Pesquisar este blog

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Navalhadas Curtas:
 Trepar ou não trepar?


Nunca tive muitos pudores. Alias sempre detestei gente que faz, mas não faz. Também não tolero os que contam vantagens. Neste aspecto considero a elegância adorno funesto. E mesmo com tanta putaria no mundo, ainda encontro mulheres por ai, que se sentem envergonhadas, que se constrangem quando dou um bom e sonoro peido na sala, por exemplo.

Algumas jamais me deixaram vê-las cagando, fazendo força no trono, tendo seu momento de imperatriz. Mas nem todas são assim. Algumas ficavam muito a vontade comigo, enquanto trocamos carinhos e peidos debaixo das cobertas. Muita risada, muita ternura e fodas intermináveis.
Tais situações também foram palco de algumas desavenças que tive por ai. É impressionante o que merda e mijo, podem fazer a vida das pessoas. Tenho hoje, algumas amigas que ainda não falam e não fazem as coisas como tem que ser. E em um dado momento isso se converteu em uma discussão ridícula .

Marisa falava sobre  como fazia amor com o marido. Enquanto falava, sua linguagem simplória me causada enjoo, pois tudo era tão...tão...tão...limpinho que praticamente não era sexo.
Quando terminou sua narrativa peculiar, fiquei olhando para ela, um silencio mordaz como quem engole um cactos:

-Você chama isso de fazer “amor”? Isso me pareceu mais um ritual de santificação. Banhos, roupinhas limpinhas, depilação em dia, perfumes diversos, cremes para o corpo, que porra é essa Marisa? E o teu cheiro de mulher? Suada, cansada de um dia de trabalho?O gosto azedinho de xixi? 
-É assim que eu gosto, tudo muito assim...assim....especial...
-Você nunca trepou na pia da cozinha? No elevador? No meio da estrada do laranjal de madrugada, no capo da carro, gemendo feito uma cadela?
-Que isso...não..não...jamais...para Fabiano...
-Desculpe Marisa, mas você ainda não fez nada na vida.
-Tu pensa que tudo tem que se assim? Brutal? Doentio como tu ? Louco? Tu que és um anormal...
-Sou e assumo, eu não tenho orgasmos programados sábados a noite, ou nas noites de quarta feira depois do futebol. Eu espero que a mulher berre, se desespere, se mije, se cague, me arranhe, me bata, chore ou morra trepando comigo desesperadamente. E depois, bem depois temos porque ficar abraçados, cruzando a suave ponte sobre o prazer através do carinho...sofisticalizar os instintos, é perder-se quem se é.
-Anormal...

Luis Fabiano.

Anti-herói de mim


Sempre tive admiração pelo anti-herói. O cara que no final, muito embora com esforços razoáveis e pouca atenção, termina se dando mal, porque sua aspiração principal nunca foi vencer nada. Tornar-se um vencedor pleno, é como acabar o jogo, é gozada final, é o ultimo pingo de mijo na cueca. Creio que fui me tornando meu próprio anti-herói. Tanto admiro estes caras, que suas almas agora estão também um pouco em mim. Sinto me orgulhoso disso. Muito longe de ser uma derrota, é uma honra. Os seres mais repletos de vida e humanidade que já ví. Tais vidas são exemplos, mas não para qualquer um.

Num mundo onde todos querem ser vitoriosos, plenos, ter o mais e o melhor, estes caras fazem o caminho inverso. Pensava nisso fazendo uma breve analogia com a filosofia oriental. Pode-se alcançar os sonhos pela via contrária, se porem, houver uma profunda intensidade de verdade em si. O que redime e santifica qualquer ato. Lembro que na época, achei tal pensamento absurdo. Porem o tempo veio clareando a dimensão de tal verdade. Porque essencialmente todas as cosias são feitas de uma mesma coisa, logo, seja mais longo ou curto o caminho, essa essência é atingida, por um inescapável sofisma da vida.

Foi durante um período difícil que acreditei nisso com as veras da alma. Entre tantos pensamentos loucos, pensei em virar um matador de aluguel. Foi quando os vilões me chamavam mais atenção, eles eram os caras que resolviam as coisas sem frescuras. Naturalmente não pensei na maldade em si. Queria ser uma espécie de justiceiro, onde os perversos seriam punidos com a morte. Nesta época eu me sentia muito enrolado pelos outros, havia papo demais e pouca ação, talvez meu traumas falassem mais alto e minha dores entoassem cantos de agonia.

Tal ideia me acalentou a questão de ser justo e resolver tudo. Uma vez que nosso conceito de justiça como entendemos em um nível pessoal e passional, não passa a mais das vezes de mera vingança refinada e subjacente. Quem nos causa dor, deve se foder como nós nos fodemos, e mediante isso vamos nos sentir compensados e em paz. Me soa muito estranho isso hoje. Porque dá a impressão que podemos secar nossas lagrimas, fazendo mais lagrimas caírem por ai, lavar a merda com mais merda.

Nesta período eu estudava a noite. E lembro de ter passado por um mendigo, sujo,fedendo, rasgado e tossindo feito um condenado em uma noite de inverno. Lembro que pensei comigo: esse cara estaria melhor morto, que vivendo uma vida assim, sombra de indiferenças, ranço de nulidades, ausência plenificada de nadas.

Fiquei parado olhando um pouco ele, tentando se cobrir do frio. Piedade ou sentimentos hipócritas, nunca foi meu forte. Guardo isso para quem merece. Então ele me olhou nos olhos. Eu contava na época com vinte e quatro anos. Ele parecia ter muito mais, uns sessenta talvez. Ele ficou me encarando, eu parado naquela esquina fria. Então fiz uma brincadeira com o cara. Apontei o dedo em forma de revolver, como quem fosse dar um tiro com a mão, e fiz bang com a boca. Não se mexeu, ficou assim algo congelado. Eu disse:

-Todos os teus problemas estão resolvidos, bang...
Ele me responde:
-Antes fosse tão fácil...queria dormir e morrer e fim hoje...deixa eu morrer hoje...
-Sei, sei. Mas acho que hoje não.

Realmente senti vontade dar a morte de presente para ele. Eu entendo bem isso. Trago a morte sempre bem próxima a mim, grande amiga e parceira em noites de avançam em solidão sem consolo algum. Noites que o rum acaba, o telefone não toca e todas as bucetas ficam mudas.

Então deixei o mendigo na esquina, meu pensamento fixo nisso. Segui andando só, algumas quadras dali, um grande alvoroço, sirenes, policia e ambulâncias. A musica ordinária da cidade, vomitando catástrofes, dores e lágrimas desconhecidas.

Aproximei para ver o que se passava. Um cara no chão, olhos esbugalhados olhando para nada, uma bala havia entrando bem no meio da sua testa, podia sentir o cheiro acre do sangue no local, muita confusão e a policia dispersando os curiosos sedentos.

