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segunda-feira, junho 27, 2011

A historia de Elisa
Parte 5

Finalmente o final...
Garras Raspando o Vidro


Garras de dinossauro paleontológicos, presos as pedras do tempo, calcificados, congelados e dolorosos, assim é a raça humana e suas eternas e repetidas dores. Não existe uma novidade em si, as dores de hoje, são novos ecos de nossos antepassados. As mesmas situações que nos catapultam para o céu de felicidades, nos soterram a procura de inferno.

O amor humano é velho desgastado, reciclado de ciúme, egoísmo e provas estupidas, é de esperar quem assim ama, assim também sofra, este é o preço.

A porta do puteiro bateu a minha frente, levando Elisa com um vento, temia que aquela situação a levasse ao extremo, como poderia aquela menina, gostar mais de dinheiro que de si.

O maldito poder que o dinheiro exerce em almas fracas, que se vendem, se trocam e desviam-se. A muito conheci uma gerente que agiu assim. O preço seguiu alto, inventando uma espécie de loucura para viver da loucura. Preço alto. Mas cada alma sabe o que escolhe para si.

Elisa pretendia algo terrível eu sentia em mim, com um longo aperto no coração, mas eu não participaria disso, ela mataria o velho, envenenado talvez, o estrangularia ou exploraria uma tara sexual daquele inocente senhor de oitenta e cinco anos. Não sei.

Levantei-me da cama, a cafetina a porta colocou a mão sobre meu ombro, num sorriso malicioso, talvez malévolo e fetichista. Aquela mão gorda e esponjosa, engordurada, afastando o decote das tetas caídas, e o sorriso amarelo de uma boca excessivamente rubra e vomitou:

-Querido, a casa estará sempre aberta pra ti hein... e eu também...sabes né...

Disse isso, baixando um pouco mais decote, mostrando o bico negro da teta esquerda. Eu me sentia derrotado, cansado, aquele enorme bico de teta, com alguns pelinhos na extremidade, era uma visão no mínimo bizarra:

-Obrigado, mas hoje eu já jantei, fica pra próxima ok?
-A casa é tua garotão...

Beijou-me na boca rapidamente. Ela tinha o bafo de uma cabra velha, uma cabra que mascou um chiclete feito de merda. Sou um cara que gosta de cheiros fortes, a cafetina fedia, sua alma fedia, sua boca maldita fedia, naturalmente tudo que saia dela também fedia, talvez mesmo seu amor também fedesse… pensei que cheiro teria sua vagina?

Ganhei a rua, procurando o ônibus mais próximo, voltaria para casa, onde Marisa e seu maldito mau humor, iriam terminar meu dia fantástico. Uma cafetina terrível, uma puta aprendiz e uma esposa insatisfeita, digam que isso não é o inferno?

Quando subi no ônibus, uma musica sertaneja tocava alto, os passageiros felizes, o cobrador feliz, o motorista feliz ouvindo aquela canção. Fiquei ouvindo pela imposição da força, e por infelicidade, aqueles sentimentos narrados casavam-se aos meus, entendi porque estes caras fazem tanto sucesso, puta merda...

Chegando em casa, Marisa como uma profecia realizada de todos os dias, estava na cozinha, minha mente estava em Elisa, que estaria fazendo aquela desgraçada? Marisa ali, estranhamente estava amorosa, quente, nem era quarta feira o dia trepavamos como uma maquina e costura velha, programada para o amor. Recepciona-me abraçando forte, mesmo sentindo o cheiro de Elisa, e o beijo cru da cafetina, que ainda estavam em mim, fala da sua saudade, que me queria muito .Beija-me intensamente, na cozinha, enquanto as panelas ferviam, e a calça justa que usava, insinuava suas formas, sua bunda, como eu gosto disso. A cozinha é o lugar mais erótico de uma casa.

Não sei o que sinto, por instante vivo como se não existisse nada, a minha ereção torna-se grandiosa, o dedo humano apontando para o céu em riste, a torre de carne dura, a cabeça flamejante que chora espermas de felicidade.

Sou convencido pelo carinho, aprendi isso a pouco tempo, pela leveza e pela inteligência, atributos, não tão fáceis de encontrar por aí, porque o ser humano esta sempre atribulado demais consigo mesmo, suas dores de priscas eras, ecos e mais ecos da sua sombra.

As panelas no fogão derramavam-se, Marisa de pernas abertas feliz, sobre a nossa mesa de jantar arrumada, resfolegando, remexendo como uma cobra sibilante, derrubando pratos, talheres e copos no chão. Como foi bom, tão impensado, natural, sem importar-se com a vida, gozamos como animais selvagens, entre gritos e ejaculações quase intermináveis, o universo sendo engolido em nossas entranhas, num mar de porra.

