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terça-feira, janeiro 31, 2012


Filetes de sangue...

Atroz o momento. Uma tempestade ambulante. Quando olhares são dardos cáusticos, rascando a noite, e nos encontram em certa paz. Foi assim que nos despedimos, um milhão de vezes. Ela com ódio profundo, e eu com indiferença viciada.

Terríveis quando maus sentimentos fazem casa em nós. Contaminam a alma, levando o brilho das estrelas pra longe... Quando a vi novamente, eu não sabia mais de quem era a culpa. Minha, creio sim...sempre é... eu e esta minha leveza a procura de espaços ilusórios... mas como fazer para que ela compreenda? Não sei. Não luto... não insisto, eu desisto.

O que mais me doeu em tudo isso... foi a criança que me prendia a seus olhos... laços invisíveis tirando o meu coração de mim... ela teria que conviver com mais essa droga. Ficamos nos olhando um bom tempo... enquanto a mãe dela dizia coisas horríveis a mim. Era normal.

Apenas abanei... e virei de costas deixando uma lágrima forte escorrer... ela sulcou meu rosto... partiu meu coração com a pior das laminas... eu faria qualquer coisa para que não fosse assim...


Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica...





Tipos Duros


Os botes da vida, são picadas ou salvação. Embora gostemos da zona de conforto, a zona do meio, a intersecção do bem e do mal, evitamos as zonas pardas das indiferenças, por onde as verdades são mais fulminantes, e o cheiro é mais forte.

Não reclamo disso. Faço o que preciso fazer, não foram poucas vezes que simplesmente abandonei resultados. Tomando por um enfado natural, que as pessoas plasmam em suas vidas, sou uma espécie de vampiro maldito, o morcego voando a noite, sugando a vida e revolvendo a minha merda existencial... o exótico prazer que levar as pessoas ao extremo... aos seus limites todos. Única maneira de crescer.

A emoção torna-se um balanço, ora sentindo o máximo de prazer, ora vagando nos desvãos densos e sombrios de si. Naturalmente ninguém gosta de ser exposto a isso. Quem gosta de ver sua sombra de frente? Brilhantes olhos negros firmando nos teus? Tento não ser assim.
Assim o único caminho foi endurecer-me paulatinamente. Dia a dia revestindo todas as emoções em uma capa de aço, com isso um preço maldito pago.

Emoções fluentes e cruas, são espécies de mães d’água, moles e sem aprimoramento, levando a alma humana ao ignóbil, medíocre, frágil e brutal. A fonte de todas as dores... a perda da leveza, fazendo que nos convertamos em minhocas de chumbo, arrastando-nos como os mendigos da cidade a pedir esmolas fáceis... pedimos tudo... piedade...amor...paz...saúde...felicidade... e outros mendigos.

Encontrei Antônio a muito. Coisas da infância. Éramos bons amigos a distancia. Gosto disso, creio que o paraíso emulado, é a distancia que ficamos dos outros, desconhecendo nossos pendores, o silencio reverberando poesia, é infinitamente mais belo que, que o riso serra no esmo vazio de nossos destinos.

A vida transcorria leve naqueles tempos, como o fatal do tempo, fazendo seu trabalho eterno, levando, conduzindo, afastando, tornando o meu pau maior, minhas emoções mais complexas e meus traumas mais contundentes, meus sonhos, pássaros mirando estrelas. Gosto disso.

Nunca mais vi Antônio. Mas nossa cidade é uma espécie de ilha. Um dia, mais dia menos dia nos esbarramos... inclusive com os mortos. Minhas viagens noturnas por vezes propiciam isso. Então não encontrei Antônio... mas sim a Isabeli Prada.

Bebia no bar do Zé. Não tinha planos de amor... nunca tenho planos de nada, é mais fácil. Ligo a merda do piloto automático, e deixo o destino cravar suas unhas mordazes em mim... as vezes da certo, como uma curva em alta velocidade e não vem ninguém do outro lado.

Então, uma morenona, peituda, perfumada e com lentes azuis, chegou ao meu lado. Eu conversava com uns parceiros, e estava de olho em uma gordinha sorridente... muito fácil ela. Por vezes o homem gosta disso. Nada de desafios inglórios, nada escalar o Everest da sedução, mas uma coisa suave, o fruto podre que cai da arvore, que tem apenas um bichinho... não existe perfeição da vida. A perfeição é um vidro quebrado maquiado.

-Com licença Fabiano...
-Te conheço?
-É... tens razão... conhecias antes como Antônio na infância... agora... muito prazer... Isabeli Prada.

Fiquei em silencio roendo o espaço. Afinal a vida muda, eu estava reconfigurando a mente. Eu conheci um cara agora era uma garota. Não bonita.

