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sábado, julho 31, 2010


Perdedor

A noite avança.
Copos quebrados, whisk bom.
Festa, perfumes e mulheres de vestidos coloridos.
Todos sorriem
sorrisos envernizados de álcool
Conversa idiota,
Correntes que arrastam pra cama.
Ela sorri pra mim sem me conhecer.
Tinha pernas melhores que os olhos.
Sozinha, uma bunda melhor que o sorriso.
a separação lhe caiu bem.
Todos os sonhos quebrados.
Conversamos um pouco,
O álcool abre muitas coisas,
A alma, as pernas, os botões ...
Tudo parecia bem, cartas marcadas,
Vitória certa.
A noite espera ir fundo.
Sem alma, a toda velocidade e sem freios.
Gosto disso.
Bêbado, olhei em seus olhos.
Senti asco de mim mesmo.
Mais uma buceta na constelação?
Olhei a minha volta, tudo é igual.
Um ninguém, entre ninguéns.
Levantei e apenas disse a ela que não dava...
Não naquela noite, e em nenhuma.
Na rua acendi um cigarro
Uma outra veio pedir fogo.
Sorria fácil...facinha.
Não quero conversar.
Talvez a fumaça entupisse meu coração, me envenenasse.
Sai caminhando noite a dentro
Querendo rasgar a noite com minhas mãos.
Tentava lembrar alguma vitória.
Eu estava com amnésia?
Não, não existem.
Olhava para todos os lados.
Cercado de pesadelos sem fim.
De mulheres que se foram, levando pedaços...
De filhos abortados...
Meus filhos que nunca sorriram pra mim.
A noite tornava-se mais escura.
Nem bebida, ou abraços carinhosos.
Sentia-me nocauteado
E abriram a contagem.
Um, dois, três...
Não tenho forças.
Não tenho nada.

Luis Fabiano.

quinta-feira, julho 29, 2010

Navalhada Musical:

O Jazz tem muitos mestres, mas Herbie Hancock é raro. Aqui vai um clássico dele, é pra curtir, relaxar e servir uma boa bebida. Fique tranquilo entre nós.


Navalhadas Curtas: Lambendo o saco.

Minhas breves caminhadas tentam ser culturais. Tentam ser descontraídas, como uma bunda que senta-se uma almofada de pentelhos. Às vezes consigo, mas invariavelmente a vida termina gritando aos meus ouvidos.
Cadeiras falam, janelas entreabertas também. Um vômito canino em uma rua semi-escurecida. Fragmentos brutais da vida, que berram aleatoriamente. Que nos lembram algo. Que passam.
Entrei no sebo para flertar com os livros. Gosto disso, todos aqueles títulos, todos querendo dizer alguma coisa. Errantes de mãos estendidas. Não procuro nada, olho na esperança de ser escolhido por um.
No recinto, havia um senhor de terno e gravata. Conversava com outros dois caras da minha idade. Falavam inquietamente da guerra do Paraguai, sua importância capital. O senhor vangloriava-se, de ter tido acesso a documentos secretos da guerra.
Não me interesso por guerra. Friamente, morre gente todo dia, por motivos mais dignos. Infelizmente guerras sempre são motivadas por mesquinharia. Então o referido senhor começou a falar mais alto. Como se estivesse em um púlpito. Excesso de teatralidade, para explicar os meandros da guerra. Me olhava de canto de olho.
Os livros calados em suas estantes. Os caras olhavam o senhor assombrados. Detalhes da guerra, o velho era a guerra. Agora berrava, babava-se e fazia chover saliva, nos seus dois expectadores ansiosos.
Me senti um imbecil, embotado e feliz. Documentos velhos, raros e secretos?Nada mais há de secreto neste mundo.Tudo está profanado. Sorri para mim mesmo. Fiquei com vontade de aplaudir o velho, mas me contive. Gosto de ir aquele sebo, o dono estava feliz. Não é bom estragar os prazeres alheios.
Passei meus dedos nas confissões de Santo Agostinho. Senti-me consolado e fui embora.

Luís Fabiano.

quarta-feira, julho 28, 2010


Insights

“ Tenho uma imensa necessidade do lixo humano. De todas suas peçonhas, garras e dejetos. Me alimento disso. Todo dia. Do pior, das sombrias emoções não assumidas. Do ar de falsidade que impera, a meia luz, de olhos semi- cerrados.
De semblantes idiotizados, com traços finos, pseudo alguma coisa. Daquilo que se trama às escuras. De gemidos selváticos, misto de dor e prazer. O sofrimento apraz. Farpas da realidade sem arremate.
Onde todos os sorrisos esmaecem, convertendo-se em lagrimas. Ali não há disfarce, não é bonita como uma vagabunda sorridente que brilha a noite, mas é o mais perto da realidade que se pode chegar. “

Luís Fabiano.

Ninfomaníaca depressiva.

Quando você pensa que viu tudo. A vida arruma um jeito fodido de mostrar que não. Tento ser alguém que não surpreende-se com nada. Fui aprendendo com a vida, a ter reservas. É preciso ter guardado um leque vasto de tragédias em sí. E algumas poucas coisas boas na vida, para ser assim. Para equilibrar. Tenho isso no sangue.
Considero realmente muito, quando abro meus olhos pela manha e ainda estou vivo. Estou sempre à espera de uma tragédia. Não sei se é uma boa maneira de viver, mas é a minha. Então, traições não me surpreendem, um soco na boca não me surpreende, uma mulher querendo mijar em mim não me assusta, até gosto.
Uma facada que vem do nada, a merda de bala perdida que ache minha cabeça. Nada disso me surpreende. As vezes me emociono, embora seja raro.Não vendo minhas emoções de forma barata. O que me toca, é o que passa cego ao mundo.
Um sorriso de alguém desconhecido. Flores murchas jogadas no lixo. Uma katana afiada rasgando o vento. Um abraço indiferente. Uma buceta romântica, as vezes e carinhosa. A arte. Não sei da química do que me toca, mas é uma mistura secreta. Que tenha um pouco de minhas dores, e outro tanto do que não espero da vida.
Realmente aprendi a não esperar absolutamente nada, da vida e de ninguém. Vivo do lucro, quando existe.
A vida noturna é predatória. Sempre tem alguém querendo comer alguém. Putas ensandecidas, drogadas ansiosas por clientes. Pagos ou não. Putas formais e informais, este segundo grupo é bem maior. Não tenho nada contra nenhuma. Às primeiras cobram um preço mais baixo que as outras. E você não precisa ligar pra ela no dia seguinte. Nem deixar nada que seja seu. Goze e vá embora, porque a fila esta grande.
Parada naquela esquina, Nefertiti rebolava e rodava sua bolsinha. Sempre passava por ali de carro. Mas eu a achava meio fraca para profissão.Puta tem que ter um bom corpo ou um bom rosto. Ela não tinha nada disso. Apenas boas tetas em corpinho magro. Possivelmente devido às drogas. Algumas vezes a vi dando uma cafungada caprichada. Nada contra quem usa drogas, mas ver ás vezes é depressivo. Principalmente imbecis viciados. Viciados estragam o negocio.
Um dia parei para conversar. Não tinha planos de fazer nada. Parei apenas para tirar um tempo, talvez ela me surpreendesse, tivesse algo a dizer? Já sabia discursos das putas de cor. É sempre o mesmo script. Fale com uma, e falou com todas.
-E aí princesa...perdida e sem príncipe esta noite?
Ela sorri, cheira alguma coisa no pulso, e vem até a janela do carro sorridente.
-Oi...acho que meu príncipe chegou.
-Minha carruagem não é as melhores, mas é vermelha como o trenó filho da puta do papai Noel. Você lembra da musica, Papai Noel filho da puta...???
Ela começa a rir, meio chapada e frenética. Gente chapada normalmente quando não é discreta e sabem drogar-se, costumam ser apenas babacas. Parecia que aquilo ia torna-se promissor. Não sei, mas estava disposto. Ela dispara:
-Olha príncipe, é trinta no carro o boquete, e cinquenta no motel completo, mas não dou o cú.
Era um cardápio. A La Carte ou rodízio? Afinal cú, quem precisa de um cú, em uma noite quente e cheia de estrelas?
-Claro princesa, deixemos o cú fora, entre na carruagem do amor. Que nos levará aos braços de satanás.
-Cara, tu é completamente louco, mas gostei de ti.
-Gostar de mim é fácil a noite, mas a durante o dia , as coisas ficam mais complicadas.
Ela apenas sorria. Eu sabia que tudo aquilo era profundamente fútil. Mas minha vida sempre foi muito voltada a futilidade que desse algum prazer. Talvez seja a eterna briga de minhas esperanças frustradas. Tenho várias.
As vezes amores baratos são mais intensos que amores profundos. A exigência é menor. Não pesa tanto e ambos estão dispostos a ceder algo. Deslizei o Lada vermelho para avenida Bento Gonçalves. Queria tomar uma cerveja primeiro, ela aceitou. Disse:
-Então meu amor, me conte uma destas historinhas, “românticas” que te levaram a esta vida glamorosa...
-Eu não tenho historia triste. Tinha uma vida mais ou menos legal, não passava fome, não tenho filhos que dependam de mim. Vivo pra mim mesma. Faço porque gosto.
-É, isso parece coerente demais.Ninguém é tão coerente assim, onde esta a insanidade? Aquilo que diferencia um filho da puta do outro....
Ela é meio nóia. Talvez fosse o pó, ou era maluca mesmo. Você sabe como é a risada dos loucos? É, ela ria assim.
-É que sou louquinha sabe.
-Sei.
-É, tenho taras, adoro transar, transo com qualquer um, com qualquer sexo, quero é transar mesmo. Não tenho restrições, gosto de sado-maso, bukake, chicotada, porrada, gosto de ser agredida. Uma amiga diz que sou ninfomaníaca. Acho que sou mesmo. Adoro sexo.
Não acreditei em uma palavra do que ela disse. Não sou muito de acreditar no que as pessoas falam. Em ninguém. Elas são sempre movidas por algum entusiasmo ou tristeza. Isso torna tudo uma grande mentira. Alem do mais, ali éramos personagens. Não levo em consideração nem pessoas sérias. Decifrar o que vai na alma das pessoas, é sempre entrar em um labirinto.
-Claro, conheço varias ninfos. Na verdade a ninfomaníaca é uma mulher que não consegue gozar, isso faz ela querer ter varias relações inúteis...
Ela concorda. E chegava de papinho furado, era hora de ir pra ação. Terminamos a cerveja e fomos para o motel. Quando entramos no quarto ela despe-se rapidamente. Não errei, as tetas eram boas. O corpo tinha algumas marcas e roxões, muito magra. Ela parecia ter pressa. Veio pegando meu pau direto e colocando na boca.
-Ei, se acalme, deixe eu tirar a roupa, pelo menos.
-Vem pra mim, gostoso, vem, me come, me engole, vem rasgar minha buceta...
Não sei o que foi. Não gostei daquilo, ela não era assim. Mandei ela parar com o circo. Gosto de teatrinho as vezes, hoje eu não queria.
-Que foi? Você não gostou de mim?
-Não. Se acalme, fique tranquila, vou te pagar, gozando ou não. Mas não faça teatro pra mim. Agora me dê sua alma...
-Hã ?
-Isso aí, me dá teus sonhos, me dá aquilo que mais desejas. Ser amada com carinho, ser desejada não pelas tuas tetas grandes, mas pelo bate aí dentro...me dá a tua alma...podes me dá-la por cinquenta reais?
Não sei o que aconteceu com ela. Seu rosto se modificou. Pareceu ficar muito triste com tudo aquilo. Não queria provocar isso,por vezes causo dores sem querer. Como um gilete que corta sem querer.
Falei a verdade, queria a alma dela. Buceta por buceta, eu bato uma punheta e tudo fica bem. Mas não gosto e lançar esperma no chão do banheiro, ou nos lençóis de minha cama. Acho um desperdício, leite inútil.
Nefertiti começa a chorar. Senti que começava a dar algo verdadeiro. As vezes precisamos de alguma coisa que seja verdadeira em nossa vida. Eu a abraço, ela fala:
-Não é Nerfertiti, é Paula, meu nome é Paula.
-Obrigado Paula, obrigado Paula.
Ficamos abraçados assim. Não precisa transar mais. Ela me deu aquilo que não se toca nela. Sexo sempre é fácil. O resto é raro. Ficamos assim um bom tempo. Então ela me beija suavemente. Me empurra devagar na cama. Não tem pressa. Era uma nova cena. Paula não estava sendo profissional, estava com sede. Sede amor eu acho.
Transamos como amantes saudosos. Que não se vêem a muito tempo. Talvez nunca mais eu a visse. Seja como for, ali estávamos em paz. Minhas frustrações encontraram as dela. Acho que de certa forma um penetrou no coração do outro.
Tomamos banho juntos e fomos embora. Não falamos muito. Peguei o dinheiro para pagá-la. Ela não aceitou. Na esquina onde tudo começou a deixei, deu-me um beijo carinhoso e desapareceu.
Fiquei a pensar. A alma às vezes está mais nas esquinas que nos templos. Quando todos os artificialismos caem, o que sobra é alma. Mas é o você sente, por detrás daquilo que você sente.

