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segunda-feira, dezembro 31, 2012




Sepultando a ti

O brilho diamantino tornou-se turvo
Como um anoitecer inesperado
Vestígios e traços de uma estupidez firme
Tudo tem o seu tempo
O amor, o ódio, a dor e a vida
Na verdade brigamos com isso
Tentando amordaçar um inimigo errado

Confesso que me deixa triste
Pois... Acreditei como não se deve acreditar
Como um voo que jamais cairá...
A última fagulha, que não me tornava um filho da puta completo
Agora fudeu...
Entendi o recado amigo Deus...
Todos somos o que somos
E bem ou mal destilamos nosso melhor com um pouco de veneno sem querer...
Como notas que erram... Um por do sol que não da certo
Um paralitico que jamais tornará a andar...

De restos que ficaram... Sim ficaram...
Eu fui útil um dia... Hoje me tornei o oportunista
O respeito, tornou-se o deboche vil e sarcástico
A admiração, foi conduzida a fraqueza e  nada
Uma puta manca com todas as cartas na mão
Espécie de cordas de manipulador de bonecos
Ela mexe a bunda... E tudo muda
Ela bafeja com a buceta... E nada mais é como era...

Nem respeito, nem admiração ou mesmo beleza
É natural... Sim é natural...
Turvo sem diamantino encanto
Anoitecer nos vestígios da estupidez
Inesperado traço sem brilho
Um recado do diabo paralítico tornando a andar
Puta sem cartas
Viscos em mim se desfazem...
Liberdade e dor.

Agora estão enfiando o caixão no buraco...
Vejo a colher de pedreiro manipulando o cimento...
Mãos hábeis em um fim...
Eles parecem felizes... Tranquilos... indiferentes como a natureza
No fundo é assim mesmo...
Devemos receber o fim... Como recebemos a vida
Uma folha morre e abre espaço para o novo
Realmente não gosto de adeuses.


Luís Fabiano.






Navalhas Curtas: Velha Gostosa

O ser humano é um pouco tudo. Amor intenso quase puro, e também instinto vil. Nada de errado. Apenas colocamos alguns frágeis limites nisso, para evitar maiores problemas... Se for o caso.

Entrei no elevador e ela já estava lá dentro. A senhora do sétimo andar. Ela tem ímpetos de Sharon Stone. Ela está muito bem, bunda grande, peitos bons e pernas firmes, apesar dos seus sessenta e sete anos. Usa vestidinhos curtos, cruza as pernas de forma provocante. O marido, ignora isso completamente. Eu não.

Entro no elevador:
-Boa noite...
-Boa noite...

Meu olhar mergulha no decote dela... Um decote generoso, ela tem boas tetas. Pensei imediatamente na punheta que iria bater depois, me inspirei. Ela sorri para mim... Sorriso permissivo, safado... Com quem percebeu meu olhar... A porta do elevador se fecha, fui direto:

-O seu marido que me perdoe... Mas a senhora é uma mulher muito linda... Em todos os sentidos...
-Obrigada, Fabiano... Mas acho que ele não iria se importar... Com nada disso... Ele é na dele... E ta meio doente...

Aquilo foi mais que um convite. Tive vontade de tirar o meu pau pra fora ali mesmo, e oferecer a toda aquela carência... Me contive.

-Uma pena ou que bom... Por que eu te acho muito gostosa... As vezes me inspiras...

Estávamos íntimos agora. Ela sorriu satisfeita. Em sua alma idosa, vibrava os instintos de uma puta convicta de seu poder. Foda-se o corpo. Isso que importa, uma mulher que sabe o que quer... e como quer, pra satisfazer e ser satisfeita...

Chegamos ao andar dela... Ela precisava entrar... Para dar os remédios para o marido... Mas antes de ir, me deu um beijo, e a puxei contra meu corpo... Para ela sentisse o ferro...
Meu ano parece que terminou bem.


Luís Fabiano.



sábado, dezembro 29, 2012

sexta-feira, dezembro 28, 2012



Pérola do dia

 “ A sanidade não está preparada, para entender
 as verdades da vida ”.  