-Tudo bem... quanto tempo não... como foi isso? (apontei pras tetas dela)
-Uma longa descoberta. Tive que fazer muito tratamento para aceitar a verdade. Da mulher que existe verdadeiramente em mim. Muita psicanalise. Eu estava em conflito comigo mesma sabe...agora me achei... e o homem que existia em mim morreu...
-Sei... e tu cortaste a pica?
-Sim claro... hoje eu sou uma mulher total... minha vagina é mais linda que de muitas mulheres...

Outros amigos meus que estavam no boteco hediondo... riam-se, bêbados em um deboche equivocado. Antônio olhou para eles como um típico olhar de quem não gosta.

-Quem são esses merdas – me pergunta Isabeli ou Antônio...
-Não esquente não... são apenas bêbados, idiotas... falando merda...
-Não gosto de quem tem preconceito Fabiano... não gosto mesmo... isso me deixa muito irritado...

Senti um cheiro de merda no ar... daquelas merdas frescas bem cagadas... que alguém esbarra em cima.

Então a voz anasalada de Isabeli se converteu no grave do tenor de Antônio... o homem havia ressuscitado.

-Que foi pessoal? Qual é o problema... vocês não gostam de mulher? Ou preferem homem?
-Não é isso... calme ai cumpadi...tá tudo bem..
-Tudo bem o caralho...

Os caras pareciam assustados como aquele cara de seios, falando grosso. Mas creio que não deu tempo pra isso... a porrada comeu... a chinela cantou... o salto converteu-se em uma lança de pirocas ausentes.
Onde eu estava, fiquei. E foi lindo. Isabeli colocou três caras pra correr, mas o cabelo ainda estava em ordem. Então como uma gazela alada pousa a meu lado novamente, respirando forte.

O rum descia bem... um pneu careca no asfalto molhado. A gordinha havia se ido... depois daquela confusão. Eu achei tudo isso muito engraçado. E talvez fosse minha vez de apanhar.

Isabeli agora mulher novamente... fez seu ar sedutor... o clima no ar.

-Onde estávamos Fabiano...
-Sei lá Isabeli...tu fazes isso sempre?
-Não posso ser provocada... não gosto de falta de respeito...
-Ok.
-Olha Fabiano... eu tenho um AP aqui perto... tu não queres ir tomar um drink lá... eu preciso estrear a nova xoxotinha...

A bem da verdade, achei não existia xoxotinha nenhuma. Achei que ela tava vendendo fácil aquela xoxotinha. Deixei assim. Não arrisquei.

-Agradeço Antônio. Fica pra outro momento... eu tenho...
-Tudo bem. Desculpa qualquer coisa tá bem?
-Tudo bem.
-Me sinto muito sozinha Fabiano... essa readaptação mental, espiritual, onde as indiferenças doem muito. Eu quero amar... Deus sabe que quero amar... sou uma pessoa boa... eu mereço ser feliz.
-Creio que todos merecemos Isa. Mas por vezes a felicidade tá ali... e não percebemos... queremos uma moldura perfeita... e não é assim... a busca é a chave, seja menos exigente...

Ela me abraça e estava em lágrimas.
Que merda, todos temos uma alma em algum lugar em nós... e as vezes esbarramos nela.

Luís Fabiano.
Pérola do dia :

“ Não mate os desejos todos de uma vez...”

Chico da Silva.

sábado, janeiro 28, 2012

Áudio Poema

* Ronco do Inferno...

Poema e voz  - Luís Fabiano.



Trecho Solto:


“Sara era uma boa mulher. Eu tinha de me endireitar. Um homem só precisa de um monte de mulher quando nenhuma delas presta. Um homem pode acabar perdendo a própria identidade de tanto galinhar. Sara merecia muito mais do que eu estava lhe dando. Dependia de mim agora. Me espichei na cama e logo adormeci”.



Extraído da Obra: Mulheres
De: Charles Bukowski.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Entrevista no Agora é Tarde

 -Velhas Virgens -


 

Navalhadas Curtas: Minha Roleta Russa...


Ela era mais gorda que eu, mais louca, mais apaixonada e mais traumatizada. Perfeita. Sabia que me envolver com uma mulher daquele tamanho seria problema. Mas sou movido por desafios, aceitei a roleta russa talvez no afã de encontrar a morte ou redenção.

Quando ela caiu sobre a minha boca, mergulhando sua xoxota gordurosa, com um cheiro não lavado de dias, aroma forte de uma carniça abandonada por urubus, me senti feliz na câmara de gás, morrendo lentamente sem oxigênio.

