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quinta-feira, junho 30, 2011

Momento Mestre
Nelson Rodrigues
- O Homem Que Não Conhecia o Amor –








Navalhadas Curtas: Bola da vez...


Ela telefona tarde demais, 00:37.
A noite derrapa na madrugada, estrelas se acendem no céu e o mundo ordinário se entoca, disparando do gelo lá fora:

-Alo...
-Fabiano sou eu, Camila, tudo bom?

Havia uma espécie de ânsia em sua voz, uma ânsia que conheço, meio perigosa para boas relações.

-Sim, tudo ótimo, sempre ótimo... mas que houve?
-Não, nada, apenas queria saber se hoje é meu dia? Ou é amanha ? Ás vezes me perco...
-Tudo bem Camila, é amanha, claro se tudo der certo, meus planos são voláteis, nada é escrito em definitivo... a única coisa definida pra mim, é a indefinição.
-Claro, claro desculpa tá?

Fica em silencio, sinto que quer dizer algo mais, mas não diz, as vezes é melhor assim.


Luís Fabiano.

quarta-feira, junho 29, 2011




Mito da caverna, de Joice?

As pessoas tem estranhos prazeres, naturalmente não as julgo, eu sou um estranho vagando entre estranhos, com um véu de mistério que a todos separa. A dimensão difusa, nebulosa de nossos medos mais profundos, nossas doentias e inconfessáveis fantasias. Coisas que não gostamos nem de pensar, por ser profundamente perturbador, talvez não nos admitamos sequer a cogitar?

Você não se lembra, daquele acontecimento que você não foi lá muito legal?
Lembra?
Tá, deixe pra lá.

Quem não tem coisas insondáveis dentro de si? Quem em algum momento não foi um filho da puta honorável, ainda que placidamente e vaselinado, quem não? Tenho a certeza que você sim, mas tudo bem, relaxe.

Assustam-me aquelas pessoas que se dizem 100% honestas, 100% qualquer coisa, eu prefiro os 50% filhos da puta mais ou menos normais. Não confiem em pessoas que dizem coisas excessivamente assertivas, que não falham, não são de confiança. O molde de certeza emoldura uma profunda fragilidade, como uma casca de merda endurecida por fora, mas mole-mole pode dentro. Vejo isso todos os dias... cansei deste assunto.

Prefiro falar de Joice.
Uma amiga minha, cuja vida maldita foi arrancando-lhe as poucas emoções. Gosto dela por ser o tipo óbvio original. Você olha uma vaca no campo, as ovelhas na pastagem, as galinhas ciscando no quintal, e Lá esta Joice. O problema com ela era sua fragilidade emocional. Apaixonava-se em um piscar de olhos, basta oferecer-lhe um pouco de carinho e atenção talvez, pronto, instantaneamente ela se apaixona por você. Seja você, homem, mulher ou uma cabra.

Conhecemos-nos a um bom tempo, quando ela estava namorando um conhecido meu. Não quero falar dele. Um conhecido que se tornou desconhecido, como é esperado de todo ser humano. Lembram-se do filho da puta que falei no inicio?

Não posso negar que quando vi Joice pela primeira vez, ela era bela, as pernas mais promissoras que já havia visto em minha vida, pernas para escalar o paraíso e beijar o diabo na boca, com uma boa bafejada de uma xoxota incandescente. Felizmente ou infelizmente, algumas mulheres conseguem apenas despertar isso em nós, nada mais, o fútil instinto tomando carona em desejos que especulam, as vezes não precisa mais que isso mesmo.

Eu estava casado, Joice namorava o meu desconhecido. Mas na festa em questão conversamos muito, enquanto o álcool encharcava a vida, mas que coisa boa. Minha esposa, um poço de inseguranças, naquela época (não lembro se foi a quarta ou quinta esposa...) ficou aborrecida pelos meus olhares para as pernas de Joice. Disse que era falta de respeito? Sou assim, não pretendo mudar, se é bonito eu olho.

O tempo trabalhou no meio deste caminho. Não nos vimos mais um bom tempo. Eu me separei e ela também. Quando a encontrei em uma festa alternativa, nas imediações do Porto de Pelotas. Continuava sensacional, estava abraçada a uma outra bela desconhecida.

Ver mulheres se beijando é bom, todo homem gosta. Fiquei parado com um copo na mão enquanto a via próxima a porta do banheiro, beijando com desejo. Duas lindas mulheres. Não queria come-las, não era isso, apenas queria curtir a poesia que aquilo traduzia, seja o que fosse, amor, desejo, fantasia, que importa? Era bonito ver a natureza berrando em nossas entranham, a deformação, a evolução, a doçura.

Mais tarde encontrei Joice, e estava sozinha em uma mesa. Ela me reconheceu e ficamos conversando amigavelmente. Ela parecia meio chapada, olhos um pouco vermelhos e facinha como um vento de primavera. Naquela merda de festa nada promissora, ali estava a oportunidade de coroar a minha noite. O lobo acordou em mim. Inventei uma conversa qualquer e ficamos próximos. Bebidas demais, ela entorpecida, beijei-a algumas vezes e fomos embora para seu apartamento.

Desculpem a gafe.
Joice é uma mulher morena quase negra, cabelos compridos e ligeiramente encaracolados, uma boca pequena, olhos de mel, tetas pequenas e as maiores pernas feitas de titânio, roliças e firmes.