Que teria dado nela?

Dificilmente as pessoas me surpreendem, elas são sempre um reloginho pronto a marcar a hora, os eternos peixes em um aquário... Marisa é essencialmente assim, mas aquele dia saiu dos eixos. Quando voltamos a nós, a realidade volta como um golpe fatal, uma onda, um tsunami de verdade. A sua expressão depois do gozo, voltou ao ramerrão de sempre, e entendi tudo, apenas um fogo fátuo .

Saiu de cima de mim, pingando porra no chão, sobre nossos pratos de janta... achei engraçado. Comeria eu a minha própria porra? Tudo bem.

Fui tomar banho, enquanto Elisa voltava a mim, em pensamento em fumaça etérea, eu tinha uma preocupação com ela, que insistia em estar em mim. Tomei um banho, jantamos como ratos, roendo nossa ração, pedaços de carne em silencio até:

-De quem é o cheiro que eu senti em ti? Um cheiro diferente, amante nova? Mais uma? Quantas agora?
-Marisa, não queria saber certas verdades, que podem ser bem desagradáveis, e você não terá estrutura para suportar, nem tudo é tão bom ou tão mal assim...
-Tô acostumada Fabiano, tu és assim, e sempre serás assim. Quem é?
-Uma cafetina, mas não foi nada importante, apenas me beijo quando eu saia do seu estabelecimento, nada demais...

Ela ficou em silencio, mastigando concreto, o rosto congesto, eu apenas disse a verdade. Fomos dormir assim.
Não tive noticias de Elisa por vários dias, dias que se converteram em semanas, semanas em meses. Um de covil silencioso de serpentes, gestando crias e mais crias. Entendi que nunca mais iria ter contato com ela, talvez fosse melhor assim. Ela é um fio desencapado ligado em alta voltagem.

Na vida é preciso um pouco de sorte, talento apenas, inteligência apenas, habilidade apenas, nada significam, se você não tiver uma boa sorte, digam os intelectualóides o que digam, essa sorte que me refiro não é fabricada. É a carta certa da vida, em uma boa mão, a jogada certa.

Ligam a televisão, e nas noticias locais lá estava Elisa, com rosto fúnebre, vestindo preto enquanto seus seios quase pulavam para fora da roupa. Ela dava uma declaração pueril:

-Ele sentiu-se mal, e nos fizemos de tudo para salva-lo, eu amava aquele homem, jamais faria nada para prejudica-lo, fizemos tudo que estava ao nosso alcance.
-E como a senhora responde as alegações, que afirmam que a senhora matou seu esposo?
-Eu digo a todos que assim pensam, que desconhecem o amor, essas pessoas são infelizes, nada sabem a respeito de um sentimento puro, por isso assim pensam.

Entre as lagrimas falsas de Elisa e a declaração, havia um pouco de verdade. Pela tevê, ela estava linda, uma beleza macabra, malévola, um demônio fazendo sua obra, como todos os dias malditos da existência, sendo coroado.

Eu almoçava em um restaurante barato, olhando isso de meu camarote engordurado. Eu entendo assim, quando se tem convicções, sejam elas quais forem, e você se dispõe, dificilmente não realizará o que quer.

Mais tarde vim a saber(por estranhos cuja a veracidade é questionável, mas eu pessoalmente creio que seja assim), a historia real que os noticiários não contaram, que as lagrimas estudadas de Elisa sussurravam. O velho sentiu-se mal no quarto, em uma madrugada fria de inverno, levantou-se do quarto, e foi caminhando pelo corredor, agarrando-se a parede, Elisa o seguiu, possivelmente a morte pediu uma ajuda a Elisa, quando chegaram a beira da escada, seus olhos brilharam e sem pensar, jogou o velho estada a baixo, o resto foi apenas o resto, uma encenação barata de dor e lagrimas, enquanto seu bolso se encheu de dinheiro.

Ela venceu o sistema, e isso é meritório, porem a consciência, que consciência? Não sejam românticos meus amigos, a tal consciência se vier a acordar, possivelmente será nas vascas da morte, onde quase nada mais pode ser feito... esse é o preço. Cada um faz o que acha de deve fazer.

Terminei de almoçar, e voltaria a meu trabalho, na mente um sonho passado, a lembrança carinhosa de uma mulher, que tinha olhos brilhantes, um sorriso de menina, que dava muito duro para sobreviver e era linda... puxa vida era linda.



Luís Fabiano.

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