Olhei para cima tentando ver o céu, mas nem seu rosto eu conseguia ver... era uma massa gelatinosa viva, sacudindo em um mar de graxa eterna... a dança macabra dos prazeres ocultos...aqueles que moram no subconsciente.
A poesia da desgraça, com o encanto instintivo de um assassino sem consciência.

Eu estava disposto ir até o fim ou morrer tentando. A desgraçada sorria como mil demônios remexendo seu caldeirão de carne:

-Come desgraçado... toma desgraçado... hoje vou te afogar com a minha xoxotona...

Não conseguia responder nada... aquilo era um misto de saliva sebosa... grunhidos patológicos de um encarcerado medieval, próximo ao ultimo suspiro.
Ela realmente tentava me matar... nunca tinha pensado em morrer assim, afogado por uma xoxota... mas parece que a ideia começou a me agradar.

Por fim ela gozou como uma baleia estuprada por um dinossauro... misto de líquidos vaginais...pelos arrancados...e um pouco de mijo. Então a vida não é ótima?
O cheiro custou para sair do meu rosto.

Luís Fabiano.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Pérola do dia:


" Uma foda é apenas mais uma foda, quando existe ausência de alma”.

Luís Fabiano.
* Momento Boa Música *



terça-feira, janeiro 24, 2012

Pérola do Dia:


“ A chuva cai sobre os bons e os maus... sobre os justos e os injustos...”

Yeshua


Serenas Lésbicas do amanhecer

Eu estava sentado
Deixando o rum escorregar pela garganta
Como um feto mamado nas divinas tetas do além
Tentava capturar instantes sagrados
Nas vielas tortuosas de uma tempestade improvável
O rum inflama as veias
Excita vontades
fica o Eu
Não tão eu...
Os portais se abrem em uma ereção fantástica
O dedo do anjo apontado pra lua

Freios são abandonados em uma plataforma de lançamento
E mesmo que a vida não estivesse tão bem... parecia bem
As vezes isso é o que importa...
Fodam-se as explicações sensatas do equilíbrio seco
A pseudo perfeição vazia de ideais fulminantes
Afinal, asteroides errantes também são belos ao anoitecer

Então elas se sentaram na minha frente
O relógio brilhava duas e dezenove da manhã
Promessas se desenterravam das sombras do bar
Eram lindas, feitas uma para outra
Conversavam com suavidade
Beijam-se com carinho
E eu ali sorvendo o cuspe perfumado das sobras
Elas não me perceberam, estavam envolvidas ate o osso
A coisa ficou mais forte
Como uma maré que sobe inesperadamente

Elas eram uma bela visão
Uma beleza enfiada em desejos ardentes
Nos olhos que brilham chamas do inferno
Gosto de pequenos shows eróticos
E devassar o pecado embrionário das almas
Quis adormecer entre os carinhos platônicos delas
Os fragmentos de um amor possível e molhado
Brilhava em suas mãos errantes
Nos lábios umedecidos e línguas incansáveis
Elas pareciam quere alcançar algo... que não o orgasmo
Elas entraram uma na outra
E eu fiquei em mim.

 
Luís Fabiano.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Momento Mestre

Nelson Rodrigues - A vida como ela é...

- Curiosa -




Podas do destino – Curvas afiadas


A vida de cada ser humano é sempre trampolim misterioso. Gostamos das mórbidas adequações, trilhos brilhantes e carcomidos do ontem, caminhos prontos e traçados por outros, as pedras sobre o gramado, feitas para pisarmos seguramente sobre.
Como uma espécie de receita infalível de felicidade. Piada latente. Não há receitas e não há nada infalível.

Creio ser melhor assim. Eu que me exaspero diante do tédio, a infalibilidade existencial me levaria ao suicídio, tenho certeza disso. Mas agonias intermináveis também desassossegam a alma e amargam as boas sementes.

Gosto de caminhar e ficar pensando, talvez traçando metas de possibilidades, pouco importa que se tornem algo... não se vive assim, mas o prazer esta ali, a apreciação silenciosa em nossos caminhos, como sombras de asas angélicas despontando no firmamento.

O afago silencioso das trajetórias fulminantes, distorcendo o nosso querer nos ecos de um querer maior.
Conheci Humberto há muito tempo. Sempre teve um jeitão de cara duro, como se carregasse o mundo nas costas. Não gostava muito dele. Parecia arrogante com músculos poderosos e pouco jeito com as pessoas. Foda-se que ele fosse orangotango. Sem ofensa aos orangotangos. Mas devido a condições de trabalho, a convivência cotidiana fez que com eventualmente conversasse com ele. Uma coisa porem é preciso dizer, ele era um detestável, mas um detestável com personalidade, e isso eu respeito. Mesmo calhordas são dignos de admiração.