Como geralmente digo, ás vezes a viagem em direção a algo é mais interessante que a chegada ao destino, o destino é o final, o orgasmo derrotado, o ápice, depois dele nada mais tem muita graça, a vida torna-se comum e simples, a modorra, a viagem acabou. As vezes a vida pode ser uma merda.
Arrancamos as roupas quando chegamos ao apartamento, ela era tudo aquilo e muito mais. Porem quanto vi a sua xoxota, Deus, que era aquilo?

Pelos bem aparados, logo abaixo dos pelos, um túnel de metrô, o rasgo da xana dela era de uma abertura descomunal. Capaz de engolir um elefante, não tão somente meu membro normal como a mim mesmo inteiro. Enfiei três dedos naquilo, desapareceram em um espaço folgado e úmido, o quarto dedo entrou e o quinto também. Não preciso dizer que broxei frustrado, ainda que tivesse com uma boa ereção, eu era um broxa pra aquela mulher. Eu pensei: precisarei ser um jumento adulto, um cavalo puro sangue, uma baleia macho, preciso ter um cipó amazônico para fazer esta mulher feliz? Como ela esconde esse xoxotão?

Joice era uma viúva negra, com uma xoxota gigante, capaz de matar seu parceiro asfixiado. Já que havia me metido nisso, agora era preciso ir até o fim, tudo em nome do amor. Certamente seria a primeira e a ultima vez. Fiz um demorado oral nela, enquanto meu rosto quase entrava dentro dela, numa espécie de nascimento ao contrário, ela gemia feliz como uma gata no cio, tive a impressão que minha cabeça escorregaria para dentro dela a qualquer momento, quando teve o orgasmo.

Sentia-me cansado e sem ar.
Inventei uma conversa qualquer e fui embora meio frustrado. Existem mistérios que é melhor que assim sejam. Uma coisa eu porem posso afirmar, Joice é maior xoxota de Pelotas, ela deveria ter a chave da cidade.


Luís Fabiano.
Áudio trecho

Extraído da obra – Sexus
Henry Miller

Voz - Luís Fabiano




terça-feira, junho 28, 2011


Navalhadas Curtas: Manequins não falam...


Parei em um aloja de roupas, no calçadão de Pelotas. Olhava a vitrine, e não olhava nada certo, meu olhar passeava errante, entupindo meu tempo disponível, como um vagabundo no intervalo. Então ela veio na minha direção, com saltos fazendo tec-tec-tec, fina muito final, como se gravetos houvessem criado vida de tão magra:

-Eu poderia ajudar o senhor em alguma coisa?

A minha frente, do outro lado da vitrine, um manequim feminino congelando-se sem uma única peça de roupa, senti pena. Olhei para a atendente e para a manequim, e sorri convicto, a manequim sem vida, tinha uma bunda linda e era mais gostosa que a atendente, acho que senti até um pouco de tesão por ela... olhei para atendente derrotada e sorri:

-Acho que hoje não, você perdeu feio...

É claro que ela não entendeu nada, mas nem precisava mesmo...


Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica





Defecando amor...

Ela chega tarde
Tarde demais
Quando minha alma deformada
Enterrou o corpo dos seus sonhos
Ela quer me animar dolorosamente
Desesperadamente
Tarde demais
Tudo que faz e pode é lamentar, lamentar, lamentar
Angustia de autoimposição
Quer o amor como um produto raso
Entende que o que foi, sempre deveria ser
Como?
A vida não se congela no tempo
É morrendo que se vive
Mas como uma cadela desesperada não entende
Ziguezagueia perigosamente entre os carros
Em seu lamento trágico
O meu asco afogado em nojo
Amor?
Não tem, não existe
Rasgue o meu peito repetidas vezes
Esfaqueei meu coração
Nem areia sairá dele
Porque não é assim
A alma não cabe em um frasco
E o amor que desejas é um cadáver apodrecido
Mas não aceitas e não queres aceitar
Abraçada ao cadáver apodreces junto e feliz
Enquanto ele fede, estourando líquidos purulentos
Muco de podridão, merda e vermes
Saindo de minhas orelhas, nariz, boca e cú
Deixe-me apodrecer feliz
Entre as velas que se gastam
No tempo que a tudo consome lentamente
E quando for tarde demais para ti
No grito desesperado de quero viver
Perceberas o quanto é fugaz a emoção que se congela
Abre os portais do teu peito agora
Deixa que tuas dores
Ganhem o espaço, o alto
Como cometas fulgurantes do alento
Pois, o que nos libertamos
Nos liberta
O único meio de sermos plenos
Como lagrimas de Deus
Como beijos de despedida
Como caricias do sol
Vê?
O cortejo segue a frente...

Luís Fabiano.

segunda-feira, junho 27, 2011

Dica de Filme: Brilho de uma Paixão ( Bight Star )

Filme biográfico da vida do poeta John Keats. A beleza que envolve a caricia naquilo que se ama verdadeiramente. Sua poesia era sua vida, e quando o amor invadiu seu coração, derrubando as frágeis fronteiras do medo, arrastado por seu contraponto, Fanny a ousadia conquistada.

A historia vai sendo contada, entre poemas delicados e acontecimentos intrinsecamente reais da vida ordinária, a fome, a doença, a vida, a morte, a saudade, a tua falta... eternizando a beleza em nosso coração.
Deixo um pedaço de um pequeno poema, vejam o filme com carinho pois foi isso que senti.


O que é belo há de ser eternamente
Uma alegria, e há de seguir presente.
Não morre; onde quer que a vida breve
Nos leve, há de nos dar um sono leve,
Cheio de sonhos e de calmo alento.
Assim, cabe tecer cada momento.