Luis Fabiano.

segunda-feira, julho 26, 2010


Pérola do dia:


“ Um dos grande problemas de envelhecer, não é que tão somente os ossos custam a soldar. Mas emoções duras, tornam-se de difícil digestão.”

Luis Fabiano.

Retalhos de um coração.

Ontem fui visitado pelo passado coadjuvante. Quando se tem muitos passados, isso torna-se um pesadelo de olhos abertos. Fui comprar carne. Um bom pedaço de picanha e vinho para final de semana. O rum estava bem, garrafa quase cheia, eu feliz.
No caixa do supermercado, lá estava o passado. Chego á conclusão que nada muda facilmente. Nem eu e ninguém. Emoções coadjuvantes, como um cenário teatral, pano de fundo. Ela ainda era a mesma, mesmo jeito, mesmo ar superficial, mesmo marido. Aquele encontro não durou cinco segundos. Mas é impressionante como se pode revolver tanta merda em cinco segundos.
Não gostei de minhas lembranças, mas creio que naquele instante eu era um cativo. Cativo de mim mesmo. Tentei esquecer, fugir.
Fui atrás de minha carne. Quando volto, ela ainda estava lá. Desta vez me viu, fez naturalmente sua cara de nojo. Estou acostumado com isso. É algo que por vezes não se pode escapar. Aquele olhar que as pessoas fazem como observassem sua merda boiando no sanitário. Sorri com enfado.
Percebi que não teria escolha. Iria lembrar dessa merda toda. Tratei então de mergulhar fundo, já que a fila era grande, a moça do caixa era lenta. Poderia pensar a vontade. Os pensamentos eram como uma faca cega. Arranhava, mas não mataria.
Conheci Roseli porque namorava sua melhor amiga. Não foi um grande namoro, acabou em um piscar de olhos. Como um cão de rua atropelado, com arrancos de desespero. Não posso dizer que conhecer Roseli foi um prazer. Mas creio que fazia parte do pacote familiar. Fomos apresentados em um almoço. Estranhamente naquele almoço fui visitado por outro passado. O passado não é modificável.
Roseli não era agradável, nem bonita, nem gostosa, inteligente ou mesmo sensível. Não gostava dela. Entendo que por vezes é difícil perceber qualidade nas pessoas. Mas também sei que existem pessoas não as possuem. O não gostar faz criar fantasmas e monstros onde não existem.
Talvez os olhos verdes? Pode ser, eles faziam uma bela combinação com uma boca negra repleta de dentes torcidos, escurecidos pelo cigarro e café. Como uma pintura surreal, ás vezes o aberrante tem sua graça.
O que posso dizer, eram bem amigas. Porque uma ajudou a outra quando merdas aconteceram em suas vidas. Naturais problemas de relacionamento. Coisas comuns, espancamentos e traição. Não planejamos estas coisas, mas por vezes como uma avalanche, somos pegos. Ficaram muito amigas e cumplicies.
Porem a vida é irônica. Para mim tudo soava indiferente. Roseli era insuportável. O maximo que podia fazer é aparentar educação. Creio que passo fazendo isso tempo demais em minha vida. Razão pela qual tenho procurado afastar-me das pessoas. Fico em paz.
Não apenas a boca negra causava repulsa. Mas os sentimentos de frustração lhe vazavam da personalidade. Como um saco de merda furado. Ela tentava esconder, mas não era possível. Eram problemas demais. Não tenho o costume de sentir pena de ninguém. Pena não é um bom sentimento. Mas tudo que Roseli queria era isso. Sua conversa girava em torno de suas intermináveis queixas. Que iam dos filhos egocêntricos a um marido que não era muito bom em fidelidade.
Quando ela vinha visitar-nos, eu deixava as duas conversando, ia fazer qualquer coisa. Com elegância. Era sempre a mesma conversa. Não perco tempo, com quem apenas sabe queixar-se. Não suporto queixumes. Porem naquele dia o trem saiu dos trilhos, o bambu quebrou no meio.
Roseli conversava alegremente, de-repente coloca as mãos sobre o peito e cai desmaiada. Sei que não cabe um comentário desta monta. Talvez ninguém pensasse nisso nestas horas. As tetas de Roseli eram bem caídas, mesmo sendo uma situação critica de saúde. Ela desmaiada, com as mãos sobre os seios, pareceu-me interessante, pelo aspecto plástico.
Tive a impressão que ela havia morrido. Mas não. Teve uma sincope, mas percebi que ainda respirava. Não sou de ficar aflito. Não tenho um perfil nervoso nestas horas. Fico muito frio, quanto pior for a situação, mais fico frio. Ajudei e erguer Roseli, coloca-la no sofá. Ela respirava forte, com dificuldade. Sugeri:
-Vamos leva-la ao hospital agora, antes que morra.
-Sim,vamos.
Mas acho que gostaram dos meus termos. Fiquei sabendo depois. Não desejava a morte de Roseli. Não desejo a morte nem dos meus inimigos. Morrer por vezes é sem graça.
A levei para meu carro, infelizmente ou felizmente, a saia dela levantou com o vento. Não foi uma coisa bonita, mas naquele momento descobri uma bela virtude de Roseli. Ela usava uma calcinha bege furada na frente, que deixava sair para os lados, tufos de pelos e labios de sua vagina. Confesso que não senti-me um filho da puta. Não planejei, coisas da natureza. Gostei do que ví. Uma imensa e generosa vagina, de uma infartada.
Quando chegamos na Santa Casa, ela foi recebida imediatamente. Tinha um bom plano de saúde. Telefonamos para os familiares. Minha parte de bom samaritano estava feita.
Mas permanecemos lá, aguardando noticias. Estas não demoraram muito, quarenta minutos depois um médico chega:
-Parentes de Roseli?
-Sim.
-Bom, ela teve um infarto. Esteve “parada” por uns três minutos . Mas conseguimos reverter o quadro. Ela encontra-se agora estável, mas o quadro é delicado.
Eu não estava preocupado. E gostei muito da terminologia e seriedade do médico. Parecia que falava sobre uma bomba de combustível quebrada, uma descarga que deixava de funcionar. Na verdade o carro tinha morrido. Mas conseguiram dar uma enganada na “morte”, e tudo voltou a funcionar delicadamente.
Seguiu o médico:
-Será preciso fazer procedimentos imediatos. Cateterismo e não resolvendo uma cirurgia cardíaca. O quadro é muito grave.
Disse tudo isso franzindo a testa, para inspirar gravidade.
Em outras palavras, Roseli estava fudida. Estranha a vida. Normalmente sob estas condições temos a tendência de valorizar muito a existência, querer viver mais intensamente. O ser humano por vezes é muito imbecil. Assusta-se em tais situações, deseja modificar tudo. O susto passa, tudo torna a estaca zero. Estranha inteligência.
Lembro, aqueles dias foram interessantes. Pude ver a comoção familiar. O marido indiferente de Roseli, tornou-se uma espécie de guardião da família. Os filhos ingratos e rebeldes, repletos de vaidade, vivendo como reizinhos do lar. Tornaram-se amorosos. Uma transformação instantânea. Você acredita em transformações instantâneas ? Nem eu.
Minha namorada tornou-se a segunda guardiã de Roseli. Coisas da gratidão imagino, Roseli não merecia. Mas a gratidão assim, é uma dívida que se paga. Com emoção, com dinheiro, com ficar junto, na hora que o bixo pega. Você lava minhas costas, que eu lavo as suas.
Me desliguei da saúde Roseli. Desliguei-me da merda toda. Não quis saber de mais nada. Eu apenas assistia tudo isso de longe. Minha namorada, que não era a mais ardente . Com a doença e os cuidados com a amiga, converteu-se em enfermeira assexuada. Logo eu que sempre gostei de enfermeiras. Tive que me virar na mão mesmo. Afinal cada um com seus problemas. O meu era, com quem iria trepar?
Roseli, depois de um mês e alguma coisa, conseguiu recuperar-se. Havia ganho peso, parou de fumar. Mas voltou depois de algum tempo. O vício é necessário a alma. E um ano depois de tudo isso, era exatamente a mesma pessoa. Tudo voltou a normalidade.
A maldita fila não andava. Minha mente é especialista em revolver aquilo tudo. As vezes lamento ter tão boa memória. Mas acho que havia lembrado coisas demais. Em um dado instante antes de ir embora, Roseli olha-me incisiva. Um olhar pode transmitir muita coisa. Havia raiva ali. Por que deixei sua amiguinha para trás. Era para tê-la deixado antes.
Não podia fazer nada. Tudo que tentava pensar era assar minha picanha. Finalmente chegou minha vez no caixa. Impressiona como uma fila pode ser destrutiva. Acho que é por isso que as pessoas não gostam de filas. Na fila, elas são obrigadas a ficarem consigo mesmas. E isso por vezes pode ser terrível. Mas agora não precisava preocupar-me mais. A moça do caixa me dá boa tarde sorridente.