Luís Fabiano





Desconstrução

Um tijolo escorre errante...
Beijando o solo com ternura
Meu querer vasculha um sorriso
Entre a densidade de voláteis certezas
Como uma seta rasgando a distancia
Ferida a parede cimento sem pele

Não quero mais o teu entender fácil e frágil...
Quero teu amor desconexo, doentio e rancoroso...
Onde nada tem haver com nada
Tua passividade doentia
Na conformidade de medos que ecoam
E o que aprendeste durante toda a tua vida
Violando a estrutura, concreto cravado no espirito
Teu Deus criado a imagem e semelhança de pecados e dores
O demônio sapateando em tuas vísceras amanhã...

Nem filhos ou lágrimas feitas de dor, dor e mais dor
Mas que merda...
Na estreiteza de como se entende o viver...
Não... e sim para além de certos e errados...ou...
Quero a implosão das virtudes mais sagradas
Quero que o pecado saia da cruz as risadas de deboche
Quero o que não quer ou deveria querer...
Um desfiladeiro arrancando meu medo
O arame retorcido o elo que enferruja

Inseguranças, incertezas, duvidas e fracassos sublimes
Riscando um horizonte, que a paz galopa para longe...
Quero teu sorriso falso e amarelo
E o teu pior... cinismo, maldade e vaidade...
Quero os requintes da tua crueldade infinita...
Quero a mentira fudendo com a verdade
Num estupro divino...
Lixo fétido entornado sobre a mesa do almoço
E esperanças perdidas, sim... Todas elas... Estranguladas

Então vem o silêncio... Sim... isso.
Uma agonia tão intensa
Que lágrimas se espreitam, estreitam e se acomodam...
Agora  algo é possível...
Na aridez impossível da ausência minha e tua...
O visgo encontra teias reais...
E da solidão mais profunda... eu te quero
Tua multidão te afaga

Nascedouro de feridas que secaram...
Orvalho diáfano que parte livre em ti
Tua fenda tua alma
Se acabando em vazio e paz
Pois não há mais  inimigo
És a fecundidade prima de meu encanto
Ninho de minhas raízes
Face ao sol.

Luís Fabiano.


- Fio da Navalha - Video -

   Entrevista com Ploc!   








Sonhos defeitos, merda em festa, e um cu que explode

Dias mais serenos estes. Dias que antecedem um ano supostamente novo. Sabemos que não há novidade alguma em nada, tudo é uma convenção formal, um ritual meio mórbido para passar a meia noite, e no segundo após das doze badaladas, é tudo a mesma merda.

Mas acho isso bonito a distancia, as pessoas fazendo seus planos, esperando o mundo ser melhor, esperando ser felizes, tentando emagrecer, talvez acreditando num amor possível e outras tantas idiotices naturais de um ritual. Tudo bem... As pessoas precisam disso, eu não. Tenho me trabalhado na desconstrução de todas estas coisas. Não sei exatamente aonde isso vai me levar, pouco me importa também, apenas venho dia a dia deixando em crer, no que todos creem, de fazerem as coisas como todos fazem, de esperar exatamente o que todos esperam. Foda-se. Se a voz do povo é a voz de Deus... creio que estou ficando surdo.

A natureza não faz planos, ela apenas corresponde ao que lhe oferecemos. A vida funciona mais ou menos assim, mas com seres humanos existem outras variantes. Atenuantes e agravantes. Porra, com o ser humano tudo é mais complexo. Existe uma luta travada sempre, daquilo que verdadeiramente somos, e daquilo que pretendemos ser, os ideais em sua grande maioria irrealizáveis, que desembocam em nada.

Olho para minha garrafa de rum,  pela metade, isso me deixa feliz, neste segundo eu não preciso de nada, nada mesmo. É isso, viva momento a momento. E tome um gole de rum. Eu ficaria nisso eternamente, quando o celular toca. Consulto as horas, são duas da manha. Não tenho sono, a rua esta quente, calor humano e calor real, de um tempo infernal. Atendo a merda do telefone:

-Sim...
-Oi Fabiano... tudo bom?
-Soninha... Mas que beleza... E aí, a que devo a honra?
-Que honra Fabiano... Te telefonei porque quero fuder... fuder agora, tá afim?