John Keats



Navalhadas Curtas: Casa grande


Ela sorria feliz satisfeita, me mostrando a casa ampla, bonita, casa nova e confortável. Eu era um verme melado e molengo, andando por aquele corredor tão limpo, eu antagonismo mais profundo, uma organização que daria inveja ao caos da criação divina.

Estava convicta que tais coisas me seduzem, aceitei o jogo das aparências, pois sempre quero ver onde as coisas me levam, sou um esportista por natureza, e mesmo dando-me mal as vezes eu ganho, um derrotado, no primeiro lugar do pódio:

-É Fabiano, essa é minha casinha, eu tô sozinha como tu sabes, poderias vir pra cá, acho que ficarias mais confortável aqui, que no teu apartamentinho, a gente fica junto e...
-Sei...
-Terias todo o espaço pra fazer o que tu quiseres, basta apenas seres de meu, exclusivamente meu... fácil né?
-Acredito Fernanda.
-Então tu vens?
-Não Fê. Meu preço é um pouco mais caro, o produto que ofereço é raro, sinto-me feliz no meu apartamentinho de merda, no meu cubículo onde fico, tua casa é bela, mas não é pra mim, obrigado.
-Tu és uma decepção sucessiva.

Luís Fabiano.
A historia de Elisa
Parte 5

Finalmente o final...
Garras Raspando o Vidro


Garras de dinossauro paleontológicos, presos as pedras do tempo, calcificados, congelados e dolorosos, assim é a raça humana e suas eternas e repetidas dores. Não existe uma novidade em si, as dores de hoje, são novos ecos de nossos antepassados. As mesmas situações que nos catapultam para o céu de felicidades, nos soterram a procura de inferno.

O amor humano é velho desgastado, reciclado de ciúme, egoísmo e provas estupidas, é de esperar quem assim ama, assim também sofra, este é o preço.

A porta do puteiro bateu a minha frente, levando Elisa com um vento, temia que aquela situação a levasse ao extremo, como poderia aquela menina, gostar mais de dinheiro que de si.

O maldito poder que o dinheiro exerce em almas fracas, que se vendem, se trocam e desviam-se. A muito conheci uma gerente que agiu assim. O preço seguiu alto, inventando uma espécie de loucura para viver da loucura. Preço alto. Mas cada alma sabe o que escolhe para si.

Elisa pretendia algo terrível eu sentia em mim, com um longo aperto no coração, mas eu não participaria disso, ela mataria o velho, envenenado talvez, o estrangularia ou exploraria uma tara sexual daquele inocente senhor de oitenta e cinco anos. Não sei.

Levantei-me da cama, a cafetina a porta colocou a mão sobre meu ombro, num sorriso malicioso, talvez malévolo e fetichista. Aquela mão gorda e esponjosa, engordurada, afastando o decote das tetas caídas, e o sorriso amarelo de uma boca excessivamente rubra e vomitou:

-Querido, a casa estará sempre aberta pra ti hein... e eu também...sabes né...

Disse isso, baixando um pouco mais decote, mostrando o bico negro da teta esquerda. Eu me sentia derrotado, cansado, aquele enorme bico de teta, com alguns pelinhos na extremidade, era uma visão no mínimo bizarra:

-Obrigado, mas hoje eu já jantei, fica pra próxima ok?
-A casa é tua garotão...

Beijou-me na boca rapidamente. Ela tinha o bafo de uma cabra velha, uma cabra que mascou um chiclete feito de merda. Sou um cara que gosta de cheiros fortes, a cafetina fedia, sua alma fedia, sua boca maldita fedia, naturalmente tudo que saia dela também fedia, talvez mesmo seu amor também fedesse… pensei que cheiro teria sua vagina?

Ganhei a rua, procurando o ônibus mais próximo, voltaria para casa, onde Marisa e seu maldito mau humor, iriam terminar meu dia fantástico. Uma cafetina terrível, uma puta aprendiz e uma esposa insatisfeita, digam que isso não é o inferno?

Quando subi no ônibus, uma musica sertaneja tocava alto, os passageiros felizes, o cobrador feliz, o motorista feliz ouvindo aquela canção. Fiquei ouvindo pela imposição da força, e por infelicidade, aqueles sentimentos narrados casavam-se aos meus, entendi porque estes caras fazem tanto sucesso, puta merda...

Chegando em casa, Marisa como uma profecia realizada de todos os dias, estava na cozinha, minha mente estava em Elisa, que estaria fazendo aquela desgraçada? Marisa ali, estranhamente estava amorosa, quente, nem era quarta feira o dia trepavamos como uma maquina e costura velha, programada para o amor. Recepciona-me abraçando forte, mesmo sentindo o cheiro de Elisa, e o beijo cru da cafetina, que ainda estavam em mim, fala da sua saudade, que me queria muito .Beija-me intensamente, na cozinha, enquanto as panelas ferviam, e a calça justa que usava, insinuava suas formas, sua bunda, como eu gosto disso. A cozinha é o lugar mais erótico de uma casa.

Não sei o que sinto, por instante vivo como se não existisse nada, a minha ereção torna-se grandiosa, o dedo humano apontando para o céu em riste, a torre de carne dura, a cabeça flamejante que chora espermas de felicidade.

Sou convencido pelo carinho, aprendi isso a pouco tempo, pela leveza e pela inteligência, atributos, não tão fáceis de encontrar por aí, porque o ser humano esta sempre atribulado demais consigo mesmo, suas dores de priscas eras, ecos e mais ecos da sua sombra.

