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segunda-feira, julho 12, 2010


knockout

Às vezes gostaria de falar sobre coisas diferentes. Talvez mais alegres, mais bonitas, mais cheias de graça. Mas é impossível, falamos, pensamos e vivemos daquilo que o coração cheio. Alguns corações são paisagens paradisíacas, outros latrinas entupidas de merda.
Não se pode ser artificial, o gosto é sempre falso e cheira a lixo. Seja o que você for, mas seja você mesmo, santo ou demônio e foda-se o mundo.
Me pergunto sempre, se iria querer mesmo uma vida ideal, como as pessoas querem ter? Família, filhos, viagens, dinheiro, churrasco de domingo com todos, em mundo quase perfeito.
Eu tentei algumas vezes, mas confesso que não me esforcei muito. Nunca tive muito disposto a me sacrificar por nada ou ninguém. Talvez faça isso por uma ou duas pessoas em minha vida, um dia.
Não é questão de maldade, é um profundo egoísmo profissional. Tudo que quero, é ficar tranquilo em minha vidinha simples, pagando algumas contas, comendo algumas xoxotas, vendo bons filmes, bebericando alguma coisa, explorando mundo que esta para além das palavras.
Como pontas de um iceberg, o que você vê, não é absolutamente nada, o pior você nunca vê.
Fiquei deitado olhando a noite, enquanto tais pensamentos bailavam em minha mente. Nesta noite não bebi nada, estava sozinho, a janela aberta do quinto andar. A noite parecia viva demais, sem estrelas hoje, pronta a engolir tudo.
Como é fácil mudar qualquer historia na vida. Um detalhe e você altera tudo. Talvez uma bebida forte agora mudasse tudo, talvez eu pendurado na janela pelado, com uma perna pra fora pronto para saltar. Talvez a mão de Deus me chamando. Uma xoxota cabeluda, suja com cheiro forte e suado, meu entorpecente natural, tudo isso a noite negra sugeria. Era escolher seu ópio.
Abro a janela, coloco uma das pernas pra fora. Estou em balanço mortal, ninguém nota, ninguém vê.
Milhares coisas acontecem e nunca ninguém percebe nada. Tudo que veem são resultados. Dentro de nós tudo se passa em silencio, como uma doença que avança por nossas entranhas, pronta para nos destruir.
Como um louco normal, eu sorri de mim mesmo. Ninguém me vê ali. Talvez pudesse voar agora como um pássaro?
Ou morrer silenciosamente, sem dramas, dores ou fiasco. Fico assim na janela um pouco, olhar para baixo parece uma tentação. Uma puta sorridente de esquina.
Decido voltar para o sofá. Sento-me confortavelmente, sinto-me a vontade. Lembro de uma amiga distante que está sozinha também.
Teve uma dezena de maridos, e cansou todos. Cansou de apanhar deles também. Ela sempre me diz: hoje tenho paz demais em minha, tenho tanta paz que chega a ser sufocante, irritante. Eu a entendo, sempre falamos por telefone.
Achei o conceito fantástico. Paz demais não é bom pra ninguém, nem saudável. Nossa vida não foi constituída para ficar em paz total, estamos aqui para darmos nossa contribuição ao mundo.
Para sermos o melhor ou pior possível. Para entramos no ringue todos os dias, ser nocauteados ou nocautear. Apenas erga a luvas e dê a porrada mais forte que você puder, defenda-se, pois sempre existe um contragolpe. Aguente firme agora, o juiz ainda não abriu a contagem...


Luís Fabiano.
A paz deve ser consumida homeopaticamente.

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