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domingo, março 31, 2013




Navalhadas Curtas: Joãozinho o bebedor de xixi. 
(porque urino-terapia é para os fracos)

Cada um tem os amigos ou inimigos que merece. Porra. Por vezes a vida é irrefutável, é o que é, e deu. Eu conversava com o João, um amigo, vulgo Joãozinho. Esse cara ta sempre com aspecto de cansado, muito pesado.

Estávamos no buteco das antigas no porto. Poucas mesas, um aspecto de sujo e decadente. Lugar perfeito. Havia umas poucas mulheres por ali, e o assunto rolou para a putaria natural:

-E aí Joãozinho... Ta comendo quem agora?
-O que pinta... Tu sabes né... To numa fase que não escolho muito não... To quase cinquentão...
-Tá brocha?
-Às vezes... Mas recentemente, eu descobri a melhor coisa deste mundo Fabiano... A melhor...

Tenho medo quando as pessoas descobrem as melhores “coisas deste mundo”... Este mundo é foda, e todos sabemos disso, mas...

-Que foi Joãozinho?
-Mijo natural... da fonte...
-????
-Nunca me imaginei fazendo isso cara... Mas eu pego a moça... Coloco na banheira lá de casa... Mando-a abrir bem as pernas... e ela mija na minha boca...bem gostosinho... Cara eu gozo só sentir, o quentinho amarelado quase me afogando...

Imaginei a cena...
O rosto dele agora era encantamento puro, como se falasse do arco íris, da lua cheia ou do coelho da páscoa... Era um apaixonado pirando lentamente.

-Tá beleza, e depois do ato?
-Eu chupo ela... até quase arrancar a uretra dela...

Fiquei olhando para ele... Putz... Eu não tinha achado a ideia de todo ruim...


Luís Fabiano.


sexta-feira, março 29, 2013



O coelho sem endereço

Não guarde muitas memórias, isso pode ser uma dinamite acesa dentro de você. Tudo bem... Existem as boas memórias, mas ainda sim não abuse delas... Porque você poderá ficar preso lá atrás, como uma fotografia, que na verdade é apenas um piscar de olhos do tempo.

Tenho um lema comigo: nunca olhe para trás... Nunca mesmo.  Se fiz uma cagada... Estou consciente e não olho mais... Se foi bacana... Tudo bem, também não olho.

As poucas pessoas que convivem comigo, acham estranho isso. Não possuo um único cartão de namorada, aniversários ou natal. Eu os recebo e rasgo quase imediatamente. Li a mensagem... Tá na memoria, já era... Essa é a vida.

Sorri pra mim mesmo diante destes pensamentos. As ruas do porto desertas em um feriado, então esperamos Jesus ressuscitar? Ok.  Não espero nada. A minha volta enquanto olho o São Gonçalo calmo, catadores de lixo, revirando latões, crianças sujas que talvez desconheçam o cara que vai ressuscitar no domingo, é?

Claro, fiquei na minha, eu, minha agenda e a caneta. Lamentei não estar com a câmera, para registrar aquilo. Cena deprimente, sobrevivente, guerra sem armas, agentes biológicos em jogo... Fome, dinheiro.

A mulher parecia ser a mãe das crianças, jovem, não mais que vinte três anos, desgastada, cansada talvez... Olhava o latão atenta, por vezes olhava pra mim. Realmente eu sou um filho da puta... 
Olhei para ela, e meus nobres pensamentos se foram pra puta que pariu, vindos da injustiça social, se foram. A roupa dela muito puída, sem sutiã podia-se ver os bicos rijos, do frio possivelmente... Mas o frio por vezes pode incendiar a minha alma. 

Desviei o olhar. O maldito cheiro merda do latão me acertou o nariz. Pensei: eis o cheiro da vida. Fiquei na minha, o por do sol iria dar o seu show... A mulher vez em quando me olhava. Agora as crianças brincavam com o lixo... Atirando uma panqueca azeda uma a outra, a panqueca de destruindo com o impacto, elas sorriem como somente as crianças podem sorrir. Ironia fantástica, o azedo abre sorrisos, o imprestável torna-se ponte.