As panelas no fogão derramavam-se, Marisa de pernas abertas feliz, sobre a nossa mesa de jantar arrumada, resfolegando, remexendo como uma cobra sibilante, derrubando pratos, talheres e copos no chão. Como foi bom, tão impensado, natural, sem importar-se com a vida, gozamos como animais selvagens, entre gritos e ejaculações quase intermináveis, o universo sendo engolido em nossas entranhas, num mar de porra.

Que teria dado nela?

Dificilmente as pessoas me surpreendem, elas são sempre um reloginho pronto a marcar a hora, os eternos peixes em um aquário... Marisa é essencialmente assim, mas aquele dia saiu dos eixos. Quando voltamos a nós, a realidade volta como um golpe fatal, uma onda, um tsunami de verdade. A sua expressão depois do gozo, voltou ao ramerrão de sempre, e entendi tudo, apenas um fogo fátuo .

Saiu de cima de mim, pingando porra no chão, sobre nossos pratos de janta... achei engraçado. Comeria eu a minha própria porra? Tudo bem.

Fui tomar banho, enquanto Elisa voltava a mim, em pensamento em fumaça etérea, eu tinha uma preocupação com ela, que insistia em estar em mim. Tomei um banho, jantamos como ratos, roendo nossa ração, pedaços de carne em silencio até:

-De quem é o cheiro que eu senti em ti? Um cheiro diferente, amante nova? Mais uma? Quantas agora?
-Marisa, não queria saber certas verdades, que podem ser bem desagradáveis, e você não terá estrutura para suportar, nem tudo é tão bom ou tão mal assim...
-Tô acostumada Fabiano, tu és assim, e sempre serás assim. Quem é?
-Uma cafetina, mas não foi nada importante, apenas me beijo quando eu saia do seu estabelecimento, nada demais...

Ela ficou em silencio, mastigando concreto, o rosto congesto, eu apenas disse a verdade. Fomos dormir assim.
Não tive noticias de Elisa por vários dias, dias que se converteram em semanas, semanas em meses. Um de covil silencioso de serpentes, gestando crias e mais crias. Entendi que nunca mais iria ter contato com ela, talvez fosse melhor assim. Ela é um fio desencapado ligado em alta voltagem.

Na vida é preciso um pouco de sorte, talento apenas, inteligência apenas, habilidade apenas, nada significam, se você não tiver uma boa sorte, digam os intelectualóides o que digam, essa sorte que me refiro não é fabricada. É a carta certa da vida, em uma boa mão, a jogada certa.

Ligam a televisão, e nas noticias locais lá estava Elisa, com rosto fúnebre, vestindo preto enquanto seus seios quase pulavam para fora da roupa. Ela dava uma declaração pueril:

-Ele sentiu-se mal, e nos fizemos de tudo para salva-lo, eu amava aquele homem, jamais faria nada para prejudica-lo, fizemos tudo que estava ao nosso alcance.
-E como a senhora responde as alegações, que afirmam que a senhora matou seu esposo?
-Eu digo a todos que assim pensam, que desconhecem o amor, essas pessoas são infelizes, nada sabem a respeito de um sentimento puro, por isso assim pensam.

Entre as lagrimas falsas de Elisa e a declaração, havia um pouco de verdade. Pela tevê, ela estava linda, uma beleza macabra, malévola, um demônio fazendo sua obra, como todos os dias malditos da existência, sendo coroado.

Eu almoçava em um restaurante barato, olhando isso de meu camarote engordurado. Eu entendo assim, quando se tem convicções, sejam elas quais forem, e você se dispõe, dificilmente não realizará o que quer.

Mais tarde vim a saber(por estranhos cuja a veracidade é questionável, mas eu pessoalmente creio que seja assim), a historia real que os noticiários não contaram, que as lagrimas estudadas de Elisa sussurravam. O velho sentiu-se mal no quarto, em uma madrugada fria de inverno, levantou-se do quarto, e foi caminhando pelo corredor, agarrando-se a parede, Elisa o seguiu, possivelmente a morte pediu uma ajuda a Elisa, quando chegaram a beira da escada, seus olhos brilharam e sem pensar, jogou o velho estada a baixo, o resto foi apenas o resto, uma encenação barata de dor e lagrimas, enquanto seu bolso se encheu de dinheiro.

Ela venceu o sistema, e isso é meritório, porem a consciência, que consciência? Não sejam românticos meus amigos, a tal consciência se vier a acordar, possivelmente será nas vascas da morte, onde quase nada mais pode ser feito... esse é o preço. Cada um faz o que acha de deve fazer.

Terminei de almoçar, e voltaria a meu trabalho, na mente um sonho passado, a lembrança carinhosa de uma mulher, que tinha olhos brilhantes, um sorriso de menina, que dava muito duro para sobreviver e era linda... puxa vida era linda.



Luís Fabiano.

domingo, junho 26, 2011

Pérola do dia:


“ A intimidade de um casal, torna-se mais profícua, quando entre os lençóis, eles não trocam apenas fatos ou caricias, mas também flatos aromáticos ,antes do café da manhã. Quem não saboreou o peido do parceiro(a) entre risadas, ainda não o conhece por dentro...”