Gosto de mulheres que sabem o querem, decididas, firmes e sem frescuras, são raras ainda. Conheci Sonia há um certo tempo, é uma boa amiga, ela não deseja nenhum envolvimento emocional e nem tão pouco eu. Ótimo. Apenas gosta de trepar como uma louca. Então depois, ela desaparece como uma nevoa, por um bom tempo e fica tudo bem. As vezes manda uma mensagem. Não é casada e nem tem namorado, gosta de uma outra mulher. A Sonia é uma negra alta, forte, com seios fartos e cabelos cacheados. Tem um cheiro próprio, que não é perfume, é da raça. Gosto do cheiro de suor. Sempre de vestido e com uma calcinha minúscula. Se oferece de quatro e deseja que eu empurre até o talo. Grande puta, grande vagabunda a cadela emancipada, em uma noite fudida, rompendo as estrelas fudidas num céu feliz e fudido.

-Com certeza Sonia... Eu até fiquei de pau duro de pensar nisso...
-Hummm ótimo, tu és meu comedor Fabiano... Comedor oficial... E a outra comedora é Jessica... Eu amo ela... há,há,há...
-Sei Sonia.. E ai? Ela vai vir junto?
-Não. Eu te pego ai... Tudo bem?
-Tem rum na casa?
-Claro meu negro... Claro que tem, tudo que quiseres... rum e buceta tá bom assim? Mas acho que não vamos para minha casa... vamos aventurar...
-OK.

Ela estava no cio. Perfeito. A vida deve ser assim, sem força, instinto e natureza. Fica meu conselho: foda com tudo a tua volta, sem dó ou piedade, mas com intensidade.
Desligo o telefone e sirvo mais uma dose caprichada de rum. É como veneno incendiando as veias, fazendo víboras dançarem no estomago .Toco no pau, ele esta bem, meio duro, abro a calça e dou uma boa mexida nele, ele se anima mais, engrossa, e a cabeça fica molhada. Bom menino digo eu... Eu sou um filho da puta, e o pau é meu cumplice.

Termino a dose de rum e coloco uma camiseta preta. O celular avisa que Sonia esta embaixo me aguardando. Desço.

-E ai Soninha... tudo bem...
-Claro... vem, entra ai... que hoje tu és meu...

Ela esta com a cara de tarada. Possivelmente se drogou um pouco. Ela gosta de aditivos fortes para animar as coisas. As vezes fica meio insana, mas não nega uns bons tapas na cara e na bunda.
Entro no carro e vamos nos esquentando... O vestido branco vai subindo pelo meu toque... Minha mão pelas pernas, subindo lentamente ate a buceta... Sem calcinha... e molhada. Ela me beija, eu enfio dois dedos nela e depois tiro colocando-os em minha boca... O gosto é ótimo, ácida e melada, mijo e suor, a vida não poderia ser melhor?

Nos dirigimos para o motel mais próximo. Éramos jatos alados de desejos vulcânicos numa erupção eminente, que se exploda o mundo, que se foda o universo. Éramos puro desejo, Sonia é o tipo que não se prende nada, um trem bala sem freio, ela dá vazão a tudo que sente e tem vontade de fazer, ao contrario da grande maioria as mulheres ela não teme experimentar nada de novo, e se der merda deu...

Quando entramos no quarto, luzes apagadas, roupas despencando no chão, tapas, fúria, ela me chupa com voracidade agarrando pelas bolas enfiando os dentes no pau...  Coloca inteiro na boca indo até a garganta, é uma cavala. A coisa foi ficando mais insana, o rum e as drogas faziam o efeito do soro da verdade... Éramos brutais, grosseiros, agressivos e queríamos arrancar o orgasmo um do outro, fosse como fosse... Vadia, cadela eu dizia, ela por sua vez... gritava em desespero: filho da puta... Seu puto de merda... Me come, arromba minha buceta... Quero que o útero exploda de porra... cutuca meu útero...arranca ele daí...

