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domingo, outubro 31, 2010

Personagens marginais existiram em todos os tempos. Uns imensos e repletos de contradições, e creio sinceramente que isso é esperado. Miller, Bukowski, Gutierrez, Dostoievksy, Picasso e outros grandes das artes.

Nos tempos modernos tais personalidades se sobressaem da forma mais negativa possível pela abordagem dos que poucos entendem. Mister Catra é uma figura.
Mas se você for muito “sensível” ,não veja o vídeo, que é uma entrevista com ele, entremeados a bailes Funk. Sem duvida alguma esse cara para mim é mais um destes grandes Heróis.

Luis Fabiano


sexta-feira, outubro 29, 2010

Pérola do dia:

Um boquete e um copo d’água não se nega a ninguém.”

Mc.Catra.

Voracidade e silêncios.


A ideia de masturba-la usando uma faca de churrasco, começava a me agradar. No auge do tesão tais coisas ganham um sentido agradável, notas musicais em uma sinfonia. Não sei bem porque a coisa começou a acontecer. Estávamos naquela, vocês sabem.
Muitos beijos, abraços e mãos e cerveja. O que todos gostam. Os melhores pecados da alma. Porem Penélope não era adepta digamos de sexo convencional. Essas são as melhores. Gostava de explorar limites e por vezes além dos limites. Contudo, era terna e carinhosa. Uma linda mulher, uma das poucas lindas que tive.
Nos conhecemos como sempre acontece. Nada de surpresas, um bar, algumas bebidas depois e éramos antigos conhecidos. Intimidade instantânea. Gosto disso. Chegamos ao auge rapidamente, num piscar de olhos estávamos despidos, trabalhando forte. Não precisava de mais nada. Ambos éramos calejados na arte do amor. Ela sempre fora mulher de muitos homens, e eu, homem de muitas mulheres. A muito tempo parei de contar.
Frequentávamos motéis e a sua casa. Então nos encontrávamos naquele jogo. Certa vez, ela me pediu para asfixia-la, ao limite. Porque não ? Entrei fundo nela e comecei a apertar o pescoço, lentamente ela adorava, apertava a xoxota, quase transformando meu pau em poeira cósmica. Então ela me batia no braço, quase desfalecendo e eu a soltava.
Ela me abraçava forte depois disso, por instantes havia um carinho quase sobrenatural, misto de tantas coisas. Ficava respirando para recuperar o folego.
Era estranho aquilo, porem o estranho me atrai. Depois começávamos tudo novamente. Naturalmente sempre tive o controle de tal situação, mas fiz parecer a ela que não estava controlando. Uma impressão de verdade, é por vezes mais valiosa que a verdade em si. Posso dizer que em certos momentos, a verdade é dispensável. Uma emulação de verdade é veneno suficiente para mente incendiar-se, e tudo fica seguro, minha respiração, nem sequer altera-se. Isso é bom.
Quando explora-se aventuras sexuais, chega um dado momento, que as coisas tornam-se peixes em um aquário. Nada de novo acontece. Talvez neste momento o amor ou fim sejam uma boa alternativa.
No meu caso, o fim sempre aconteceu. Amor ? Porra, existem momentos que esta palavra me causa asco. Por tê-la ouvido demais. Já nem mais sei do que se trata. E confesso a vocês que, quando dizem que amam, meu coração peida, e meu pau broxa na hora. Tais declarações de amor são as mais das vezes como um pneu furado, um apito esquecido na instante, uma foto desfocada.
Não espero que me entendam. Cada um de nós carrega sua própria cruz. E definitivamente amor é uma merda. Me deem o resto, e deixem o amor de fora.
Estávamos na cozinha. Completamente nus, trepávamos na pia. Você já trepou na pia? Sensacional, pratos sujos, copos por lavar, talheres acumulados, e aquele cheiro de sexo no ar. Que bom. Quando estávamos quase lá, nos portais do céu ou inferno, ela pede para que eu pare. Porra, que isso? Que você quer?
-Abre a gaveta dos talheres e pega a faca...
-Que você tem em mente? Acho que sangue é legal, mas vamos fazer cortes leves ok ? Nada que precise de pontos e hospital, isso seria um mico gigantesco...
-Nada disso, pega essa merda ai...
Peguei uma faca de carne. Minha predileta e afiada. Um cabo arredondado e grosso. Ela olha para aquilo como se fosse um membro. Entendi na hora. Molhei aquilo com cuspe, cuspi um pouco nela também. Estávamos loucos. Falávamos coisas caóticas.
Então fui introduzindo nela aquela faca afiada, o cabo era dos bons.
-Enfia até onde a lamina começa.
-ok, baby...
Ela tinha muito espaço, então o cabo entrou como um metrô em um túnel. A lâmina roçava seu clitóris de leve. Sensacional, segurei a faca pela lâmina, bárbaro tentando não me cortar. Mas no auge, goza loucamente, molhando a cozinha, minha mão e porra da lâmina escapa e corta um dos meus dedos. Prazer e sangue. Já era tarde demais.
Quando viu o que tinha acontecido, entrou em desespero. Tinha sangue entre os pratos sujos, no chão e em suas pernas. Não me preocupei muito. Era um bom corte, mas não morreria, isso é certo.
Ela abraça-me e quer que vá para hospital. Mas não. Que eu diria?
Ei cara, estava fazendo a mulher gozar com o cabo de uma faca? Que espécie de gente é essa? Como sempre depois do ato, Penélope me beija, e se torna a mulher mais carinhosa da face da terra. Ela é bela e fera. E eu?
Ficamos ali, abraçados enquanto eu sangrava devagar. Tudo tem algum sacrifício. Não sei se éramos loucos, realmente não me interessa. Talvez nós percorramos uma longa estrada, e as feridas do corpo não sejam nada, pelas chagas que carregamos em nossas almas. Mas naquele instante nada disso era importante, sentíamos paz, eu ferido, Penélope era a melhor mulher do mundo.

Luís Fabiano.
A paz é uma fotografia.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Alma emprestada

Tudo parecia tão horrível
Debrucei-me na cama
Nudez e luz
Ela andava no quarto, de um lado para outro
Juntando roupas
Nossas pétalas no chão imundo
Fealdade pura 
Seu sorriso não era melhor que sua bunda
Olhos não tinham o brilho das estrelas
O corpo não era a sinfonia de Beethoven
Coração infinitamente mais duro que meu pau
Ainda assim eu estava lá
Arrastado por estas forças imponderáveis
Que insistem sempre
Desejo, fome, saciedade
Depois da gozada
Ela já não era mais a mesma
Talvez nunca tenha sido
A realidade sem os desejos
que lhe emprestam a alma e vida
É uma merda
Por vezes detesto isso
Ver a deusa reduzida a um brinquedo esquecido
E talvez o pior
Saber que ela jamais teve luz própria
Terrível
Por favor me tragam outra cerveja.