Permaneci em silencio, lamentei o que fere o olhar... Mas ainda sim, o sol parecia não se importar com nada disso. Olhei a mulher novamente... Agora ela me fixou.
Sorri pra ela, e como uma concessão silenciosa, ela veio até mim. Meus sentimentos se misturam, existe uma linha tênue que separa o hediondo, de mim:

-O senhor me consegue um real?
-Sim...

Abri a carteira, achei uma nota de dois reais, dei a ela, perguntei:

-São teus filhos?
-Sim... São... um é do meu corpo, e outro eu peguei pra criar...
-Sério? E tu consegues isso?
-Agente luta né... Se vira e vamos indo...
-Desculpa perguntar... Mas tu não tens condições de criar um, porque pegou o outro?
-Não sei não senhor... A mãe dele sumiu... Deixou a criança pra morrer sozinha... A gente não pode deixar as “pessoa” morre né?
Aquilo havia me capturado.
-Me conta isso direito, tu?
-Olga... sou Olga.
-Nome forte Olga. A mãe abandou a criança?
-Sim... Era louca, chapada e “crackera”... Nossa, não sei como Deus permitiu essa criança nasce... ela vivia bêbada...e louca...até porrada na barriga levou...e a criança nasceu perfeita.
Por detrás de cada ser humano, existem milhares de historias... Boas, ruins... historias, qualquer um é absolutamente comum. 

Gosto disso, gosto da vida, seja ela como for. Aquela historia me machucava, Olga tentava dizer como se não fosse de grande relevância.

-Sei... e ai tu pegou...
-Sim... Mas quando peguei a criança eu senti algo... Estranho sabe... Olhei para ele... ele parou de chorar... Eu o senti, como se ele tivesse saído de mim... Coisa que não sei explicar... Até hoje... mas ele é meu, meu filho.

Seus olhos haviam se enchido de lagrimas, falando daquele jeito. Disfarcei as minhas. E meu pensamento mergulhou em um tempo atrás, que fui um pai de aluguel. Tentei ser bom pai... É o que eu digo... Lembranças são laminas afiadas.

Fiquei olhando pra ela. E fiz uma pergunta que eu sabia a resposta... Mas...

-E no domingo como vai ser?

Apontei para as crianças que ainda riam, a panqueca não existia mais...

-Não sei... To tentando juntar um dinheiro para comprar dois bombons... Um pra cada... Mas a gente precisa comer... né...então...

Lembrei que minha pascoa na infância, sempre foi cheia de bombons... e provavelmente a sua também que ora esta me lendo... Dois bombons? Porra Deus.

-Eles acreditam no coelhinho da pascoa?
-Claro que sim... não se rouba a fantasia de ninguém...
-Tá, mas se o coelho não aparecer... Que tu vai dizer?
-Vou dizer o que coelho se perdeu do nosso endereço... Que ele vai procurar direitinho no mapa e depois vem... atrasado mas vem...
-Ai tu ganhas tempo, é isso?
-Sim... ai eu consigo os dois bombons...depois...

Você sabe quando alguém esta dizendo a verdade... Ela era intensa, tinha cheiro intenso, e falava me olhando nos olhos... Não queria seguir mais o assunto. As crianças chamavam Olga... E ela foi embora, levando as crianças pela mão, e uns sacos de lixo também.

O sol se punha lentamente, raios que fogem acendendo estrelas, estrelas que vagam entre as valetas e lixo, testemunhas ocultas de historias não vistas. Eu também fui embora.

Luís Fabiano.



Poesia Fotografica





quinta-feira, março 28, 2013

Gagui IDV



   Teaser - Gagui IDV   

Fio da Navalha conversou com o talentoso rapper Gagui IDV, aqui apenas uma amostra do que vem por ai com ele:










Quem é aquele

Ninguém sabe quem é quem
Somos suposições vacilantes
Brincando em uma posição
E a incerteza é a certeza maior
Muito embora tudo diga que não...

Ontem um cara sentou a minha mesa
Agitado e olhos de drogado, disse:
-Eu sou matador cara... eu mato...
-Grandes merda – eu disse
Então ele mostrou o cabo de uma faca...
Queria me dar certeza...
-Ok – eu disse
Esse me parecia um idiota
Ele se foi.