Luís Fabiano.

sábado, junho 25, 2011



Crack

Ela dança feliz com uma pedra na mão
Corpo sem corpo
Ossos como pandorgas balançando
Ao vento
Felicidade desesperada
Alucinada
Caótica e dor
A vejo todos os dias doidona
Desaparecendo dia após dia
Neblina sem amanhã
Disse pra mim que não deseja largar o vicio
Nunca sequer pensou nisso
Ela fuma aquela porra e diz que me ama
Talvez a droga de todas as drogas
Amor, falta dele, excesso dele...
Fumaça e sonho
Ela se despe fazendo a dança macabra
Não tenho o que dizer
Não sinto pena
Doida mergulhada em esperanças alucinantes
Ela deseja que eu a abrace
A afago com ternura demasiada
Enquanto seu coração dispara forte
Enrosca-se a mim
O feto a procura de segurança da mãe
Treme
Baba
Sua
Suja
A respiração opressa
Relaxa em meus braços
Ouvindo o pulsar do meu peito
Por um instante desejei que nada fosse assim
Talvez diferente
A prece, o grito ,o anjo
Quem a salvará dela mesma?
Suas asas se abrirão milagrosamente sobre o abismo?
Não
Ela adormece cansada
Agora faço silencio
Que o sono dela dure e descanse e sonhe com a paz...
Por hora é tudo que posso fazer...


Luís Fabiano.

sexta-feira, junho 24, 2011


Navalhadas Curtas: Babys ?Oh no...


Tudo estava indo muito bem, foi quando ela disparou aquele míssil matinal. Começo a ficar traumatizado com certas manhas de inverno. Estávamos pelados, roçávamos nossos corpos, numa excitação matutina, tudo poderia ficar assim né?

Nada como  as provocações que antecedem o sexo, as vezes o ato em si não é lá grandes coisas, mas a viagem da sedução é maravilhosa, os sexos ficando molhados , os beijos intermináveis, a mãos em desfile serpenteando pelo corpo, sem limites ou fronteiras, se isso é bom, já valeu a viagem.
Estamos nisso quando olha nos meus olhos seriamente e dispara:

-Fabiano, eu quero um filho teu... vamos fazer agora...goza fundo enche meu útero de porra...agora...

Algumas colocações são capazes de esfriar meus instintos... mandei-a calar a boca e seguir a brincadeira... mas fui refutado, ela voltou a carga...nas mesmas palavras... a mulher as vezes não tem noção do time, da hora certa de falar certas coisas:

-Olha, eu não quero ser mais pai, nem agora, nem ontem e nem amanha...
-Tais dizendo que eu não sou a mulher para ter um filho teu?

Oh Deus, lá vamos nós...


Luís Fabiano.

quarta-feira, junho 22, 2011

MOMENTO BOA MÚSICA


Navalhadas Curtas: 3,5 + 3,5

Certas manhas podem ser terríveis, não interessa se o mundo esta em chamas, a fome mata milhões, ou entrou em moda alguma nova desgraça, que as pessoas estão ansiosas pra sentir. Coelhos atômicos de duas cabeças no Japão, quem se importa?

Eu acordo, ela anda ansiosamente pelo quarto, batendo as coisas a minha volta, portas dos armários, gavetas, tenho a impressão que queria colocar-me porta a fora, da cama, da sua vida. Fazia a cena toda, comecei a rir, e disse:

-Hei, que há?
-O que há? Tu pergunta?
-Bom dia...
-Bom dia porra nenhuma...

De onde tinha vindo aquele mau humor? Malditos coelhos de duas cabeças do Japão, maldita fome na África, maldito Ebola, agora Andressa com TMP? Esperei em silencio até que algo mais acontecesse, então com o drama encenado, ela pergunta:

-Me diz uma coisa Fabiano, quantas nós somos ? Quantas... me diz um numero...

Puta que pariu pensei: não pergunte coisas que você não terá estomago para digerir... você não é uma avestruz...

-Quantas você imagina?
-Duas.
-Não, adicione, cinco mais...

Houve um longo silencio assustador, Andressa parecia engasgada, por fim prorrompeu em um choro convulsivo, capaz de comover o demônio... não posso fazer nada.


Luís Fabiano.
Pérola do dia:


“ Ser a amante é um privilégio, o homem não esconde absolutamente nada da sua amante, pois ambos estão em comunhão no pecado.”

Luís Fabiano.

A taxista...
Ela era muito melhor de longe
A montanha vista da planície
O desenho das nuvens no céu
Pernas que se cruzavam de minissaia
Acenando com o paraíso possível lá em cima
Templo incensado dos pelos
Mesmo seu sorriso soava sinceridade
As melhores tetas deste planeta
Beijadas através do vidro fino
Gosto de vê-la andar aqui de cima
Enquanto seu rosto machucado
Sulcado pelo tempo
Os vícios
A vida infeliz rasgando de dentro para fora
Ela era melhor de longe...
Cai na asneira de perguntar sobre sua vida uma vez
Senti-me amputado de meus sonhos
Ela se queixa, arrota, vomita e caga-se na minha frente
Sorrio enquanto ela se esvai pelo ralo
O tempo de uma corrida na bandeira um
Enquanto ela fala suas merdas
Ainda olho as pernas que brilham mais que sua alma
De longe muito longe ela é melhor
A ilha que meu pensamento habitou
Fazendo desenhos significativos no silencio
Ali ela sorria
Era bonita
Sexy...
Agora reduzida ao medíocre humano
Creio nada pior que isso
Humanidade demasiada
Hoje a vi do quinto andar
É maravilhosa assim
Construída pelos meus pensamentos
Sempre é assim
O que pensamos
É infinitamente melhor que a verdade
Ela sobe no taxi e vai embora
Deixa a vaga vazia
Enquanto eu danço uma salsa
Solitário.