Luis Fabiano.
A paz são, pedaços de emoção que juntam-se.

domingo, julho 25, 2010


Molestar

As pessoas são frágeis
Sentimentos de vidro
Cristais nobres e vidro vagabundo.
Todos em uma cristaleira
Arrumadinhos e chatos.
Vez por outra me oferecem
Algo em seus copos finos.
Geralmente bebo o liquido e quebro depois.
Então choram seus copinhos.
Ficam chateadas,
aborrecidas
Olhando cacos de vidro.
Pensam em colar.
Mas sabem que não dá.
Não sei o que me irrita mais.
Copos chatos
Cacos de vidro
A frágil cristaleira
Minha brutalidade.
Tudo lhes dói.
Meu silencio, minha voz,
Minha ausência, minha presença.
Tudo dói,
tudo machuca.
Sou um macaco a brincar com uma cristaleira.
Derribando copos, bagunçando tudo
Não sobra nada.
Sou um macaco aprisionado
A cristaleiras destruídas
.

Luís Fabiano.

sexta-feira, julho 23, 2010


Pérola do dia :

Aquela bebida desce, como serpentes dançantes.”

Magalhães.

fazendo uma alusão a uma excelente marca de whisky.

quinta-feira, julho 22, 2010


Carinhos e unhas afiadas.

Não gosto de carinhos formais.
Passivos como trilhos de um trem.
Gosto de beijos que sangram
Lambidas ácidas.
Olhares ferinos
Gosto que mordam meus lábios.
Que apertem o corpo.
De pressionar bicos duros.
Passar unhas
Com raiva, prazer e dor.
Gosto.
Das marcas, os mapas de amor
Trilhas de loucura.
De almas bestiais.
Então ela liga de madrugada.
Está bêbada, drogada, feliz e excitada:
-Oi meu cachorro amado...
Vou ás nuvens.
Nada de meu amorzinho,
de saudadinha besta...não.
Aquilo me soa como um carinho
Sinto-me excitado.
Ficamos no telefone, num
Jogo de esconde-esconde.
Ela sabe, eu também.
Me chama, me quer.
-Canalha...vem pra dentro de mim...
-Tu não presta, e eu te amo...
-És o pior...o melhor, vem pra dentro de mim...
-Escorrega pra mim...
-Nasce ao contrário em mim...
Ela fala tanto, tem um repertório variado
Diz me que ama.
Sorrio, sei que ela tem o dom.
Diz e faz estas coisas com graça
Ficamos assim.
Ela desliga o telefone, dizendo que vai
Masturbar-se, dedicar o gozo pra mim.
-Ok - respondo.
-Beijos amor.
-Cuide-se garota.
Desligamos, fico me sentido bem
Como um cavalo que goza,
um touro satisfeito.
Ainda tenho em minhas costas,
As marcas dela.
Tanta fúria e graciosidade juntas.
Acho que isso que gosto nela.
O que ela tem pior e o seu melhor.

Luís Fabiano.

Nada é exatamente assim...

Conversar com as pessoas é uma pantomima. As palavras foram feitas para maquiar o que realmente pensamos. Ao pronuncia-las, tornam-se sombras do que realmente significam. Gosto delas assim. De brincar com as palavras, tentar adestra-las, ás vezes ganham um bom sentido. Como um traço que não se perde na tela.
Talvez eu sofra de uma ingenuidade perene. Mas quando falo com as pessoas, elas veem com seus sorrisos idiotas, com bafos terríveis e aquele olhar tipo: eu sei tudo. Tenho vontade de não falar nada. A maioria das vezes não falo, apenas articulo a boca.
Falava com um camarada, oTonho estes dias, um assunto edificante e nobre: surubas. Estas malditas fantasias sexuais, que ficam na imaginação da maioria das pessoas, que alguns poucos se aventuram.
Por muitos motivos, medos diversos, as doenças, a vergonha, por que a mulher vai desejar mais que você e talvez não tenhas pau para come-la, da broxada e o deboche geral. Entre outras tantas coisas.
Já participei de suruba, não foi a coisa mais linda do mundo. Eu era mais jovem, tinha por volta de vinte e cinco anos.
-E ai como foi - pergunta Tonho.
-Coisas de internet. As minhas piores transas aconteceram com pessoas que conheci na internet. Era um casal que tinha uma amiga. Não preciso dizer muito, não havia ninguém bonito. A começar por mim, todos eram horríveis. Creio que foi a suruba do trem fantasma. Quando fui a casa deles, eles já estavam meio embalados. Bebidas e aditivos. A que seria a minha parceira, lembrava-me muito a orca. Muito branca, com a cara cheia e espinhas, um cabelo oleoso, e tinha um cheiro de cozinha, depois que fritamos peixe.
-Cara, tu és complemente louco, te animou?
-Sim, tenho animo de sobra. São os preços que pagamos, tudo tem um preço maldito. Mesmo um peido aleatório tem um preço. Eu sempre tive disposição, além do mais aquilo converteu-se um banquete depois. Entrei no clima, me abracei a minha orca e fizemos amor. Ela tinha a maiores tetas caídas que já vi na vida. Bicos muito grossos e escuros, a bunda mais fedida que tive a felicidade de colocar meu nariz. Mas tinha a regra a suruba, não haveria troca de casal. Ou seja, com a mulher mais bonita, eu nem encostaria.
Tonho ria e sentia nojo. Mas afinal que ele esperava? Fui dizendo a ele: meu camarada, surubas com pessoa lindas e maravilhosas não existem. São sonhos, como Ferraris vermelhas e brilhantes.
É preciso pagar um preço muito alto para isso. Para mim estava de graça, de graça é como o atendimento pelo SUS, você se vira como dá e é feliz ou desgraçado. Eu iria comentar mais coisas, mas talvez fosse melhor não, as pessoas não gostam de certas verdades. As vezes tenho vontade de vomitar em mim mesmo.
Afinal de contas, nada é exatamente como dizem que é.
Lembro-me quando tive uma hemorroida. Disseram, rapidinho cura isso, e não dói. Não foi uma obra de arte. Fui cagar e o sangue jorrava do meu rabo, seguido por um dor imensa. Aquela dor durou um bom tempo, nada de rapidinho, nada de fácil, nada de bonito. Os metidos a entendidos nada sabem de hemorroidas.
De uma outra vez, estava transando, e acho fiquei entusiasmado demais. E rebentei o freio da glande. Puta merda, aquilo foi terrível. Uma dor muito grande na glande, e sangue. Em primeiro momento achei até que a virgindade da vagabunda tinha rompido?
Porra, mas ela tinha trinta e dois anos e um filho? Virgem? Não era, era meu pau que sangrava como uma galinha degolada. Você já viu uma galinha degolada?
Também me disseram, é fácil de curar isso ai. Basta uns pontinhos e tudo fica novo. Pontinhos? Não tenho como esquecer aquela agulha fincando meu pau. Dizem que dores da alma são mais fortes, mas duvido.
Nada foi fácil, novamente os metidos a sabidos, vinham com esse papinho: ei cara, isso cura fácil, é rápido. Fiquei sem trepar mais de um mês.
Definitivamente ninguém sabe nada. Nem de surubas, nem de dores físicas. Fico pensando quando converso com as pessoas. Elas falam de seus sentimentos. Será que elas sabem como é uma glande rebentada?
Creio que depois deste papo todo, Tonho não vai arriscar-se em um suruba. A não ser que ele disponha de uns quatro mil reais. Acho difícil. Disse a ele:
-Olha Tonho, acho que vais ter que te contentar mesmo com a nega veia em casa. Afinal ela pode pensar em participar de uma suruba também...
-Tá louco, nem pensar.
-Que isso Tonho? Ciumes?
-Claro, ela não, ela não...
-Olha Tonho, isso não é muito justo, mas deixa pra lá.
-É...deixei mesmo.


Luís Fabiano.

quarta-feira, julho 21, 2010


Pérola do dia:

“Aprendemos muito com as cagadas que fazemos na vida. Aprendi que um pequeno cocô suja muito mais a bunda que um grande cocô.”

Fabiano.

