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quarta-feira, outubro 31, 2012

Navalhadas Curtas: Carro de merda




Navalhadas Curtas: Carro de merda

Eu não procuro nada. Deixo que as coisas venham até mim, como raios da tempestade ou gaivotas alucinadas no seu guinchar natural.
A vida é aberrante gratuitamente. Estava indo pra uma reunião da Bah Filmes. 

Tava de boa, desconectado como gosto de viver, em uma noite sinistramente silenciosa.
Então na esquina, um senhor já de certa idade, chutava com toda força, um veiculo importado novo.(não direi a marca) Coisa de filme.

-Carro de merda... Carro de merda... Carro de merda...

Isso era tudo que ele dizia entre um chute e outro na porta do carro.
Parei na esquina, o veiculo estava atravessado, entre Barroso com Gomes Carneiro e ninguém  fazia porra nenhuma.

Talvez assustados com o idoso feroz, dentro do seu terno e gravata. As vezes acho que preciso fazer algo... Tento ser bom samaritano, mas na maioria das vezes é melhor se abstrair mesmo. Ele não parecia tão aborrecido com o carro, mas com consigo mesmo, talvez a vaidade lanhada um pouco...

Olhei bem pra ele... Pensei: quer saber, a historia é melhor que a ajuda. Boa sorte tiozão!
Cheguei na reunião e contei a historia.
E foi estranho que todos nós rimos.


Luís Fabiano.

terça-feira, outubro 30, 2012


- Momento Boa Música -

Janis Joplin – Cry Baby

Janis Joplin era movida por emoção. Um trem a toda velocidade de emoção pura... Para os que têm duvidas veja o vídeo até o final
Ela canta com a alma, com o corpo... Com tudo que tiver a seu alcance.
Sua interpretação é devastadora.

Luis Fabiano







Cigarro

Cada alma com seus vícios
Uns preferem amor e comida
Outros a dor sadomasoquista entres os gritos de felicidade
Porem ela me parecia fantasticamente nervosa
A observei por longo tempo

Acendia um atrás do outro
Cada tragada... uma chaminé incandescente
Pensei comigo: vicio é uma merda, ele acaba com o prazer do único
Como os dias que se fica junto, e se repetem fatais
Monotonia do esperado, em curvas jamais perigosas
Quadros abandonados na parede
Cuja beleza ninguém percebe mais

O que será que a motivava assim?
Talvez quisesse fumar caralhos pegando fogo?
Picas fumegantes de porra estelar
Delirando num eterno orgasmo oral?
Será que as fumantes, chupam melhor?
Eterna duvida

Tive vontade de levantar de onde estava e perguntar a ela
Mas as pessoas são muito sensíveis
Cheias de recatos com estranhos
Achei melhor ficar com o álcool
Ninguém gosta de alguém tão direto, você gosta?
É preciso uma cortina de fumaça
Feita de solidão, sedução e merdas existenciais

Fico assim mesmo
Por fim tudo era simples e previsível 
Como qualquer ser humano
A namorada dela chega...
E dão um longo beijo repleto de saudade, abraços e carinhos
Ficam se olhando um tempo, num misto de ternura e paz
Ela para de fumar
Existe certa quietude no ar
Nem isqueiro ou fumaça
O sentimento preenche o lugar
Talvez elas tenham deixado um vicio por outro
O cigarro foi abandonado
Agora nada mais importa.

Luís Fabiano.






Pérola do dia:


Velho pra mim, é cagar agachado, cagar sentado já é novidade”.

Paulo César Pereio 

segunda-feira, outubro 29, 2012








  
Eleições 2, John-John e uma gorda

Um dia típico, usando uma frase mais que desgastada: a festa da democracia! Que poderia rimar com outras coisas que conheço... Mas não. Essa não é a minha praia, e realmente não importo.

Não me interessam os rumos da politica. Talvez fosse mais bonito dizer que me importo... Mas este se importar que todos falam, passa tão longe de uma atuação real e efetiva. Depois vêm as outras justificativas: nada muda assim tão rápido... Tudo precisa um tempo! Penso a mesma coisa. Por isso digo que não me importo... Por que quando penso em politica mundial, você não pode nem dizer que perde o sono em função de quarenta mil pessoas que morrem de fome por mês, por exemplo na África? Não é?