Luís Fabiano.

terça-feira, junho 21, 2011

Dica de Filme: Cisne Negro


Filme arrebatador, ambientado em historia das mais antigas, mas que exerce fascínio ainda nos dias de hoje. Capaz de arrancar-nos do ostracismo, e nos levar a fazer o voo em direção a plenitude da alma humana. Voltar a ter essa sede pela plenitude.

Seus clamores de beleza, e sua natural densidade nevoenta. A arte brilha neste meio como a alma humana. A protagonista (Natalie Portman) é levada ao extremo, quando isso ocorre, perdemos a fronteira de onde esta o artista, e onde inicia sua obra.
Concebo arte assim, aquele que mergulha infinitamente em busca da plenificação. Sem freios, limites, sem fim...

Assumo minha profunda ignorância a respeito de arte, mas assim entendo: se você dança, dance a exaustão, se você canta, cante até ficar sem voz, se pinta durma sobre a tela... porque o mundo esta repleto de meios artistas...
Veja o filme com tesão, porque é assim que vive a vida.

Luís Fabiano.




Garrafa Vazia e um Céu Ranhento
Madrugada de segunda-feira em Pelotas, avança em um ranho modorrento caindo do céu. O tempo pinga uma coriza constante, a garrafa de vinho acabou nos estertores de um ultimo gole, enquanto a televisão destilava piadas programadas. Tudo programado, mesmo o improviso é programado, possivelmente meu riso das piadas tolas também seja.

A taça vazia me desafiava, o impasse da justiça divina, o Hamlet desesperado do ser ou não ser, a inquietação antinatural reverberando na minha embriagues de cada dia.

Poderia descer os cinco andares que me separaram da terra firme... talvez seja isso, eu não vivo na terra firme, flutuo no ar, em uma goma cósmica, na saliva do Demiurgo. Subir no elevador lento que o sindico acha genial, fala das suas qualidades de subir e descer, como ninguém. Não gosto de ambos, do elevador e o do sindico, soa um cinismo ensaiado, ele não gosta de mim, mas nos respeitamos dentro da ojeriza que nos irmana. Elevador de merda, lento, um membro senil sonhando com seus áureos tempos da ereção suprema.

Eu teria outra opção, poderia deitar fechar meus olhos para esta dimensão, deitar-me e sonhar que estava comendo todas as mulheres do mundo, numa espécie de orgasmo universal, quando elas gozassem, jorrariam seu leite sagrado sobre mim, me afogando em prazer e amor, que morte maravilhosa. Sempre penso nisso, apenas me frustro pela impossibilidade, mas a ideia me acaricia.

Vencido pelo instinto, decidi caminhar no mar de ranho, lá fora. Eram uma e meia da manha, desci as escadas lentamente, as pernas leves, imagino que o vinho estava todo lá. Como uma embarcação sem bussola ou capitão, sai a rua, respirei profundamente umidade e rua deserta, não havia vento, minhas velas desfraldadas e inertes. Apalpei meus bolsos a procura de um cigarro amigo, mas eu havia me esquecido...

Sem muita vontade, comecei a caminhar, as pernas que me levassem onde quisesse, talvez até a esquina? Não, me inspirei magicamente como uma lâmpada que se acende. O bom e velho Pássaro Azul, fica perto de casa, o refugio dos malditos, mais fiel que qualquer igreja deste planeta. A porta esta sempre aberta, receptiva indistintamente, aos bons e aos maus. Quem pode ser mais equânime?

Fui me arrastando, um verdadeiro caracol, a lesma passando pelas possas de ranho, a chuva fina entrava em minha cabeça, dando um frescor. Tudo parecia parado, os carros não passavam, as pessoas não passavam, as nuvens malditas não passavam, como um tolo anormal comecei a rir de mim.
Que faria na rua? Mas que faria em casa?

Quando finalmente chego ao Pássaro, aberto mesas nas ruas como se a noite fosse promissora. Tem lugares que fazem você se sentir em casa. Isso me faz lembrar de um lugar maravilhoso que conheci no passado, foi engolido pelo tempo, pela crise, pelo inescapável período que todas as coisas duram, sem que o motivo do término seja relevante. Lá tinha um café maravilhoso, uma atendente que tinha uma bunda espetacular. Um bom café, uma boa bunda, que mais um homem pode querer?

Consolos e esperanças capazes de nos catapultar, para uma zona feliz. O Minifúndio, faz falta a esta cidade, um ponto cultural onde havia uma liberdade democrática, boa musica etc... mas esqueça disso Fabiano, o passado é passado, porem nem tudo esta perdido.

Entrei no pássaro azul, apenas uma única pessoa junto ao balcão, bebia o que parecia ser um uísque. Na tela, um DVD acústico, Jorge Bem chamando a banda do Zé pretinho. Sentei, o atendente, uma incógnita indecifrável do gênero humano, perguntou o que eu queria?

-Uma dose de rum dourado, uma pedra de gelo...

Tinha noção que esta seria a pá de cal naquela noite. Ainda bem que não peguei o carro. Estava seguro, nas calçadas e talvez encenasse como Gene Kelly, Cantando na Chuva. Mas se acalme Gene, nada tão animado assim.