Então veio uma moça... ficou me olhando de longe
Uma mulher de olhos doces, talvez tivesse gostado de mim
Mostrei a cadeira vaga na mesa... Ela veio
Então disse: trinta o boquete, cinquenta uma completinha...
Sorri pra ela, e disse: e o amor?
-Amor não tem preço – ela disse
Se foi também.

Uma senhora bêbada, chorava no balcão do bar
Era uma tristeza dolorosa, talvez a maior dor deste mundo
Uma comoção raspou minha alma
Fui até ela... e a conduzi a minha mesa:
-Se tranquilize senhora... Não sei o que houve, mas tudo ficará bem...
Ela secava as lágrimas, mantive silencio
Por fim disse: Eu quero meu filho de volta...
-Ele morreu?
-Não... Ele não quer mais me ver... nunca mais...
Punição severa, pensei:
-O mandei escolher, entre aquela mocreia da esposa ou eu...
-Ta chorando por quê?
-Ele é meu... meu filho... meu...
Não falei mais nada

Seres humanos... todos e seus malditos problemas
Jamais se entendem 
Principalmente você, você é o seu problema
Não o outro
Somos estranhos uns para os outros
Ligados por pontes feitas de neblina

Quem é você?
Quem é o outro?
Eu digo
Você é o bote da serpente
E águia chocando ovos
O resquício de um por do sol
E uma estrela na madrugada
A surpresa maldita, e o carinho de uma mão estranha
Você é a oportunidade, e as brasas se apagando
Você é capaz de qualquer coisa...
E o outro também.

Luís Fabiano.

quarta-feira, março 27, 2013




Navalhadas Curtas: Mesa de bar e uma vadia

Detesto cada vez mais, a maneira como as pessoas se comunicam. Algo falta... Principalmente uma certa suavidade. Um casal estava sentado a minha frente no Bar Papuera. Tudo bem.
Então passa uma mulher com a bunda esculpida. Todos olham. Aquilo foi como um dardo venenoso na alma. A mulher olha para o cara, que tentou disfarçar a olhada... e:

-Mauricio... Porque tu não olhas direto pra ela? Hein? Ia ser mais fácil... e digno, porque tu tentas fingir que não tá olhando... Que nojo!

O cara fora pego na caixinha. Eu olhei a bunda, outras meninas olharam a bunda, a África com fome olhou aquela bunda.

-Mas Juliete... Eu não olhei não...

Senti raiva de ambos. Ela por ser um poço de insegurança... E ele por ser um merda. É disso que é feito a humana, de merdas inseguras. Segui bebendo minha gelada. Mas como se fosse uma sinfonia do inferno ela seguiu:

-Não sei o que tu viu nela... Porra eu to aqui... Bah me respeita cara...
Eles eram um casal perfeito, ambos idiotas, sem personalidade. E aquela bunda estava alguns metros de nós.

-Mas meu bem... Eu nem vi... que coisa...tu...tu ta sempre assim...Ju..
Ele havia baixado os olhos, ela percebeu que estava no comando, agora ela ia trucida-lo, em uma arena de leões. Eles me enojavam.

-Vocês homens são uns mentirosos... Cínicos...

Eu queria que os oceanos pegassem fogo, para poder comer peixe frito. Eles estavam emburrados. Olhei bem para a mulher e depois olhei pra bunda da Monalisa. Sensacional. A mulher era flor da raiva. Então sorri e disse pra raivosa:

-Aquela bunda é linda mesmo...

Ela me olha indignada, olha para Mauricio:

-Vamos embora agora... já...

Eles se levantaram, mais rápidos que um jato de porra e se foram.
Então... Como milagre da natureza... Aquela bunda que estava indiferente a tudo isso... Veio sentar-se justamente naquela mesa. Comecei a rir.
Realmente a vida por vezes é absolutamente idiota. A natureza tá cagando para tua pequenez.