Delinquente

Talvez eu esteja perdendo a sensibilidade. Os restos vivos do meu ego estejam entrando em decomposição. Mas a verdade que sinto-me bem. Acho que nada mais me interessa além disso. Tenho o carinho de algumas pessoas, e não preciso pagar tanto por isso. Já considero uma vitória.
Ontem acabei encontrando o ex-marido, de minha ex-mulher. Logo eu também era ex. Uma historia entrelaçada de derrotados. Curiosamente nos damos bem.
Tenho impressão que minha vida torna-se uma piada a cada dia. Esta é uma historia interessante, quase bizarra. Ronaldo começou a namorar Alessandra depois que nos separamos.
Uma separação cheia de terror, drama e dor. Uma situação tão corriqueira na minha vida que com o tempo você não teme mais nada. Nem ameaças, nem coisas ditas ao vento em tais ocasiões.
Alessandra era bem bonita, uma mulher independente, vivia em uma boa casa, sem filhos e havia casado com um cara. O seu primeiro marido que lhe traiu, na própria cama, com um outro cara que ela desconhecia.
Quando ela abriu a porta do quarto, ali estava seu maridão, sarado, forte, suado e muito definido, de quatro, enquanto um criolo parrudo, arrancava-lhe as ultimas pregas do rabo,com amor.
Ela quase enlouqueceu. Na verdade acho que enlouqueceu. Esteve em psicólogos, psiquiatras, tomou todo tipo de medicamento para controlar depressão, e todas estas merdas que as pessoas sentem quando não aguentam o tranco da vida.
Acho que esta mistura de situações não poderia ser pior. Depois deste episódio, ela me conheceu. Nós tornamos amigos, e de amigos pra cama é uma questão apenas de tempo. Homens e mulheres são assim. Esse é nosso normal. A amizade só é possível, se a mulher não der uma entrada, nenhuma facilitada.
Porque os homens sempre vão tentar comer a amiga. Sinceramente não acho nada demais. As vezes sexo é só sexo. Não precisa haver, flores, jantares, vinhos e todo o papo furado. Entre amigos existe intimidade, já é suficiente. Me aconteceu várias vezes e nunca me furto a oportunidade.
A relação até que era boa, mas ela era profundamente controladora. Este tipo não é fácil de lidar. Eu tentava relevar, talvez ela tivesse medo que eu desse o rabo para seu melhor amigo? É talvez. Em nome disso ás vezes temos paciência. Mas estava começando a ficar de saco cheio. Ela olhava meus e-mails, meu telefone, minhas roupas. Tentava ser discreta, mas eu percebia, não gostava nada disso.
Não sou uma pessoa muito inteligente. Mas minhas traições sempre foram eficientes. Nada de telefone, nada por email, nada de provas visíveis. Tudo ao vivo, palavras e carinhos ao vivo. Sem rastros, sem traição.
Ela fazia este ritual, tomava seu rivotril, e acho que ficava em paz . Mas claro que não aguentamos. Sexo só fazíamos uma vez por mês. Bom, porque eu ficaria com uma mulher que mais parecia um brinquedo quebrado? Desconfiada, assexuada, ansiosa ,medrosa e que não queria sair de casa? Puta que pariu.
Acho que meu amor tem limites. Acabei indo embora. Cheio de escândalos normais, os vizinhos ficaram sabendo, ela gritava e quebrava a casa, fiquei parado, apenas cuidando para que algo não me acertasse. Telefonei para seus pais depois e disse:
-Estou indo embora, a Alessandra esta tendo uma crise forte.
-Tá bem Fabiano. Tá bem, estamos indo pra aí.
Pela passividade, acho que já esperavam. Fui embora.
Algum tempo depois, o Ronaldo, o outro marido, agora convertido em ex-marido, assumiu meu cargo. Alessandra agora tinha ficado pior.
Uma coisa é certa na vida. O envelhecer é uma merda, ou você fica como um bom vinho, ou converte-se em vinagre azedo, não tem escolha. A maioria acha que é vinho, mas não passa de vinagre.
-Então Ronaldo como tá?
-Olha cara, agora to ótimo.
-E a Alessandra?
-Me separei dela. Não aguentei, a mulher pirou de vez. Só dizia que na vida dela, ela teve o primeiro marido viado, e um segundo delinquente que foi tu.
-Nossa, mas que pesado.
-Mas Fabiano, tu és meio delinquente mesmo. Um delinquente muito controlado, frio.
-Não fiz nada demais, apenas me cansei e fui embora. Que você queria eu fizesse? Que mentisse? Dissesse que era o amor da minha vida? Que iludisse? Não planejo nada em minha vida. As coisas acontecem, vou vivendo. As vezes caio na teia da aranha, e tento escapar.
-Alessandra diz que tu fazias horrores. Que traias ela, que queria transar sempre...que forçava ela...a fazer coisas...
-Você não quer transar sempre?
-Bom..é...
-Foda-se Ronaldo. Trepe uma vez por mês e veras, que você começa a olhar todas as mulheres a tua volta. Elas vão tornando-se lindas, gostosas, desejaveis. Na verdade não são, mas teu pau faz pensar que são.
-Isso é verdade.
-E você foi embora porque?
-Não dava, nada era normal, estava insegura demais, com medo que fosse embora, viciada em comprimidos, com um humor que alterava-se, de forma bipolar. Acho que meu amor não era tão grande assim!
-Vivemos tempos que o amor é uma espécie de anão perneta.
Começamos a rir, como dois idiotas perfeitos. Na verdade, Ronaldo quis consolar Alessandra, acabou caindo na teia dela. Penso que por vezes nos homens somos muito idiotas.
A possibilidade de uma vagina molhada, faz que nós percamos um pouco a razão. Tento não perder a minha, mas ás vezes é difícil.
Despedi-me de Ronaldo, chegava de papo nostálgico, as vezes falo tanto sobre tais coisas, que tu vai se tornando uma espécie de mentira. Os personagens deixam de ser humanos, convertem-se em brinquedos de plástico, sem vida ou emoção. Mas acho que no fundo somos assim, mas fazemos o possível para não ser. Um esforço de nobreza.
Ronaldo saiu dizendo que eu era um delinquente. Tudo bem, sinceramente não importei com isso, não considero a delinquência uma ofensa. Talvez mesmo ele não quisesse dizer isso.
Também não interessa os significados. Ainda sentia-me bem, e hoje isso que me importa.

Luís Fabiano.
A paz é estar aparentemente fora dos eixos, mas só aparentemente.

terça-feira, julho 20, 2010

Dica de Filme: THE DOORS –1991.

O filme não é novo, mas é um prato cheio pra quem gosta de rock in roll. Val Kilmer dá um show de interpretação, personificando Jim Morrison. Ele torna-se essa lenda e ícone de uma banda que fez sua historia.
Sexo, drogas e rock in roll em tempos politicamente certinhos, é uma espécie de escarro em via publica.
A obra de Oliver Stone tem alma com musica hipnóticas. A coisa que mais carecemos, é alma nos tempos modernos.
Filme é intenso, até o ossos. Morte e amor, coisas extremas andam sempre muito próximas. Se não gosta de rock, nem perca tempo.

Luís Fabiano


Pérola do dia:


“Gosto de imaginar grandeza nas pessoas, mesmo que não exista. De certa forma isso me consola.”

Luís Fabiano.

segunda-feira, julho 19, 2010

Parede de sonhos.

Ontem voltei a sonhar. Detesto sonhar. Talvez seja a influencia do vinho ou rum em minha consciência, tornando-a um campo de batalha. Uma gostosa batalha admito, de gostos diferentes, intensidades diversas e percepções, hora vulgares, hora paradisíacas.
A noite foi feita pra descansar, sonhos me cansam muito. Nada contra quem sonha com algo. Mas eu prefiro ir matando meus sonhos aos poucos.
Prefiro não crer em nada, não imaginar possibilidades de algo, de supor ou crer em uma felicidade possível, se por acaso eu fizer tudo certinho. Decididamente não acredito em nada disso.
Respeito quem crê. Escolha o que lhe agrada, o que lhe excita, o seu ópio. Algo que torna a vida suportável, e viva como puder.
Normalmente não perturbo com sonhos. Deite-me depois de meio copo de rum. Quando dei por mim, estava em minha antiga rua, em uma casa que cresci.
Antes das reformas, antes do meu primeiro casamento, antes de tantas coisas.
Sabia o que iria encontrar ali. Mesmo em sonho, não existem grandes surpresas, a vida é meio assim pra mim. Fui entrando na casa velha, com paredes manchadas, e lá estava ele. Sentado em um velho banco, fumando seu cigarro, com meio copo de cachaça, com um olhar sereno. Talvez mais sereno que antes de morrer.
Sentei em um outro banco, meio de lado. Estranhamente, fazia tempo que não nos falávamos, mas nos comportamos sem arroubos de saudade. Uma civilidade quase não humana. Nos abraçamos ternamente, e como sempre ele chorou.
Sempre chorava quando me abraçava, não entendia o porque. Talvez por estar velho, talvez por amor, talvez por sentir que estava morrendo. Puta merda, morrer é algo, um mal terrivelmente necessário, que cria abismos de saudade, que transformam nossa memória em um museu de saudades.
-Então filho, como tu tá?
-Tô bem, vivendo, tentando viver bem. Tentando não ser tão mal as pessoas que se aproximam de mim. As vezes é difícil. Mudo muito de ideia e sofrer é inevitável.
-Faz boas escolhas filho, boas escolhas, pensando no bem que podes fazer. Não te preocupa com receber nada. Sei que és meio assim, mas alimenta mais isso.
-Ta certo.
Ele toma mais um trago. Aquele cara falando calmo, com um leve sorriso era meu pai, mas estava mudado. Acho que sempre muda, mesmo em sonhos é preciso mudar.
Ficamos ali sentados em silencio um bom tempo, mas algo preenchia. Era um silencio recoberto de emoção e pensamento.
Quando se está em sonho, não são preciso muitas palavras. É uma linguagem que fala ao coração tanto.
Senti que era hora de ir embora, nos abraçamos forte desta vez, o beijei. Fui retornando pelo mesmo caminho.
Acordei sóbrio, ou quase. Uma imensa tristeza invadiu minha alma, por um momento eu desejei que ele não estivesse morto, que eu não tivesse que o ter enterrado, que aquele sonho não fosse o um sonho.
Como é estranho o tempo, parece que o tempo que passamos vivos e juntos foi tão pouco, creio que sempre será pouco.
Cada segundo tem uma importância quase infinita, vamos percebendo isso no caminho, quando nos damos conta de nosso parco tempo.
Não consegui dormir mais, fiquei ali com os olhos aberto sondando o espaço escuro, como a querer pega-lo pelos olhos.Mas como...mas como .