No fundo não sei o que esperava lá, acho que nada. Fui bebendo o rum, enquanto me sentia mais cansado, o coração batia forte. Mesmo que entrasse uma vagina alada pela aquela porta, queria apenas deitar. Terminei o rum e ganhei a rua novamente. Como se tivesse feito minha oração do dia, sentia minha alma leve. Nem tento entender isso. A chuva havia passado, mas existem coisas que não passam, na esquina ao lado do lixo um mendigo molhado, vomitava agarrado a uma garrafa de cachaça, o saudei:

-E ai companheiro, tudo bem aí?
-Tudo, não tá vendo, não?
-É percebe-se...
-Vai pro inferno cara... se não eu te arrebento...

O cara estava mal humorado e eu não estava com disposição pra boxe na madrugada. Dei as costas, enquanto de longe ouvia seus arquejos. Finalmente cheguei de volta ao prédio, tudo silencio, morte e paz.

Nada espetacular aconteceu, as vezes a vida é assim, porem uma coisa impulsiona nossa sístole e diástole, a vida seguindo a frente, fazendo o que fazemos, por mais inútil que seja, nosso ato deve ser libertário, sem segunda intensão funesta de nós mesmos, o olhar, o afago o próximo passo, os pássaros que soltamos com nossas mãos, que eles ganhem altura e voem para além, tudo está consumado.



Luís Fabiano.

segunda-feira, junho 20, 2011



Navalhadas Curtas: Ilha distante dores próximas.


Pedro encostou-se ao balcão ordinário e sujo, da espelunca de sempre. Eram onze horas da manha deste sábado, tinha sede, mãos tremulas e para além dos vícios, o coração destroçado. Carolina, o havia deixado, sem mais e nem menos, sem previas explicações.

A atendente, saturada de suas próprias dores, era toda impaciência. Ouvia um funk a todo volume, som que sufocava outros ruídos da vida. Ela larga a cachaça pura sobre a mesa, o cheiro inunda o local, Pedro toma de um único gole, queria que fosse veneno, queria morrer e quem nunca quis morrer?

Depois do ultimo gole, as mãos se serenaram, a voz ficou firme, agora era aceitar a realidade, trabalho braçal, briga dos desejos com a vida. Eu o observava de longe, não queria ser visto, não tenho consolos gratuitos, nem vendo falsas esperanças.

Carolina aquela vadia, foi embora com seu melhor amigo, eu sabia, eu também comi a Carolina... Carolina não valia o amor que ele a devotava, como quem não sabe sentir amor, também não é digno dele.

Luís Fabiano.
POESIA FOTOGRÁFICA



Chapada

Brilha a agulha solitária
No beco escuro cego de estrelas
Não há cuidado ou espinhosas esperanças
Ela respira fundo
Captando o último ar antes de saltar no abismo
Nadar com enguias
A agulha vai fundo
Da a partida no motor de alucinantes sonhos despedaçados
Abre suas asas enquanto bafeja o demônio
Num céu sem nuvens
Anda pela rua cambaleante
Estranhas paredes a sua ancora
Como um yogue
Esta entregue ao fluxo da vida
Tenta respirar claustrofobia
Enquanto seus olhos marejam estrelas liquidas
Pingos da solidão
Sorriso infeliz
Tudo por um fio
A vida sendo engolida por mandíbulas fortes
Ela corre entre os carros na velocidade da luz
Vagalumes piscantes na Avenida Bento
Onde esta o freio?
Por favor...
Para isso agora... eu não quero mais...
O sorriso desvanece e o vasto espaço de seus lábios
Um tortuoso caminho
A viagem agora inverteu
Começa a descer na montanha russa alucinada
Próxima parada... o inferno
Vem diabo vem
Abraça-me, por favor... abraça forte
Mas abraça

O bar tornara-se deserto
A madrugada que desliza
Avalanche
Eu, o bar tender e a doidona
A trindade
Ela volta a si
Não lembra nada
O copo de rum vazio
Bar tender mal humorado
Rosnam noites assim
Enquanto somos silenciosamente estuprados

 
Luís Fabiano

sábado, junho 18, 2011

...

Bêbados
Drogados
Putas
Ereções intermináveis
Xoxotas incansáveis
Corações dilacerados
A noite áspera caindo
Com estrelas dentro de mim
Meus sonhos riscando o céu
Cometas luminosos do meu possível melhor
Meteoros desconsolados
Fragmentados
Saudades que transfixam
O tempo escorrendo veloz
Falcões ansiosos da consciência
E o que fica?
As sentidas lágrimas
O som leve do bater de asas
Enquanto o brutal em nós se desvanece
Fica teu inesquecível sorrir
Os cheiros todos de teu ar
Incenso em pó
Nada se perdeu
Minha esperança inflamada matando a desolação
Como é bom
Estou vivo.

Luís Fabiano.

Áudio Trecho...

Extraído da obra – Tanto faz e Abacaxi
Autor: Reinaldo Moraes

Voz Luís Fabiano



Pérola do dia:


“A barriga com uma gordurinha, em uma mulher, é um charme, o aconchego carinhoso onde reclino minha cabeça, mato minha saudade uterina, ali nem que seja por alguns segundos, sou inocente.”

Luís Fabiano

sexta-feira, junho 17, 2011



Carinhoso Pesadelo


As vezes vinho demais e sexo de menos, não é uma boa combinação. Sou de um sono pacifico, deito e durmo pesadamente como um porco feliz .Um porco satisfeito, bêbado, guinchando de prazer, enquanto a vida escorre em minhas veias.