Luís Fabiano.

terça-feira, outubro 26, 2010

Audio Poema: Charles Bukowski - Então isso
Extraido da obra : O Amor é Um Cão dos Diabos.
Voz: Luís Fabiano.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Açoite


Marquês de Sade sempre fora um de meus heróis prediletos. Lia sua obra sorvendo, como um manual de primeiros socorros as avessas. Não buscava cura, nada de aliviar a dor. Creio mesmo que os leitores de Sade, até hoje não o entenderam muito bem.
Apegam-se a parte vil da historia, porque carregam vilezas dentro de si. É assim com praticamente tudo. Não percebem a sutileza que transcende paus eretos e vaginas molhadas. A letra sempre foi e sempre será morta.
Tingimos o mundo com as cores que carregamos na alma. E temos a ampla certeza que a culpa é alheia. Isso sempre foi claro como a luz dia para mim. Não é preciso muita coisa para que o humano amaldiçoe o sol.
Foi exatamente neste ponto da obra, Os 120 dias de Sodoma, que Celina entra com um chicote na mão e sorrindo. Ela queria descer a porrada em mim, já havia me avisado. Não tem problema até um certo ponto. Sou um tipo tranquilo, ela queria atiçar a fera e mim. Já gostei mais da fera, hoje a uso para outros fins. Depois que acorda, é difícil de segurar. Já tive algumas provas disso. Os resultados não foram os melhores.
Ela queria amor e chicote. Fiquei olhando-a seminua na porta do quarto, seu corpo brilhava.Fiz um sorriso algo maléfico, pensando comigo, até onde ela desejaria chegar com aquilo? Nossa relação é banal, puramente sexual. Reunimos nossas tragédias pessoais, e colocávamos tudo pra fora trepando loucamente. La vida louca. Já tínhamos feito quase tudo. Agora começaram as inovações criativas. Ela sacudia aquela merda, olhava-me como cara ferina.
Deixei o Marquês de lado. E levantei com pau duro em direção a ela. Ela me acerta uma chicotada no rosto. Gargalha como uma louca. Sinto meu rosto arder e parto pra cima. Acerto uma bofetada de cinema no rosto dela, o canto da boca sangra. Agora estávamos excitados e pronto, ela pede para me bater mais. Consinto. Ficamos naquilo até sangrar. Uma boa diversão.
E mesmo assim o tédio insistia em voltar. Celina era uma linda advogada, quando não estava enfurnada em seus casos infindáveis tentando salvar o mundo, gostava de prazeres fortes. Bebidas fortes. Esse perfil dela em agradava. Justamente a pintura distorcida, a face real subjacente da vida. As vezes não tão bela.
Depois da maratona, ela veio cuidar das marcas do chicote em minhas costas. Algumas sangravam um pouco, mas dor física não é nada em comparação a outras dores. Ela beijava e lambia, como um animal. Talvez a beleza disso, fosse exatamente este ponto.Tudo era um ritual para chegar exatamente ali. Ela não percebia sua razão. Gostava de curar feridas, feitas por ela mesma. Digo:
-Celina, você entende bem este jogo?
-Sim, prazer, prazer e mais prazer...e já tá bom
-Que você sente agora, me acariciando?
-A melhor sensação do mundo...
O chicote lançado para longe, era uma testemunha muda.
-Porque a melhor sensação mundo?
-Sinto-me feliz por estar fazendo algo bom pra ti, cuidando,zelando para fiques bom...
-Qual a maior ferida da tua alma Celina? Onde dói que não é possível alcançar?
O ser humano é de uma previsibilidade medonha. É sempre o mesmo drama de um e de todos. Tudo igual.
-Não quero falar disso, quero apenas sanar tuas feridas...
-Sim, tudo bem. Talvez um dia eu sane as tuas.
Chopin tocava ao fundo. Melancólico como aquele momento. Ele também tivera muitas feridas na alma, eu tinha as minhas e Celina fugia das suas. Depois que o açoite se cala ha paz. Mergulhados nas melhores aspirações o ser humano, tangidos por fiados de esperança. Acho que as pessoas não sabem ler Sade. Como não entendem as entrelinhas da vida.
Ela deita-se em meu braço. Sente-se aconchegada e adormece como uma criança. Não sei como isso terminará, creio nunca sabemos. Isso não deve importar. A afaguei, beijei na testa e tudo que desejei era que aquela noite não terminasse.

Luis Fabiano.
Se as feridas falam, as vozes calam.