Foi bem na Andrade Neves, esquina uma rua que não lembro. A morte estava ali, fazendo sua dança macabra. Não sei o que aconteceu com o cara. Não sei de nada mais. Meu estomago embrulha-se, caminho mais alguns metros e vomito. Mesmo hoje não sei o que aconteceu comigo, sou de um temperamento insensível, já tinha visto a morte de perto, não era uma novidade.

Mas havia uma angustia ali em mim. Quis negar tal emoção, lembrando meus pensamentos de matador, pensamentos plásticos tecidos de voláteis intensões. Como um muro que desabada, tal pensamento de justiça foi sendo abandonado. Talvez eu não tenha sangue frio pra isso. Mas como tantas outras coisas que abandonei, por falta de conteúdo, mas na hora parecia preencher minha alma de verdade. Isso eu também fui compreendendo, a verdade não é algo estático, é dinâmica como as estações da vida, que vão alterando nossa superfície, fazendo-a tornar-se profundidades densas.

Decidi não querer matar mais ninguém, tentar viver em paz, interferir o mínimo na natureza e na fluência da vida.E se de vez em quando der para vencer, algo tudo bem, se não, tudo bem também.

Luis Fabiano.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011


Paz entediante e outros mares.


Tenho andado muito tranquilo ultimamente. Isso muito estranha quem pouco me conhece. Realmente desconheço a razão disso, e não importa. Meu barco anda sereno, creio que nunca estive assim depois que nasci. O mar encapelado, velas inçadas e uma breve brisa sopra as vezes.

Não ando consolando viúvas desesperadas, agarrado em velhas deprimidas e carcomidas ou com tipos ansiosos de salvação, entre abraços amassados e um pênis ereto. Agora talvez esteja achando uma forma do equilíbrio, ou esteja cansado de tantas confusões. Tédio de maremotos.

Não posso me colocar com tal postura de santidade. Odeio santos, mas como santas. Simplesmente creio que tenho poupado as pessoas, daquilo que existe de pior em mim. Por que em outros instantes, eu servia o veneno recoberto de doce, as pessoas bebiam Fabiano com veneno junto e gostavam. Hoje tenho bebido este veneno sozinho. Ou quem bebe, sabe exatamente o que esta bebendo.

Ás vezes acho que tal paz é entediante. Porque é preciso por emoções em ebulição, a beira de coisas que nos fazem crescer. Não se cresce vendo por do sol todos os dias, ou apreciando noites estreladas sem fim.
Onde tudo sopra paz demasiada, ou se vive em grande paz sempre, vamos nos consolidando em uma cristalização emocional e intelectiva. Neste aspecto, a paz não é melhor que o crack ou outro entorpecente qualquer. Chego a conclusão que quase tudo é nocivo ao ser humano. Mesmo as coisas boas. Quem sonha com tudo sempre bom, perfeito, equilibrado e certinho, não é melhor em nenhum centímetro daquele ambiciona o mal, que sonha com a desgraça, que rumina a ruína. Creio ser esta a minha tentativa de equilíbrio. Não ser tão filho da puta e não ser tão bonzinho.

Creio ser esta perspectiva que estou inserido hoje. Deixo o Tigre preso por longo períodos, porem sem grades. Não pretendo matar o Tigre, desejo que ele sempre esteja tranquilo, presente e feroz se for o caso. Pois sua selvageria é a verdade mais profunda manifestação da natureza, aroma acre de emoções no limiar onde o bem e o mal se encontram. Embora na verdade mais profunda, tais coisas não existam. O que realmente existe é nossa ignorância multidimensional. Não são poucas as vezes que vemos converter situações trágicas em catapultas que nos lançam do inferno ao céu. Quedamos abraçados decifrando verdades ocultas e serenas a respeito de nós mesmos. Tudo se renova querendo ou não.

Dizem que todo barco precisa aportar. Em minha vida sem planos, labirinto de incertezas somente desejo navegar, seja o mar que for. Gosto de mar encapelado, mas também gosto do mar em fúria, como se a natureza estivesse com raiva. Não há raiva a apenas natureza. A raiva é nossa, um sentimento estudado de nossa parte e raramente é original. Ela vem eivada de nossas chagas pessoais.

Nos debatemos todos no mesmo campo de batalha. Um drama carcomido e encenado a evos. Os mesmos personagens, enfrentando as mesmas merdas emocionais, teatro de orgulhos, vaidades e egoísmos. Creio não haver nenhum problema nisso. O grande problema é quando se perde a originalidade, quando tentamos ser bisonhamente maquiados por anseios angélicos que permeiam nossa alma. Então vem o conflito e deste conflito vivemos.

Hoje não vivo mais isso. Abandonei a alma ao mar. O que vem se torna benvindo. E ultimamente tenho sido agraciado. Uma certa saudade me invade as vezes, chegando devagar como as sombras do entardecer, saudade de um mar bravo, de raios rasgando o céu, do rugido na escuridão da mata.

A rua parece tranquila, poucos bêbados circulam, a noite cinza me sugere entorpecimento, acendo um bom charuto Guantanameira, deixo a fumaça ganhar o céu, a cerveja entrando lentamente, hoje não tem estrelas entediantes, parece que uma tempestade esta se formando. Sorrio para a vida, sinto-me disposto como um encouraçado pronto pra enfrentar o que seja, raramente sinto isso, mas hoje sim.

Luis Fabiano.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Poesia Fotográfica...


quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Dulce Pontes -  Canção do Mar



Pouco a pouco


Já fui um tolo romântico. Gosto de pensar que me esqueci disso. Que minhas tolices abriram espaços a rascantes pensamentos, ora ácidos, ora quentes e ainda com alguma emoção. Me detestava profundamente quando era assim. Me sentia um idiota, hoje sou outro tipo de idiota.

As mulheres gostavam. Aquilo parecia ideal, poético e nos lançava a um mundo quase todo imaginário. Hoje,meu senso de praticidade engole muitas coisas. Mas funciona, ao menos pra mim. Me é doloroso importar-me com os outros. Prefiro que as coisas apenas sejam como sejam, sem enfeites, folclores ou maquiagens. Sei que a grande maioria de nos precisa disso. Gostamos da mentira, o nosso tropismo é para as ilusões daquilo que somos ou queremos. É bom pensar de vez em quando que a felicidade é algo realizável. Porem, isso depende somente única exclusivamente de nós, como individualidade.

Outros poderão aportar em nosso coração, e se por um algum instante, pudermos olhar o horizonte juntos, isso já será bom. Mas não espere mais. Pois as outras lacunas de nosso intimo, nós que precisamos preencher serenamente.

Talvez nisso resida nossa profunda solidão. Viveremos as belezas que já estão em nós, e mergulharemos nos infernos pessoais. O que esta a nossa volta é cenário completo, com seus personagens mutantes, acordando e matando nosso melhor ou pior.