-Nada disso puta... Vou comer teu cu... Agora...
-Não... não...cu não...por favor...

Falar assim me deixa mais louco.

-Ta com medo? Que porra é essa... É cu sim... e agora...

Ela não resistiu nada... Virou de quatro, cuspi no rabo dela e o dedão entrou fácil... ela sorria... Num desespero, como uma poesia linda de final de mundo. Eu me sentia um animal, tigre indócil despejando a fúria numa ânsia sem fim, éramos um molho de suor, o cheiro forte de cuspe, líquidos vaginais, esperma e merda. Enfiei no cu, lentamente, abrindo o olho de Tundera, fazendo o movimento mais rápido... que cu fantástico... Ficamos nisso um bom tempo, então ela começou a dar indícios que estava gozando... Havia desespero e algo que na hora não percebi... Então gozamos como animais no cio, eu um touro ela a vaca maravilhosa... A mimosa de minha vida... então ela diz:

-Vai tira... tira de dentro de mim isso... Seu puto de merda... tira rápido...

Tirei rapidamente... Então como uma bomba tivesse explodido... Uma golfada imensa de merda encantada voou sobre mim... A cama, as paredes e o teto... Uma explosão de merda... eu fiquei do pescoço para baixo tapado de merda... Como um boneco de cera derretida... mas era merda. Já tinha me acontecido algo semelhante com outra amiga... Mas nunca naquela intensidade.
Sonia foi acender a luz e quando viu... Ficou sem saber o que fazer e dizer... 

Eu comecei a rir... a gargalhar... Eu era um boneco de merda fresca... o cheiro não era dos melhores, um boneco fedido.
-Fabiano... que isso...
-Relaxa Sonia... Isso pode acontecer... Afinal é um cu... Isso tudo saiu de ti...
Sonia agora conseguiu rir, um riso nervoso pareceu.

Havia merda por todo lado... Eu fiquei pensando: mas essa moça devia estar com uma prisão de ventre, há uns dez anos? Ri... Fabiano o purgante, o supositório gigante... Fiquei olhando para os lençóis que um dia foram brancos... Acho que a foda havia acabado naquele instante.
Fomos para o banho e levamos os lençóis junto. O cheiro era algo. Parecia que o quarto inteiro havia se transformado em uma privada imensa.

Eu me sinto tranquilo, afinal foi um acidente da situação... Mas o importante que havíamos gozado. Sonia é maluca, mas não sei como ela vai reagir depois que ficha cair. Talvez a merda tenha entrando também na cabeça dela... Estava meio catatônica... Mas não sei por quê.

Uma hora de banho depois, estávamos tão limpos quando nascemos nesta porra de  mundo. Os lençóis também... Limpamos como deu a parede... E o espelho... Deixaríamos  algumas  marcas para a mulher que faria a limpeza... Ela já deve ter visto coisas mais estranhas isso... Pensei

Quando saímos do motel, estávamos calmos, como que sedados, energia demais gasta, na foda e na limpeza talvez. Sonia me deixa em casa, nos despedimos como um beijo frio:

-Fabiano... Meu cu ta doendo muito cara...
-Sei... A culpa é da merda que saiu dai... (risos)
-Acho que ta rasgado... e bem rasgado...
-Não... Não havia sangue... Quando rasga existe sempre um bom sangramento... Já vi isso...
-Que bom.. Menos mal... Imagina eu ter que costurar o cu?
-É... Boa noite Soninha... Fica em paz.
-Tchau Fabiano...

Ela não estava muito animada. Me sentei no bancos do prédio, olhando as estrelas... a lua. Noite fantástica essa. Um cachorro vem e começa a cagar na calçada, exatamente bem na minha frente... Eu começo a rir.