domingo, outubro 24, 2010

Gestando tempestades


Ela tinha certeza que estava grávida. Aquela gravidez era feita de angustia que em seu ventre se formava. Aquilo que gerava dentro si, jamais seria sua felicidade. Não tinha pensando assim. Uma criança no mundo, era algo planejado, como os aparentes normais seres humanos fazem. Mas em sua vida, nada tinha sido assim. Um planejamento em uma folha branca, os passos seguintes . Não, nunca foi assim.
Marisa tentou ser normal. Tentamos ser como todos querem ser, com direito a final feliz e tudo. Nunca tive muitos sentimentos, e creio que venho perdendo os poucos que sobraram, minha sensibilidade desaparecendo dia após dia.
Então ela veio com esse assunto novo. Éramos namorados. Também nesta época eu tinha esperanças de muitas coisas. Hoje não mais. Ao chegar a sala onde estava sentada, o semblante distorcido de pura agonia silenciosa. Mesmo ela não falando nada, entendi.
As vezes acho uma merda perceber as pessoas por dentro. Sempre fui assim. Sei sempre tudo que se passa com elas, e mesmo que tentem esconder de mim, sempre vejo ou sinto. Então inopino pergunto:
-Marisa, tá tudo bem?
-Sim Fabiano, to apenas cansada, sempre cansada...
Fiquei parado olhando-a. Não tenho o perfil de forçar ninguém a nada. Nada de verdades forçadas. Se era isso que queria dizer agora eu respeitaria. O silencio parecia uma nevoa de chumbo. Sentei-me no sofá, com ela sentindo o turbilhão em seu coração.
Atalhei:
-Marisa, algo há, eu apenas estou aqui, só isso que quero dizer. Seja o que for estou aqui.
-Porque minha vida tudo dá errado Fabiano? Por que isso? Porque planejo e nada funciona, nada... eu desejo coisas bonitas e tudo se converte em rabisco grosseiro...que merda isso...
Como um trovão em uma noite negra, ela solta suas lágrimas. Havia raiva, indignação e outras tantas coisas que apenas uma lágrima concentra. Poderia dar-lhe milhares de explicações filosóficas. Sou bom de filosofia. Mas precisa de algo mais palpável. Algo que permitisse segurar seu coração entre minhas mãos, e faze-lo acalmar-se. Mas como?
Nestas horas você se sente uma merda de ser humano. Eu pegaria sua dor e cravaria diretamente em mim. Não sou muito assim, mas faria, se fosse possível.
A abracei. E fiquei afagando como se afaga um pequeno animal ferido, para que ele fique silencioso meio adormecido. Eu a entendia bem, como minha vida também era um caos sem fim.
Tudo que ela quis que funcionasse, nada funcionou. Vira seus planos evaporando em um dia causticante. Nem emprego que queria, nem uma relação que valesse a pena, familiares que estavam se lixando para ela. Amigos que se foram quando a merda entrava a cântaros na sua vida. Ela foi ficando acomodada, como uma barata. Mas hoje não.
Não sei como ela me considerava em meio aquilo. Namorávamos, mas nada era sério demais. Tenho dificuldade de levar as pessoas a sério. Passo a considera-las depois de muito tempo, refiro-me a anos de certa convivência. Antes é complexo.
Gostávamos de fazer sexo um com outro. Sexo cheio de carinho e tesão. Para mim bastava. Ela não queria estar sozinha, preferia sua solidão com a minha solidão. Então acho que nossa relação era uma boa troca de favores, como a maioria das coisas que me cercam. Eu dou algo e as vezes recebo algo, e tudo fica tranquilo. Não preciso mais que isso.
Depois que chorou, decidiu falar. Disse-me a verdade:
-Fabiano acho que estou grávida...
Nesta época eu ainda pensava em ter filhos com alguém. Como disse depositava minhas esperanças em crianças. Aquela idéia me acalentou. Relaxei e disse a ela:
-Marisa que bom, vamos ser pais...e tu chorando deste jeito ?Não é pra chorar...porra, vamos curtir, comemorar vai ser bacana, é uma criança porra...
-Mas não era assim que eu queria...nem queria que tu fosse o pai de nada, queria outra pessoa, alguém que amasse efetivamente, depois iriamos noivar, construir um lar de verdade, depois nos casaríamos na igreja e ai sim, engravidaria, é assim que tem que ser...é assim...
Comecei a rir. Que porra era aquela ? Um script de contos de fadas? Era muito bonito sem duvida, porem pouco real. Ao menos para mim. Minha vida sempre foi algo errante. E praticamente tudo deu errado. Já não esquentava com tais detalhes. E com o tempo fui dando foda-se a tudo. Posso confessar a vocês que se não fosse por detalhes que me permitem ter uma vida boa e sem grandes preocupações. Um emprego e uma casa, se não tivesse nada disso, tenho certeza absoluta que seria um destes andarilhos da rua. Sujo e vagando procurando a morte até desaparecer como tantos que somem e ninguém nota. No fundo somos assim, bem desimportantes.
-Marisa, você tem certeza?
-Tenho, sinto algo aqui e estou tendo enjoos e essas coisas de mulher gravida...
-E um exame ? Sem provas fica difícil...podemos estar sendo os dois ridículos aqui eu estou acostumado a ser...
O cérebro não distingue entre um pensamento real e uma lembrança. São as mesmas regiões que se acendem. E por vezes o ser humano é muito imbecil.
Nossa conversa terminou ali. Dias depois ela fez um exame. E era toda sorrisos, um sorriso oco. Estava feliz justamente por não estar.
Seus últimos planos estavam intactos. Poderá parecer estranho, olhando aquele papel escrito negativo, mesmo não sendo um plano meu, senti uma ponta de tristeza. O ser humano é muito estranho. Mas não foi só. A pá de cal, foi quando Marisa disse:
-Bom Fabiano, acho melhor terminarmos ok? Tu não me leva a sério, e nem eu, apenas não queria estar só, quase deu tudo errado. Então acho melhor buscarmos nossos destinos em separado. Tá bom?
Fiquei em silencio. Sentindo como se tivesse sido atirado de um prédio. Me deixei cair. Ali mais um pouco de minhas esperanças morreram.
-Tudo bem – foi tudo que consegui dizer.
Fui embora. Depois em casa, lambendo feridas e sentindo-me melhor. Lembrei do semblante dela algo feliz por não estar gravida. E de mim, que por um breve instante me senti pai. Um pedaço de ilusão eu sei. E mesmo tudo tão errado, aquele breve aceno de algo que mudaria minha vida me fez bem, foi bom sentir, muito bom.

Luís Fabiano.
Leve e quase insustentável.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Fechando a semana:
Para perceber belezas, é preciso parar, abrir os portais da alma, e se deixar levar por ela.Raramente estamos tão dispostos a isso.Se não esta disposto, nem tente. Pablo Milanes é fantástico, sua musica é linda, sorvam lentamente...



Esparsos Fragmentos...


Plantado no meio do caos, é assim que me sinto as vezes. Um caos interno. Um pequeno barco que tenta enfrentar solitário tempestades. Começo a acreditar que os excessos, que cansam meu corpo, também roubam minha alma. Não sinto arrependimentos. Não se trata disso. Possivelmente continue com tais excessos. Com um trabalhador que levanta cedo pela manha, e sai em busca de seu trabalho honesto. O religiosos em busca de seu templo de adoração, se prostra, reza e espera que Ele os escute. A mãe de família que deixa o lar feliz, e vai encontrar seu amante. Direcionamentos diferenciados, mas o mesmo alento subjetivo.


Algumas bebidas, noites intermináveis, boas e péssimas transas. A companhia dos elementos vis da sociedade. Não são poucos. Hoje amanheço com estomago embrulhado, tenho a impressão que vomito tudo isso. Uma tentativa talvez de expurgar os pesos de minha alma. Porem não levem tão a sério. Tenho meus momentos. Como vagas tempestuosas a espera da quietude. Se não fosse por alguns retalhos de verdade que carrego, e um braço amigo, provavelmente já teria naufragado de vez. Sucumbido como tantos que sucumbem. Como as pedras jogadas ao mar buscando abismos.