Luís Fabiano.



segunda-feira, março 25, 2013

*  Dica da Helô    *

Fio da Navalha também é boa musica. E agora mais ainda... a Dj Helô fará uma participação semanal, dando dicas de musica... Musica apenas não... Músicas da melhor qualidade, musicas que ela curte, e que também rolam em suas festas...
E porque não, começar a semana já com uma baita wibe? É isso...
E a dica da Helô esta semana é: Otto – Exuparade.
Curti ai...o som taí.




 - Pelotas Tatuada - 


Av Jucelino Kubistschek de Oliveira n 17






Vômito e um pouco de felicidade

Nós tínhamos um ritual diário...
Um apocalipse pessoal a quatro paredes
Com uma apoteótica de expelir tudo...
Talvez se pudéssemos, a alma também...
Era o nosso bizarro e atraente
Como a mosca deseja a teia da aranha...

Então eu chegava... Abraçávamos-nos
As vezes beijamos... eu metia a mão na sua bunda gostosa
E imos jantar como uma família mais ou menos normal...
Quando não encenávamos uma briga...
Briga que auxiliou a afinar uma espada oculta
Que e gestou navalhas, os filhos não vindos...
Feridas expostas ao meio dia...
Eu gostava do que éramos...
O terror e a sombra
Amor e a dor
Desespero e as taras
Gozo e carinho...
A prece para o demônio

Sentávamos a mesa... e sete garfadas depois...
Ela levantava-se da mesa em agonia suprema...
Em direção ao banheiro...
Vomitava tudo e mais um pouco
Que sua alma não conseguia expelir...
No inicio... Eu acompanhava... Preocupado...
Mas coisas que se repetem, acabam tornando-se banais...
Eu seguia jantando... Excelente arroz, feijão, linguiça e bacon...
Humm muito bom.

Então eu aí até o banheiro...
Diante do vaso como um altar encantando...
Eu a encontrava meio acabada
Às vezes rindo com lágrimas... E o forte cheiro de bílis no ambiente
Eu gostava...
Era o perfume que fundia o viria depois...
Incrível como nos habituamos ao terrível
Caminhávamos a beira do abismo sem medo mais...
Os insanos cavalgando em noite cheia de barulhos
Espetros delirantes enfiando as presas no amor
Desafiando os limites um do outro...

Sem duvida a melhor lição que tive em minha vida...
Tornou a lamina refinada
A tal ponto que ela nos partiu...
Sensacional.


Luís Fabiano.



Navalhadas Curtas: Meio louca, meio certa

Ela falava com um poste, enquanto eu vinha vindo na calçada. É normal, todos falamos com coisas inanimadas. Achei que ia passar de boa...
Mas justamente na hora que estou passando por ela, ela se volta pra mim algo nervosa:

-E você, poste? Porque tá andando?

Fiquei em silencio, ela segue...

-Diz algo poste. Diz, não seja mal educado...

Que merda, era louca de pedra... Tentei seguir, ela agarra do braço e força:

-Fala poste... Fala poste... Fala...

Na hora pensei: vou me transformar em um poste. Enrijeci o braço, e fiquei parado como um poste... Com uma voz grave respondi:

-Eu sou o Deus dos postes... Ajoelhe-se fiel... ou meus raios elétricos...vão te aniquilar...ha,há,há...

A mulher arregala os olhos... Como se tivesse visto Deus... E foi dizendo:

-Fui eu quem matou a cadelinha da vizinha... fui eu...eu matei a Juditi...eu mereço o inferno...eu mereço...

Que merda. A brincadeira havia se tornado séria... Nem loucos sabem brincar mais... e agora era eu que iria decidir se perdoava ela ou não?? Claro que não:

-Coloque as mãos no outro poste ( o de verdade) e feche os olhos... e em cinco minutos estará perdoada...
Ela fez... E assim que ela fechou os olhos... bem... Eu me mandei.

Luís Fabiano.


domingo, março 24, 2013



Pérola do dia:         

“ Alguém, com uma vida excessivamente limpa... tem que ser meio sujo”.

Luís Fabiano.

sexta-feira, março 22, 2013

Guido - CNR



  Entrevista – GUIDO CNR  

Uma semana se passou... Ufa!!!
Senhoras, senhores e leitores do Fio da Navalha, sem enrolação como um cometa brilhando nas estradas do Rap de Pelotas, do Dunas para o mundo, com muita força e determinação Guido CNR !