Luís Fabiano


Áudio Poema

  - Chupada das Estrelas -  

Texto e voz - Luís Fabiano




quinta-feira, dezembro 27, 2012









Último Olhar

A vida me transcorre sem apuros. Como o próprio sangue fluindo em minhas veias lentamente, mesclando-se entre minha sanidade e o álcool. Assim me deixo levar. Demora-se muito tempo para aprender isso. Teoricamente todos podemos aprender. O grande porem é saber fazer calar as vozes incontidas, que como cães furiosos no peito, ficam dizendo pra você: faça isso, faça aquilo, seja alguém, ataque, tenha importância... não perca tempo, não perca, com pressa vai...

Como uma meditação diária, simples, vivendo dia a dia, como se fosse o ultimo, fico assim. Como um viciado que se vangloria de naquele dia não ter bebido ou se drogado ou estuprado... Uma vitória anônima e inexpressiva, um guerreiro solitário, tentando vencer a si mesmo, sem aplausos em teatro vazio.

Felizmente não sou viciado em nada, eu acho. Talvez nada seja forte demais de dizer, bucetas me são benvindas, uma boa buceta é capaz de me conduzir a um amor profundo, mas mesmo neste aspecto, o tempo parece que estar me lapidando. Seja lá o que for lapidar neste âmbito...

Mas ao que parece, a vida não é pra ser vivida assim. Foda-se. Nada disso funciona como um filtro para as dores, para os desacordos e loucuras. Isso você precisa ir aprendendo como cada ser humano que você se depara. Tento evitar muitos deles... É mais saudável assim.

Depois de inúmeros casamentos, você aprende a não dar muita importância para nada. Muitas pessoas a nossa volta são feitas de plástico mesmo, elas não vão dar falta de você, elas não se importam, isso é natural. A grande questão é se você consegue ficar em paz com isso? É disso que falo, de tempo. Perdemos um tempo imenso tentando acertar quando apenas tudo que se precisa é estar aberto, e deixar a natureza fazer o resto.

Eu estava olhando pela janela do quinto andar. Enfiado em pensamentos longínquos, e minha alma descansava. A passividade do dia me invade, por veze sou frágil com dentes afiados. Sou um cão de guarda agora, com cães por dentro.

Inescapavelmente lembro-me do ultimo cachorro que tive. Um policial que feroz, negro e amarelo, que respeitava muito meu pai. Ele foi meu sonho realizado, pois desde muito criança quis ter um cão chamado Cyborg. Cyborg foi me dado, e cresceu como crescem as coisas boas, altivo e feliz.

Era um cão fantástico, passeávamos, ele se tornou muito forte, mas nunca atacou ninguém ele era do bem. Dei todo o carinho para ele... E ele correspondeu. Chegava da escola, e lá estava ele feliz latindo alto e forte. Então saiamos para caminhar, todos os dias. É como eu digo... As vezes as coisas não são para serem assim...
Com o tempo veio a minha irmã. O espaço da casa era muito pequeno, ela um bebe e Cyborg um dia soltou-se da coleira... E foi rapidamente em direção a ela... E ele a lambeu, surpreendendo a todos que estavam assustados. O amor tem aspectos estranhos. Cyborg havia ficando grande demais para o espaço que tínhamos.

Cagava por todo lado, minha mãe e pai trabalhavam o dia inteiro e tempo e dinheiro fazia falta... A coisa foi se tornando mais difícil, e ainda mesmo sem ocorrência negativa alguma, tinham medo que Cyborg atacasse a criança ou alguém.

Eu não concordava com isso. Mas a opinião de criança não é importante, a minha não foi. Então um dia meu pai veio a conversar comigo:

-Filho... O Cyborg terá de ir embora...
Meu pai era um cara que não tinha indiretas. Falava diretamente o que era para ser dito, seja bom ou ruim... gosto disso. Detesto floreios. Acho que herdei isso dele.

-Mas por que pai? Eu gosto do Cyborg, ele gosta de mim... somos amigos...
-Não temos condições mais de cuidar dele... E tem mais a tua irmãzinha também... ele é muito grande e feroz... Temos medo que sem querer ele brinque ou a ataque... Bem um incidente assim seria horrível... pra todo mundo...

Nada disso fazia sentindo pra mim. Não gostava daquela conversa. Mas meus argumentos foram vãos, eles já haviam decidido, e tudo que me sobravam eram as lágrimas. Eu perderia meu amigo não para a morte, mas em função da vida.