Os outros companheiros de serviço o detestavam também. Eram mecânicos, atendentes de oficina, controladores de estoque, e eu um assessor pra qualquer coisa. Esse era meu trabalho, assessor para todas as porras que ninguém queria fazer...

Humberto gostava de narrar suas historias quentes com prostitutas, no intervalo do café, dizia como batia nelas, como as vezes as estuprava com gosto e a seco, quando elas se fresquiavam de não querer dar pra ele. Então ele enfiava a piroca nelas... no cu sem a devida cuspida, e a moça entoava a uma opera de Verdi, a soprano dos infernos...

Gostava de o ver falando com orgulho disso. Parecia de verdade. Uma vez até mostrou a sua piroca para que todos pudessem ver o tamanho da ferramenta. Bem... aquilo não era um pau, parecia mais um pequeno bezerro, um feto em desenvolvimento, a cabeça de um jegue se espremendo para fora da glande meteórica.

Lembro que algumas mulheres da empresa, não titubearam e deram para Humberto... ele era um historiador macabro, com admiradoras a altura. Mas como tudo que na vida, desvia-se para os exageros, algo estava errado.

Tentava saber o que. Conheci muito gente assim, que se vangloriavam de suas potencialidades, bem, nada terminava muito bem. A merda da humanidade repete os mesmos erros há milênios, e parece que nosso DNA custa a entender as sutilezas do engodo no excesso afirmativo da vida.

Mordemos a maça inúmeras vezes, e morderemos a bunda de Eva sempre... e treparemos como a serpente e a porra do paraíso despencará, chafurdado na banalidade existencial, a nos esgotar as melhores emoções. Funestos alados a procura de encantamento.

Eu as vezes tinha isso de querer entender as coisas, muito embora por vezes as situações mais próximas não me interessavam. Sou assim, um desapego constante, tentando apegar-me as verdades onde quer que estejam. Na lama ou nas estrelas. Isso por vezes me torna estranho, não bem quisto... mas não posso fazer nada.

Acabou que eu sai daquele emprego. Tinha um chefe carrasco, mas nos éramos um bom grupo, e eventualmente aprontávamos para o cara. Uma maneira de equilibrarmos o jogo. Fizemos boas sacanagens para ele...
Perdi contato com o pessoal.

Mas dias atrás eu reencontrei Humberto. Melhor, os restos de Humberto. O vi no calçadão, alguém lhe empurrava a cadeira de rodas. Faltavam-lhe umas das pernas. O rosto abatido, traços sulcados, como uma tatuagem vibrando num silencio vil, nas dobras trágicas do destino. Os olhos pareciam distantes, mortos, olhando o nada. Então percebi que a mulher que o levava não era uma mulher, mas uma travesti desarrumada...

Lembrei-me de suas frases de antes: que jamais comeria um rabo de travesti... jamais...
Mas que merda, é por isso que nunca digo jamais. Não sabemos que malditas curvas o destino dará. O jogo ainda não terminou.

Eles passaram por mim, e por algum motivo eu não gostei de ver aquilo, algo oprimiu meu peito, talvez serpentes culpadas, que todos carregamos no peito mexem-se, enrodilham-se e as vezes nos picam... não sei. Tratei de Ignorar. Não queria mais pensar nisso. Por vezes para sorver um pouco de paz é preciso nos desconectar... é isso, desliguei.


Luís Fabiano.

Pérola do dia :


“ Para uma relação funcionar, gostar ou amar é muito pouco... É preciso haver um entendimento harmônico e respeitoso de individualidades, vislumbrando crepúsculos e amanheceres”.

Luís Fabiano.

domingo, janeiro 22, 2012


Filetes de Sangue:


Lembro-me de dores diversas, mas não faço muito para não amargar a vida. São apegos fatais do caminho. Fragmentos meteóricos que nos deram alegria... hoje lembranças. Ela gritou em desespero pelo pai morto. Minha irmã. Eu estava do lado de fora da casa, e dentro de mim busquei força para transformar o evento em algo comum e previsível.

Detesto dramas, as lágrimas ranhentas da vida. Prefiro a placidez, limpa quase anti-emocional.
E mesmo quando peguei na alça do caixão de meu pai, mantive a serena e inexorável frieza do adeus.
Não me importei com que pudesse parecer, mas me pareceu mais digno. No fundo isso, cada ser sente sua dor, ao seu jeito... esse é o meu.

Luís Fabiano.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

 * Navalhas do Som...