Luís Fabiano.



Ps: Fica aqui o registro e agradecimento do Fio da Navalha, a professora Carla Ávila, que fez toda a mão, pesquisa e produção do material, no que se refere ao Guido CNR. Muito obrigado.









Paz vacilante, Marião e uma ratoeira

Parte final.

Aquele semblante era um lamento aberto, um arrependimento tardio e por outro lado, a sensação que havia curtido o que queria. Sim... A vida tem um preço e por vezes este preço é alto:

-Porra Marião... Festinha? Os caras te roubaram e tu chamas de festinha...
-Era um casal... Sabes como é... Gosto de ver uns shows eróticos... Tava muito bom... Eles colocaram musica, e foram se despindo... E me despindo... O cara era meio gay, um negro muito lindo, e a mulher muito alta, loira peituda, com uma xoxota com lábios enormes, muito ativa ela, garota é de programa. Eles aumentaram a musica... E tudo foi esquentando...
Fiquei imaginando a cena. Nada contra... cada um fode com quem quer... Mas eu chamaria se fosse possível, uma negra e uma loira...  Creio que coisa seria bem interessante... Gosto de contrapontos, gosto de misturas. Sorri e Marião seguiu:

-É... Ai vieram as bebidas... Eles pegaram meus whiskies, e foram bebendo na garrafa... E chegavam e mim... Se esfregavam... e abriam minha boca...e a bebida foi entrando e me entorpecendo...
-Vais me dizer que não estavas sentindo as pernas?!

-Não tava sentindo era mais nada... Então eles me deram um comprimido azul... Disseram que era viagra... eu sentia sensibilidade em todo o corpo... Então vieram e tiraram minha roupa disseram que  precisava de um banho... A loira estava agitada... Começou a cheirar cocaína... Ela vinha até mim... me beijava...e depois me dava tapas na cara...  Nesta altura... eu estava na banheira... O negro disse que iria me fazer...  Mas antes ele e a loira transaram enquanto eu estava na banheira... Ela pegava meu saco murcho e dizia: olha só parece de plástico o saquinho dele...

-Deus... É que ela te considera sexo bizarro...
-É creio que sim... Mas a coisa não ficou por ai... Então não sei bem por que... ele começaram a brigar... O cara dizia pra ela que aquilo não era direito... se aproveitar e roubar de um aleijado...  Que Deus... Iria punir... Que iriam para o inferno... Mas a loira não tava nem ai... Foi até a cozinha e trouxe uma faca enorme... Nesta altura do campeonato eu estava tonto... sonolento...e não percebia exatamente o que estava acontecendo. Mas achava que eu havia feito uma merda...

-Porra... tu achava? Benza Deus... Mas Marião, como é que estes “anjos” descaídos vieram aportar aqui no teu cafofo? Eles não caíram do céu né?
-Não... claro que não... Eu os chamei... Há horas tinha visto no jornal local... nos anúncios de sexo... Casal que faz tudo o que você quiser... Eu tava com medo... Mas eu tinha uma grana... então disse pra mim mesmo: porque não?

-Sei...
-Mas eu achei que eram profissionais... Que chegariam... Fariam o trabalho... e tentaria gozar... Eu tomo um remédio muito forte... sabe como é...o pau sobe, mas eu não sinto nadinha...

-Cara era isso que ia te perguntar: tu ficas de pau duro.
-Sim... Mas não sinto nada, as pessoas que estão comigo adoram... ele vai amolecer umas duas horas depois...

Aquela conversa estava interessante. Pessoas fio da navalha... podem ter certeza. Era estranho... Mas por um momento, achei que Marião gostou de ser roubado.

-Marião... eles levaram tudo... Roupas... carteira, o som, o computador lamentável...

-Mas eram gostosos...
-Marião... Me conta uma... Tu és gay?

Ele olha para o chão como se sentisse vergonha disso. Não tenho preconceitos, com nada. Seja feliz...apena seja feliz.