Pensava nisso enquanto meu estomago roncava de fome. Tudo que eu havia lhe dado naquele dia eram bebidas. Acho comer importante, mas beber é mais. Mas não transforme a porra toda em um vicio. Não estrague a diversão, com culpas pesadas, vivendo como quem está prestes a se foder. Não é assim.

O telefone toca.
O som do telefone sempre me deixa nervoso. Não gosto. Tive noticias muito desagradáveis por telefone. Atendo por trauma a merda:
-Sim...
-Então Fabiano...e aí? Que houve? Tu desapareceu, nunca mais nada...nem um telefonema..email...nada, achei até que tinhas morrido...e não me avisaram...

Tentei concatenar as ideias, para identificar quem era. Minha profecia se confirma: nenhum telefone que toca depois da meia noite, é pra algo bom. Não queria problemas, queria fica com meu copo de rum, e não comer ninguém. Tenho dias assim.

-Olá...tudo bom? É...é...tenho andado meio ocupado.
Não sabia quem era, então a resposta não faria diferença.
-É Fabiano eu sei...quinze dias ocupado é ocupação né?
-Acho que esta conversa não esta indo para um bom desfecho. Eu não tenho nenhum certificado de propriedade...então relaxe...pegue mais leve...
-Relaxo nada. Tu fica por ai, comendo qualquer uma e esquece de mim...eu te dou atenção...papo...carinho...faço as comidinhas que gostas...trepo quando tu queres...é tu acha que é assim?
-Tudo bem, mas se você iria cobrar por isso tudo...o...deveria ter me dito antes que eu veria se tinha grana pra te pagar. O problema que não é grana...o teu preço é transcendental...moeda espiritual...ai fica difícil...
-Tais me chamando de puta? Eu não sou...não...
-Nada disso, mas agora já estamos na dimensão que você só entende o quer...e eu não tenho saco para explicar nada...neste momento eu te desconheço...(ainda não lembrava o nome dela),então escolha uma verdade ou uma mentira e abrace-se a ela...
-Tu sempre falando desta forma...tu não passa de um enrolão...cheio das filosofias de merda...e no final tu não passa de um idiota...olha aqui oh...não me procura mais...me esquece entendeu, e-s-q-u-e-c-e...

A porrada que ela deu com telefone certamente sofreu algum dano. Quando ela desligou eu lembrei do nome, era a Suelen. Realmente ela tinha todas as qualidades que disse. Mas hoje isso não faria diferença. Tem dias cinzas que nada faz diferença.

Voltei ao rum e a meus pensamentos românticos. Porra, seu tivesse dado flores a ela, e feito todas as promessas de amor eterno...sei lá. Mas isso creio que é algo meio implícito. Sempre esperam que seja assim, mesmo que não existam palavras declaradas. Não tem saída.

Fico pensando na minha vida, no conjunto todo. Afinal, poucas coisas deram certo, e acho isso é uma boa média. Isso é bem real. Simplesmente existem coisas em nossa vida que não foram feitas para darem certo, para funcionarem como um relógio universal. Essa é nossa pretensão. Imitação do Criador anão.

Tudo que sempre fiz, foi não me importar muito. Foi tentar viver o melhor possível, e simplesmente não dá para ser bom, justo, amável, agradável e feliz com todos. Não dá. O rum descia suave com duas pedrinhas de gelo, me sentia consolado como abraços que despretensiosamente recebo, como os poemas duros do Velho (Bukowski), como as lascas de minha alma deixadas pelo caminho a fora.

O telefone toca novamente. Era Suelen:
-Oi, Fabiano...tu esquece tudo que te disse tá? Não queria dizer nada assim...eu queria que...apenas não me esquece...e...
-Tá tudo bem...tem uma boa noite.



Luis Fabiano.

Ah...primeira vez

Nada se compara
Será melhor ou pior
mas nunca igual
Quando nossos olhos se arranharam
Nossas línguas enroscadas
desejando infinitos
Eu dentro dela
corpo e alma
úmida com uma manha
A palavra dura
seca e amarga depois
Ondas desfazendo desenhos na areia da praia
Os primeiros sonhos
Rascunhos da vida
perfeição daquilo que não é
Estar de volta
afogado em saudades
Te encontrar novamente
A primeira tragada
envenenando a vida
Inaugurando consolos e o vicio quase eterno
O gole de trago
Queimando as entranhas e a alma
Conduzindo-a lentamente
Ao céu e ao inferno
A primeira carreira
O mundo se tornando um lugar somente seu
Uma broxada apoteótica
diante de um templo que baba da gostosa
As primeiras lágrimas do arrependimento
Chuva fina e quente
Que redime a minha e tua alma
Cárcere do coração
O primeiro bater de asas
Olhos fitos no céu
ganhando alturas rasgando o vento
A primeira asa quebrada
A dor legitima e saudade das estrelas
Fechar os olhos a ultima vez
E a primeira vez
Morrer.

Luis Fabiano.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Navalhadas Curtas: Mão na ferramenta


Tudo é uma questão de percepção. Ainda que ela não quisesse ser a rainha do pedaço, naquele momento estava com algum poder. Sabia maldosamente o que estava fazendo. Passar com uma saia curta,e um decote forte, na frente da obra. Bem...

Parei para vê-la também. Quando percebeu os serventes parando suas atividades,então rebolava com gosto, sentido a força. Mas ninguém assoviou ou disse alguma gracinha. Eram apenas olhos e mãos coçando o saco, em uníssimo para homenagear a puta da vez.
Não era uma menina, já tinha uns vinte e oito anos. Mas os esporões estavam á mostra, esporões de uma galinha velha.

Fiquei pensando: se ela caísse ai no meio da obra, todos ali teriam muito amor para dar. E achei que ela realmente merecia mesmo uma meia dúzia de caras fazendo o serviço. Afinal mostrar a picanha para o pobre, sem dar um pedaço é foda.

A vilã na historia era ela, por vezes nunca reconhecemos de primeira, quem é quem, os que desejam sofrem, os que dispõem, não se importam com ninguém. Mas a beleza pressupõe inocência. Equivoco de pressupostas virtudes. Belos olhos, bela bunda e belas pernas, longe estão de ser uma bela pessoa. Mas parece.

Por outro lado, quem liga se a pessoa presta ou não, quando suas coxas são mais lindas que seus olhos, quando a bunda é mais bela que sua alma e as tetas são mais exuberantes que suas emoções?
Tem coisas que falam mais alto.

Luis Fabiano.

Com ou sem ovo ?

Dá pra contar o numero de vezes que perdia a cabeça, em apenas em uma das mãos. Infelizmente lembro de todas. Tem coisas que é melhor esquecer. Não gosto de perder a cabeça por nada. É energia demais desperdiçada, com situações que não valem o esforço. Considerando que acho nada ou ninguém valham isso. Sempre achei mais fácil esquecer tudo. Inclusive minhas próprias dores. Elas vão sendo soterradas rapidamente, e no segundo posterior, nada mais existe.