O vinho desce bem, aquecendo a alma e transformando o mundo em um borrão impreciso, uma tela cujo pintor arrependeu-se de pintar, então foi tentando aproveitar a obra, aquilo um pedaço do seu intestino colado a tela, um apego rudimentar pela obra morta. A alma aprisionada ao corpo morto, esmurrando o vento numa tentativa de volta ao que era. Mas não, nada é assim. Uma vez feito esta feito, gostando ou não.

O porco precisa banhar-se em sua lavagem, esparramando-se entre suas fezes, e viver a doentia existência de todos. Bom entregar-se aos pensamentos que o vinho embala, sentia-me tranquilo, coisas da embriagues. Por um instante não haviam inquietações, nem dilacerantes verdades ou anestesiantes mentiras.

Ela desistiu de mim, percebeu que eu estava a fim de nada. Ela seminua sobre a cama, eu com o zíper aberto, apenas tinha vontade de mijar, mas não tinha vontade levantar-me, tinha vontade de fazer ali mesmo, sobre a cama, o jeans, a camiseta... depois dormir feliz como um bebe mijão, entre as tetas dela. Puxa que maravilha. Estranhamente, isso me parecia muito sensato e profundamente normal:

-Lana, acho que vou mijar aqui mesmo...
-Tu ta brincando né? Minha cama cara...
-Não, tá apenas por um fio... daqui a pouco vai sair, as gotas douradas...
-Cara levanta agora, minha cama...agora...vai...vai...agora...

Ela não tinha nenhuma esportiva. Foi me empurrando para o lado até eu cair no chão. Cai como um saco de batatas jogado por um feirante preguiçoso. Não senti dor, mas senti um pouco de raiva e com isso, o entorpecimento pareceu aliviar, deu-me um pouco de lucidez. Mudei completamente as emoções. Lana era uma mulher impaciente com tudo, com sua vida, com a maneira como conduzo a minha. Temos um casinho breve, feito de pequenos encontros sexuais, quando nossas fomes eventualmente se alvoroçam, então trepamos, nada além disso.

Não me perguntem por que faço isso, ando com saco cheio de explicar a vida, não há o que explicar. Faço porque faço, as vezes gosto outras vezes não. Sou assim movido por ventos catastróficos e uns poucos ventos bons, que aquecem meu coração, esse sou eu.

Agora queria ir embora dali rapidamente. Levantei e fechei o zíper como quem fechasse a tampa de um caixão, me dirigi a porta sem dizer uma única palavra. Era melhor assim. Onde estavam as chaves do carro porra?

Lana permanecia silenciosa, a múmia seminua, acompanhando com os olhos. Achei as chaves e sai porta a fora, sem tchau, beijos ou abraços, exatamente como a vontade de urinar havia passado, como a bebedeira havia se evadido. Agora era volta para minha caverna, ou talvez olhar mais alguma coisa na madrugada?

Não, melhor não, coloquei o carro em uma marcha segura, fui devagar como gosto de andar, lentamente, pneus acariciando o asfalto. Lembro bem, andava pela Ferreira Viana, a altura do fórum, quando algo aconteceu com o carro, algo incontrolável, ele desviou-se da sua trajetória normal e reta, foi de encontro a uma parede. Apenas fechei os olhos, como que anda em uma montanha russa, senti o impacto forte, estrondoso explodindo tudo em mim e a minha volta.
A sensação que veio depois foi indescritível, não havia dor, não havia medo, nem sequer Fabiano. Morri.

Mergulhado em um silencio imenso, suavemente quente e carinhoso, sentia que estava próximo de algo bom, de uma bondade para além das fronteiras, mergulhei nesta sensação e lembro que pensei: se morrer é assim, puxa vida, é muito bom. Aquela energia foi me envolvendo mais, uma leveza foi me conduzindo para algum lugar... quando abri os olhos, estava em minha cama, com um sentimento que nada ou ninguém jamais me fez sentir. Seja como for eu estava vivo.

Quis abraçar alguém, mas não havia ninguém, fiquei tranquilo eu tenho tempo, em outro momento eu abraço alguém ou você que lê.


Luís Fabiano.

quinta-feira, junho 16, 2011

Navalhadas Curtas: Vascão duas faces


As vezes detesto pensar, que a realidade seja tão mórbida, cheia de buracos de agulha, uma espécie de estátua, que de longe tem uma aparência esplendida. Mas examinada detidamente, com um pouco mais de cuidado, converte-se em algo comum.

Somos seres adaptáveis, hoje comemos merda e reclamamos, amanha reclamamos menos, e no próximo dia, já pedimos por conta própria a nossa porção de merda fresca...

Assim é um grande amigo de bar, o Vascão. Gosto dele, mas ele fica uma pessoa melhor quando não esta no seu normal. Talvez tenha dupla personalidade, eu gosto mais da outra, uma personalidade que se droga, que bebe, fuma e as vezes perde o controle.

O outro Vascão, o certinho, cretino, é insuportável, chato, de alguma forma controlador e preconceituoso. Não sei qual dos dois é o verdadeiro, o maluco chapado ou o são. Mas eu já fiz minha escolha, inclusive incentivo ele a beber e drogar-se, isso o torna palatável a mim e a nossa roda de filósofos de boteco, abraçados a putas oportunistas sorridentes.

Possivelmente Vascão tenha problemas psicológicos, quiçá psiquiátricos. Como a normalidade de todas as coisas que são tantas vezes doentias, e aceitamos bovinamente. A patologia de Vascão o torna humano, verdadeiro e com alma.

Antes a doença que guinda a humanidade, que a normalidade escravizante e árida.

Luís Fabiano