-Bem Fabiano... Não sei exatamente o que sou. Gosto de tudo... Gostei da loira e gostei do cara... Que era dotado... Eu não lembro muito bem... Porque tava chapado e também não sinto nada lá embaixo... Mas acho que ele me comeu...

-Sei... Tudo bem Marião, relaxa. Não vou dizer nada pra ninguém.
-Minha família não faz ideia disso.
Ele parecia melhor ou pior, não sei dizer exatamente. Não morreria pelo menos, creio que isso já é um inicio... Creio que ele estava com uma ressaca moral, um lugar de solidão aonde as palavras dos outros não chegam, tudo que se pode fazer é observar.

-Bem Marião... Nem sempre as pessoas precisam saber tudo sobre as outras pessoas. Sabes muito bem... Todos tem algo a esconder... E o cara que diz... Que  a vida é um livro aberto, podes ter certeza que ele apagou algumas linhas de dizer isso. Não se preocupe com tanta franqueza.
-Pô Fabiano... Eu sabia que tu ias me ajudar cara... Sabes como é... eu não tinha ninguém mais que pudesse me dar uma força, tava com medo de morrer aqui sozinho...

-Não sou bom samaritano Marião... Mas vou movido pelo momento... tudo o que existe é o momento.

Acontecimentos fantásticos acontecem no obscuro de olhos não podem ver. Somos as coisas mais fascinantes e estranhas que caminham sobre a terra. O caos estava de volta aos trilhos, me sentia cansado, eu era o super herói sem fantasias, o anti-herói de uma noite de perdedores, gargalhando diante da vida. O silencio criminoso da casa de Marião me incomodava agora.

-Marião, então mais alguma coisa?
-Nada não Fabiano... Agora eu me viro... minha cadeira ta ai...vou telefonar para o banco...porque os putos vão fazer coisas com meus cartões...
-Ok Marião... Boa noite então...

Vou saindo... sobre a mesa uma meia metade de whisky esquecida. Consultei o rotulo, porra... Vinte quatro anos? Acho que Marião não iria dar falta... Sai bebendo ele no gargalo... Caiu suave como musica. Eu já estava na porta então dei volta.
No quarto Marião estava olhando para o vazio:

-Marião... Eu me esqueci de te perguntar uma coisa...
-Diga-la Fabiano...
-O negão eu dispenso... Mas qual o telefone da loira mesmo? Porra... loira, louca, puta e com lábios enormes...


Luís Fabiano.



terça-feira, março 19, 2013


Pérola do dia:

" Tem dias que você pisa na merda, 
e consegue rir".


Luís Fabiano.

segunda-feira, março 18, 2013


   Pelotas Tatuada    


       Rua José do Patrocínio n-56   




Um bicho

Eu me vi contra a parede
Quando o jogo conspirava todo contra mim
Fibras emocionais, dardejando estranhezas
Era como estar no fundo da caverna, e um dinossauro a porta
Isso nos leva a nada perder...
E nada pior que não ter nada a perder...
A realidade torna-se turva
E outro se torna o pior
Dentro e fora de nós...

Não tive duvidas de nada...
A certeza dos fanáticos...
Uma coragem vinda da insanidade
Uma força vinda da brutalidade
Uma perversidade resgatada do medo
Uma crueldade sorridente...

Nada por vezes é bem entendido assim...
A aranha, não é má...
Nem tão pouco a cascavel...
O escorpião é simpático...
Eles se defendem como podem
Como você e eu...
Quando as sombras do arco-íris descem
Num palco apagado...
Um pastor solitário pregando para o vento...
A beira do abismo

Brigamos como uma fatalidade sem harmonia
Ela tinha seus motivos e eu também...
Sempre será assim... Não me sinto errado
E nem ela...
Eu sempre me pergunto, se existirá o errado.
Quando as emoções dançam entre nós?

Não sei viver de outro jeito...
Sou o melhor e o pior gole
Você a doença e a cura
E vez por outra em meio a tempestade
Conseguimos observar as estrelas
Serenas no horizonte.