Mas por vezes as pessoas gostam de provocar. Depois que fiquei mais velho, nada mais me provoca. Você aprende a não se valorizar tanto, e nem supervalorizar nada. Hoje penso: se você for ficar feliz, pode cagar e mijar sobre mim, tá tudo bem, apenas me deixe em paz depois.

A última vez que isso aconteceu eu era jovem. E o maldito serviço militar. Acho muito estranho, mas os homens passam a vida inteira tentando dizer que são homens. Provas de virilidade e pouca inteligência sempre. Brigando por mulheres, dinheiro ou transito. Todos brigam, gostam de porradas, berram forte, dão tapas em vagabundas baratas pagas ou não. Sempre tentei ficar na minha. La dentro era difícil. Mesmo quando se quer estar indiferente, existe alguém que vai lhe incomodar. Não gostava de um sujeito lá. Ele era o cara que ninguém gosta. Falava para os oficiais, sobre quem fazia isso ou aquilo errado.

Já nesta época, eu não gostava das boas pessoas. Hoje menos ainda. Sempre preferi aqueles que eram os vilões da historia, os que não tinham onde cair morto, os desesperados, os que sempre perdiam, os filhos da puta, depravados, que se fodiam no final. O mesmo valia para com as mulheres, sempre as mais peludas, com tetas naturais, bundas grandes, com meias rasgadas, maquiagem borrada, as bêbadas de rua, as putas angelicais rasgando céus e infernos. Todos esses, boa gente que tinham algo a dizer, que eram uma surpresa constante. O imprevisível sempre me deixou em paz.

Mas este sujeito, cismou comigo, gratuitamente. Durante longas semanas deixei barato. Ele simplesmente não valia a pena. Isso também conta, para uma briga valer a pena quem vai brigar contigo precisa ser bom. Fisicamente não sou de brigas. Prefiro derrotar as pessoas com a mente e emoções. É mais fácil, uma vez as pessoas são muito volúveis a paixões, passionais, ciumentas, orgulhosas, vaidosas, pecados que nos tornam todos frágeis. Todo o passional é um fraco. O cara era um chato.

Sempre passava por mim, e fazia questão dar um encontrão no ombro, ou então falava alguma coisa piadinha sem graça. Um dia me apontou um fuzil carregado, eu sabia que estava carregado pois estávamos de guarda.Com dezenove anos, já tinha tido uma outra arma apontada para mim por causa de mulher, de forma que não aquilo não era uma novidade. Fiquei olhando para ele. Era um besta. Disse pra ele atirar. Acho sinceramente que deveria ter atirado. Mas não, é um bosta.

Mas tudo chega ao seu ponto extremo. Não gosto deste lugar. Geralmente ai, a razão é instintiva, a força é primitiva e a verdade é feroz. Justamente aquele não havia sido um bom dia pra mim. Havia me estressado em todos os lugares que estive, inclusive em casa. Neste mesmo dia dei um soco na porta do meu quarto, fiz um buraco. Estava disposto ao mal.

Estávamos todos no alojamento, em um momento de intervalo. A hora dos vagabundos peidarem, fumar e falar merda. Então Franscisquinho veio. Passou por mim uma vez e empurrou. Passou a segunda e fez uma piada que não lembro. Na terceira vez, senta-se próximo a mim e fica dizendo:

-O cara, olha aqui... o que eu tenho pra ti - disse isso agarrando as bolas sacodindo.

Olhei seus olhos pela primeira vez, sorri lacônico. Um tigre sempre faz ataques furtivos, espera nunca estar ali, mas está. Quando ele se distraiu e parecia bastante relaxado, não tive duvidas, levantei como mais rápido que um jato de porra, e peguei no saco do filho da puta. Olhei bem pra ele:
-Então filho da puta, agora eu quero isso...vem me dá essa merdinha aqui...filho da puta...vem...nunca mais vai sair porra desta merda...

Me sentia feroz e fora de mim. E fui apertando, estava disposto a transformar aqueles ovinhos em pasta de bolas e pentelhos. Franscisquinho berrava a plenos pulmões, os meus outros colegas estavam paralisados, ninguém fez nada. Eu seguia apertando forte e torcendo as bolas, ele se contorcia como uma minhoca na chapa quente.

Então alguém me puxa, eu caio no chão. Olho pra Francisquinho, ele tá ali, o rosto deformado de dor, acho que vi até algumas lágrimas.
Confesso que foi muito bom. Creio que se deve ser assim. Quando você fizer algo errado ou certo, seja tão correto consigo mesmo, que não tenha problemas de consciência.

Não preciso dizer que minha relação com Franscisquinho mudou. Ele precisou de um bom tempo para recuperar-se, e andava com dificuldade, com as pernas entre-abertas. Não tivemos mais problemas depois. Aquilo não deu nada em termo de punição militar. Tudo ficou como estava. Desta vez me dei bem. Isso também dá pra contar nos dedos, as vezes é bom ganhar, nem que seja pra contar depois.


Luis Fabiano.



domingo, fevereiro 20, 2011

Tom Jones - Sex Bomb



Noites em Blue Bird


Algumas noites podem parecer promissoras. Mas como minhas expectativas estão mortas, vou deixando que a vida me surpreenda se quiser. Da certo,até quando dá errado.Tudo que se precisa, é estar aberto e experimentar, experenciar. Esquecer padrões do que é ruim ou bom. Raramente sabemos exatamente o que é isso.

Pendurados nas peias ideais, somando vantagens, tentando gozar com a vida e preenchendo vazios com coisas ocas, assim entendemos a existência, sem entende-la.

Aquela noite de domingo caia serena. Noite cinza com um temperatura ideal. Combino com a cantora, uma volta, um papo algo que preencha nossas sedes com verdade, seja ela qual for. A ideia agrada a ambos, vamos escorregando nas ruas escuras de Pelotas, deixando que o caminho decida onde iremos aportar então pergunto:

-Então, onde ?
Ela sorri com olhos naturalmente semicerrados:
-Pois então...
Risadas, pois jogamos ao ar a sorte, a vida deve ser assim:
-O bar das tuas amigas ? Se não me engano, House Beer, na Barão de Sta Tecla ?
-É uma...vamos ver...é na sorte..
-Noites de domingo são foda...como um enterro de fim de semana...
Quando chegamos lá, estava fechado. Novamente a pergunta clássica:
-Então minha cantora ?
-Quem sabe Blue Bird?
-Perfeito, lá é certo...

Blue Bird é como uma igreja, esta sempre aberta. Talvez não, porque as igrejas não ficam mais abertas a noite, então Blue Bird é melhor que uma igreja. Lá os pecadores inveterados comungam felizes, suas doenças, suas dores e algumas alegrias, entre cervejas e destilados. O lugar é aprazível, espaço comunitário a todas as tribos. Eu não tenho tribo. Sou daqueles que querem a vida, suga-la lentamente, e se der pra trocar uma ideia enquanto isso acontece, fará bem pra ambos.