Quando foi que você deixou de dormir tranquilamente em seu leito de paz em função disto? Ok. Tudo bem, apenas não sejamos discursadores do vento. Se você se importa, se importe, e se não se importa, então tudo bem, apenas deixe nítido pra você que não se importa.
Chega desta merda.

Ontem me dirigi a pra anular o voto em minha seção eleitoral. Felizmente vazia. Mas antes de lá chegar, tive o prazer de encontrar John-John. Seguramente fazia quinze anos que não o via.

-Então John, por aqui – ele me disse.
-John-John... Tu tá vivo ainda cara?
-Vivo e duro! O resto tá uma merda... Mas a piroca tá em dia... ( risos )
-Bem isso já é alguma coisa John, a gente sabe que a vida é uma merda...
-Porra e depois dos quarenta, começa aparecer tudo que é merda mesmo... Sabe né essas doenças de coroa...
-Sei sei... To com quarenta a recém... Uma coisa é certa John, quem não adoeceu um vai adoecer, por que os outros já tiveram alguma coisa tambem... É natural, é a vida, não se passa por ela em brancas nuvens... (risos)
-Puta que pariu, é isso mesmo! Tu vê eu, agora tô diabético! Que merda né? Mamãe é diabética, papai é diabético e eu também! Tava enxergando pouco, por causa do açúcar no sangue!! Que merda... Ao menos o coração tá bom...

Pensei comigo: que merda mesmo, a idade é foda, e bem ou mal ela nos pega. Fatalmente envelheceremos e um dia deixaremos uma vaga aqui...

-Certo John, e de resto? O que de bom vem acontecendo?
-Me tornei presidente do Centro Comunitário... Agora minha missão é resgatar os anos de abandono que o governo municipal nos legou...

Começou um discurso algo politico. Puta que pariu, era o dia? Finalizou a conversa dizendo que futuramente iria se candidatar a vereança! Deus... Isso me cansa muito. Mas era boa lembrança com John, quando éramos jovens e fudidos, sem grana e vivendo na vila, me fez bem. Somos assim, meio como o vinho, nos tornamos melhores com o tempo ou oxidamos de vez a vida.
Não escutei o discurso de John-John, dei um abraço e fui embora. Ele ainda me disse no final: vota certinho hein!!

Sorri como os idiotas sorriem. Votei muito rapidamente e fui embora. Entrei no carro e fiquei sintonizando uma radio. Achei um bom samba de raiz. Então do nada  surge na janela do carro uma moça muito gorda. Muito branca, cabelos negros com uma sainha curta e uma blusa que havia se tornando mini blusa. Os que me conhecem sabem que eu gosto do estilo. Ela fica parada me olhando e mascando um chiclete com a boca aberta, ruminava.

Levantei as sobrancelhas como quem diz: e ai? Ela não se fez...
-O moço... Tu me dá uma carona? To indo “pro”  centro... Não te custa né...
-Sei bonita... Mas e as condições de pagamento? Disse rindo.
Ela sorriu se entregando, e mostrando também a falta de alguns dentes...
-Olha moço... Eu sou “boa” de pagar as “coisa” viu...há, há, há... Deixa eu te pagá !!

Pensei comigo... ela até parece uma candidata a alguma coisa...
Então ela introduziu o dedão da mão direita na boca, fazendo um gesto grosseiro, sensual e aberrante! Achei muito engraçado.

-E qual o nome da princesa?
-Cleonice! Mas todos me chamam de Cléu ( porque sou parecida com a Cléo Pires...)
-Legal Cléu. Entra ai.

Ela entrou no carro feliz, como quem iria a paris andar de limusine! Dei a partida e ela vinha alegre. Em um dado instante, ela atacou a minha braguilha! Como se quisesse arrancar meu pau com zíper e tudo.

-Ei calma ai, Cleo... Calma... Fica... tranquila, vai sair de graça pra ti hoje, estou satisfeito por hoje? Ok? Bah te liga...
-A tá! Mas eu quero pagar amor... Cara... Vai deixa eu pagar, negão gostoso!!
-Nã-nã-nã, tá tudo de boa... Relaxa aí, vou te deixar alí na Floriano tá bom?
-Tá ótimo... Tu és bacana cara...
-Obrigado.
-Me diz uma coisa só: tu é viado? Não gosta de boquete e tal... Porque se tu for gay, eu posso fazer outras coisas pra ti... Um cuzinho também é coisa boa... (há,há,há )
-Cleo... Não sou viado, apenas já “lanchei” hoje! Pode ficar tranquilinha ai... Já estamos chegando.