Abrir os olhos todos os dias e procurar uma resposta certa. Essa tem sido minha vida. Dia após dia. Naturalmente nesta trajetória, acabei ferindo muitas pessoas, me ferindo um pouco. Tento endurecer para evitar tais dores. Não foram poucas vezes que expus as pessoas a minha crueza. Não havia possibilidade de ser diferente. Alguns erros da vida não são evidentes. Eles vãos sendo desenterrados pelo tempo. A medida que você se conhece. E quando você percebe, esta no olho de um furacão. Ai é de quem puder sobreviver. Terrível pensar assim, mas a verdade é indisfarçável.


Solapado por lembranças duras, creio que se faz necessário livrar-me delas por agora. E fazer com que restar de bom em mim, algo um pouco melhor. Ainda não sei como fazer isso, como nunca tive respostas imediatas. Mas vou tentar, é tudo que posso fazer, tentar incansavelmente.

Luís Fabiano.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Pérola do dia :


“ Só vivemos, porque existe a possibilidade da redenção.”

Magalhães.
Fome


Acordei faminto
Sentindo-me abundante miserável
Minha verdade, cicatrizes
Entoando cantos
Nem pão, café ou coisas assim
Uma fome sem satisfação
Aprisco sem destino
Fome
Nem mãos afáveis, carinhos sem fim
Ou um coração apaixonado
Sexo suave e molhado
Tudo parecia tão opaco
Sem gosto
Desejei sentir um choque
Uma garra aguda e caridosa
Que dilacerasse meu coração
Fome
Deseja beber um gole de beleza
Sorver lentamente
Que fosse por um segundo sequer
Um olhar com significados
Uma folha levada pelo vento
Uma pequena joaninha caminhando sobre as folhas
Gotas de orvalho
Por um segundo bastaria
Mas nada disso
Cavei meu coração
E tudo que encontrei
Foram rochas
Areia
Fiquei com fome.

Luis Fabiano.



quarta-feira, outubro 20, 2010

Navalhadas Curtas.

“Era um verdadeiro momento mágico. Ela parada a porta com as mãos na cintura, uma cara feroz, misto de raiva, indignação e outras coisas. A porta aberta, tudo que via era a sombra dela projetada pelo por do sol. Gosto de por do sol.
Ela brigava comigo, pelo meu silencio, minha omissão, minha ausência e de coisas que não fiz. Mas o motivo original eu nem sei mais. O que realmente achava uma merda, naquele instante, era ela estar entre o por do sol e eu.
É nestes momentos, que xoxotas desaparecem, os desejos se calam, e deseja-se uma gota de paz, nem que seja para apreciar um por do sol.”

Luis Fabiano.

terça-feira, outubro 19, 2010


Cantora

Ela cantava em meio a turba
Saciavam-se
Comiam, bebiam e cuspiam
Gruíam asneiras entre si
A voz solitária erguia-se
Fio de carinho a
indiferença
Eles batiam palmas
robóticas
Riam indiferentes
Odiei aquele publico
Eu olhava a distancia
Mais próximo que a pele
E a alma
Encostado a um balcão
Arrimo dos bebedores
Muro das confissões
Aparadouro das lagrimas
Por momentos fechava os olhos
Deixa-me respirar
a musica
A voz se ergue novamente
Procurando estrelas
Rasgando infinitos
Mergulhando em mim
Tão solitária
Abandonada
A flor perfumando o vazio
A estrela
em uma noite de cegos

Luis Fabiano.

Pérola do dia:
Gosto de uma literatura que segure as tripas do ser humano por dentro. Que as sacuda com força, a ponto de abalar a alma, que seja desagradável e me acaricie ao mesmo tempo.”