Naquela noite a cantora não iria cantar. Gosto quando canta, seu canto é suave, tranquilizante e deixa espaços a inspiração. Mas não aquela noite. A musica seria outra. Temos uma musicalidade silenciosa, uma distancia próxima, um complementar feito incompletudes. Espaços entre as notas da vida. Uma perfeição imperfeita.

Neste dia estava mais silenciosa que doutras feitas. Pergunto se há alguma coisa guardada:
-Uma TPM acontece, e uma menstruação que se nega a descer.
-Sangue é sempre uma solução ou um problema, vida e morte brigando dentro ti. Relaxa.

Ambos sorrimos. A cerveja chega e com ela, outros personagens dão entrada no Blue Bird. Duas meninas que não pareciam ter mais de vinte e dois anos. Sentam-se começam a beber. Dois caras as acompanhavam. Tinham caras de predadores perdedores, visivelmente queriam come-las. Fiquei olhando de canto esta situação. Gosto de ver gente de longe. Então elas começam a dar um pequeno show. Começam a acariciar-se no rosto, trocar expressões mais intimas e por fim beijos molhados.

Gosto de mulheres se beijando. Nada me choca, acho a estética bela. Aquilo foi ficando interessante. Os caras ficaram sobressaltados, incendiados de tesão, acho. Mas ao que parecia, eles não faziam parte dos planos delas. Homens de um modo geral são idiotas. Misturam suas fantasias sexuais com quase tudo.

Já trepei com duas mulheres ao mesmo tempo. Naturalmente uma delas tive que pagar. O preço justo, mas no final todos gostamos mais ou menos. As duas fizeram um pequeno show erótico, muitos beijos, muito oral, pareciam um quadro vivo de putaria, mas sinceramente não achei grande coisa.

Não havia nada espetacular. Anjos não desceram do céu, e nem diabos subiram do inferno, nem saiu mais porra do meu pau. Três gozadas depois, eu não podia nem olhar aquelas duas se chupando. Como um encanto que se acaba. Tem certas coisas, que devem existir no plano imaginário, e morrerem ali. Porque sua realidade destrói com a magia, com a beleza purpúrea, de luzes a meio plano, e vapores de que são feitos os sonhos.

Duas bucetas, eu cansado e quarenta reais a menos. Não creio que vá repetir isso. Acho que sou melhor com uma pessoa de cada vez, ainda que sejam várias pessoas.

A madrugada avançava. Outras tribos chegam ao Blue Bird. Um pessoal meio barulhento. Falando alto, cantando vantagens como qualquer idiota pode fazer. Fizeram uns comentários cheios de preconceito. E decididamente, não gostei deles. A cantora também não. Demos mais um tempo de decidimos ir embora. Conversamos um pouco mais no carro. Entre risos e uma musica perene. Gosto de vê-la cantar. Os seus cantos dão paz, seus recantos misteriosos falam, e tudo que faço é ouvir. Gosto de vê-la cantar.


Luís Fabiano.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Poesia Fotográfica



Dono de mim, não menos de ti.


Às vezes gostaria que as coisas fossem mais simples. Porem creio que assim não é, por causa de nossas complexidades naturais. Trazemos implicitamente, emoções filhas de outras emoções, e o parco entendimento de quase tudo.

Nosso julgamento é baseado em nossos valores. O que não quer dizer estejamos certos. Fazemos como um espelho, na tentativa pobre de imitar o conjunto. O conjunto que é o ideal, é para nós a meta a ser atingida. Assim sendo, todos queremos a mesma felicidade que todos queremos. De preferencia igual. O ideal realizado de uma perfeição relativa. Se para isso seja preciso matar, esfolar, deformar ou simplesmente esquecer o que realmente somos. Fazemos do ideal alheio, nosso desejo. O ideal social é nossa vontade.

Vamos marchando para igualdade. Mas uma igualdade imbecil. Onde todos vestem o que todos vestem, falam o que todos falam, pensam como todos pensam, fazem questão de ser exatamente como o outro é.

Se fazemos isso de uma forma subjetiva nos aspectos vivenciais, que sobram as emoções? Fazemos do sonho algo literal. E sabemos que mesmo o sonho torna-se algo opaco quando mais ou menos converte-se em realidade. Bem a simplicidade já era. Ficou algo que é ao mesmo tempo um misto de agonia, ansiedade, desespero e vontades em ebulição. Tudo isso calando profundamente dentro de nós. Cantando com vozes mudas, ouvindo com ouvidos moucos. E a vida passando rapidamente.

Foi exatamente assim, que Joana veio com arma em punho me cobrar. Olhei para ela com a cara mais filha da puta que tenho. Tenho várias. Não admito cobranças. Aliás nunca cobro absolutamente nada de ninguém. Deixo o barco correr no mar vida, e tudo sempre está em paz. Porem aquelas emoções filhas de outras emoções, essas são foda. Nunca é a realidade em si, mas o que se passa por detrás delas. A coisa muda. Não preciso dizer, que ela estava furiosa. Este é meu dom natural. Para evitar mais transtornos, admito qualquer coisa, qualquer culpa, deixe pra mim. Eu assumo. Sou o responsável até pela bomba atômica se quiserem, fodam-se, e não me torre a paciência:

-Ei Joana, se acalme um pouco. Apenas tente aceitar o inevitável...
-Inevitável? Tu acha isso inevitável? Tu és um filho da puta cara...o pior...tu não presta...tu...

Queria fazer troça daqueles xingamentos. Mas procurei escutar, como um bom saco de pancada. Vocês sabem que o saco de pancada sempre vence. Deixei-a falando, respirando profundamente, enquanto pensava na cerveja no freezer. Em algum momento ela cansou e voltou ao aspecto civilizado da vida. Emoções tornam as pessoas brutais ou anjos, não há meio termo. Ela estava vivendo o inferno dela. Eu estava em casa. Quase sempre assim. Enquanto você masca a baba do demônio, outros estão por aí, sorrindo e sendo felizes. Bom que seja assim, é um bom equilíbrio:

-Então, tu me diz com essa cara de pau de que tens outras mulheres? Assim...
-Eu apenas respondi a tua pergunta. Só isso.
-Mas tu me trai, tu tá me traindo cara...por que ...eu não te basto...
-Joana, não misture as coisas. Esse é o maldito problema da humanidade. Mistura-se a porra toda, e acha que tudo é igual.
-Então me explica, tenta me convencer... vai...diz...
-Digo, tudo bem, mas antes, tu poderias fazer o favor de alcançar a cerveja na geladeira? Vamos beber juntos... e conversamos...