Puta merda, quanta poesia. Quando chegamos à Floriano, ela me agradeceu e se foi. Depois de uns cinco passos, ela vira pra trás e diante de uma parada de ônibus cheia ela grita: Negão... To devendo um boquete viu! Só me cobrar que eu pago...

Olhei as pessoas na parada, elas também me olharam também, umas riram e outras ficaram enojadas. Arranquei o mais rápido que pude.

Luís Fabiano.






sábado, outubro 27, 2012




Navalhadas Curtas: Malabarista da Madrugada

Ontem eu voltava a caverna. Um Batman fracassado. Nada havia dado certo, quando isso acontece, sobram as bebidas, anestésicos da alma, capaz de nos tornar melhor.

Então um cara fazia malabarismos com a bicicleta, na faixa de segurança as duas e cinquenta e sete da manhã! Parei o carro porque ele veio desequilibrado em minha direção...
Fiquei olhando pra ele, meio indignado... Que merda era essa? Eu disse.

Ele fez cara de mau.
Sorri e disse: qual foi meu camarada?
-Qual foi o caralho, olha pra cá meu irmão... te liga...vaza...
Levantou a blusa e mostrou algo parecido com um cabo de revolver. Não sei por que, não me assustei.
-A é machão... Vais fazer o que? Me matar, porque tu quase bateste no meu carro?? Te liga...
-Sou o cara meu....
Desci do carro.
-És o cara? É? Então faz assim... Atira agora (apontei o dedo entre minhas sobrancelhas...) vai brother... Atira eu não tenho medo... Vai...

O cara se assustou... Pegou bicicleta e saiu vazado...
Fiquei olhando ele se afastar, a sensação era ótima... Me sentia bem...

Porra Fabiano, que tens na cabeça? Não basta ter um berro, é preciso disposição para apertar o gatilho.

Luís Fabiano.




Navalhadas Curtas: Calcinha fora do ar

Sentei de frente a uma televisão que não era minha, num sofá que não era meu, uma casa que não era a minha. Eu o intruso. O dia foi difícil e cansativo. Tudo que queria era beber o vomito da Tv em paz. Tudo que um homem precisa.

Mas nesta noite fatal Claudiomara me apareceu vestindo apenas uma calcinha, que se perdia nas dobras de suas adoráveis gorduras.

Ela se posicionou bem na frente da Tv, fazendo movimentos sensuais ( segundo a sua ideia de sensualidade... era esquisita..). Eu não estava animado. Queria beber e relaxar, fuder apenas mais tarde... Mas quem sabe?

-Que ta achando da minha dança, hein gostoso? – disse Claudiomara.
-Legal, mas... – respondi.
-Mas o que? Quer que eu rebole mais, né? Ta ficando com “pauzão” duro né? Há ,há, há...

Aquilo não iria acabar bem.

-Claudiomara... Me da um tempinho, acabei de chegar... to morto de cansaço...então...
-Já sei, já sei, pra mim tu estas sempre cansado... Nem olhaste a minha calcinha novinha!!!

Olhei a calcinha, era bonita, cor de rosa com rendas.
Mas ainda não era suficiente. Naquele dia, nada foi suficiente...

Luís Fabiano.


sexta-feira, outubro 26, 2012



- Pelotas Fantasma -
 A cidade tem casas e prédios abandonados. Vozes de cimento e tijolo, que passam batidas pela truculência urbana... Ninguém vê o que esta morto, ninguém se interessa pelo abandono. Porem
Se olharmos um pouco melhor... Tais casas não estão completamente abandonadas, nelas jaz o espírito  que tudo vê... A testemunha silenciosa do tempo , que por vezes  é infinitamente melhor que nós
Não julga, não cobra e não exige.
Apenas se deixa envelhecer excitando lembranças.
Com vocês a Pelotas Fantasma, porque se você olhar bem, ela também olhará para você.

Luís Fabiano




- Pelotas Tatuada - 




quinta-feira, outubro 25, 2012


Pérola do dia:

Quem combate monstruosidades, deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você ”.