Luis Fabiano.
A paz pode ser um pequeno pedaço de saudade.

domingo, julho 18, 2010

Dias e dias, hoje combina demais The Doors, curtam suavemente entorpecidos:


Vacas Frias

Elas sempre chegam calmas.
Veem pastar comigo.
Grama fofa, fácil.
Chegam com seus olhares bovinos
A cabeça acenando pra baixo.
Concordando com todas as merdas que disparo.
Querem mugir comigo de algum jeito.
Pastar comigo.
Cheirar minha bosta perfumada.
Sorrimos como sorriem,
Bois, touros, vacas e terneiros.
O mundo torna-se um campo vasto e verde.
Tudo que querem é isso.
Fazemos amor gostoso,
Ela de quatro,
Entro fundo,
mas meu pau
Não chega a sua alma.
Vacas tem alma?
Ela diz, com sorriso estupido na cara:
-Vamos, vamos, vamos, meta fundo
Quero ter um terneirinho teu.
Que berre e queira minhas tetas cheias leite.
Que tenha a tua
Cara,
a cara de boi babão.
Sinto-me um boi idiota, meio feliz.
Meto fundo, até minha bolas doerem.
Ela mugi, berra,
ela goza e ela sonha.
Com o tempo,
nada acontece.
Nem terneiro, nem leite, nem amor
Nem campo verde gostoso.
Não mugimos mais como antigamente.
Quando a penetro,
Esta seca, fria e sem graça.
Outras vacas desfilam sorridentes.
Vacas magras, cheirosas e com o sexo pingando.
Mugem alto.
Mas as olho como um touro em final de carreira.
Seio o final.
No final todas as vacas ficam frias.
O matadouro,
Vitelas, picanhas e maminhas.
Congeladas.

Luís Fabiano.

sexta-feira, julho 16, 2010

Para encerrar a semana com bom humor. Bill Cosby ainda permanece no mundo dos vivos. O cara é sensacional, um humor ácido como tem que ser, como a vida é.
Curtam.


quinta-feira, julho 15, 2010


Cú sujo

Minha mãe ás vezes não simpatiza com os títulos de meus escritos. Não posso fazer nada, por vezes fico tentado colocar um titulo eufêmico, sutil mesmo. Mas infelizmente sou arrastado aos meandros de minha própria baixeza.
É preciso respeitar o seu próprio pior.
Talvez seja meu escarnio ao mundo tão “limpinho”. Ou simplesmente minha identidade real, a qual jamais devemos ludibriar. Em outras palavras: não minta para sí mesmo, pois vai dar merda.
Naturalmente minha mãe não gosta de minha literatura. Mas ás vezes ela por caridade ou sacrifício lê este blog. Conversamos sobre isso hoje. Eu ria, é o posso fazer. E enquanto conversávamos, acabei lembrando de Margarida, que minha mãe não conheceu.
Eu não sou Pato Donald, mas já tive algo com uma Margarida. Gostaria de dizer que nem todas as Margaridas cheiram a flores. Me entenderam mais tarde.
As vezes há uma pedra no caminho, ou coisas piores. Não posso dizer que tivemos um caso de amor. Tivemos uma trepada de horror. Mas ela fazia exatamente o meu tipo perfeito de mulher. Tipo a toa, vagabunda, gorda, arrumada, peluda e com cheiros naturais fortes. Ela era uma pessoa feliz e sorridente.
Esse é meu autentico Coquetel Molotov. Este tipo é capaz de incendiar meu sangue, e despertar paixões inomináveis, desejos incontroláveis. Uma fome de gozo, como uma ferida purulenta prestes a explodir em pus.
Os pouquíssimos que me conhecem, sabem que não estou exagerando.
Frequentava uma Bar hediondo, que ficava nas imediações da Deodoro. Bar do Joaquim. Não era um lugar que podemos chamar de “lugar santo”. Ali a frequência era de alto nível. Bêbados, prostitutas que cobravam vinte reais, havia em algumas noites strip-tease, ou um casal que transava em um palquinho de merda bem pequeno, para estimular desejos. Chegavam a saltar líquidos dos dois nos que estavam próximos.
Aplaudíamos aquela porra com vontade.
Não preciso dizer que o lugar era sujo. Paredes imundas, um banheiro que tinha todos os cheiros que se possa imaginar. Porra, urina, merda, absorventes usados. Creio que se o diabo viesse a terra, este banheiro ele faria questão de visitar.
O Joaquim mesmo atendia um balcão. Cerveja que ás vezes estava na temperatura certa. E tinha ainda o Paulão, leão de chácara. Por vezes o pessoal abusava um pouco da bebida, e queriam comer as meninas na força, ele dava uma noção da coisa certa a fazer, tudo ficava em paz.
Acabei ficando amigo de Paulão de tanto que fui lá. O cara parecia um orangotango, um palito no canto da boca, uma barriga enorme pra fora da camisa, e braços que lembravam guindastes.
Eu chegava na porta, e perguntava:
-E aí Paulão, como tá a coisa hoje?
-Entra aí, hoje tem uma putinha que tá começando na vida...
-Bom, é bonita?
Ele começa a rir:
-É do nosso naipe...aquilo né, ao menos tem todos os dentes.
-Bah, isso já me deixa feliz, pra mim ter dente é um luxo .
Caímos os dois na risada. Eu entrei , assim que conheci minha Margarida, na sua noite de estréia no puteiro.
Ela estava realmente destruída para uma mulher de vinte e cinco anos. Adoro historias de putas, é quase um disco arranhado. É sempre a mesma merda, fudida, com filhos pequenos pra criar, foi estuprada pelo tio não sei quem , agora não conseguiu emprego, então resolveu que dar a xoxotinha poderia ser uma boa saída.
Escutei aquilo, como se tivesse escutado primeira vez, tal historinha. Eu devia estar ficando meio maluco mesmo. Sorri, achei engraçado e tava feliz. Tomamos umas cervejas, e acabamos indo para o motel que considero minha segunda casa.
Não tínhamos mais nada pra dizer, agora era ação pura na veia. Quanto entramos na porta do quarto, apenas dei um empurrão nela, ela caiu sobre a cama, dei um pulo sobre sobre ela.
Meio assustada, pergunta :
-Que isso, tu tá loco?
-Não, é amor, é puro amor, to cheio de amor.
Fui arrancando a roupa dela e a minha. Margarida entrou no clima rapidinho. Começou a rir e tudo virou a felicidade, a felicidade dos miseráveis e bêbados. Partimos para um sessenta e nove.
Quando vi aquela bunda imensa próxima a minha boca. Aquilo preencheu minha alma, um cheiro forte de merda vinha daqueles buraquinhos fétidos.
Ela me sugava com voracidade, eu ainda estava analisando o local, quando de-repente um peido imenso saiu, despejando aquele cheiro todo no meu rosto. Comecei a rir, ela diz:
-Aí, desculpa, escapou.
-Tudo bem acontece.
Em poucos minutos ela peida novamente, mas não fala nada desta vez. Então eu olho bem para aquele rabo grande, que tentava me matar asfixiado a peidos, e que vejo?
Bem na volta do orifício anal, restos de um cocô recente e mal limpo.
É nestas horas que você precisa ser homem e jamais entregar-se. Quando você for ao inferno, beije o diabo na boca. Eu beijei gostoso aquele cheiroso buraquinho de amor.
Fiz o que pude, trabalhei bem ali. Mas no final acabamos gozando como animais no cio. Fiquei feliz após aquilo, sentia-me mais feroz, um cavalo selvagem, um touro reprodutor, segurava minhas bolas com orgulho.
Margarida ficou me olhando, meio admirada daquela cena estranha.
Fomos embora e eu a entreguei em segurança no Bar do Joaquim, claro, mais limpinha do que nunca, limpa até a alma.

Luís Fabiano.

Noite aos cacos.

Ela tomba,
como olhos que cerram-se.
Como morte aparente.
Morta viva.
Agoniza o dia
A beira dos últimos suspiros.
O que antes era claro, visivel
Torna-se breu.
Dos cantos escuros,
Baratas,
Bêbados, putas,
drogados e o resto, não
menos pior, apenas disfarçado.
A fumaça do cigarro ganha ás alturas
Com sorrisos falsos de uma festa,
verdadeiros.
Numa tentativa de asfixiar Deus e todos
os malditos anjinhos.
Agora, ela maquia-se devagar,
imperfeições de traços desaparecem.
Tornam-se perfeitas.
O que não era,
torna-se.
Noite que esconde,
Noite que mente,
Noite vagabunda,
Noite que ilude, noite de mentira.
Uma espécie de nascimento.
O estreito buraco vaginal,
abrindo-se lentamente.
É preciso nascer neste mundo,
Feito de pedaços de bosta colorida.
Efeitos pirotécnicos.
É só que nos interessa.
Sangue, choro,
líquidos diversos da alma.
Suor.
Ele não tá respirando...
Faça alguma coisa...agora
É só o coma,
é só a bebida,
é a noite
Que agora começa a morrer, como
Eu ou você,
todos dias,
lentamente, lentamente.
De dia.

Luis Fabiano.

quarta-feira, julho 14, 2010


Isso é você?

Dias atrás um sujeito risonho veio conversar comigo. Um conhecido havia falado do blog. Disse que queria conhecer-me, para saber se eu era tão lixo quanto o que eu escrevia.Senti-me elogiado.
Eu disse talvez eu fosse pior. Uma coisa é verdadeira, sempre haverá pessoas que vão se identificar em algo, para o bem ou mal.
Olhou pra mim, disse:
-Tu não parece nada com que escreves.
-Errado, eu não pareço nada com o que você idealizou, não posso fazer nada.
-É pode ser.
-Conhecer gente é assim mesmo, uma decepção profunda. A coisa mais bela é a intocada, a velada pelo mistério, a distancia de uma fantasia. Lembro de quantas bucetas lindas quis comer, algumas tive sorte e comi. Mas quando eu chegava lá no templo sagrado do prazer, olhava aquele pequeno buraco, pedacinho de carne babado e mijado, dava-me uma certa tristeza, o encanto havia acabado.
Afinal uma xoxota é apenas uma xoxota. A realidade é uma espécie de tubarão branco, que consome rápido tudo, aos nacos e engole. O negócio sempre foi a alma, ter alma.
-É, mas não temos como fugir disso. Agente tem que viver de verdade, comer de verdade, beber de verdade, trepar de verdade...
-Sim temos. Mas se fizer isso tudo sem alma, nada tem sentido. É melhor você enfiar uma bala na cabeça, porque será mais rápido. E não viva verdade demais, excesso de verdade é uma espécie de deserto. Você vê o quer ver, o que tem capacidade de ver. Dificilmente as pessoas não conseguem ser imparciais. Elas verão você pelas suas dores ou alegrias, ou você não presta ou você é um anjo na terra. Na verdade você é apenas você, como uma buceta é apenas uma buceta.
-Tu sempre fala assim?
-Não, só quando querem me conhecer.
Ficamos em silencio um pouco. Eu adoro decepções alheias, as coleciono como um álbum de figurinhas. Ele aperta minha mão e vai embora. Ainda tenta ser educado: foi um prazer te conhecer.
Não sei o que ele esperava.