Aquela noite foi difícil. Quando cheguei a porta que dava para o pátio. Cyborg me olha e não late, um silencio como uma lamina cortando o espaço, ele ficou sentado me olhando, parecia entender oque estava se passando. Será? Não contive minhas lagrimas, não conseguia olhara para Cyborg, não conseguia olhar para meu pai, e pelo que recordo lembro que foi os primeiros pensamentos de morte que tive. A ideia do suicídio deve estar presente na vida, como uma prece ou anestésico para a dor mais profunda. Com o tempo fui pensamento menos nisso.

Então amanheceu, era sábado e um amigo de meu pai viria levar Cyborg, para uma casa cujo quintal era imenso, mais ou menos uma quadra. Ainda lembro de Paulo e sua charrete grande, chegando em nossa casa. Ele sorria não sei de que. Fomos todos para frente da casa, eu levei Cyborg na coleira, ele aceitou passivamente, eu não, chorava sem parar. Ele subiu na charrete e 

Paulo que disse, vendo a minha tristeza:
-Fabiano... vai lá ver ele sempre... Ele continua sendo teu, e minha casa vai tá aberta, ele é o teu amigo... E vou cuidar dele pra ti, como um amigo que ajuda outro.

Todas as palavras ditas eram vãs, soavam vazias como um sino que não toca, tentei me acalmar. Então Paulo sobe na charrete, eu, meu pai e minha mãe estávamos ali... A charrete começa  afastar-se lentamente, no trote do cavalo... E o olhar de Cyborg estava em mim...e eu o olhava fixamente. Meus pais entraram para dentro de casa, e eu fiquei ali sozinho... Fiquei até não mais conseguir vê-los  na distancia, uma dor fisgando lentamente.

Lembrei-me disso, mas hoje a dor não é mais a mesma. Mas sei que depois disso não fui mais o mesmo, me sentia roubado. Qualquer sofrimento te modifica, você fica com uma breve cicatriz. Eu senti saudade de Cyborg e não sinto saudade de pessoas que viveram muito próximas a mim da mesma forma.

Visitei Cyborg algumas vezes, e depois nos perdemos... O tempo trabalhou, nele e em mim, ele veio a morrer forte, como uma espécie de insanidade mental...  Sei que Paulo fez o que pode. Foi isso.

Por vezes temos sede de saudade
E fome da alma
Como o encontro que jamais ocorrerá
O tempo como ondas
Leva e apenas leva
Mas as marcas que ficam traçadas
Na superfície da alma
Ficam... E assim devem ser.



ps: vou tentar localizar o Paulo para que ele conte a historia de própria voz. Se ele ainda estiver vivo eu gravarei um vídeo e vou querer saber o final de Cyborg e como a coisa se deu.


Luís Fabiano.



quarta-feira, dezembro 26, 2012


   Pelotas  Tatuada...  






Navalhadas Curtas: Padaria

Entro na padaria, aguardo no balcão, enquanto o casal, possíveis donos discutem:

-Getúlio... Já disse que isso vai ficar caro demais...
-Tu não sabes nada... Tu pra negocio é uma bosta...

Penso: Eu sou uma estatua talvez da praça coronel...ninguém me percebe...vou dar mais trinta segundos...

-Olha como tu falas comigo... Porque estamos abertos ainda, por causa do meu dinheiro...
-Vais me jogar na cara agora? Bem que a mamãe disse que tu eras esse tipo... bah...
-Tipo? Que tipo hein? Diz...

A coisa estava ficando feia... Deveria ir, mas que merda, tantas padarias em Pelotas e entrei numa... Fria...

-Olha Maria deixa pra lá... Porque isso não vai terminar bem...
-Nada disso agora Getúlio... Começou vai terminar... Comigo é assim...

Subitamente eles olham para trás, ao mesmo tempo, e lá estou eu... Cara de paisagem, queria apenas pão francês... Mas a vida é oportunidade vocês sabem... então aproveitei:

-Bom dia... Meu nome Carlos Estilér Anton, muito prazer, sou advogado de direito de família... Muito prazer...