Nietzsche – Além do Bem e do Mal

quarta-feira, outubro 24, 2012

- Áudio Poema -

Inquietação

Voz e texto - Luís Fabiano




A Festa - Bukowski



A Festa

Ninguém fez nada escandaloso, feio
ou interessante
Todo mundo foi bem sem graça
Nós comemos, bebemos e conversamos
Comemos uma vez mais, uma explosão rugindo em
Fogos de artifício
A raiva em todo o céu
Mas ninguém olhou
Eu coloquei o saca-rolhas em uma nova garrafa de vinho
Todos os animais que estavam lá
Se esconderam...

Charles Bukowski




segunda-feira, outubro 22, 2012

Poesia Fotografica










A Vidente

Não posso dizer que sou um homem de muita fé. Normalmente acreditamos em qualquer coisa quando queremos nos escapar do pior. Ai rola os maiores atos de fé possível. Somos volúveis e na maior parte do tempo, e Deus não passa de um negociante. Ficamos bonzinhos, ele nos dá uma força, somos maus ele vira as costas para nós. Bem simples.

Quando o assunto é doença, ai “viramos” santos... Mas no fundo isso quer dizer o seguinte: porra me tira dessa, não deixa eu me fuder! Proteja o meu cu...
Passada a crise, voltamos a ser os mesmos filhos da puta de sempre... E a fé escoa pelo ralo... Basta tudo estar bem. Tudo bem, sem que percebamos nossa essência é cínica. Tudo bem, apenas seja tranquilo com esta verdade, sem conflitos.

Isso me faz voltar no tempo, numa época das mais fudidas da minha vida. Envolvido em péssimo casamento, com um trabalho que pagava uma miséria. Naturalmente eu era tão comportado neste tempo, que hoje me olhando no espelho, percebo o quanto eu sofria de uma inocência imbecil. Ok, todos temos o direito de ser idiotas.

Havia em mim uma complacência para com tudo, eu me deixava ser servil porque em tal sacrifício “Deus” ficaria agradado, e logo ele não me ferraria mais, como até ali havia feito. Lembro que eu tinha um brilho nos olhos, como uma emoção constante e serena, um consolo eterno para tudo.

Mas não funcionou.
Ao contrário, quanto mais eu me tornava complacente com tudo, mais as coisas se tornavam piores. Minha mulher uma espécie de torturadora profissional do Dops, fazia um jogo psicológico de dominação, controlando até os meus peidos, ou a quantidade de esperma que saia de meu pau quando nos transamos, quando ela digamos, estava afim.

Tinha em minha mente, que casar deveria ser pra sempre, e era meu dever zelar para que isso se mantivesse. Mas a vida dia a dia, o morar junto dia a dia, as cobranças pesadas que cada um se coloca. Um detalhe, eu não cobrava absolutamente nada dela. Nunca cobrei nada de ninguém. Não era santo, mas tentava ser legal, muito legal. Aquele mau humor eterno dela me machucava.

Por vezes no trabalho eu lembrava da mulher meiga e tranquila que era fora um dia... E agora se tornava uma carrasca apertando um laço de forca em meu pescoço. Porra, por quê?

No meu trabalho o chefe era um sacana. Fazia mutretas no caixa, e sempre dizia que a firma ia mal. Eu era auxiliar de mecânico. Ele atrasava o pagamento dos funcionários, mas ia viajar para Europa, e de lá dizia que não tinha dinheiro... Que estava muito ocupado. Naturalmente fui entendo porque os caras que trabalhavam lá, mais velhos, roubavam o que podiam... Davam uma de justiça pessoal. Não gostava disso. Eles apenas me diziam:

-Bico calado hein... Se não vai sobrar pra ti...
-Tudo bem, tudo de boa, não vi nada.
-Bom guri... É isso aí.

Sentia a minha consciência em paz parcial. Porque nada disso parecia certo. Eu chegava em casa, dependo de como Anita estivesse, a noite seria um pouco pior. Eu sorria, mas me sentia estuprado, violentado. Por assim dizer, Anita foi matando um sentimento puro que tive. Definitivamente, aquele jeito de ser não estava dando certo. Era preciso mudar, mas o que? Não havia ninguém para orientar. Um dia eu havia recebido a grana, e fui fazer um lanche sozinho em antiga lancheira, que existia nas proximidades do calçadão. Pedi o lanche mais barato e um refri. Puta merda aquilo foi um bom momento. Fiquei aguardando o lanche... Meus pensamentos angustiados, deram uma aliviada na expectativa da comida, com os meus erros ou acertos. Afinal, que mais a Divindade queria de mim?