Luís Fabiano

terça-feira, julho 13, 2010


Ralo entupido.

As pessoas esquentam demais a cabeça por nada. Pequenos problemas podem converter-se em guerras mundiais. Temos este dom de piorar muito as coisas quando queremos. É dom, vem do desespero que entendemos e que não queremos entender. Coisas deixas pra trás. Lurdes me liga totalmente queixosa. Eu detesto queixas, mas é uma amiga velha que tenho. Amiga que se conversa, se trepa e troca-se confidencias e outras coisas. Ela ao menos, não gosto de confessar:
-Fala Lurdes...
-Oi Fabiano, tudo bom ?
-To normal, nem pior nem melhor, e tu?
-Estas de mal humor hoje?
-Ainda não, mas estamos indo para um bom caminho...
-Sei, que houve? Não comeu ninguém noite passada?
-Lurdes, você me telefonou, que houve com você?
-Tô muito irritada, o ralo da cozinha entupiu novamente, tá um fedor a ranço por toda casa...
-É, poderia ser o vaso, o perfume é mais pesado...
Ela gargalha no telefone. Tenho a impressão que sou o Bozo. Fiquei naquela, não entendi porque ela tava me ligando.
Para os poucos que me conhecem, serviço doméstico não é minha praia. Respeito quem faz, mas não tenho a menor habilidade.
Meu máximo é trocar uma resistência de chuveiro, se for eletrônico. Nunca gostei destas tarefas. Diga-se passagem que tive brigas por causa disso. Se depender de mim, permaneço com a mesma roupa, mesma cueca, mesma camisa por alguns dias. Dou uma boa cheirada, se tiver legal vai tranquilo. Isso não me incomoda.
-Lurdes, não entendo nada de ralo, pia entupida. Faça o seguinte enfie um arame lá e penetre fundo, como uma trepada rápida. Faça o vai e vem e nesta merda, veja o que acontece.
-Sei que tu não entende nada disso. Foi apenas pra conversar um pouco estou estressada.
-Tá, tua voz não parece de estresse.
Permanecemos em silencio. Um silêncio que parecia ter grades, um silencio engasgado. Esperei ela dizer mais alguma coisa. Então disse:
-Era isso então Lurdes, boa sorte com seu ralo.
-Tá bom, mas Fabiano, me diz uma coisa, ás vezes tu lembra que eu existo?
-Lembro, tenho um coração grande as vezes. Lembro de muita coisa,as vezes sinto saudades, embora seja raro.
-Hoje me deu um aperto no coração, lembrei de você, precisava ligar, queria te ouvir ou ver.
-Tá tudo bem.
Comecei a sentir o cheiro de ralo entupido. Aquele cheiro que vai agulhando o nariz lentamente, torturando, o ralo estaria entupido em minha casa também? Foda-se, iria deixar transbordar a merda toda.
-É saudade, sabe.
-Sim Lurdes, sinto saudades também. Mas sou assim mesmo, a distancia não me incomoda.
-Vem me ver qualquer dia destes, faço uma janta sabes...
-Ok.
-Tchau.
-Tchau.
Havia mais coisas entupidas em minha vida que ela podia imaginar. O dia que for desentupir isto, vai voar merda pra todos os lados, não quero nem ver. Lurdes estava carente até o osso. Ás vezes um abraço, uma foda carinhosa preenchem espaços vazios, sulcos que sofrimento e amores fodidos deixam em nossas vidas. Sempre se tem uma merda de passado.
Gostaria que as pessoas não sofressem assim, mas viver é foda, e é inescapável um pouco de lágrimas.


Luís Fabiano.

Uma vez tentei desentupir um ralo. Não deu certo, me sujei muito, achei melhor achar alguém expert em ralos.
A paz foi quando o cara chegou.

segunda-feira, julho 12, 2010


Orvalho de chumbo.

Dias atrás pensei
Na minha estranheza
Pendulo,
fraqueza e força.
Nos abraços indiferentes que dei
Nas bocas nojentas que beijei.
Por que fiz,
ou abandonei.
Com pouco de raiva de mim.
Com restos de amor.
Senti-me bem.
Gotas finas de raiva.
É bom sentir assim
Não voltaria jamais.
Não carregaria cruz alguma.
Daria foda-se a tudo.
Com prazer,
rasgaria o que rasguei.
Quebraria o que quebrei.
Sangraria outra vez.
Lamberia os buracos fétidos que lambi.
E com prazer diria:
-é só isso?
É sempre só isso.
Um desafio pra mim mesmo
Que enche minha alma,
a cada nova manhã.
Nem amor
Nem garras lacerando meus intestinos.
Nem céu a me olhar
Ou mesmo diabo a me esperar.
Sento-me a ver as horas passarem.
A cada dia,
o que as manhas guardam.
Em suas dobras bem passadas e retas.

Luís Fabiano.
Navalhadinha:

“ Ela me olha nos olhos e sorri.Bebe um gole e dá uma tragada, então dispara:
- Gostaria de entrar pra dentro de ti. Tu me engole?
Fiquei em silencio pensando.Não sabia por onde iria começar."

Luís Fabiano.

knockout

Às vezes gostaria de falar sobre coisas diferentes. Talvez mais alegres, mais bonitas, mais cheias de graça. Mas é impossível, falamos, pensamos e vivemos daquilo que o coração cheio. Alguns corações são paisagens paradisíacas, outros latrinas entupidas de merda.
Não se pode ser artificial, o gosto é sempre falso e cheira a lixo. Seja o que você for, mas seja você mesmo, santo ou demônio e foda-se o mundo.
Me pergunto sempre, se iria querer mesmo uma vida ideal, como as pessoas querem ter? Família, filhos, viagens, dinheiro, churrasco de domingo com todos, em mundo quase perfeito.
Eu tentei algumas vezes, mas confesso que não me esforcei muito. Nunca tive muito disposto a me sacrificar por nada ou ninguém. Talvez faça isso por uma ou duas pessoas em minha vida, um dia.
Não é questão de maldade, é um profundo egoísmo profissional. Tudo que quero, é ficar tranquilo em minha vidinha simples, pagando algumas contas, comendo algumas xoxotas, vendo bons filmes, bebericando alguma coisa, explorando mundo que esta para além das palavras.
Como pontas de um iceberg, o que você vê, não é absolutamente nada, o pior você nunca vê.
Fiquei deitado olhando a noite, enquanto tais pensamentos bailavam em minha mente. Nesta noite não bebi nada, estava sozinho, a janela aberta do quinto andar. A noite parecia viva demais, sem estrelas hoje, pronta a engolir tudo.
Como é fácil mudar qualquer historia na vida. Um detalhe e você altera tudo. Talvez uma bebida forte agora mudasse tudo, talvez eu pendurado na janela pelado, com uma perna pra fora pronto para saltar. Talvez a mão de Deus me chamando. Uma xoxota cabeluda, suja com cheiro forte e suado, meu entorpecente natural, tudo isso a noite negra sugeria. Era escolher seu ópio.
Abro a janela, coloco uma das pernas pra fora. Estou em balanço mortal, ninguém nota, ninguém vê.
Milhares coisas acontecem e nunca ninguém percebe nada. Tudo que veem são resultados. Dentro de nós tudo se passa em silencio, como uma doença que avança por nossas entranhas, pronta para nos destruir.
Como um louco normal, eu sorri de mim mesmo. Ninguém me vê ali. Talvez pudesse voar agora como um pássaro?
Ou morrer silenciosamente, sem dramas, dores ou fiasco. Fico assim na janela um pouco, olhar para baixo parece uma tentação. Uma puta sorridente de esquina.
Decido voltar para o sofá. Sento-me confortavelmente, sinto-me a vontade. Lembro de uma amiga distante que está sozinha também.
Teve uma dezena de maridos, e cansou todos. Cansou de apanhar deles também. Ela sempre me diz: hoje tenho paz demais em minha, tenho tanta paz que chega a ser sufocante, irritante. Eu a entendo, sempre falamos por telefone.
Achei o conceito fantástico. Paz demais não é bom pra ninguém, nem saudável. Nossa vida não foi constituída para ficar em paz total, estamos aqui para darmos nossa contribuição ao mundo.
Para sermos o melhor ou pior possível. Para entramos no ringue todos os dias, ser nocauteados ou nocautear. Apenas erga a luvas e dê a porrada mais forte que você puder, defenda-se, pois sempre existe um contragolpe. Aguente firme agora, o juiz ainda não abriu a contagem...


Luís Fabiano.
A paz deve ser consumida homeopaticamente.

domingo, julho 11, 2010

Navalhadas curtas: Posto de Gasolina.

Fui ao posto dar comida para meu carro. Conheço todos os atendentes, são amigos informais, sempre me tratam bem ,já me ajudaram algumas vezes. Fico olhando as pessoas no movimento do posto.
Daí ela chega naquele carro vermelho. Me confunde com um frentista.Tenho cara de frentista.

Ela parecia espremida por aquele volante,tetas grandes, seu tamanho avantajado e pesada, cabelos curtos e loiros. Sorri:
-Eu não atendo aqui...atendo em outro lugar...
-A tá. (rindo)
Nisso o frentista veio.

Afastei-me um pouco pra não atrapalhar. Ela continuava a me olhar. Gostou de algo em mim. Ás vezes de longe causo boa impressão. Ela sozinha naquele carro, pesada e sozinha. Não era bonita, mas isso não tinha importância.
Entendi na hora. Uma mulher carente. Ando em uma fase assim, muitas mulheres carentes se oferecem fácil. Você dá um grão, elas acham que é um banquete. E pra vivar amor é uma questão de onde a vírgula vai ficar...
Quando ela estava saindo, olhou-me nos olhos, sorriu, eu da forma mais canalha possível, apenas atirei-lhe um beijo.

Ela sorriu e foi embora...o domingo estava apenas começando.

Luís Fabiano.

sábado, julho 10, 2010


Fotografias

“ Elas o fotografam em sua varanda
E no seu sofá
E você de pé no quintal
Ou encostado em seu carro

Essas fotografas
Mulheres com rabos enormes
Que lhe parecem melhores
Que seus olhos ou suas almas

Este jogo com o autor
Na verdade não passa de um
Numero barato a Hemingway
E James Joyce.