Criolo - Frêgues da Meia-Noite





Flor Molhada

Ela flui suavemente escorregando em segredo
Toda aquela seiva perfumada
Um clamor silencioso do querer, orvalhando lhe as pétalas rosadas
Num visgo gelatinoso do desejo
Alcançando-nos a alma em torrentes
Do impensado
O arco-íris sem querer

Nada pode ser melhor
A recriação da vida
A música dos gemidos, sussurros e uivos
Agarrados pela noite adentro
Na orgia celeste das estrelas com os anjos
Ela me mastiga lentamente em sua intimidade
Como e sou engolido
No sacrifício que devora e é devorado

Sou o regador da flor
O jardineiro da consumação em orbita
Onde culminam sêmen e alma
Na teia da mente, estreitada as glândulas em disparada
Afago-lhe as pétalas
Futuco-lhe as entranhas na sutileza do amanhecer
E a linfa escorre para as fendas mais profundas
O esconderijo e morredouro dos desejos ocultos
Virginais da brutalidade dilacerante
Molhando, acarinhando, enlouquecendo e delirando

Despertando o ontem nas dobras do hoje
O botão de sua rosa se abre a primeira vez
E dela nascem desejo, beleza e paz
O clamor silencioso rasga o silencio
E desespero e alegria
Amalgamam-se no brilho da retina.

Luís Fabiano.


quinta-feira, janeiro 19, 2012

Poesia Fotográfica...





Navalhadas Curtas: Tetas de plástico...


Navalhadas Curtas: Tetas de plástico...

Tenho muitas amigas. Fantásticas e naturais, amiga das amigas. Gosto desta fluidez desancorada, amantes viscosas e anestésicas, algumas armadas até os dentes, outras mais tranquilas como uma gota de porra em uma roseira.

Uma boa mistura de formas, todas a caminho de uma harmonia universal... o complemento dos desiguais. Yin - yang...

Gostava de Flora. Puta de alma e corpo. Agora tinha feito uma cirurgia recente. Tentava tornar-se melhor. Decidiu colocar mais tetas. Passei por ela na rua, ela me chama:

-Fabiano... Fabiano...
-Olá Flora...
-Que tu achou?
-De que?
-Do meu busto... ora...olha...
-Parece bom... bom mesmo... já era bom né...
-Toca cara aí... aqui ó...

Ela colocou minhas mãos sobre seus seios agora grandes... estavam duros, bons e apontado para um céu azul... o que eu poderia dizer? Tive vontade de suga-los...

-Ta legal... ficou bacana as tuas tetinhas...
-Obrigada...

Apenas um detalhe: estávamos na rua... e as pessoas que passaram por nós, no calçadão pareciam escandalizadas com alguma coisa... as pessoas são muito cínicas.

Luís Fabiano.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Olho de Tigre...

Boas Lembranças...



Filetes de sangue:


Despedidas nunca foram o meu forte. Ao menos daqueles que em algum momento amei. Não amo facilmente, não me interessa amar barato e em desespero. Mas antes como a passividade de uma semente... acho que aconteceu uma ou duas vezes. Já não lembro mais. Quando meu coração alçou voo mais alto... livre, procurando o sorriso das estrelas.

Aconteceu como um bom acidente da vida, feliz e inesperado. E por algum momento eu acreditei realmente em minhas ilusões, tentando congelar o momento em um tempo que não para... que muda os sentidos todos... oxida tudo a nossa volta.

Acreditei na eternidade, e por algum instante pequeno... eu fui feliz. Então o jogo mudou, previsivelmente. Sadicamente.

Porque tudo sempre tem de mudar? Qual é? Um plano arquitetado pela Divindade para que não sejamos felizes? Pode até não ser... mas parece.

Luís Fabiano.

Trecho SOlto...

Trecho Solto...

E não devia beber ainda. Não podia cair na tentação. Se tomo um trago antes do meio-dia estou perdido. Digo meio-dia como um símbolo. Na verdade, sempre consigo protelar um pouco o horário e começo já no crepúsculo, que é uma hora legitima para as libações.

Um crepúsculo junto ao mar, de minha cobertura, pede rum, mulheres, negras bunbudas, maconha, filmes pornôs, travestir. Todos os pecados possíveis. Pede aos gritos. Tem de ser um sujeito duro para negar a si mesmo esses prazeres em um crepúsculo.

Apesar de tudo essa tarde eu queria ir aos Alcoólicos Anônimos .Talvez me ajudasse em alguma coisa. Pelo menos era capaz de reconhecer diante de mim mesmo que, em media, tomava uma garrafa de rum por dia. Um rum asqueroso e barato. Me arruinava o bolso, o fígado, o pâncreas e todo o resto. E Julia , dependendo de como estivesse o software do dia, bebia fifty- fifty comigo, ou me rechaçava, cortante , e me repetia quarenta vezes:” isso é veneno. Quem sabe como fabricam isso e onde. Esta se matando.”