Luis Fabiano.
Amor e Hemorroidas


O ser humano infelizmente tem suas necessidades. Algumas relevantes, outras nem tanto. Prefiro estas. Algo vinha martelando minha cabeça ultimamente. E se não fosse pelos problemas coadjuvantes, possivelmente perderia o sono.
O problema era o cú. Vinha saindo com diversas mulheres, e quando chegava aquele momento mágico da transa. Eu Dava aquela forçadinha de leve e clássica, dedos melados e etc, elas diziam: não por aí não...
-Ei baby, relaxe deixe pra mim, não vou te machucar é gostoso no final...
-Não, por favor ai não...
Então ficávamos naquele jogo de criança. Mas eu sabia que não comeria aquele rabo. Uma negativa pode acontecer, afinal nem tudo é tão bom na vida. Precisamos de coisas contrárias para crescer. Raramente as coisas são boas na vida. Raros finais cheios de felicidade, raras conquistas profícuas e que durem mais que algumas horas.
Filosoficamente relaxava. E mudava a minha posição. De volta a velha e boa xoxota. Tenho pra mim que é preciso explorar horizontes de prazer. Raras parceiras que tive, tinham coragem pra tanto. Embora todos falem do tédio, temos uma apreciação por tédio. Procuramos o tédio em tudo. Tive mulheres, que estabeleciam informalmente até mesmo dia pra transar.
Não sei porque gostavam da quarta-feira a noite. Que acontece na quarta feira ?Ou então sábado a noite? Que merda é essa? Não tem explicação. As mesmas malditas posições, a porra do papai e mamãe, e nada de inovação. Acho até que algumas me amaram, mas tinham em si a vontade de matar-me entediado. Tentavam domesticar um tigre. Nunca tente isso.Nunca se tem certeza que um tigre esta domesticado. É certeza que você irá machucar-se, como cem por cento das pessoas que envolveram-se comigo.
Cem por cento. Taí uma coisa rara, algo par ter orgulho. Um orgulho feito de ruinas, de destruição, de um barco que foi apodrecendo com o tempo, encalhado na areia.
Então em uma noite troquei de parceira. É preciso variar alguma coisa. Uma única pessoa não consegue suprir minhas ambições. Sempre deixo isso claro. Vou a muitos bares, tento não ficar conhecido por frequenta-los. Vou trocando, dando-me a chance de conhecer outros. Uns bons, outros espeluncas. Ia a procura do que realmente me interessa, o lixo humano. Onde os heróis de guerras solitárias se encontram. E lá estava ela.
Já nos conhecíamos, intimamente. Quando alguém vomita junto com você, é impossível não tornar-se intimo. Chamava-se Marylin. Era uma morena que descoloria os cabelos, muito magra e vivia para consumir-se. Alcool, drogas e solidão crônica. Não posso negar, era um belo espécime. Fazia parte do cortejo de perdedores como eu.
Cheguei próximo a ela e disse:
-Ei Marylin, tudo bom ?
-Tudo bom Fabiano, vamos tomar uma gelada?
-Tá com sede ?
-Tô seca por uma cerveja, mas preciso de companhia
-Quem não precisa? Ainda que seja um peixe no aquário, a merda de um animal qualquer em casa, mas é bom tem algo vivo por perto, que não cobre nada...
Ela começa a rir apontando o lugar na mesa. Naturalmente minha intenção, não era papo furado. Em minha cabeça, a preocupação em comer um cú ainda era a coisa importante. Não importa que fosse um cu sujo, afinal, que cú pode ser limpo?
Tomamos a primeira cerveja, a segunda, a terceira e outras. É claro, nestas condições ficamos muito sensíveis e felizes. Marylin era depressiva como a Monroe, não era tão bonita quanto ela, e nada sensual. E eu? Bem não vou comentar, afinal beleza é algo não possuo.
Acabamos indo para um quartinho que ela alugava. Realmente um quartinho, que como a vida dela era um caos. Quando a porta abriu-se, era uma visão surrealista. Roupas pra todo lodo, sujeira, lixo pelo chão. Uma cama com lençóis encardidos, foi nosso berço. Nos abraçamos, nos beijamos e fomos nos despindo como uma dança infernal. Ambos estávamos sedentos de carinho ou alguma coisa semelhante. Isso ás vezes funciona, não precisa ser carinho autêntico, mas algo parecido já é bom.
Ficamos naquilo, ela subiu pra cima de mim, rebolava encaixada .Ual, isso é bom, isso deveria ser a vida. Ela fazia meu pau parecer um eixo, ela uma piorra. Gozamos algumas vezes. Poderia ter ficado nisso. Mas vocês conhecem o ser humano. Sempre queremos mais, mais e mais. Esse é o erro. Dizia uma frase no templo de Delphos: “Nada em Excesso...”.Mas raramente tal lógica nos interessa.
Fiz mais um carinho em Marylin, fui virando ela de bunda pra mim. Ela sorriu safada e disse:
-Vai com cuidado Fabiano, pois estou meio estragada ai mas tá tudo bem...
O que você entenderia por, estou meio estragada ? A primeira coisa que pensei, que estivesse arrombada, com sensibilidade e coisas assim. É claro seria carinhoso, beijaria muito, enfiaria minha língua lá e tudo mais, serviço completo.
Mas antes, toquei lá para ver o que se passava. O que senti não era de todo agradável. Ela parecia ter um rabo de carne viva. Ei, mas que é isso? Eu perguntei:
-É que estou com parte do reto pra fora. Dói um pouquinho, mas já esteve pior, mas dá pra fazer, é uma espécie de hemorroida...
Toquei de novo naquilo com a mão. O rabo dela estava projetado para fora do cu, mais ou menos uns cinco centímetros, mas não havia sangue ali. Seria uma boa idéia? O bom senso de um bêbado é algo duvidoso. Acabei desistindo, não seria desta vez ainda.
Marylin parecia entusiasmada, mas ficamos nisso. Na verdade até broxei de ver aquilo. Como ela teria ficado assim? Não quis ampliar nossa conversa, era madrugada, aquele quarto fedia e eu queria ir embora. Deixaria Marylin sozinha, como a outra ficou. Só espero que ela não venha a suicidar-se também. Que merda de modismo é essa.

Luis Fabiano.
Paz? Me diga onde está.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Para fechar a semana com suavidade. Belos encontros, belos momentos devem ser compartilhados. Deixo vocês com Ana Carolina e Zizi Possi, belas vozes e um tema inspirador.


Pedaços de beleza

Ela ficava linda fumando crack
Rápida, mandava tudo pra cabeça
Ou talvez não houvesse beleza alguma
Era eu
Embriagado,
Mergulhado em tormentas sem fim
Diante disso
Poucas coisas não são belas,
Não são repletas de esperança
Tem a sua luz
Que somente você vê
então
Um beijo azedo
O corpo sujo
Ela alucinada fugindo de si mesma
A magreza sem fim
Ossos, peles e um coração
O olhar vazio
Tudo que tinha naquele momento era isso
Os carinhos de uma viciada a procura da morte
Me sentia honrado
Ela senta-se próximo a mim
Respiração ofegante
Meio ausente, meio viva, meio morta
Minha cerveja esta na metade
Aqueles ossos acariciam meu rosto
Não sei de onde surge
Mas sinto ternura demasiada
Digo :baby você esta linda hoje noite
Tudo que vejo são lagrimas
Choro também
Talvez aquilo fosse uma
Única estrela

Luís Fabiano.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Tenho um fascínio por espadas de samurai. Katanas são armas letais, nas mãos certas. Mas neste momento o fato de serem ou não letais, não me interessa. Sim esta animação do filme Kill Bill. O sensacional Tarantino, coloca graça, beleza e harmonia na arte de matar.

A animação mescla-se a cena real, a espada Katana é a artista principal. A espada de um único corte, tão profundo que torna-se letal.

Luis Fabiano.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Xingamento vazio

Detesto altercação de vozes
Berros disformes
Como mugidos de um abatido
Elas entram pela porta
Com sapatos nas mãos
Arremessando diretamente em mim
Jogariam a pia da cozinha se tivessem força
Dariam um tiro
se tivessem coragem
Esfaqueariam-me
se fossem frias
A voz esganiçada proferindo impropérios,
Obscenidades e injurias
É a musica do amor
Talvez tenham razão em tudo
Não importa
Fico observando calado o circo
Desenvolvem a cena toda
Xingam, choram, agridem
Nunca tenho vontade de agir assim
Xingar e fazer o meu circo também
Não.
Prefiro o silencio
digam o tem a dizer
Xinguem,
cuspam,
vomitem e caguem sobre mim se quiserem...
permaneço uma estátua
Depois elas se vão
Com sua bolsa semi aberta
Coisas pelo chão
Carteira, chaves e velas vermelhas
Fico olhando elas se afastarem
A paisagem é serena
Não gosto de alterar minha voz
Meu tom grave me faz bem
Penso e falo devagar
Deixo-as no silencio
Silencio do abandono
Esquecimento
O nada que sempre lhes dou
Tudo passa
Não gosto de xingamentos
É deselegante grosseria
Prefiro o vazio.