Você segue de olho
Naqueles
Rabos enormes e magníficos
E pensando –
Outra pessoa os está faturando

Elas nunca mandam as fotos
Como prometem
E seus rabos magníficos se vão
Para sempre
E você se comportou como um ótimo literato
Ainda vivo
Logo em breve morto
Olhando fundo para seus olhos e almas
E tudo mais.”

Charles Bukowski – O Amor é um Cão dos Diabos.

sexta-feira, julho 09, 2010


Eu, a amante e minha esposa.

Todos nós temos pontos fracos. Meu fraco são bucetas. É quase um ópio, fico inebriado pelo cheiro, forma e textura. Não importa, se são lindas mulheres ou terríveis, sempre vejo além disso.
Enxergo pelo cheiro, pela química, por algo que está no ar que nada tem haver com forma física. Bundinhas duras ou bundas caídas, para mim são quase a mesma coisa. Não me importa se o manequim é cinquenta ou super- extra- GGG.
Se houver a magia no ar, estou dentro e apaixonado. Meu pau não é tão grande, mas meu coração o é, creio que a natureza equilibra as coisas assim. Onde falta não abunda.
Durante um tempo tais pensamentos me perturbaram. Como e porque meu gosto é assim. Por vezes eram mulheres bonitas, descentes, pessoas boas mesmo. Bem arrumadas, cabelos bem cuidados, unhas em dia e roupas bonitas.
Mas em mim nada acontecia. Não sentia o menor tesão por tais coisinhas assim, tão perfeitinhas. Não tinham aquele cheiro primitivo, um pouco sujo, suado, nunca deixavam vencer o desodorante, e nem esforçavam tanto assim na cama.
Uma coisa é certa, mulheres bonitas se esforçam para serem bonitas, mas somente isso. As horríveis amam com mais intensidade, se esforçam para ir além do corpo que ás vezes não tem.
A natureza é foda mesmo.
Naqueles dias tudo ia indo bem, estava casado, tinha um trabalho legal e uma amante no emprego. A vida poderia ser melhor? Bons tempos dos hospitais. Mas o mundo não é, e não será jamais um lugar de perfeições.
Lembro que chegava a trepar com as duas no mesmo dia, era muito bom. Todos ficávamos satisfeitos, de uma forma informal, marginal mas era assim que eu gostava.
Elisa minha terceira esposa, estava desconfiada, sempre foi desconfiada. Aquilo foi um clássico, uma mancha de batom no colarinho. Mais Nelson Rodrigues que isso é impossível. Me pergunta diretamente:
-Que isso aqui?
-Bem, que parece?
-Batom é claro, ela tava muito perto de ti né?
Percebi que isso não ia para um caminho bom, havia rancor ou raiva na sua voz. Eu deveria esperar o pior. Sempre espere pelo pior. Não sou um cara de negar nada, se me perguntarem frontalmente.
-Sim, estava muito perto mesmo...
-Sei seu filho da puta. Eu sei...filho da puta...
Correu para o quarto chorando ou algo parecido.
Eu estava sentado vendo televisão. Achei melhor ficar ali mesmo, considerando que nestas condições, ela teria um crise, iria berrar, talvez jogar alguma coisa em mim, talvez ir na cozinha pegar uma faca afiada, talvez rasgar minhas roupas e colocar porta a fora, um barraco destes qualquer, algumas mulheres adoram isso. As vezes falta elegância.
Era preciso esperar. Nesta época eu era uma pessoa muito fria, com emoções sob controle. Sou um pouco assim ainda, mas não acho mais tão divertido.
Confesso que não perdi minha tranquilidade. Não era um casamento longo, juntamos nossas coisas em dois meses, fazia quatro que estávamos juntos. Não tinha feito planos para isso, foi acontecendo naturalmente. Eu te amo pra cá, eu te amo pra lá, e foda-se, vamos casar.
Também não fiz planos de ter uma amante, nunca faço, elas aparecem do nada como pipocas em uma panela quente.
Depois de mais ou menos uma hora, Elisa volta do quarto. Parecia refeita do choque, queria conversar civilizadamente. Gente civilizada me assusta, costumam ser muito cruéis, matam com requintes de crueldade. Me sentia com o cú na mão.
-Por que tu fez ou faz isso? –pergunta ela.
-Não fiz nada. As coisas acontecem. Você acha que planejo alguma coisa em minha vida?
-É, eu sei que não. Mas porra tchê, tu estas em minha casa, e ta me traindo com uma vagabunda qualquer por ai, tu acha certo?
-Bom, Elisa vamos nos economizar tudo, você quer que eu vá embora?
-Calma aí, tu vai me escutar agora...
-Não, não vou. Você quer que eu justifique, peça desculpas, me arrependa e diga que te amo e depois você me chuta, algo assim, ou vai dar pro meu amigo...
-Calma ai, quero discutir os rumos desta relação seriamente. Eu sempre soube que não eras santo, mas mesmo assim eu embarquei por que quis. Sou muito mulher pra assumir tudo isso.
-Ok, então diz que você quer, sem drama, diretamente.
-Quero abrir nosso relacionamento. Vamos morar juntos e ter uma relação aberta, você transa com quem quiser, eu dou pra quem eu quero e tudo certo. Exatamente como a vida que tínhamos antes de nos conhecer, topa?
Tive a impressão que não havia escutado aquilo. Fiquei pensando: onde estaria aquela mulher que dizia-se apaixonada por mim, que amava de forma instantânea. Que me disse, eu te amo no terceiro encontro? Chegava a conclusão que o amor tava ficando algo muito barato.
Mas o assunto me agradou. Na verdade achei a coisa mais perfeita que escutei em toda minha vida. Mas mantive meu pé atrás. Tudo poderia ser um plano pra me foder. Me dar uma punhalada no peito enquanto estivesse dormindo, crime passional é moda.
-Sim, Elisa, isso me parece uma boa idéia, afinal eu gosto muito de você, não gostaria de separar. Mas meu jeito de gostar é assim, meu amor não é absoluto, como nada na vida é absoluto. Não pergunte por que amo assim, meu amor é desta forma, mas é amor. É possível até tocá-lo.
-Então estamos acertados. Porem tem uma regra: transar com estas pessoas sempre de camisinha e nunca em hipótese alguma traze-las para cá, isso vale para mim e pra você, ok?
-Isso é fácil.
Nos abraçamos, beijamos, como amigos, amantes, pessoas inteligentes. Em tese estas coisas sempre funcionam. Para mim era muito fácil fazer. Sempre tive amantes em minha vida, houve um tempo que cheguei a ter três ao mesmo tempo. Não era um grande troféu, mas aconteceu.
Então ela pergunta: Posso conhecer a minha rival?
Aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha. Disse que sim. Apenas não disse quando. Era preciso fazer o teste do tempo. E se ela fosse calculista? Ela era professora de química, poderia jogar alguma substancia no rosto da rival? Crime passionais estão em moda e as pessoas fazem coisas terríveis.
Conversamos mais um pouco e ela terminou a janta. Boa janta, chuleta frita, batata frita, arroz e feijão novo. Adoro coisas gordurosas, tava perfeito tudo nadando no óleo. Vimos tevê e fomos deitar. Estranhamente demos a melhor trepada desde que nos conhecemos. Talvez aquilo fosse um sinal. Ela parecia la amante loca! Mui loca.
Gostei daquilo. Então Elisa pergunta:
-Minha rival fode mais que eu?
-É um outro estilo, ambas trepam bem, cada uma tem um estilo. Cada mulher é um universo. Não a chame de rival, ela agora é nossa amiga.
-Eu chamo de rival.
-Tudo bem como você quiser.
Ela deita em meu peito, e vai adormecendo lentamente. Fiquei aguardando e pensava: daqui a um mês eu apresento as duas, talvez elas se entendam e todos nós nos entenderemos.
Mas nada disso aconteceu. Elisa propôs algo que ela não teria condições de cumprir. Infelizmente ela gostava ou me amava demais, isso é algo que nunca recomendo. E o que parecia fácil de cumprir foi se tornando um suplicio.
Notei que ela começou a ficar triste. Foi perdendo o sorriso, tudo foi perdendo a graça também. Eu permanecia o mesmo, mas reconhecia que dentro de Elisa uma luta acontecia. Aquilo foi nos matando, um dia ela decidiu por um fim a tudo, em uma conversa civilizada. É, as coisas civilizadas são assim, limpas, higienizadas, controladas como assepsia de uma cirurgia de estomago, um transplante de coração. Merda de coração.
Fui embora, era o melhor a fazer. Abraçamos-nos e nunca mais nos vimos.

Luís Fabiano.
Às vezes são tantos abraços e beijos
Que um labirinto se cria e a paz se perde.

quinta-feira, julho 08, 2010


Mira errante.

Já vi objetos voadores.
Todos identificados.
Todos em minha direção,
Todos querendo atingir minha alma.
Alguns querendo me matar.
Arrancar pedaços do que não se arranca.
Voavam com graça
Mas sem estillo.
Para reparar a dor instantânea
Curativo imediato.
Eram armas de egos machucados.
De dores que se perdem
De flores que murcham.
De sentimentos que encontraram seu fim.
Dor,
desespero e insanidade se misturam.
Vi tantas coisas voarem.
Algumas,me atingiram
outras voaram apenas.
Uma vez me atiraram um copo de cristal
Espatifou na parede fria.
Outra vez atiraram meus livros,
Pobres caíram no chão,
sujos e imerecidos.
São melhores que eu,
sofreram por mim.
Outra vez, atiraram minhas roupas,
Uma chuva colorida, de calças,
Camisas, sapatos e camisetas.
Uma vez, atiraram uma cueca molhada,
Esquecida de um banho final,
recolhi a coitada
Suja de areia.
Lavei-a
tornei a usar como nunca tivesse sofrido nada.
Roupas não guardam sentimentos.
Lava-se sangue,
urina e merda.
E tudo fica novo em folha
Com sua beleza natural.
Amo ser assim.
Amo minha doença
Amo estar longe,
Amo estar bêbado como agora.
Amo o que o mundo detesta.

Luís Fabiano.

Pérola do dia:


Meu amigo Magalhães citando Nelson Rodrigues, com direito a entonação da voz a estilo Nelson:

“ Eu posso nadar na merda, mas cheiro a naftalina.”

Nelson Rodrigues.

