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quinta-feira, outubro 07, 2010


Mais do mesmo.

Ela veio me procurar aparentemente desesperada. Os dramas humanos se repetem sempre. A mesma coisa acontece com tudo e todos. Muda o endereço e a historia ganha nova maquiagem. Mas os mesmos protagonistas estão ali. Chorando, raivosos, insatisfeitos, traídos, vivos, mortos, querendo dinheiro, pensando uma maneira de fazer algo para salvar-se. Sempre isso. Modorra, tédio e lágrimas. E no fim a morte.
Carmela é uma dessas mulheres de porte supostamente fantástico. Com uma casca nobre e elegante. Mas tudo era casca. Aparências e mais aparências. Todos que a observam de longe tem uma falsa impressão de poder, glória e satisfação de uma vida perfeita . Mas nada é assim. Não conheço uma viva alma na terra tão satisfeita assim. Sempre a elogie. Nossa historia nunca passou da amizade colegial. Foram varias as vezes que tentei transar com ela. Hoje nos consideramos como irmãos. Mas como ela não é minha irmã, eu a comeria sempre dramas.
No meu intervalo, nos encontramos e comecei o assunto com ela assim:
-Certo Carmela, comece pelo final da historia, por favor...
Seu rosto ansioso dizia tudo. Como uma tempestade repentina.
-Calma Fabiano, tu é sempre assim, seco e direto quase como se não tivesse emoção...
-O tempo é curto, se não aproveitarmos, nada servirá, gosto de ti Carmela sabes...
-Bom, hoje o Ronaldo(o noivo) terminou tudo, com tudo pronto pro casamento,festa,data marcada, convites entregues...
Não tem coisa mais irônica em minha vida que isso. Algumas pessoas pedem conselhos sentimentais para pessoas como eu, que fracassaram em cem por cento de seus relacionamentos. Não tive nenhum que não tenha fracassado. Não culpo a ninguém, a não ser a mim mesmo. Os motivos são variados, pouco relevantes, oque interessa e que acabaram.
-Sei, e ele disse o motivo?
-Disse que não dava mais, que não tinha amor suficiente para casar, que...(começa a chorar)
Amor suficiente para casar? Que será que esse cara achava que era amor? Se ele imaginar que aquele encantamento do inicio seja o padrão, ela tava fudida mesmo.
-Carmela, se ele tá sendo sincero, que posso dizer? É isso mesmo. Ele tá certo. Nestes momentos se quer sempre tentar salvar os restos de algo. Acredita-se em salvação, e tudo mais. Acho bonito, mais pouco provável. Possivelmente sentirás muito, farás todo o drama do fim. Todas fazem. Vais insistir em ficar com ele, vais procurá-lo varias vezes contra a vontade dele, vais chorar até pela xana. Depois vais ficar com raiva. Vais achar motivos para que ele não preste blá,blá,blá...e nada disso vai ser a verdade, porem será a tua verdade neste momento. Daqui a alguns meses passa. É isso.Tudo passa, a pior merda sempre seca.
-Mas eu não queria ...
-Ninguém quer terminar, mas a coisa é simples. Quando um não quer, já acabou. Não estou sendo cínico, é exatamente assim que penso. E também penso Carmela, que eu não seja o melhor conselheiro para estas coisas de relação. Olha pra minha vida? Fiz as escolhas mais difíceis. Não tenho nenhum arrependimento, neste aspecto sou condizente, quanto ao resto, nada deu certo. Minha visão é fria, cética em relação a isso. Acredito que todos sejam filhos da puta. E você sabe, julgamos as pessoas nós mesmos, mas eu não me sinto mal por isso, também sou um.
Ela enxugava as lágrimas, disse que sabia a resposta que iria ouvir de mim. Que por vezes tudo que se quer escutar é justamente isso. A lâmina fria do aço que transpassa o coração. Adorei a colocação. Lembrei de minha espada descansando em casa, a Katana. Lâmina de um só corte frio, não sou digno dela. Não sou digno de tantas coisas.
Voltei a mim e a Carmela.
Mesmo chorando ela era bonita. A blusa com um decote generoso,as tetas sempre foram boas. Enfiei meu olhar por ali, descortinando um sutiã rosado. O sofrimento dela, sua dor havia empalidecido diante de mim. Eu a consolaria se precisasse. Talvez agora eu a comesse se tivesse chance.
Ficamos em silencio, tomando o café pesado. Os olhos tristes dela eram um charme natural.,A dor tem muitos lados e nem todos são horríveis.
-E ai o que farás? Disse eu...
-Vou apenas perguntar a ele se foi sincero, se foi a decisão final...
Comecei a rir. Quantas porradas são necessárias para termos certeza que levamos uma porrada vida? Ela não gostou muito do meu riso sarcástico. Não poderia fazer nada, nem mesmo considerava falta de respeito. Mas ela me conhecia bem. Levantou, pagou nossa conta, me deu um grande abraço, o rosto parecia mais leve. E disse a porta:
-Tu continuas o mesmo cretino de sempre, o bom e velho Fabiano.
-Obrigado.

Luis Fabiano.

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