Muito a contra vontade, mas ela pegou. Quando voltou sentou-se na mesma posição, secando umas poucas lagrimas. Gosto de lagrimas, elas sempre são uma alma espremida. Algumas vezes umas das poucas coisas verdadeiras que carregamos:

-Traição é outra jogada. Traição é a mentira. É dizer que sou um santo, é te enganar propositadamente. Não estou enganando nada ou ninguém. Meu jogo é aberto. Se você quiser números exatos eu te dou. Traição é viver na ilusão. É dizer não quero, tendo vontades ocultas e fazendo-as escondido.
-Não sei, eu queria que tu fosses apenas meu... entende ? Meu.
-Entendo, quem não entende és tu. Sou teu. Tens de mim o que ninguém tem. Tens uma versão de Fabiano, que é apenas teu. Porque os sentimentos que me suscitas são exclusivos, únicos. O que faço contigo, não faço e não sinto com nenhuma outra. Vamos pensar na amizade, para melhorar a relação. Tens amigos que gostas mais e outros tu mais ou menos, tens uma relação de amizade com todos, eles tem seus gostos diferenciados, suas particularidades. E algumas vezes são mesmo incompatíveis em conjunto. Não somos iguais para ninguém. Agora se tu queres me aprisionar, imaginando com isso, isso me fará mais teu. Isso já é outro problema, minha cara, ai vamos adentrar ao egoísmo que carregamos. Tu me queres de uma maneira eu esteja afivelado. Tu achas que isso faz com que eu esteja realmente contigo? Bastará enfiarmos alianças, e com isso mato aquilo que é humano em mim?
-Mas me dói pensar que estas com outras pessoas, que deitas em outras camas...que...
-Esse é o erro sutil. Não sou eu. Aquele que deita em outra cama é uma versão que não te pertence. Certamente o que falo com outras pessoas não irias gostar, nem me reconhecerias ali. Mas agora, Joana, isso requer que se seja inteligente, mulheres com poucos neurônios, que constitui infelizmente a grande maioria, entenderão isso de uma forma desculposa, como algo que não corresponde ao suposto “normal”. Não pertencemos a ninguém, como um cachorro ou um gato. Não são assim as relações. E a natural beleza e frescor delas. Os fatos falam por si. Porque depois de anos de casamento, as pessoas se tornam estranhas? Porque amor não é isso.

Ela me olhava com uma expressão triste. Talvez quisesse entender e não conseguisse. Eu tomava mais um gole de cerveja, estava muito boa. Mas havia uma agonia magnética no ar. Muito sentimento direcionado, e outros tantos conflitos por não ser o ideal esperado. Uma relação madura é feita de compromisso com a verdade, e não de chaves, não de grilhões. Isso não é pra qualquer pessoa. Aos meus amigos eu sempre recomendo: que vivam suas vidas dentro da normalidade, daquilo que é ideal. Porque este tipo de vivencia não é pra qualquer um.

Depois de um longo silencio, Joana, me olha nos olhos, faz um misto de sorriso ou sarcasmo, algo assim no limbo da vida:

-Tu és um filho da puta, mas por motivo que desconheço eu gosto de ti.

Luís Fabiano.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Pérola do dia :


Sempre cago lendo boa poesia. Essa é minha maneira de santificar a merda.”


Luís Fabiano.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Merecedes Sosa - Alfonsina y el Mar


A cadela redimida do demônio


Monica gostava de apanhar. Valadão gostava de bater. Formavam um belo casal. Vendo-os todos os dias e madrugadas, me sentia convicto que o amor é realmente algo muito forte.

Apenas para constar, eles eram meus vizinhos. A rua inteira sabia da situação. Vendo a encenação de todo dia, fui me dando conta de quão pouco respeito é preciso dar as mulheres. Na vida, creio nunca respeitei nenhuma. Não é nenhum troféu mas é verdade.

O mestre Nelson Rodrigues já profetizou: “mulher adora apanhar, homem que não gosta de bater...” nas devidas proporções e entendimento, não deixa de ser verdade.

A bem da verdade, gostava de vê-la apanhando aos prantos, e depois voltava aos braços de Valadão. Porra isso é lindo. O tempo fez que, minha convivência de mero expectador, se transformasse em algo mais próximo.

Como uma confusão anunciada, o que muito me agrada. Em outros momentos achava que isso era algo falso, porem verdadeiramente faço questão de procurar boas confusões. Tais confusões enriqueceram minha miséria existencial, creio que sem tais situações, muitas de minhas historias seriam insipidas e funestas. Então viva as merdas que habitam minha vida, e todas as porras de aconteceram até hoje, e todas as pessoas que tive a satisfação de conviver.

No dia seguinte, depois da maior surra, Monica veio falar comigo. Quando olhei sua cara, não sabia o que pensar, talvez ela fosse um Picasso vivo. Valadão era um artista. O olho direito era uma mancha escura e inchada, um corte no canto da boca do lado esquerdo, um dente lateral já tinha ido, talvez pela cárie. Mesmo assim ela ainda conseguia exprimir um sorriso. Eu estava completamente ocioso, e ela bateu na minha porta:

-Oi Fabiano, tudo bem ? Podemos falar um pouco... ?
-Entre aí. Tua cara tá linda hoje, a decoração é moderna né – disse rindo.

Ela entrou e sentou, realmente não sei que Monica poderia querer comigo. Mas não impediu que apreciasse suas coxas gostosas, em vestido que subiu acima dos joelhos ralados.
-Fala garota, canta tua musica?
-É preciso falar? Não aguento mais essa vida...cara tudo isso todo dia, ninguém me respeita mais...meus parentes me abandonaram...dizem que eu sou vagabunda...Valadão chega alterado, cheirado ou bêbado, e quando vejo começa tudo de novo...
-Sei, e aí mais tarde você da xoxota pra ele né? Amorzinho gostoso e sangrento né ? Eu seguia rindo.

Não seria eu que iria ela a sério. A bem da verdade fui além do cinismo:
-Acho que, sinceramente Monica deveríamos ter um caso. Bom, ai ele te bateria com uma boa justificativa e eu gozaria...
-Para Fabiano...tu tá louco! Ai a coisa iria virar um crime sangrento, tu morto e eu também, que horror nem pensar...
-Tá legal, a tentativa é livre, na boa, que tu veio fazer aqui?
-Vim conversar...vim...desabafar...
-Sei, sei, veio se queixar...mas na boa Monica. Tu é mulher de vagabundo. Eu respeito isso. Pra mim vagabundas tem mais dignidade de donas de casa. Mas eu creio que precisas desencanar disso. Sabe, tu apanha, gosta de apanhar, qual o problema? Antes uma puta original, que uma falsa freira. Mande a sociedade, a rua, os vizinhos a puta que pariu e seja feliz. Eu acho que tu ficas mais bonita assim, marcada pelo amor, suada.

Ela levantou o semblante, com uma cara indefinida. Não sabia que havia gostado do que eu disse. Mas seja como for chorou. Não sei mais o que é certo na vida, mas sei cada ser humano é um universo a parte. Tuas dores são tuas, as minhas são minhas, e o carinho para cada uma delas sempre será diferente.