Extraído da obra: O Insaciável Homem Aranha
Pedro Juan Gutiérrez.



terça-feira, janeiro 17, 2012


Navalhadas Curtas: Eternos Cristais da Inutilidade


Existem alguns copos de cristal esquecidos aqui em casa. Minha mãe quando casou os ganhou. Bonitos, decorados a antiga, enfileirados e inúteis. Alguns deles jamais tiveram em suas bordas “sagradas” uma boca. Nem de bêbado... nem de puta...ou batom, copos virgens de porra nenhuma.Irritantes.

A maior das inutilidades da existência. Algo criado que jamais será usado. Olho para eles todos os dias, e não nego que em alguns momentos tive vontade de... dar-lhes alguma utilidade. Ainda que seja espatifado contra a parede. Já viram como um cristal se quebra?

Minha poética de vida, é uma serpente convulsando sobre as brasas. A beleza viva no instante mais importante da vida, que é o agora. As inutilidades de minha existencia, fui espalhando por ai... pensamentos inúteis...emoções inúteis ... coisas atravancadas que ficaram guardadas para que um dia...nos utilizemos?É? Não.

O que tenho, o que sou e o que vivo, é aproveitado agora... até sumo final, gozo com as estrelas, amanheço com a vida, adormeço com a morte, amo e desprezo com a mesma intensidade, não amanha, hoje.
Acho que amanha aqueles copos filhos da puta... não escaparão.

Luís Fabiano.

segunda-feira, janeiro 16, 2012



Necrotério do amor

O carrinho sangrento
Deslisa macio no azulejo branco como a neve
Esperanças solvidas, e o banquete estava servido
Vermes famintos a deriva
Quando o feio é tão horrível
Ele se torna poético e doce
O sorriso de Bukowski ao amanhecer sem raiva

Eu um débil permeado de inocência
Não tanto as vezes
Vendo aqueles corpos deformados sem alma
Escafandros de um por do sol recendendo a podridão
Irrelevante como desconhecidos morrendo de fome
Quando alguma mulher valia a pena
A morte começava a ser bacana
Ao menos comigo

Então ela surgiu com um pano branco
Segurando a mandíbula
Um único buraco meio do peito
Enfermeiros contraditórios
Fechando a boca e vazio o coração
O coração roubado entre seios magníficos
Ainda duros
Alguém lhe ferrou o corpo
Porque quis capturar sua alma sem sucesso

É assim...
Quando desejamos capturar alguém o perdemos totalmente
A ancora de segurança, rebentando os elos da corrente
Se perdendo pra sempre no vasto mar
Suas unhas em vermelho cintilante
E a necropsia começou
Tão viva e tão morta
Era a Monalisa do desterro
Um leve traço de sorriso irônico post-mortem
A estátua plasmando vida
Despertando meu encanto no seu encanto final
Fiquei olhando de longe
Enquanto o silencio se tornava uma nevoa entre nós
Ela era uma peça de arte
Eu tentava permanecer vivo.

 
Luís Fabiano.
Dica de Filme: Lua de Fel (Bitter Moon – 1992)


Uma historia inocente, com requintes de destruição. Uma bela mulher, um canalha inveterado vidas que se cruzam no trágico comum. Extraordinário Polanski, coloca na tela suas taras e suas aspirações ao céu, lembra alguma coisa?

O filme vai nos asfixiando lentamente conduzindo-nos a verdades que raramente estamos dispostos a olhar... a sentir...entender... será que nossas vidas comuns nos satisfazem mesmo, ou tomamos um caminho mais fácil... mais cômodo? Não sei. Veja você mesmo e claro, se não gostar do que achar...não é problema meu.

Luís Fabiano.





Batismo Dourado

Gosto das linhas mestras
Emulando perfeição vagabunda
Pilares apontando para o céu gris
Filamentos da serenidade cavalgante nos afagando
E você pelada na cama
Despertando como um amanhecer sem fim

Hálito noturno e farelos da foda de ontem
Cheiros fortes do suor, da porra e peidos matinais
O meu céu lindo, meu arco-íris, a beleza como um polvo
Agarrando-nos a alma, no véu das indiferenças tantas
Gosto assim... a beleza indiferente
A vitória régia surgindo sozinha onde ninguém pode ver
A roseira segregando espinhos e flores

Então nos caçamos
Presa e predador, vampiro e vitima
Amor e ódio, polos divergentes, antagônicos e complementares
Ela sorriu com sorriem os demônios... as sereias ...os fantasmas
E o traço de sua feição culminou no meu querer
Dizendo silenciosamente onde iriamos parar... mas que porra...
Onde iriamos?