Eles ficam me olhando... Como quem diz: e aí? Eu sorri... e segui:

-Por favor, vocês poderiam me dar cinco pães?

A mulher me atende... Esta desconfiada.

-Deu 1,65 –ela diz
-ok

Antes de sair eu digo:

-Se precisarem dos meus serviços... Estou as ordens...

Fui embora, e pude ouvir a mulher dizendo pra Getúlio:

-Foi tudo que mandou este cara aqui, não foi??


Luís Fabiano.



Pérola do dia:

“ Pontos de vista contraditórios, que se equilibram em fio de navalha
é a receita para estar em paz”.


Luís Fabiano




Mente Víbora entre a areia

Sentado observando na praia
A mente calada como uma víbora a espera do momento certo
Não é preciso fazer nada
Isso não é fácil...
É ficar tranquilo
Aguardando a vitima inspiração ser picada...

Não concordo com sacrifícios de nada
Não espero o poema
Com uma pica de jegue
Prefiro as coisas mais simples
Ainda que signifique, adaptar-se como uma barata
Cruzar caminhos inesperados a espera do milagre
Fazer yoga intestinal
E sentar-se, acomodado ao natural desagrado
Sim... aguardar, aguardar e aguardar sempre...

Minha mente calada
E um mundo berra distante
Com sirenes infinitas ecoando em uma noite de festas
Permaneceria assim pelo tempo que fosse
Entre tudo que se completa
Sem querer nada em troca...

Não sei se me sinto completo
Por vezes a benção é a duvida
Que mantem a fome não saciada
Relâmpagos como traços luminosos
A inquietação pungente de um golpe final
Meu olhar estala o céu
Enquanto as dores se calam em uma performance
Onde o sublime descansa seus dentes afiados

Quero ficar sentado na praia
Acariciando a víbora...
Pode não haver momento certo
Mas isso pouco importa
Por que na verdade
Nunca sabemos exatamente nada.


Luís Fabiano

segunda-feira, dezembro 24, 2012




Trecho Solto...

Estendi a mão e comei a pedir a todos que passavam por mim. Mal balbuciava alguma coisa. 

Para pedir esmolas não se pode falar com clareza, nem argumentar, nem nada. Você é um animal miserável, um micróbio pedindo umas moedas pelo amor de Deus. Um pesteado. Assim foi desde que o mundo é mundo. É toda uma arte de pedir esmola e aparentar imbecilidade, cretinismo, embriaguez crônica, burrice. Só um imbecil pede esmola. Se o cara esta um pouquinho acima da imbecilidade é porque pode fazer alguma outra coisa. Assim é. É preciso fazer cara de imbecil para convencer. Mas nem assim. Ninguém me deu nada! Andei muitos quarteirões, lentamente. Esfarrapado. Sem rumo.Com cara de louco e imbecil , estendendo as mão abertas diante de todos e balbuciando. Ninguém me deu nem uma moeda! 

Que horror! Nada. Naquela noite eu podia ter morrido de fome. Percorri a Carlos III. Duas ou três horas. Não sei por quanto tempo. Pedindo pelo amor de Deus. E todos viravam a cara . Olhavam para outro lado. Ou fingiam que era um fantasma. Eu nunca tinha pedido esmola antes. Mas é terrível pedir esmola quando as pessoa são tão miseráveis. Estão todos no fundo do poço e detestam quando outro vem se queixar. Muitos me disseram: ”não enche o saco, velho, que eu até gostaria que alguém me desse esmola”.


Extraído de:
Trilogia Suja em Havana -  Pedro Juan Gutierrez

domingo, dezembro 23, 2012


  O Natal da Navalha  








Navalhadas Curtas: Celular... outra vez...

Ultimamente tenho deixado o celular ligado e não no silencioso,em minhas madrugadas por aí. Felizmente nada tem acontecido de muito diferente. Me sinto tranquilo, como quem sente prazer em comer merda... Primeiro você se revolta, e depois é simples... acostuma.Tudo acostuma.