Pérola Negra

Não sei se existe.
Ouço falar,
como falam de mundos distantes.
De coisas que não acreditamos.
Talvez eu acredite.
Prefiro coisas mais próximas.
De encanto mais visíveis.

Então ela sorriu pra mim
desde de sempre.
Ela sorri sempre,
mesmo quando
Em lagrimas,
tenta me odiar.
Quando nos vimos á primeira vez,
Andou atrás de mim
E isso tornou-se profecia.
Uma cadela em meus calcanhares.
Em minha sensibilidade, lhe disse a primeira vez:
-Ei, mas que cara de cú você tem...
Rimos, desconhecíamos que seria
A primeira de muitas risadas
Que vida a fora, iriamos dar.
Quem espera algo assim?
A vida é com um jazz,
improvisa
E as vezes nos encanta, nos
Presenteia, rouba,
nos ama e nos odeia.
Foi tornando-se linda com o tempo,
Algo serena,
mais gostosa,
mais solida.
Nela tudo converte-se em riso.
Sua graça assim.
Talvez seja maluca,
não sei, mas poucos de nós
Não somos.
Sei que mesmo longe,
Estamos próximos
E acho que isso é tudo que
queremos hoje.

Luis Fabiano.

quarta-feira, julho 07, 2010


Todo tipo de gente.

Sou um cara que não perco tempo. Não estou disposto a perder, nem comigo e nem com outrem. Para que isso ocorra, as coisas devem valer a pena. Devem ter alma, devem ter cheiro, devem ter algo marcante.
Como marcas de amantes, chupões vemelhos, unhas e dores da lembrança. Se não for assim, não perco tempo. Para passar como se não existisse, prefiro não existir. Malbaratamos e depois corremos atrás, com nossas bengalas, andadores, nossa boca banguela, nossos fraldões cagados, temendo a morte.
Possivelmente isso seja um bom álibi, para não suportar as pessoas. Quando lembro de todas discussões que tive em minhas inúmeras relações, nossa quanto tempo passou. Brigas que duravam horas, de um tempo que não volta atrás.
Impossível fazer a compreensão e o entendimento entrarem de forma instantânea, na mente alheia. Isso não existe. É preciso fazer toda a cena, sentir a dor, trocar agressividades e talvez chorar um pouco. Cena humana pra entender a vida.
Hoje me nego a isso. Mas não é fácil lidar com a estupidez humana. Meu silencio, minha cara de paisagem, é tudo que posso ofertar.

Quando Clara chegou em minha sala estava agitada. Depois vim a saber que ela não estava agitada, que ela é totalmente agitada. Falava demais, falava besteiras demais, enfileirando em seu raciocínio.
-Pra que serve isso? E esse fio vermelho, que é ? Tu vai demorar muito? Tu tá sempre aqui né? E este buraco que parece USB mas não é, pra que é hein ?
Era uma metralhadora de merda. Por um breve momento pude olhar a bunda enorme dela. Confesso que fiquei com pena do vaso sanitário, pois era realmente grande. Imaginei aquele bundão dando uma imensa cagada melada, botando merda pra todo lado...nem escutei mais as perguntas que ela fez.
Acabei respondendo duas perguntas pra ela, que já tinha feito mais umas dez.
-Olhe, este fio não é a toa, é uma extensão de usb e não uma bomba etc..etc...
-A tá, então não serve pra merda nenhuma mesmo, é inútil....
Fiquei olhando para ela, com uma sensação de tempo perdido. Por que as pessoas são assim? Ela não escutou e nem sabia o que perguntava. Não falei mais nada. Ela na minha imaginação tornava-se mais digna que a vida real.Ela cagando, colocando toda a merda pra fora. Sinceramente sou assim. Os seres que habitam minha imaginação são infinitamente melhores que os seres da vida real, prefiro meus imaginários. Eles dançam em minha mente, e mesmo os imprestáveis como eu, ganham um ar melhorado.
As pessoas, ficam melhores dentro de mim. Quando estão caladas, é pura musica clássica, é Brahms, Mozart ou Wagner. Uma beleza silenciosa.
Então sorri e disse estava resolvido. Ela sai e bate a porta com força, fico parado em pé, observando que ela levou consigo. Em uma palavra, era como se não tivesse feito nada. Voltei a pensar no tempo. Tempo perdido, com gente assim.
Tempo perdido com promessas furadas, com emoções que queremos sentir, com reclamações de um clima que nunca agrada totalmente. De pessoas que nunca estão a altura, de um dinheiro que nunca é suficiente. De sonhos que viraram nada.
Perda de tempo com nossa própria estupidez. Penso que as vezes as pessoas precisam tirar férias de sí mesmas, e serem algo diferente do que são.

Luís Fabiano.
Um pedaço de céu ou começo do inferno.
Assim é a imaginação.

terça-feira, julho 06, 2010


Navalhadas Curtas: Seleção do zero a zero.

"Ontem conversei com um destes caras de rua. Sem casa, sem mulher, sem comida, meio sem roupas, fodido mesmo. Destes fodidos que nem sequer gostamos de pensar ou lembrar:
-E a seleção que perdeu – afirmo como se tivesse perdido algo também.
-É, fiquei sabendo. Mas não tô triste, tenho outras coisa pra me preocupa.
-Com que ?
-Pão meu. Se tem pão, eu já to bem, por que a fome é foda, dói o estomago, dói tudo.
-Que tu faz?
-Me viro como dá, função, uma coisa e outra. Ninguém gosta de ninguém como eu. Feio, sujo, andando pelas rua, como um cachorro de rua, eu sou um cachorro de rua, mexendo lixo.
Eu queria falar de seleção Brasileira. Ele era um brasileiro autentico, mas que jeito? Eu chorei pela seleção que perdeu. Mas não choramos assim por coisas bem mais banais e desimportantes, como gente que representa nada, zero a esquerda da vida."

Luís Fabiano.

Trecho "...

" Cada vez que você paga alguém para dizer a você o que deve fazer, você é um perdedor. E isto inclui seu psiquiatra, seu psicólogo, e seu operador da bolsa de valores, seu professor e seu etc...
Não há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e seguir em frente. Mas a maioria das pessoas fica paralisada de medo. Elas tem medo do fracasso que acabam fracassando. Estão condicionadas demais, acostumadas demais que digam o que devem fazer. Começa pela família ,passa pela escola e entra no mundo dos negócios."


Charles Bukowski .

Banho de realidade.

Nada me enfada mais que a realidade alheia. Mas que merda, quem não tem problemas? As vezes acontece assim, as pessoas veem contar seus problemas, sua falta de sorte, os lixos que acontecem em suas vidas. Meus familiares fazem isso também. Me canso disso.
Houve um tempo em que tinha prazer de ajudar as pessoas. Mas fui descobrindo que raramente as pessoas querem ser ajudadas. Fazer cara de coitada, olhos cheios de lagrimas e lamentar o que for.
Falam da doença, como se fosse uma novela. Quando pergunto o que pretendem fazer a respeito de seus problemas, é sempre a mesma coisa: tenho feito, tenho lutado, tenho feito o possível etc...
Mas não creio que seja verdade. Raros fazem tudo que podem. A pessoa sofre por sofrer, e fica por isso mesmo. Seja o que for. Algumas tentam entender, o por que , a razão mas em sí tem a mesma atitude.
Tive que dizer tais coisas a um amigo ou ex- amigo. Como sempre digo, tenho uma vasta rede de ex alguma coisa. Me veio com esta conversa fiada, aquele dia eu não estava em um bom dia. E casualmente nos encontramos no calçadão.
Ele vinha com sua cadeira de rodas eletrônica, sorriu vindo em minha direção. Bom, pensei que a coisa seria tranquila, a conversa começa neste tom:
-E aí João, tudo bem?
-É muito bem não tá, olha meu estado...
Tentei aliviar.
-Calma cara, tu estas até motorizado, tem carteira?
-É, todo mundo faz piada, eu não acho graça nenhuma.
Me irritei na hora, mas mantive a calma, é preciso ser assim frio. Jamais se descontrole, concentre a força para um ato mais nobre, se for possível.
-Entendo João, mas que fazer? É preciso brincar também, se ficares mais carrancudo, a tendência de tudo será pior, e muito.
-É, pode ser, mas ninguém vive a minha realidade pra saber...
Já tinha visto aquele filme a alguns dias atrás, auto piedade, auto comiseração. Era como se João tivesse sido estuprado por um pau muito grande, agora lamentava o seu arrombamento cú.
-Isso é verdade, mas tudo mundo se ferra amigo, todos nós temos problemas maiores, menores, e se você vai colecionar o que a vida lhe deu de pior, bom prepare-se pois você vai ficar muito amargo. E quando fica-se amargo demais ,as vezes não dá pra suportar, alias ninguém suporta...
-Mas olha as minhas pernas? Olha aqui, tá vendo?
Me arrependi de parar, me arrependi de falar, me arrependi de estar no calçadão, mas que merda, eu realmente sou azarado. O melhor sempre é não encontrar ninguém. Ele não entendeu nada do que disse e pior, não queria entender. Detesto gente assim. Os burros são mais nobres, ao menos não conseguem entender.
-Claro que to, e já vi coisa bem pior isso. Mas não quero mais ver. Acho que não foi somente as pernas que você perdeu João, você perdeu todo o resto. Você perdeu o pensar e o coração também.
-É fácil quando se está de pé...
-Vá se fuder João. E por favor, não fale mais comigo, não me chame mais nem me ligue perguntando merdas. Vou te dar um conselho gratuito João. Compre uma arma, você vai precisar dela daqui algum tempo, facilite as coisas para as pessoas, deixe tudo bem organizado.
-Vai pro inferno, filho da puta...
Este foi o adeus de João: vai pro inferno filho da puta. E foi embora. Ao menos no final da conversa ele tinha tomado uma posição nobre, saiu daquele estado doentio. Se irritou, virou homem, virou macho.
A conversa foi desagradável, mas isso as vezes acontece. Não entendi porque entramos tão rápido na discussão, o cara tava rindo. Eu também ria, de-repente uma tempestade furiosa. Acho que a vida é assim incerta, estas porras estão sempre a espreita.
Fui até a esquina do Café Aquarius, compre um maço de Black mentolado, acendi um. Tentei pensar em uma filosofia para o ocorrido, mas existem coisas que não se resolvem assim. Na minha cabeça a ultima frase de João: Vai pro inferno filho da puta.

Luís Fabiano.
Compre um pouco e paz, e a faça durar.