo do filho da puta celeste
Abraçado na supernova

Essa é a minha musica
Quando meu corpo entra no teu
Quando meu leite mistura-se a tua alma
E tua nascente escorre em meu ventre
O atrito do fogo
Nas caudais do espirito
O desespero te rasga
E te excita
Na doce melodia de um corcel negro
Cavalgando a beira mar

Essa é a minha musica
O gemido da fera implorando a morte
Na raiva, amor e medo
Enquanto suas entranhas se dilatam ao infinito
E o sentimento
Mistura-se a vida
Teu sumo, suor, mijo e merda
Abraçam-me com braços de silencio
E tudo que desejo é deitar no teu regaço
Fazer do teu colo minha coberta de estrelas

Essa é a minha musica
A que se lança cega ao precipício
Disposta a morrer pra viver
A que goza
Mas não a última gota
Vem
Vem escutar a minha musica

Luís Fabiano
Áudio Poema

Charles Bukowski – Uma Parada na Viagem
Voz – Ana Mascarenhas


terça-feira, agosto 16, 2011

Pérola do dia:


"A arte é um grito da alma, e a alma só estertora sob o cutelo de suas angustias, tristezas e desesperos, sem isso, não existe arte.”


Luís Fabiano.



Poesia Fotográfica



segunda-feira, agosto 15, 2011



Flores do Desterro

Ela sorri patológica
Riso em traço
Fadiga entre sonhos
Apagões das metrópoles e medo nos cantos
Ela quer fugir
Pirilampos ansiosos rondando a luz dos postes
Enquanto suas flores crescem em si
Dardos mágicos apontando para o céu sem estrelas
Feridas em flor
Entre agulhas afiadas
Canos existenciais sem asas

O branco
Tudo tão branco, tão branco
As pessoas parecem almas flutuando
A doença fertilizando em si as flores de inverno
Naquela cama
Seu ringue sem cordas
Que insiste em leva-la ao nocaute
O gongo tocando sua sinfonia
Enquanto noites e dias se cruzam sem inicio ou fim
Cinza, agora tudo tão cinza

Abatida
Mas não morta
A flor abandonada em um copo d’água
E saudades do beija-flor
Mensageiro
Amor
E gozo
Porque tudo esta tão vermelho hoje?
Botões rubros no lençol branco crescem
Eles correm com pés de lesmas cintilantes sem asas
Tudo que quero
É que reguem minhas rosas...
Um pouco mais.

Luís Fabiano.