Luís Fabiano.

Pérola do dia:


Quando o Amor se transforma num comando, o ódio pode transformar-se num prazer.”

Charles Bukowski
rabiscado em uma caixa de camisa durante dois dias de porre.

terça-feira, outubro 12, 2010

O caos mostra o rabo pra mim.


Mais uma vez tudo converte-se em patologia. Minha e alheia. Não me resta mais duvida que todas as doenças do ser humano, são provenientes de suas desarticuladas emoções. O aspecto fisiológico é secundário. Obviamente que não pretendo fazer um tratado de doenças psicossomáticas. A profundidade disto pouco me interessa. Prefiro o raso. Minha vivencia, é próxima da grosseria onde as coisas acontecem ou não. Que é viver prático. A poeira que acumula-se nos móveis, o cheiro de merda no banheiro, o cagalhão que nega-se a descer.
Tomo outro caminho, nada técnico e menos psicológico. Como sempre, falo de mim. O exemplo talvez mais dantesco e patológico que conheço. Não tenho como princípio culpar os outros pelo que me ocorre. Pelo conhecimento que tenho, já sei que o único responsável para as desditas de minha vida, sou eu mesmo.
As pessoas que feliz ou infelizmente me envolvi, que conheci, que aproximaram-se, foram apenas protagonistas. Como tudo que me cerca. Não tenho como pensar de outra maneira. Mas comecei dizendo que tudo converte-se em patologia, porque assim o é. Um simples papo com alguém desconhecido, pode me catapultar aos páramos infernais. De forma quase imediata. Um envolvimento cresce, como um feto abortado no ventre. Trazendo com ele, o pior que o ser humano pode apresentar. Falo desta forma por estar calejado. Filme que assisto sempre. Mudam os atores. Seus personagens incansavelmente representam o teatro do caos. Deus o malabarista louco, dançando em uma corda de fogo, abaixo o abismo negro.
Elas me ligam interminavelmente...dia, noite e madrugada. Mandam infinitas mensagens, rasgando-se no meio, por algumas gotas de atenção. Enchem o meu rabo de elogios e esperam o retorno de algo. Mas em meu coração nunca batem promessas. Eu não tenho nada a oferecer, a não ser minhas palavras momentâneas. Sem ontem e muito menos amanhã. Esse talvez, meu erro mais crasso, as coisas caminham em uma zona penumbrosa, de luscos e fuscos. Num piscar de olhos tudo é amor, fácil, fácil.
Não creio mais no amor humano. Tenho a certeza que o ser humano não sabe amar. Tudo é uma tentativa. Assim sendo, converti-me no mais cético humano, faço minhas as palavras do Magalhães: “o ser humano, de mil talvez salve-se um.”
Embora o assunto fosse outro, mas quando se trata de ser humano, quase tudo é a mesma coisa. São previsíveis e frágeis, a espera de algo. Patético. Ás vezes me lamento, por ser humano. Como lamento tantas coisas em minha vida. Mas tal lamento passa mais rápido como um peido. E tudo fica bem.
Percebo que existem situações que são inescapáveis da vida. Como uma fatalidade, uma sina, um destino maldito. Fico pulando em uma perna só, para escapar daqui e dali e tudo dá errado. Não culpo ninguém. Talvez seja karma, e eu precise manter a “carma” para não fazer merda pior.
Então, de-repente parece que tudo se acalma. Tudo torna-se misteriosamente silencioso, o caos se cala, o choro misturado ao catarro sessa. O telefone não toca, os e-mails desaparecem, os sms não acontecem. Porra, como isso é bom. Como um pequeno pedaço de chocolate na hora certa. Por momentos, tudo que tenho é a lua, algumas estrelas, minha garrafa de rum e silencio.
Mas tudo que é bom, não é feito para durar. O bom é volátil, e o tempo encarrega-se de converter em uma merda. Talvez ele seja o culpado. Não briguem com Criador, mas sim com o tempo. Esse mesmo tempo, que vai nos enterrar a todos.
Não vai?? Mas que merda.

Luis Fabiano.
Dica de Filme: Coco Chanel & Stravinsky


Filme interessante. Uma historia de amor tórrido e sensual, que transcende tão somente prazeres momentâneos. Aqui existe um amor pela arte, e a arte é assim. Quando nos apaixonamos por ela, somo tal qual insanos, inebriados pelo vício. Trágicos e felizes.
Diante disso, o que é demasiadamente humano, torna-se opaco, leve, para que possa ganhar alturas incomensuráveis, lugar onde nossos sonhos habitam harmoniosos.
Um filme onde muitos se ferem e a arte ganha. Poderia ser diferente? Creio que não.

Luis Fabiano.

segunda-feira, outubro 11, 2010

O cheiro da vida.