Até hoje não sei, de onde ela surgiu. Então uma velha bastante enrugada, cabelos ralos e brancos, dente de ouro e um chale muito puído, falando um portunhol barato, sentou-se ao meu lado:

-Hombre... Deixa eu vê tua mão... Dá mão aqui...
-Hã?
-Dá-me tu mão hombre... Preciso ver...

Automaticamente dei a mão, não sei por que apenas dei a mão... Sabe-se lá que ela poderia dizer... Eu não acreditava nisso... Ela agarrou minha mão, e arregalou os olhos e me disse:

-Filho tu esta tão infeliz... Tu estas pressionado de todos os lados... Em casa e no “trabajo”, é ou não é?

Fiquei surpreso com a precisão. Respondi automaticamente que sim. Ela seguiu:

-Filho tu vais mudar em breve, tu precisas mudar, “tu” natureza não é assim... Tu és um animal acomodado... E estas deixando esta fera dentro de ti morrer... E se nuestra fera morre, nós morremos também, a fera coração, a fera desejo a fera inquieta, a fera justiça... Oh padre nuestro, abre las puertas deste “hijo”...

Começou a pronunciar um monte de coisas que desconheço, numa língua que até hoje não sei, por fim, assoprou na palma da mão... E a fechou forte. Fiquei olhando pra ela, que estava de olhos fechados. Por fim abriu e disse:

-Me consegue alguma coisa filho?
-Tenho pouco dinheiro...
-Umas moedas apenas para obter a graça...

Tinha no bolso três reais. Dei pra ela. Ela pegou a grana e antes de sair virou para trás e disse:

-Filho cuidado com o tigre... Se usted soltar ele de vez... vai ser um grande estrago pra todos...

O lanche veio, mas eu havia perdido a fome. Algo havia acontecido ali... Não sei exatamente o que. Sentia um calor no peito, como se ele fosse explodir. Meu pensamento parecia ter sido desperto de um longo sono... E naquele instante eu me sentia forte... Disposto e de certa forma senti meus caninos crescerem.

Comi o lanche, pedi uma cerveja e depois outra, e aí sim fui pra casa.
Quando entrei na porta, Anita já foi logo desafiando:

-Fabiano, que hora é esse de chegar? Que isso agora, cheirando a álcool?

Não respondi nada, fiquei olhando ela nos olhos (o contrario do que fazia), em um silencio profundo...

-Fala alguma coisa Fabiano... Diz, vai... Vai dizendo onde tu estavas até essa hora? Que cara estranha é essa?

O silencio era de uma serpente enrodilhada, pronta para dar o bote. Era preciso dosar a força. Nunca fui violento, mesmo pra dizer as piores coisas, é preciso uma dose serena de frieza. Aprendi isso naquela noite também.

-Anita... Não te interessa onde estive ou o que fiz... Fica tranquila... ta tudo em paz.
-Isso é jeito de falar comigo? Tu me respeita cara... Hein... tu me deves respeito viu...
-Anita, fica tranquila, eu não te devo nada... E acho melhor tu ficar mais calma...

Devo confessar que olhando para Anita, daquela forma, ela me pareceu tão frágil em todos os sentidos. Frágil fisicamente, frágil psicologicamente, suscetível a tudo como a maioria das pessoas que conheço. Fracas e prontas para perder, porque se deixam derrotar por sí mesmas.

-Fabiano tu estas louco? Mas onde se viu... Tu és meu marido... És meu...e eu mando... Entendeu?
-Seguinte Anita: mais uma vez que falares assim, eu serei teu ex-marido agora... Entendeu?

Ela riu, tinha um excesso de confiança em seu domínio sobre mim. Outro erro do ser humano, a vida é uma surpresa amigos, e, portanto tudo é possível, tudo existe e nada existe.

-Para com isso cara... Tu não vais a lugar algum... Há, há, há... Tu dependes de mim...

Aquele calor no peito ainda predominava, a força da raiva aliada ao mergulho 
da paz, resultava em uma fria lamina apontada, pronta para atacar ou acariciar.

-OK... Então tem uma boa noite Anita...
Peguei umas coisas e sai novamente. Estava disposto a beber um pouco mais a ficar na rua, e pela primeira vez, começar a minha vida infiel com qualquer vagabunda ordinária.
Lembro até hoje... De Anita vociferando na porta e eu me afastando lentamente:

-Vai... Pode ir... eu sei que tu vais voltar...