A agulha fere e queima, a lágrima leve e ampara. Vou lambendo ambas, sem nada desejar, e como um dia que amanhece, raspando a escuridão da alma, fazendo as flores nascerem, o caos converte-se em olhos de Deus, e tudo fica em paz.

Monica levanta-se e me abraça e vai. Sai sem dizer uma palavra. Não sei se acertei ou errei, mas a bem da verdade, o que fiz foi apenas leva-la um pouco a sério sem querer. Não acho que se deva remar contra a maré. A maré sempre vence. O que se precisa saber, quando é uma maré verdadeira, quando as ondas batem, como bate o ritmo do teu coração.
Voltei a minha ociosidade.

Luis Fabiano.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Pérola do dia :

Os acontecimentos marcantes das nossas vidas – aqueles que realmente interessam – são frutos do silêncio e solidão.”

Henry Miller
Extraído da obra: O Mundo do Sexo



Começo do fim

Estala a lata de cerveja
O som característico é uma prece
Esperança espumosa
Com almas em chamas
Estala o osso quebrado
O galho seco
E o coração vazio
Estala o tapa na minha cara
E a mão na bunda de minhas putas amadas
Tudo isso o final
Estala o chicote sadomasoquista
Quebra-se a alma submissa
Fere-se o corpo nas vontades fúteis
Nossas pegadas escrita
Dores perdidas, dores achadas
Esperanças assaltadas
Alguma coisa se carcome em mim
Sentimentos defasados e apegos mórbidos
Vou perdendo peles
E tentando renascer
Eu não sou mais eu
e nunca soube quem sou
Talvez mais um drink
E tudo sonha mais claro
A morte se aproxima
a cada dia de meus dias
E o amor não irá salvar ninguém disso
Vou apagando-me lentamente
Já vejo alguns anjos e demônios disputando
Minha esfarrapada alma
Querem saber uma coisa: faria a porra toda novamente
Sem arrependimentos, e por isso mesmo já valeu a pena.

Luis Fabiano.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Porto Do Shopp



Tem dias que a noite é foda. Faço coisas caóticas, por vezes sem dar atenção as verdadeiras vontades. Faço por faço por fazer, impulsivamente. Mergulho na noite como uma criança em um sonho, um laçador de esperanças na busca de algo que se realize. Já sei que não é assim.
Por vezes tudo reduz-se a mero cansaço de alma.

As pessoas que se arrastam nos bares, as musicas cantadas em uma tentativa de animar ambientes, por momentos nada disso faz sentido. Naquela noite assim, sai de casa e fui parar no Porto do Shopp sem companhia.

Não havia promessa alguma. Fui incerto, isso me agrada muitíssimo. O bar estava relativamente cheio, sento em uma boa mesa, onde posso olhar a banda tocar e pessoas circulando. Vou tomando cerveja, deixando que ela chegue até a minha alma. Por vezes apenas isso importa.

Então ela me olha de longe. Estava com algumas amigas. Eu já a havia visto em outras idas lá. Assim, não éramos tipicamente estranhos. Frequentávamos o mesmo ”culto”, bebendo cerveja e falando blasfêmias felizes. Por vezes tal distancia é uma benção. Quando passou perto de minha mesa, ofereci-lhe o lugar, ela sorri, diz que já voltava. Não achei que voltasse, também não importava. As veias encharcadas de cerveja, todos pareciam felizes. Gosto desta sensação ilusória de ser. Possivelmente depois dali, todos voltassem as suas merdas comuns de vida, mas ali, bem ali era uma festa.

Passado alguns minutos ela voltou e muito sorridente sentou-se a mesa. E por uns dois minutos apenas fiquei observando-a. Como iria ser aquilo? Ela acende outro cigarro, e tem uma postura vulgar. Isso parecia promissor.

Selvagem, feroz me agrada muito. Pensei comigo, esta certamente cagaria na minha cara se eu pedisse. Por fim ambos cansamos daquilo, ela:
-Então cara, vai ficar apenas ai? Não vai dizer nada...só tomando esta cerveja? É isso...?

Ela não suportava silêncios desprazerosos, talvez não gostasse de sentir o que sentia. Meu humor se altera naquele momento, como os carros na rua do bar, indo e voltando e não indo para lugar nenhum.

Creio que no fundo, apenas quisesse ela sentada ali, minha obra de arte particular, se ficasse calada, puxa seria perfeita.

Não respondo nada. Ela tenta falar mais algumas coisas vãs, por fim se enche e vai embora como veio. Me estranhei um pouco, ela não me atraiu em nada. Nem a possibilidade de uma boa foda. Não sei se foi a cerveja.

A noite promissora esvaia-se em nada. E meu ápice, seria batendo uma boa punheta em casa. Talvez a síndrome de Janes Joplin. A banda tocava muito, Gordo colocava sua voz pra fora, e todos pareciam felizes. Mesmo eu.

Tomei mais três cervejas, fiquei no limiar da boa direção. Fui embora, sendo levado pelo ronco suave do motor. Pensei comigo, que minha noite poderia ter sido diferente. Sendo consolado por uma boa vagina talvez.

Mas fazemos nossas escolhas na vida, e nem tudo precisa ser como o esperado. A paz esperada nem sempre é paz, o amor esperado nem sempre o é. Tudo soma-se ao amontoado de esperanças incertas. Aquilo que queremos, nem sempre é o que realmente sentimos. Vamos fazendo por uma necessidade, uma castração, dores em forma de condor, que vão voando para o fundo de nós.

Quando cheguei em casa, queria adormecer o sono dos broxas, apenas isso.

Luis Fabiano.
Pérola do dia :

“ Isto são coisas, que só o tempo dá. O vinho velho, sabe que é gostoso.”

Magalhães

domingo, fevereiro 13, 2011

Amy Winehouse, grande voz.
Digo sempre, quando se tem algo grandioso em si, o restante desaparece como um navio na neblina. Tudo que veem nela são os escândalos, no meu entender ela tem pleno direito de fazer isso e mais. Um artista autêntico anda nos limites de tudo, de suas alegrias e dores. E só será o que é porque tem a coragem e o talento, de dar um foda-se a um publico limitado.
Amy cantando acústico, não é preciso dizer mais nada:


Navalhadas Curtas: Filhos da merda.


A coisa estava indo bem, quando ela me olhou nos olhos, com aqueles olhos ternos de cão submisso e vomitou:
-Quero ter um filho teu...