As batalhas da vida ás vezes não são tão nobres. Em se tratando de mim, raramente são. Via a televisão, com indiferença bovina, mascando aquela merda toda pelos olhos. Depois iria ruminar aquilo, eterna e infinitamente dentro de mim.
A notícia era de uma criança que tinha todos os problemas e saúde que você possa imaginar. Com menos de três anos, já tinha tido dez ataques cardíacos, inúmeras paradas respiratórias, tinha dificuldade de alimentar-se, e outras tantas coisas que não lembro.
O que lembro é da mãe da criança. Dizia para a câmera neste tom: “não interessa como, mas vou estar com o meu filho até o fim, eu o amo mais que tudo. Deus me deu essa missão, e vou cumpri-la para que ele fique bem sempre, não o importa o custo, eu faço.”
Não preciso dizer que ela debulhou-se em lágrimas depois disso. Não me senti tocado. A notícia se mistura no turbilhão de tantas outras tragédias, que fica difícil escolher o que sentir primeiro.Depois vieram as noticias da estrada, as mortes, a violência, assaltos. Quando se vê televisão, não se pode dar muita atenção a nada direito. A grande maioria das noticias é pura mentira cênica. Ás vezes as coisas não são assim tão grandes, mas é preciso dar uma maquiada, aplicar um photoshop, colocar um pouco de sangue aqui e ali, e as coisas ficam interessantes.
Comecei a rir do meu raciocínio hediondo, quase cruel. Não podia fazer nada. E o que você pode fazer? Bem, se não podia fazer nada a respeito da merda do mundo que vivemos, daria um jeito em mim, sair fazer alguma merda por aí. Minhas noites nunca são muito promissoras, alias nada em minha vida é promissor. E me sinto orgulhoso e satisfeito com isso.
Sai roncando meu motor suavemente, pelas ruas de uma outra Pelotas.A noturna. Estava disposto a fazer algo, apenas não sabia o que. Por momentos sinto uma compulsão por isso. Minha atração pela merda. Todo tipo. Como quem mastiga um chiclete de cocô.
Fiz os caminhos de bares abertos em um dia semana. Todos muito decadentes claro. Blue Bird, vomitava lésbicas, travestis, drogados, putas ,tribos diversas, uns metaleiros. Por todos os cantos. Parei um pouco ali. Bebendo uma cerveja, apreciando o visual, a cena de cada um. Todo o tipo de coisa que não se vê durante o dia.
Existe um tipo humano que só sai a noite. Os vampiros. Achou que sou um também, mas de uma outra espécie. Talvez a pior. Fiquei um bom tempo ali, e mesmo com uma fauna tão diversa, nada aconteceu. Sai acompanhado de minha eterna solidão. Acabei indo para em outro bar, nas proximidades do porto.
Pedi outra cerveja, ali ás companhias femininas estavam melhores aparentemente. Gente sorridente demais. Entupindo o nariz de pó ou fumando crack. Para mim pouco interessa o que fazem. Ás vezes em tais ocasiões, sobra alguma coisa. Mulheres bêbadas, drogadas ou com depressão profunda, me atraem. Os tipos anormais e doentes.
As de boa vida, as comportadas que buscam algo normal me assustam muito. Essas são capazes de matar. No caso, me matar. Não pensem vocês, eu tenho experiência, sei o que estou falando. Convivência com muitas desgraçadas.
Eu estava a ponto de ir embora. Pois nada acontecia. Mas que merda, hoje nada vai acontecer? Ás vezes é assim, a magica não acontece e você vai pra casa, bate uma punheta se tiver animo, e todos são felizes para sempre.
Pensava em tais probabilidades, quando uma morena de cabelos cacheados, que estava acompanhada de algumas pessoas, me olhou com aquele olhar típico. Apenas sorri pra ela. Ela retribuiu. Talvez minha sorte começasse a mudar. Pra melhor ou pior? Taí uma coisa que nunca sei. Mas também nada ou resultado algum me surpreende. Ganhando ou perdendo. Perderia.
Ficamos naquela sedução de longe, apontei o lugar vazio na minha mesa. Não queria conversar com as amiguinhas dela. Nada de me enturmar. Só me enturmo para aparentar simpatia, quando isso é inescapável.
Ela senta-se a mesa, conversamos aquele papinho besta. Era estudante da universidade Federal, não era da cidade. Sustentada pelos pais, e curtia festas no porto e drogas. Etc...etc..blá, blá blá. Ela foi bebendo eu também. Com vinte e três anos, que ela queria comigo? O tio. Acabamos ficando bem íntimos. Coisas da bebida. Em um dado momento nos aproximamos nos beijamos e estávamos felizes. Os estranhos mais felizes deste mundo. Para mim que não creio em felicidade, aquele pedaço de bar, a morena meio bêbada, seu sorriso de safada promissora, algumas cervejas. Que mais felicidade eu precisava? Sentia-me no topo Everest.
Satisfeito. Não precisa nem transar com ela. Lembrei das batalhas da vida. Achei que iria leva-la para um motel. Mas a sorte sorriu pra mim novamente. E fomos para o apartamento dela. Uma kitineti ,que cabia apenas nos dois ali. Deus era bom. O demônio havia tirado férias.
Nos amaçamos, beijamos e fomos nos despindo.Com fome um do outro, cegados pelo álcool e pelos desejos primitivos. Eu fiquei pensando, ela me levou fácil para o apartamento dela. E seu fosse um assassino? Ou se ela fosse uma assassina? Se essa puta fosse uma devoradora de bolas? Ela me capava, e comia no almoço o meu saco assado? Renovei minha fé na vida.Po um momento.
Mas agora foda-se, é tarde demais. Porem minha sorte começou a mudar novamente. Quando finalmente tirei a calcinha dela, em meio ao escuro, senti o cheiro mais forte e terrível que já havia sentindo. Aquela mulher não se lavava á muito tempo. O cheiro era uma fossa entupida de carniça apodrecida. Eu até duvidei que viesse da buceta dela tal aroma. Mas era pura verdade. Aquilo fedia muito. Não tenho nada contra cheiros fortes, eu gosto e acho estimulante. Porem Valeska havia exagerado. Eis minha batalha na vida. Não titubeie, enfiei minha cara naquela carniça viva, sentindo o cheiro de podridão espalhando no meu rosto, no meu cavanhaque, na minha boca, na lingua.
Suguei, engoli, beijei e claro depois a beijei-a na boca. Tive um breve momento, vontade de vomitar, mas segurei, engoli novamente. Ela gozou algumas vezes, e ambos apagamos imersos nos cheiros.
Acordei com o gosto mais estranho na boca, um gosto horrível. Valeska roncava ao meu lado. Fui até o banheiro fiz um bochecho para me livrar daquilo. Que tragédia. Lembrei da noticia, que havia visto antes de sair. A batalha de uma criança para sobreviver. Cada um tem suas batalhas. A minha não era muito nobre, quase nunca é.
Me vesti e voltei pra casa. O cheiro de Valeska parecia entranhado em mim. O fedor de Valeska estava dentro de mim. Bom, agora não importava. Eu havia sobrevivido, talvez amanhã quando eu acordar eu tome um banho.

Luís Fabiano.

sábado, outubro 09, 2010

Pérola do dia :

“A intimidade entre um homem e uma mulher, é medida pelos peidos que trocam debaixo das cobertas, e depois, pelos beijos e abraços carinhosos ao sabor do perfume.”

