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segunda-feira, fevereiro 21, 2011


Com ou sem ovo ?

Dá pra contar o numero de vezes que perdia a cabeça, em apenas em uma das mãos. Infelizmente lembro de todas. Tem coisas que é melhor esquecer. Não gosto de perder a cabeça por nada. É energia demais desperdiçada, com situações que não valem o esforço. Considerando que acho nada ou ninguém valham isso. Sempre achei mais fácil esquecer tudo. Inclusive minhas próprias dores. Elas vão sendo soterradas rapidamente, e no segundo posterior, nada mais existe.

Mas por vezes as pessoas gostam de provocar. Depois que fiquei mais velho, nada mais me provoca. Você aprende a não se valorizar tanto, e nem supervalorizar nada. Hoje penso: se você for ficar feliz, pode cagar e mijar sobre mim, tá tudo bem, apenas me deixe em paz depois.

A última vez que isso aconteceu eu era jovem. E o maldito serviço militar. Acho muito estranho, mas os homens passam a vida inteira tentando dizer que são homens. Provas de virilidade e pouca inteligência sempre. Brigando por mulheres, dinheiro ou transito. Todos brigam, gostam de porradas, berram forte, dão tapas em vagabundas baratas pagas ou não. Sempre tentei ficar na minha. La dentro era difícil. Mesmo quando se quer estar indiferente, existe alguém que vai lhe incomodar. Não gostava de um sujeito lá. Ele era o cara que ninguém gosta. Falava para os oficiais, sobre quem fazia isso ou aquilo errado.

Já nesta época, eu não gostava das boas pessoas. Hoje menos ainda. Sempre preferi aqueles que eram os vilões da historia, os que não tinham onde cair morto, os desesperados, os que sempre perdiam, os filhos da puta, depravados, que se fodiam no final. O mesmo valia para com as mulheres, sempre as mais peludas, com tetas naturais, bundas grandes, com meias rasgadas, maquiagem borrada, as bêbadas de rua, as putas angelicais rasgando céus e infernos. Todos esses, boa gente que tinham algo a dizer, que eram uma surpresa constante. O imprevisível sempre me deixou em paz.

Mas este sujeito, cismou comigo, gratuitamente. Durante longas semanas deixei barato. Ele simplesmente não valia a pena. Isso também conta, para uma briga valer a pena quem vai brigar contigo precisa ser bom. Fisicamente não sou de brigas. Prefiro derrotar as pessoas com a mente e emoções. É mais fácil, uma vez as pessoas são muito volúveis a paixões, passionais, ciumentas, orgulhosas, vaidosas, pecados que nos tornam todos frágeis. Todo o passional é um fraco. O cara era um chato.

Sempre passava por mim, e fazia questão dar um encontrão no ombro, ou então falava alguma coisa piadinha sem graça. Um dia me apontou um fuzil carregado, eu sabia que estava carregado pois estávamos de guarda.Com dezenove anos, já tinha tido uma outra arma apontada para mim por causa de mulher, de forma que não aquilo não era uma novidade. Fiquei olhando para ele. Era um besta. Disse pra ele atirar. Acho sinceramente que deveria ter atirado. Mas não, é um bosta.

Mas tudo chega ao seu ponto extremo. Não gosto deste lugar. Geralmente ai, a razão é instintiva, a força é primitiva e a verdade é feroz. Justamente aquele não havia sido um bom dia pra mim. Havia me estressado em todos os lugares que estive, inclusive em casa. Neste mesmo dia dei um soco na porta do meu quarto, fiz um buraco. Estava disposto ao mal.

Estávamos todos no alojamento, em um momento de intervalo. A hora dos vagabundos peidarem, fumar e falar merda. Então Franscisquinho veio. Passou por mim uma vez e empurrou. Passou a segunda e fez uma piada que não lembro. Na terceira vez, senta-se próximo a mim e fica dizendo:

-O cara, olha aqui... o que eu tenho pra ti - disse isso agarrando as bolas sacodindo.

Olhei seus olhos pela primeira vez, sorri lacônico. Um tigre sempre faz ataques furtivos, espera nunca estar ali, mas está. Quando ele se distraiu e parecia bastante relaxado, não tive duvidas, levantei como mais rápido que um jato de porra, e peguei no saco do filho da puta. Olhei bem pra ele:
-Então filho da puta, agora eu quero isso...vem me dá essa merdinha aqui...filho da puta...vem...nunca mais vai sair porra desta merda...

Me sentia feroz e fora de mim. E fui apertando, estava disposto a transformar aqueles ovinhos em pasta de bolas e pentelhos. Franscisquinho berrava a plenos pulmões, os meus outros colegas estavam paralisados, ninguém fez nada. Eu seguia apertando forte e torcendo as bolas, ele se contorcia como uma minhoca na chapa quente.

Então alguém me puxa, eu caio no chão. Olho pra Francisquinho, ele tá ali, o rosto deformado de dor, acho que vi até algumas lágrimas.
Confesso que foi muito bom. Creio que se deve ser assim. Quando você fizer algo errado ou certo, seja tão correto consigo mesmo, que não tenha problemas de consciência.

Não preciso dizer que minha relação com Franscisquinho mudou. Ele precisou de um bom tempo para recuperar-se, e andava com dificuldade, com as pernas entre-abertas. Não tivemos mais problemas depois. Aquilo não deu nada em termo de punição militar. Tudo ficou como estava. Desta vez me dei bem. Isso também dá pra contar nos dedos, as vezes é bom ganhar, nem que seja pra contar depois.


Luis Fabiano.



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