Chego em casa tarde, e procuro minha cama e caio morto. Então as quatro e quarenta e nove, a porra do celular toca. Como já disse de outro momento, nenhum celular toca de madrugada para desejar algo bom, atendo o infeliz com muito animo:

-Falaaaaaaa... porra...
-Fabiano? Luís Fabiano?
-Não... É Jesus Cristo antes da cruz. é claro...
-Oi Fabiano, tu não me conheces... sou Isabela, e é assim...

A voz dela era boa... tava calma, não parecia louca... Mas que diabos... mas quem era Isabela? Foda-se, deixei andar...

-OK Isa... então... Qual é a boa?
-É que falei com a Marcinha... sabe... E ela me disse que transas com qualquer mulher... é isso mesmo? Feia, baixinha, gorda, pelancuda, suada, suja, bafuda... É verdade isso?

Aquilo me despertou melhor. Uma cadela caída do céu,gratuitamente? Que merda será que ela fez...

-Bem é mais ou menos isso... Mas é preciso haver uma química minima...
-Sei, sei... A Marcinha disse que tu és discreto,um cara tranquilo, e não diz não para nada...

Eu não digo não, para nada?? Creio que digo... mas bêbado demoro mais pra dizer... Afinal as pessoas parecem melhores quando bêbadas.

-Não é bem assim, mas Isabela... O que você quer mesmo, vai pro final da historia?
-Transa comigo?
-Agora?
-É... agora eu te pego ai...fazemos e te deixo em casa...

Confesso que algo em mim balançou. Mas na verdade não tava a fim de sair as cinco da manha...

-Isa é o seguinte, agora não dá...

Aquilo foi como se eu a houvesse ofendido. Ela pirou total no telefone...

-Filho da puta... seu merda, corno, veado... Ninguém me diz não...ninguém me dispensa assim... filho da puta... vou mandar te capar...tu vais ver...vou mandar criolos te estuprar...

Em algumas pessoas tudo que você precisa, é dar um pequeno impulso na ladeira...

-Ok Isabela, obrigado, e boa noite pra você também...

Celular no silencioso enfim... Ela ligou trinta e nove vezes.

Luís Fabiano.





Sempre algo a dizer

Porque o silêncio, não pode ser apenas ele?
Sempre reclamações
Sempre cobranças
Sempre pedidos infinitos...
E nunca ninguém esta feliz, com a própria buceta ou pau...
Não lido bem com nada disso
Prefiro abrir a porta...

Ela: você é responsável por tudo que cativa, sabia?
-Nunca gostei de pequeno príncipe, ele é uma aberração e um chato...
Ela: tu és grosseiro, animal... ainda perco meu tempo...
-Obrigado baby... não perca...
Aquilo deveria ser o fim pra mim...
Lembro que já terminei uma relação porque ela gostava de pagode...
É o que digo sabem:  quando a emoção esvai...
Qualquer motivo é motivo... Pouco importa

Tolerável torna-se um rabisco
Entre as notas que clamam por pausas...
Nada disso deveria ser assim...
Mas como evitar a sina da morte?
Um beco escuro, traz esperanças recobertas...
Pois o desconhecido enriquece o imaginário
Como projeções são melhores que a vida...

Meu saco já estava cheio...
Fiquei em silencio por muito tempo...
E isso as vezes é pior coisa a fazer
Sempre loucas, sempre putas, sempre barraqueiras
Sempre com ideias suicidas, bêbadas... Sempre
Tenho certeza que foram as malditas palavras
Que abriram feridas inesquecíveis por aí...
Como um lótus no lodo

Abri a porta
E fui...
E tudo ficou para trás longinquamente
Jamais torno a olhar por aquilo que cruzei... Jamais
Flores fenecendo abrindo espaços para novas flores
Desejo me tranquilizar
Como o afago na agonia...
E deitar embebecido de orvalho e silencio
Sorvendo em segredo o amor e beleza
Não sei exatamente como isso vai se dar...
Mas é como molhar a mão em um mar de esperanças.


Luís Fabiano.