Luís Fabiano.


domingo, março 17, 2013




Navalhadas Curtas: Anti-bomba, anti-encontro, anti-Anita

Tenho me tornando meio antissocial. Andando nas ruas, não desejo encontrar ninguém. Melhor assim. Tenho alguma sorte, por vezes consigo passar ileso, ninguém me vê eu não vejo ninguém, excelente. A paz é o cheiro da merda... Com a merda ausente.

Mas neste dia em questão não foi assim. Encontrei Anita. Ela faz o perfil que mais detesto do ser humano: os que pensam que sabem tudo, conhecem tudo e sempre tem uma resposta pronta como o pus de uma ferida. Tentei me desviar, mas ela veio até mim, com aquela voz fina e perfume doce como a merda diabo:

-Fabiano... Andando por aqui no calçadão? Que foi hein... Recolhendo textos para o teu bloguinho?

Pensei: houve um tempo que isso me irritaria, mas eu me treinei muito para deixar me importar com as opiniões alheias, aniquilei o meu ego, asfixiei minha vaidade, hoje tenho profunda noção do merda que sou. Fique a vontade. Sorri pra puta, quase com piedade.

-Que nada... Apenas caminhando Anita... Pena te encontrar...
-Sei, sei Fabiano... Tenho visto as coisas que colocas lá no Fio da Navalhaaa... Umas nada haver né? Tu chamas aquilo de literatura? Tem coisa que é um horror total...
-Não chamo de nada... Cada um tem prazer por onde é possível, e o prazer de um é o desprazer de outro... é a vida.
-Nossa, pornografia demais né, e as entrevistas nada haver...

Eu sabia que Anita tinha problemas de relacionamento, sabia que ela não batia bem também. Ela estava determinada a me provocar, pensei se daria ou não a dose de veneno que ela solicitava...

-Anita, é simples... Basta não ver. Alias diga-se de passagem, eu não me recomendo pra ninguém... Vai olhar no youtube... Os passeios do teu ex-marido com a nova e linda mulher dele...

Não iria me demorar naquilo. Era assunto recente... Portanto doía ainda. Ela foi corneada pelo cara, diga-se de passagem, dou razão pra ele.
A reação foi imediata:

-Fabiano... Foi bom te ver... viu... E vê se aprende a escrever...
-Tudo bem, vê se aprender a manter um casamento...

Saí rindo... Afinal meus casamentos todos foram um fracasso apoteótico total. A vida esta cada vez melhor.


Luís Fabiano.

Trecho Solto...






É outono no meu segundo ano em Paris. Não tenho idéia do motivo por que me mandaram para cá.
Não tenho dinheiro, recursos nem esperança. Sou um o homem mais feliz do mundo. Há um ano, há seis meses, achei que era artista. Não acho mais, eu sou .Tudo o que era literatura se soltou em mim. Não mais livros a serem escritos, benza Deus.

E este aqui?
Este não é um livro. É uma difamação, uma calúnia, uma falta de caráter. Não é um livro no sentido comum da palavra. Não, este é um longo insulto, uma cusparada na cara da Arte, um chute na bunda de Deus, do Homem, do destino , do tempo, do amor, da beleza, do que você quiser. Vou cantar para você, meio desafinado talvez, mas vou. Cantarei enquanto você grasna, dançarei em cima do seu cadáver sujo.
Para cantar, é preciso abrir a boca. Precisa também ter dois pulmões e conhecer um pouco de musica. Não precisa ocordeão ou violão.
O importante é querer cantar. Portanto, essa é uma canção. Estou cantando.

É para você, Tânia que estou cantando. Gostaria de cantar melhor, ser mais afinado, mas ai talvez você quisesse me ouvir. Já ouviu os outros cantarem e não se emocionou? Cantavam bem demais ou não muito bem.

Hoje é dia vinte e poucos de outubro. Já não sei direito os dias. Você diria que meu sonho de 14 de novembro passado permanece? Há intervalos, mas ficam entre sonhos e não consigo lembrar nada sobre eles.
O mundo esta se dissolvendo, deixa aqui e acolá manchas de tempo. O mundo é um câncer que esta se comendo... Acho que quando o grande silencio baixar sobre tudo e todos, a musica vai finalmente vencer”.


Extraído da obra: Trópico de Câncer – Henry Miller.