Sorri como um anjo de dentes cariados
Ela apontou a xoxota com pelos dourados no meu rosto
E abriu seu sorriso vertical
As vigas mestras do templo mantinham-se firmes
Meu pau desafiando colunas gregas
La fora ambulâncias clamavam vida e morte
E Deus parecia indiferente

Ela riu como uma louca apontando sua arma pra minha cabeça
E mijou como mijam as cachoeiras num amanhecer orvalhado
Bebi, engoli e a amei como um cavalo louco
Beijamos-nos em meio ao fétido odor
Como a vida que se esvai quando a morte chega
E as lembranças perfumadas de uma vida
Pairam acima do abandono
O templo tremeu
Mas sou assim... estou pronto para começar novamente.


Luís Fabiano.

domingo, janeiro 15, 2012

Pérola do dia :


“ Eu não faço comentários. Me custou quase a vida inteira aprender a ver alguns trechos coerentes no meio do caos”.

Pedro Juan Gutiérrez

sexta-feira, janeiro 13, 2012


Navalhadas Curtas: Pureza Vil


O detestável pode ser meigo. Roberta, uma amiga nem tão amiga, era um tipo destas feministas pós-modernas.Tão solitária quanto... Esse tipo tem uma raiva confessa de mim... da minha vida...das minhas diversas mulheres, dessa devassidão consentida pela consciência.

Porem Roberta não falava. Seus olhos falavam. E como um canalha contumaz que sou, sorrio como sorriem os bons canalhas. Tenho orgulho. Alguém de princípios extremos é um prato cheio a provocação, não é mesmo? Foi o que fiz:

-Rô... que tal fazeres parte delas?
-Hã?
-É, te junta a nós... somos uma família informal, estranha... mas o amor existe, o respeito existe...
-Tu representas a coisa que mais abomino...
-Não me transforme em demônio por favor, eu não mereço...a honraria...
-Tu ainda vais cair do cavalo Fabiano...
-É todos caem um dia... é normal, mas um coisa eu digo Rô... cairei com meu pau erguido, como um grito do Ipiranga eterno da não aceitação...

Ela se levanta e sai, na porta vira-se e diz:

-Fabiano... ou tu és muito bom...ou elas são muito burras...
-Não limita as coisas assim...é triste...tu não queres que elas fiquem como você né?


Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica...



quinta-feira, janeiro 12, 2012

* Navalhas do Som *

Gahuer Carrasco - Asturias



Pérola do dia :


“ É preciso estar preparado para ser fodido pela vida... pois a natureza profunda de tudo, não tem compromisso algum com nossos valores padronizados”.

Luís Fabiano.


Perfeita para sonhos * Doce verdade Suja

Ela eclodiu com um verme da primavera
A fada pairando em imprecisas nuvens
Rosto anguloso um sorriso de boemia
Cabelos alinhados
O olhar languido entremeado de desejo e paz
Tetas atômicas de Hiroshima
Tetas de sêmen e leite
Pelo negro nas axilas

A voz melíflua dos demônios e os deuses do amanha
Uma força embebida em pura emoção
A xoxota alada do encanto aureolado
Molhando-me... me grudando... me engolindo
A fenda das promessas malditas
Como braços de uma mãe embalando a nascente

Entre um trago e outro
Isso parecia fantástico
As sombras fantasmagóricas que dobram as esquinas
a pedra errante que te acerta
então tudo se desfez
entre peidos, mijo e hálito matinal
destruindo maravilhosamente o ideal completo do nada
Ruína da salvação

Olho para o horizonte e agradeço
Por não estar cativo e por os sonhos dilacerantes
Permanecerem onde estão
Nas dobras escusas da mente
Transfixados em nossas emoções utópicas
E por um instante a vida pareceu maravilhosa
A grandeza mística
De olhos que brilham longe do carcomido
Ancoras agarrando-se ao céu
Então fizemos de novo
E eu enfiei bem fundo como se quisesse
Gozar em seu espírito.

Luís Fabiano.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

A impagável entrevista com Rogério Skylab
 * No Agora é Tarde *







Tentando não ser pior.

Existiram momentos em que minha brutalidade descansou. Em que vivi uma vida mais tranquila ensebado nas particularidades de uma normalidade idealizada e pratica. Mas eu gostava, era uma vida diferente, a casca do padrão adormecendo um verme nas dobras uterinas da vida.

Mas o comum, com todos os seus encantos me causa tédio, depois de um certo tempo. Pode existir merda maior? Hoje fujo do tédio como o diabo da cruz. Os massacrantes dentes que com sua mandíbula ferina... vai fulminando os bons momentos... transformando-os em coisas simples e sem graça do dia a dia. Poderia achar uma magia em meio a isso... mas não quero.