Havíamos dado a trepada monumental, com direito a tudo que é bom. Muita porrada, boas gozadas e até uma mijadinha na boca...bem tudo isso traduzia quase amor. Putaria da mais rasgada. Então como uma espécie de entardecer róseo, ela vinha com aquela conversa. Permaneci em silencio digestivo. Considerei aquilo um ataque frontal, então como todo bom lutator, fiquei na minha guarda, esperando o próximo jab e então, o contra-golpe. Não demorou:

-Acho que iria ser tão bonitinho...a tua cara, o teu humor, teu jeito...
-Você tinha que estragar tudo?
-Como assim...foi só uma...
-Cala a boca, na boa. Papo furado, por acaso tu pretendes mudar tudo em tua vida? Pretende virar a santa imaculada?
-Que isso Fabiano??
-Isso nada, preciso ser explicito? Pensa porra, vais deixar de beber, de fumar e te de drogar em amor a uma pseudo-criança ? Duvido muito.Vejo cadelas todos os dias fumando, com uma barriga de oito meses...muito amor de mãe...
-Não, é que agora abraçada em ti, isso me parecia tão possível...tão..tu sabes...
-Não sei de nada Estela. Sei que tudo pode parecer amor, nossas trepadas são boas o resto eu não sei, e não quero saber, talvez não sirvamos para mais nada. Não me sinto uma pessoa melhor porque gozei, mas é bom. Não se apegue mais que isso.

Aquilo parecia ser demais pra ela. Senti em meu peito lagrimas ácidas caindo sobre meu coração. Realmente não queria nada daquilo. Nem tão pouco ela, mas os devaneios do momento são assim, fazem a viajar.

Não ando disposto a viagens. Puta merda, estes traumas que carrego por momentos falam mais alto, como espinhos que se agitam, isso poderia ser uma boa justificativa, mas na verdade não quero saber.
Vesti minha roupa.


Luis Fabiano.

sábado, fevereiro 12, 2011



Eu Barata


Eu sempre gostei de baratas. Talvez por uma identificação comportamental. Meu receio não chega ao ponto de ter medo de matá-las. Mas confesso que sinto um desconforto, quando eventualmente isso é preciso acontecer. Mato por gentileza, geralmente cínica que por desejo.

Ás que habitam meu quarto, jamais as mato. Deixo-as circularem livres, balançando suas anteninhas questionadoras ao lado dos seus pequenos rebentos. Chamam-nas de nojentas, a bem da verdade não são, se tornam quando as matamos, e escutamos o “cleck”, o estalido da morte gosmenta.

Digo isso, porque elas se adaptam ao que for. E desde que me conheço por gente, eu também. Uma adaptabilidade sem orgulho ou vaidade. Como se todas as coisas da vida estivessem prontas. Vivo o que tem e como tem. Minha ausência de pretensão não me faz buscar nada. Vou andando por ai, como uma barata, e vez por outra, encontro algo que seja consumível. Isso inclui tudo, de seres humanos a literalmente alimentos.

Foi assim que encontrei meu emprego, que encontrei as pessoas que conheço ás que desconheço também. Algumas tinham algo a oferecer outras nada. Mas o nada satisfaz as baratas.

O fato de não ter nada acabado dentro de mim, faz que meu interior vasculhe vazios deixando em aberto ás construções. Tudo que tive, tenho ou virei a ter em minha vida, nunca foi pensamento por mim. A vida decidiu, a existência colocou em meu caminho. Apenas o que fiz, foi estar lá.

Sempre quis viver assim. Minha ânsia era não ter ânsia. Vocês podem chamar de presente de Deus, do diabo ou acaso. Estou onde estou, e meu querer é totalmente desprezível. Escuto a existência, o tempo, o momento. Vou soterrando eternidades, reduzindo-as á minutos, gotas fracas de chuva, umedecendo meu árido coração.

Gosto de acordar cada manha, e simplesmente não saber quem sou. Como se tivesse uma psicopatia qualquer que me anulasse profundamente, como a amnésia traumática. No dia seguinte, é sempre como se tivesse recém saído do útero, dando meu grito novamente. Isso no inicio me perturbava muito, afinal que porra era essa?

Como alguém não terá uma direção na vida ? Não sabe o que se quer? Ou para onde vai? Tais questões martelavam minha mente, as pessoas martelavam minha mente. E como um alienígena sentia-me um estranho, onde quer que eu fosse.

Era preciso escolher algo. Minha escolha foi a não escolha. Contrário iria ter que mentir para mim mesmo, para ser um em tantos mais um. Não tenho nada contra mentira para os outros. É um mal necessário. Poucos gostam de verdades totais. Quando você sorri sem querer sorrir, já mentiu então... Mas não posso fazer isso comigo mesmo. Minha canalhice mais ordinária, deixo-a para outros, sirvo em doses boas e naturalmente gostam.

Com minhas não escolhas, acabei com a culpa, e nem precisei agradar a quem quer seja. Como uma boa punheta, gozo sozinho e me sinto feliz, se alguém quiser assistir tudo bem, apenas não me perturbe.

As coisas vão se construindo sozinhas, não preciso fazer força alguma e nem pensar nada. Vocês podem me chamar de vagabundo existencial se quiserem. Me sinto confortável, em paz e feliz. E isso não tem preço ou julgamento.

Deixo os hiatos de minha mente serem preenchidos por algo a mais. Algo que não penso mas sinto. Como os quereres silenciosos da vida, ou as belezas naturais que raramente nos interessam. Ficamos no artificialismo vão. Repletos de nojos, enquanto a vida passa célere. Neste momento uma barata me observa sobre o meu monitor, me olha questionadora, talvez me conheça. Afinal elas são todas parecidas. Ainda não se como chama-la mas de qualquer forma agora ela já esta eternizada.


Luis Fabiano.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011



Inquietação

A vida pode ser engraçada ás vezes
Mas é preciso observa-la de longe um pouco
Talvez depositar algumas esperanças vãs
Em quem sabe amanha
Foi exatamente isso que vi nos olhos marejados dela
Tudo parecia uma resposta
Miranda sentia-se satisfeita com sua vida
O filho havia crescido
tornava-se um homem
Com ele
cresciam também as diferenças entre ambos
aquele homem
havia sido um garoto
antes um menino
e em menos tempo uma criança que linda
Que lhe sugava as tetas magras
Natural em qualquer mãe
ela depositou tudo nele
também suas frustrações mal resolvidas
ás dores de um amor jamais realizado
Fico tudo ali
Na forma de um rebento
E agora rebentava-lhe por dentro
Um segundo parir de ânsias
Ele não se tornou nada do que ela pensara
Mas quem sabe, amanha ?
Sim amanha...talvez...bem
Sabia dentro de si que suas esperanças seriam esfaceladas
Assim foi com os homens de sua vida
Então sorriu para ele enquanto o parabéns era cantado
Sorriso feito de enigmas encadeados
E quando a festa terminasse?
E quando o silencio se tornasse intenso e inescapável?
Quando sua cabeça deitasse no travesseiro?
Sentia-se impotente contra si mesma
Soterrara-se de preocupações
De tantas coisas que moravam ainda nos braços do tempo
Ele não voltaria mais o útero
Como nada volta
Conteve o desespero
E quis aconchega-lo em seus braços
Isso poderia agora
Apegou-se ao agora como suas ultimas horas
Como o nascimento
Como o grito pela vida.

Luis Fabiano.