Luis Fabiano.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Pra fechar a porra da semana, deixo aqui a cena da banda alemã Rammstein  cantando Meil Teil - Minha Parte.
Eles são a cara deste mundo terrível, recomendo:


Sol Engarrafado

Abro os olhos
E não sei onde estou
Que móveis são esses?
Essa cama?
Estou molhado
Acho que me mijei ...
Um teto rosado,
acho que é um quarto no céu...
A cabeça dói, alguma coisa embrulha o estomago
Olho para lado
existe uma bunda grande e nua,
branca como papel
que bunda é essa aí ?
Não sei
Toco-a devagar é gostosa, macia
E mesmo perturbado
Meu chumbo se ergue ao alto
Nem tudo estava perdido então
Sabia que não poderia ser bonita
Nunca são,
são como eu, o caos
Tento acomodar-me, e procurar o olho do barro
Minha boca seca não tinha cuspe para amaciar carne
Foi a seco mesmo
Ela dorme como um cadáver fresco, que bom
Nem sente que entrei ali
Faço alguns movimentos
E gozo
Começo a rir, pois essa pessoa quando acordar
Vai sentir uma leve ardência no rabo,
uma cama molhada
Meu membro esfolado arde também
Volto a desconhecida realidade
A lembrança da noite passada vai acordando
Já sei quem é ela,
mas ainda não conheço a casa
Tudo que vejo são garrafas de cerveja vazias
Nas janelas, encostadas, enfileiradas
Abandonadas a esmo
Como tudo que lançamos ao esquecimento
Aquela visão era linda
O sol nascente, projetava seus primeiros raios
Através delas
A cor escura ,com luz por detrás
Eu pelado, tentando levantar
Antes que a dona da bunda acorde
Vesti-me e ganhei a rua
A verdade ás vezes é horrível
Onde andará o aprisco de minhas
Mais caras emoções?
Outra vez a rua e minha eterna solidão
Preciso voltar agora

Luis Fabiano.

quinta-feira, outubro 07, 2010


Mais do mesmo.

Ela veio me procurar aparentemente desesperada. Os dramas humanos se repetem sempre. A mesma coisa acontece com tudo e todos. Muda o endereço e a historia ganha nova maquiagem. Mas os mesmos protagonistas estão ali. Chorando, raivosos, insatisfeitos, traídos, vivos, mortos, querendo dinheiro, pensando uma maneira de fazer algo para salvar-se. Sempre isso. Modorra, tédio e lágrimas. E no fim a morte.
Carmela é uma dessas mulheres de porte supostamente fantástico. Com uma casca nobre e elegante. Mas tudo era casca. Aparências e mais aparências. Todos que a observam de longe tem uma falsa impressão de poder, glória e satisfação de uma vida perfeita . Mas nada é assim. Não conheço uma viva alma na terra tão satisfeita assim. Sempre a elogie. Nossa historia nunca passou da amizade colegial. Foram varias as vezes que tentei transar com ela. Hoje nos consideramos como irmãos. Mas como ela não é minha irmã, eu a comeria sempre dramas.
No meu intervalo, nos encontramos e comecei o assunto com ela assim:
-Certo Carmela, comece pelo final da historia, por favor...
Seu rosto ansioso dizia tudo. Como uma tempestade repentina.
-Calma Fabiano, tu é sempre assim, seco e direto quase como se não tivesse emoção...
-O tempo é curto, se não aproveitarmos, nada servirá, gosto de ti Carmela sabes...
-Bom, hoje o Ronaldo(o noivo) terminou tudo, com tudo pronto pro casamento,festa,data marcada, convites entregues...
Não tem coisa mais irônica em minha vida que isso. Algumas pessoas pedem conselhos sentimentais para pessoas como eu, que fracassaram em cem por cento de seus relacionamentos. Não tive nenhum que não tenha fracassado. Não culpo a ninguém, a não ser a mim mesmo. Os motivos são variados, pouco relevantes, oque interessa e que acabaram.
-Sei, e ele disse o motivo?
-Disse que não dava mais, que não tinha amor suficiente para casar, que...(começa a chorar)
Amor suficiente para casar? Que será que esse cara achava que era amor? Se ele imaginar que aquele encantamento do inicio seja o padrão, ela tava fudida mesmo.
-Carmela, se ele tá sendo sincero, que posso dizer? É isso mesmo. Ele tá certo. Nestes momentos se quer sempre tentar salvar os restos de algo. Acredita-se em salvação, e tudo mais. Acho bonito, mais pouco provável. Possivelmente sentirás muito, farás todo o drama do fim. Todas fazem. Vais insistir em ficar com ele, vais procurá-lo varias vezes contra a vontade dele, vais chorar até pela xana. Depois vais ficar com raiva. Vais achar motivos para que ele não preste blá,blá,blá...e nada disso vai ser a verdade, porem será a tua verdade neste momento. Daqui a alguns meses passa. É isso.Tudo passa, a pior merda sempre seca.
-Mas eu não queria ...
-Ninguém quer terminar, mas a coisa é simples. Quando um não quer, já acabou. Não estou sendo cínico, é exatamente assim que penso. E também penso Carmela, que eu não seja o melhor conselheiro para estas coisas de relação. Olha pra minha vida? Fiz as escolhas mais difíceis. Não tenho nenhum arrependimento, neste aspecto sou condizente, quanto ao resto, nada deu certo. Minha visão é fria, cética em relação a isso. Acredito que todos sejam filhos da puta. E você sabe, julgamos as pessoas nós mesmos, mas eu não me sinto mal por isso, também sou um.
Ela enxugava as lágrimas, disse que sabia a resposta que iria ouvir de mim. Que por vezes tudo que se quer escutar é justamente isso. A lâmina fria do aço que transpassa o coração. Adorei a colocação. Lembrei de minha espada descansando em casa, a Katana. Lâmina de um só corte frio, não sou digno dela. Não sou digno de tantas coisas.
Voltei a mim e a Carmela.
Mesmo chorando ela era bonita. A blusa com um decote generoso,as tetas sempre foram boas. Enfiei meu olhar por ali, descortinando um sutiã rosado. O sofrimento dela, sua dor havia empalidecido diante de mim. Eu a consolaria se precisasse. Talvez agora eu a comesse se tivesse chance.
Ficamos em silencio, tomando o café pesado. Os olhos tristes dela eram um charme natural.,A dor tem muitos lados e nem todos são horríveis.
-E ai o que farás? Disse eu...
-Vou apenas perguntar a ele se foi sincero, se foi a decisão final...
Comecei a rir. Quantas porradas são necessárias para termos certeza que levamos uma porrada vida? Ela não gostou muito do meu riso sarcástico. Não poderia fazer nada, nem mesmo considerava falta de respeito. Mas ela me conhecia bem. Levantou, pagou nossa conta, me deu um grande abraço, o rosto parecia mais leve. E disse a porta:
-Tu continuas o mesmo cretino de sempre, o bom e velho Fabiano.
-Obrigado.

Luis Fabiano.