Realmente eu voltei, para pegar as minhas coisas, e sair sem dizer adeus, entre as lagrimas de desespero dela, o que não me comoveu em nada. Ela não era elegante para chorar agora.

O tigre afinal havia despertado, mas ele não é ruim, ele tem toda a disposição do mundo para o bem e para o mal, embora prefira ficar em paz, o que, por muitas vezes é difícil, talvez isso seja uma fragilidade minha, mas quem não tem.

Luís Fabiano.


domingo, outubro 21, 2012





Navalhadas Curtas: "Faqueiro Man"

Cada um com suas maluquices.
Conheci o sujeito, e na hora ele deu mostras de seu “ perigo ”.

-Porque comigo é assim, Fabiano...
-Assim como cara?
-Eu sou o elemento surpresa... o perigo onde não se espera...

Fiquei olhando pra ele, num misto de indignação e tentando captar toda a “profundidade” daquilo. Oh Deus... porque fazes isso??

-Mas que queres dizer com isso meu chapa?
Então mostrou uma faca curta, escondida na palma da mão, parecia muito afiada.
-Essa aqui, que é perigosa. É misteriosa... Existe onde não existe...sabe como é? Faca ninja cara... Ninja.
-Sei...

Então fiquei olhando pra ele e aquele excesso de confiança com uma faca na mão...
Eu não tinha nada mais a dizer, afinal ele estava com a faca...


Luís Fabiano





Solitária, bêbada e feroz

Não sou o anjo
Nem tão pouco o demônio
Sou o olho nu sobrevoando uma navalha
Sempre há feridos e felizes por aí...
É assim que a vida gosta
Não desejo brigar ou rezar
Entre a merda e o amor

Eram três e quarenta e sete da manhã (ontem)
A hora das esperanças perdidas
Enquanto do outro lado do mundo
Hindus meditam a espera que humanidade melhore
Eu vago pela cidade
Um escravo da noite, meio vampiro, meio idiota, meio bêbado a espera de algo
Então essa moça da foto(acima)
A desconhecida, com uma minissaia curta
Caminhando trôpega, passou por mim
E seu rosto era o transtorno
Teve uma noite pesada...

Pensei: anjos não trabalham de madrugada.
E creio que pela primeira vez em minha vida não quis trepar com ela
Não queria nada, apenas vê-la tentando andar
Uma nota musical tentando se afinar
Nas ruas feitas de asfalto e distancia
A doença tentando a cura
Milagres do ontem afagando o hoje
Num carinho sem mãos

Eu poderia ser qualquer um...
O lobo do inferno, faminto ansiando violência e dor
O arcanjo abrindo as asas de algodão beijando feridas que adormecem
Mas eu era a mudez das estrelas
Os olhos da noite sem um travesseiro
Observando a desgraça passiva
Como a natureza faz conosco sempre
Confesso que senti vontade de falar com ela...

Mas não queria estragar aquele momento
Eu não sei quem ela é
Ela nem mesmo sabe que eu existo
E por vezes isso
É infinitamente melhor
Que qualquer proximidade
No meu pensamento, ela já esta salva.


Luís Fabiano.


Ps: essa moça estava caminhando as 3:47 de ontem, parecia muito triste, muito bêbada e solitária, subia a Gonçalves Chaves
.

sábado, outubro 20, 2012


As lembranças foram se perdendo
Uma a uma
Como o tempo que varre tudo...
Lembrar dói...
Esquecer mais ainda
Mas o pior, é não ter nada disso.

Luís Fabiano



- Momento Boa Musica -

Ziggy Marley - Drive

Musica com tradução.
 Curta, é muito linda, é muito do caralho do lado de cá do planeta !

Luís Fabiano
*****

Pérola do dia:

É preciso uma boa dose de paixão, para fazer com que as coisas aconteçam na vida. Sem paixão não há vida “.

Luís Fabiano.

sexta-feira, outubro 19, 2012


- Fio da Navalha - Video - 

Entrevista com a Agatha 

Apertem os cintos antes de ver...








Val, Pânico, fodas e Claustrofobia.

