Pesquisar este blog

domingo, setembro 19, 2021

Diário de uma doente | Ep 02

 

Ela chega depois de um domingo fora de casa.

Felizmente as vezes talvez minha irmã tenha um pouco de consciência social ou caridade como ela costuma dizer?

Que merda é essa?

 Não sei, mas foda-se quem se importa?

Você se importa?

Logicamente que não vc não tem nada haver com meus problemas e nem eu tampouco com os teus.

Mas seguimos, ao descer do carro.

Ela ja está com mal humor. Alias as sequencias de mau humor são constantes. Fico pensando porque tanto mal humor? Porque tantas coisas ruins dentro dela saem? Ou essa porra de doença faz apenas a pessoa que outrora via coisas boas na vida passar a ver apenas a sombra?

Para ela nunca nada esta bom, nada serve, nada e o que é...e fica retrucando ao teu lado de preferencia, todas estas reclamações de uma vida ruim.

Penso realmente que a vida dela não deve ter sido boa. Não foi, lembro ainda que quando não havia sanidade, que ela era aquela pessoa que não fazia ou reclamava de nada. Baixava a cabeça para evitar problemas, e na real ela nos passou isso.

Essa fraqueza para evitar problemas, para não precisar enfrentar ninguém.

Neste ponto creio que superei, minha mãe criou filhos para serem fracos, perdidos e dependentes hoje eu sei isso. Para desistir... ao contrario do meu pai que nos deu fibra e capacidade.  

Por isso que os melhores morrem mais cedo...e nós e como minha mãe ficamos ate literalmente apodrecer vivo. Justiça de quem?

Ela agora tomou os remédios e esta deitando. Minha cabeça descansa enquanto bebo. Tenho bebido muito o que de certa forma me alivia todas estas coisas.

Estar confortavelmente entorpecido talvez para não ficar louco? Talvez.

Agora o sono esta vindo, estou relaxado tenho em meus pensamentos tantas coisas. Meu ser incluiu outras modalidades em minha vida, de aprender, de viver, dar e receber prazeres, mas minha essência ainda é mesma e não quero que mude.

A bebida faz tudo ficar mais fluido, veias quentes  e o copo esta no final.

Essa merda segue.

 

L.F


domingo, setembro 05, 2021

Poesia Fotografica




 

 

Diário de uma doente |  Ep 01

 

Dias horríveis escorrem em uma dupla prisão.

Um pesadelo pandêmico que parece não ter mais final, trabalhos se acumulando e pressões de todos os lados possíveis e imagináveis.

Poderia ser mais fácil?

 Claro que não.  As coisas se complicam lentamente escorrendo como um óleo sujo em minha vida fazendo patinar, deslizar e não resolver. As vezes é isso a solução, não esta em suas mãos, naqueles que acreditam em destino, karma, nêmesis e outras merdas do gênero...é uma solução, ta explicado. E para quem não crê nessa porra toda? Sobra a capacidade imensa de resistir ou desistir de vêz... me entendeu né? Este mês amarelo é cheio de sugestões...

Mas não, ainda não é meu caso, mas gosto de pensar que é uma possibilidade que consola.

Para quem não me conhece estou me referindo ao cativeiro que minha vida se tornou ao minha mãe adoecer. E essa é narrativa diário de uma doente dedicado a vida de merda que a vida da minha mãe se tornou. Ela possui demência, Alzheimer e Parkinson. Me pergunto como cabe tantas doenças em um corpo só? Vai saber.

Nos últimos dois anos para cá as coisas vem piorando lentamente em uma convivência que se deteriora lentamente entre esquecimentos, desconhecimentos e muitas agressões verbais. No inicio eu retrucava as agressões dela até entender que não adianta merda nenhuma. Nada adianta alias ela não entende absolutamente nada.

Então guardo o silencio e observo, observo como como corvos observam, como predadores observam, como cínicos observam ou como a morte observa a todos nós em nossas ilusões.

Respiro fundo e recomendo que você também respire porque as coisas não vão ficar boas, tenho ciência disso e creio que você também.


Domingo 05/092021 :

Ela acorda de mau humor com a fralda mijada e um olhar vazio repleto de nada. Já acordei muito cedo e fiquei pronto para este momento, alias essa é uma pratica que faço sempre desde que tudo isso começou. Sábados, domingos feriados e férias não existem , alias descanso algum, de nada, nada de folga, nada de respirar cara...nada...segura a respiração até onde aguentar...vai...vai.

Faço o ritual, remoção de fralda mijada com um cheiro muito característico, o travesseiro completamente babado exala também um aroma especial que não sei exatamente descrever mas não é bom.

Após ela levantar entre reclamações e xingamentos consigo tirar a maldita fralda e ela fica fazendo suas necessidades no banheiro então na velocidade da luz vou fazer um café...um café que sempre se repete previsivelmente. Café com leite e um sanduiche. Sempre é isso sempre. Detesto leite, detesto cheiro de leite acho detesto também quem toma leite...

O café esta pronto e a retiro do banheiro e a visto. Esse processo de vestir é sempre algo impossível de prevenir. Impossível pois uma vez vestida ela fica brava com a roupa,  diz que a roupa não é a certa ou mesmo remove a roupa ou como já fez certa vez a rasga. Não preciso dizer mesmo neste momento existe muito estresse, hoje e sempre tem todos os dias !

Feito isso, ela toma o café e remédios. Bem ai tem um porem é onde consigo ter um breve descanso dos xingamentos. O remédio faz efeito rapidamente e isso deixa ela meio sem ação para minha mente muito positivo.

Isso vai seguir enquanto tiver alguma sanidade.

Até o próximo.

L.F