Neste período eu queria isso. Ficar afogado em tédio. Contentava-me até mesmo com um papai e mamãe bem sem graça. Agarrava-me a isso, a ancora da felicidade... feita de emoção e convivência. Neste sentindo sempre fui uma barata... altamente adaptável. Então me envolvi com alguém que tinha filhos. Não foram poucas vezes... fui pai emprestado diversas vezes, mas por uma fatalidade da vida... algo sempre marca mais.

Adorava meu paraíso de modorra. Trabalho... casa... trepadinha com a mulher a noite... dormir abraçado as vezes... acordar pela manha trepar novamente... antes do café e ir trabalhar, dar beijo de tchau para a criança.

Uma boa vida. Mas a menina se apegou a mim como não se apegou ao pai legitimo. E acho que isso me tornou ao menos naquele momento, uma pessoa melhor. Talvez tenha feito meu salto quântico, acho que primeira vez na vida... senti algo puro. Eu queria apenas que ela fosse feliz, que seu sorriso sempre apontasse para as nossas manhas tranquilas, quando ela fingia dormir e me olhava escondida... e debochava do meu ronco... e tentava puxar meu cabelo inexistente. Então as gargalhadas eu fingia ser um urso... um leão... sou bom de imitações sabem... faço excelentes animais, e alguns poucos humanos.

Então o verme maldito eclodiu do ovo, uma inquietação afiada. E começou a carcomer a minha relação com a minha mulher. Começamos a viver o tédio. E mesmo que eu mentisse pra mim que não me incomodava... aquilo me destruía lentamente.

Já não mais existiam o brilho nos olhos, não mais sorrisos espontâneos, eu comecei a broxar sem tesão literalmente e isso sempre é um sinal, e ambos percebemos que não estávamos bem. Diga-se de passagem... eu teria a opção de aceitar isso, que as relações são assim mesmo, casamentos são assim, eles se transformam em uma boa amizade com o tempo... acompanhando ou não sexo... companheirismo, mas o empuxo inicial, a paixão declina é fatal. É isso.

Uma nova faceta do amor. Sempre tive dificuldade de aceitar essa faceta. Talvez um dia eu me abrace ao tédio e o chame de amor como a maioria faz, mas até lá... eu sigo disparando. Não me venham com colocações de “maturidade emocional”... explicações baratas para quem tem como ponto de apreciação da vida, aquilo que é estático. Cada cachorro que lamba sua caceta... alguém disse.

Encurralados ao termo... fizemos o que era melhor. A mulher sempre tem resistências ao término neste casos. Mesmo eu sendo um imprestável, sempre encontrei pessoas que queriam manter o tédio e chamar isso de felicidade eternamente. Comigo isso não é possível.

Foi então que a merda veio a rodo. Não tenho como esquecer os olhos da pequena me fitando. Havia um véu de lagrimas ali... não me importo com lagrimas de adultos... mas crianças me causam uma culpa dilacerante. E com seus seis aninhos... eu expliquei a ela o que estava acontecendo. Porque minhas malas estavam na porta... e falei dos laços que nos unem, como teias luminosas de aranha brilhando em um amanhecer:

-Sabe... eu preciso ir... as vezes precisamos ir, mesmo que pareça algo ruim... triste... mas é uma verdade... é o melhor.
-Tu não precisa ir - disse a pequena.
-Eu vou, mas uma coisa eu digo... nossos corações estarão emaranhados como as teias de uma pequena aranha... quando sentir saudade vamos nos falar... e nossas teias serão luminosas... a saudade é uma armadilha... que não podemos deixar que nos pegue...tá...
-Tu gosta de mim né?
-Eu te amo muito... e de uma forma ou de outra eu estarei próximo... ninguém ira romper nossas teias luminosas.

Ela me abraça forte, com uma lagrima silenciosa... e mais uma vez eu me sentia um demônio... que arderia num inferno eterno em minhas vísceras...senti náuseas.

Quando ganhei a rua, a mãe dela veio atrás de mim. Não havia hostilidade desta vez... como mentir , fingir... emular uma felicidade que não existe? Ela me olha nos olhos, esse é um daqueles momentos que você sabe o que esta certo... mas este certo é dilacerando... e tem dentes de aço que cravam em seu coração.

Quando subi no carro, minhas certezas oscilavam em um terremoto da alma.
Mas é neste momento que se precisa agarrar-se a certezas, endurecer as tripas e seguir em frente. Não sei quantas vezes isso me ocorreu. Uma coisa eu sei... sempre quis acertar, porem os erros me perseguem... creio ser isso a minha vida... uma busca eterna, as vezes não se sabe exatamente de que... mas segue-se em frente. Eu ainda espero a resposta.

Luís Fabiano.