Parte 2 Final

-Valdinho... Para de loucura meu... Abre isso...
-Não é loucura não... É o que eu vejo com meus olhos de Deus, eu estou vendo agora as sete cabeças na beira do apocalipse... Há, há, há o dragão esta preso agora... O dragão é meu...
-Xiiiii, o Valtinho tá com alucinação novamente - disse Val - ele se droga demais, frita o cérebro, e depois fica sem noção do que é real e do que é verdadeiro... Isso deve passar um dia...
-Passar algum dia? Porra nenhuma... Quem esse cara pensa que é?
-Sei, lá... Mas voltando ao assunto... e o meu cuzinho?
-Puta que me pariu Val... Tu não tá percebendo? A gente tá preso aqui caralho... O cara  tá doidão...

Do outro lado da porta Valdinho fala entre risos:

-Doidão porra nenhuma rapaz! Estou consciente total...  Os dragões devem ser presos... Quem me disse foi o Merlin, há ,há, há...

Encostei a cabeça na porta, a claustrofobia me atacava ferozmente... A necessidade de fugir, respirar o ar da rua... Naquele instante lamentei não ser uma formiga, um verme, uma barata, uma bactéria que pudesse circular fora dali... Tive uma ideia luminosa, fui para as janelas. Novamente uma merda. Elas tinham grades de ferro, tal qual um cárcere as avessas. Então não havia escolha.

Comecei a chutar a porta. Pedaços da madeira nobre começaram a voar para todos os lados. Eram aquelas portas desenhadas, entalhadas, daquelas que são caras. Val estava horrorizada e num acesso doentio disse: Fabiano... Acho que o Valdinho tem razão... Tu pareces um bicho cara...

-Vá se fuder Val... Não torra os culhões...

Do outro lado da porta, gritos com uma voz mais ou menos afeminada de Valdinho.

-O dragão vai escapar, huhuhui... Ele vai fugir... Chamem todos...
Então num estrepito raivoso, consegui destruir a porta. Uma lufada de ar puro entrou no quarto abafado, como os braços de uma puta amada... Respirei aliviado. Valdinho corria nu dentro daquela casa imensa... Como se ele fosse uma multidão... Estava surtado, chapado sei lá... Seja como for eu já o detestava profundamente.

Ele veio correndo em minha direção, exibindo e balançando aquela piroca murcha, como se fora uma linguiça cozida apodrecendo.
-Valdinho... Sai fora, chega cara, chega!  Tu já passou da conta...

Ele parou como se fora uma estátua. Ficou me olhando nos olhos, olhar ciente da própria idiotice, ou talvez a ancora tivesse chegado ao fundo do rio.
Então disse para si em voz alta :

-Valdinho sempre passa da conta... Valdinho... não é mau... Valdinho esta sozinho só isso... Fiquem com Valdinho hoje... Não vão embora...

Estranho como a sensatez tece suas grades em nossas emoções, o machucado e a ferida, explode de nós, lançando nossas farpas de desespero. Todos carregamos alguma coisa assim, mas raramente desejamos pensar nisso.

A cena era terrível. E por um momento me tornei humano. Lamentei o estado de Valdinho. Era um pesadelo vivo, feito de carne e osso. Essa pena, fez acordar em mim situações que passei. E aquela solidão infalível que me levou muitas vezes estar mais bêbado que são, uma companhia estranha, o desejo que o mundo esteja diferente, mais receptivo talvez. Valdinho agora chorava.
Val estava enrolada em um lençol, tentava consola-lo.

Olho para a porta arrebentada e não gosto. Às vezes me falta jogo de cintura. Mas não tinha nada a fazer ali.
Comecei a procurar as chaves do carro, as encontrei numa mesa próxima. Juntei minhas coisas e fui embora, sem despedidas, sem adeus, por hoje chega.

Quando entrei no carro, a memória veio, como um vomito de um anjo. Eu escutava ontem um bom Celso Blues Boi, Val havia me telefonado, sendo razoavelmente discreta e leve:

-Fabiano, hoje tu me come?
-Que isso Val, ta facinha hoje?
-Eu sou facinha sempre cara... To com o cuzinho piscando de amor por ti, como se fosse a sirene da Samu!!
-Tá tranquilo Val, hoje a noite vai ser fácil então...
-Ok, me pega aqui e vamos na casa do Valdinho... tem uma festinha daquelas...

Essas de não saber o futuro é foda.
Liguei o radio do carro... Era preciso voltar a realidade, antes que alguém arrombasse as portas de minha alma.

Luís Fabiano.