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segunda-feira, janeiro 31, 2011


Meu fio tua metade

Gostava de comparar
Como tivesse emoções
maiores que o membro a oferecer
Muitas vezes é tudo que tenho
Não era um grande membro
Inofensivo filhote de qualquer coisa
Então vinham os beijos
As palavras pecaminosas
 sussurradas em desalinho
Isso nos deixava felizes
um pouco
Como farelos de pão
Nos catávamos
Poderia ficar ai
Mas a maldita sede da sublimação
é um ácido
Olhos ternos
misto de tesão
e alguma coisa estranha no ar
- Eu te amo...
Porque ela disse isso?
Preferia que tivesse cuspido na minha cara
Gosto de boas cuspidas...bebo-as
Ou me batesse como uma insana
Dissesse que eu era a maior foda do mundo
Beijasse meu membro,
como se acaricia um filhote de cão abandonado
Por fim ficasse agradecida
E me quisesse tão dentro dela
Rasgando-a
buscando o coração
Ou fizesse um silencio tão sagrado
Poderíamos brincar pela eternidade
Sem que tudo fosse maior do que é
Encantados nas belezas
de olhos fechados
Digo-lhe: mostre-me teu amor agora...
Mostre agora...
Me abraça e cala.


Luis Fabiano.

Pérola do dia :

“ Lavabo é uma palavra grega, mas em português significa: não cague na minha casa.”

Mister Catra
As Teimas de Julia.


Ultimamente tenho sido assolado por diálogos ácidos. Como as marés em seu ciclo oculto. Por momentos tenho a impressão, que tudo me provoca, em outras, talvez uma quietude exacerbada também me incomoda. Mesmo nas coisas boas, os bons sentimentos, como nos outros também.

Talvez a culpa não seja das coisas em sí, mas minha. Tenho ficado pior com o tempo, orgulhosamente, confesso. Me desconectando de tudo e todos a minha volta. E por uma espécie de abandono, ás pessoas se tornam mais reais dia a dia. Com aquilo que tem, e com aquilo que não tem.

Somos seres feitos de faltas, ausências, raramente entendemos o que temos presente em nossa vida, como algo realmente bom. Nossas faltas, nos tornam eternos miseráveis, e de um querer inatingível.

Porem quando perdemos, o que inexistia torna-se vivo, como se a morte fosse nascimento. As provocações tornam-se saudade, as palavras deixam espaço para o silencio cortante, os carinhos cansados e repetidos, agora um olhar vazio, e um pensamento errante: Seria bom que estivesse aqui...seria...

Reunimos alguns farrapos de lembranças, agarrando-nos a eles como a uma ancora, mas o que nos acaricia, também nos faz afundar e ficar presos. Como conchas nos fechamos. Não deixamos respirar as emoções. Gostaríamos que tudo fosse assim ou não.

Tenho sempre muitas coisas a fazer, mas raramente faço tudo. A bem da verdade faço apenas o essencial, não tenho lampejos superlativos, de fazer muito, como disse, vou me desconectando e oque ainda não tenho recusado a parar de fazer, é trocar a cueca. As vezes fico no máximo com elas dois dias, tá bom. O cheiro fica forte, e gosto muito do cheiro forte. Uma espécie de narcisista olfativo. Mas de resto vou repetindo.

Julia veio com novas investidas, com tentativas de dizer de tantas formas, que o amor existe e a vida é maravilhosa. Puta que pariu, eu detesto gente que fala assim, tem sempre aquele risinho bobo na cara. Que porra é essa ? Tire este sorriso idiota da cara, ou mesmo farei.

Ela seguiu rindo, não deu atenção ao meu pseudo ataque nervoso. Sabe que não tenho ataques nervosos reais. Da ultima vez dei-lhe um tapa, e gostei do que fiz. Mas já fiz coisas piores que um tapa. Contei mentiras, olhando nos olhos, ás vezes eu mesmo me convencia que era verdade. Mas tudo isso cansa, quando se sabe que a verdade é mais forte,e dói mais.
Então ela vem provocando semi-nua:


-Ontem me deu aquele tapinha...tem mulher que bate mais forte que tu...há há há nem doeu...ha há há.
-Sei.

Não estava muito disposto. O calor me rouba energias, e meu coração batia em um ritmo suave. Hoje não haveria tapas. Queria apenas fica quieto.
-Tais parecendo um urso deitado ai...um urso grande e preguiçoso...grande não, gordo...é acho que um urso viado...é isso que és Fabiano?
-Sei..Julia..sei...

Não contente ela vem. Queria rock in roll aquela noite, aproxima-se de mim ,e me desfere um tapa na cara. Devolveu na mesma moeda. Aquilo me despertou. Na hora entendi a sua, me olhava nos olhos desafiadora. Não tive duvidas, me levante rapidamente, peguei meu cinto de couro, e dei-lhe a primeira cintada nas pernas. Ela grita, mas agora é tarde.

Disse-lhe:
-Agora eu vou te matar...

Consigo pega-la por um braço, deitando de bruços na cama, dobro o cinto e aplico-lhe varias cintadas fortes na bunda. Ela grita, misto de dor e tesão. É uma grande safada. Por fim pede pra parar. Aquele brinquedo me acordou, meu pau parece uma estaca. Passo a mão na sua bunda, e existe um vergão bem vermelho das marcas. Ela gosta, diz que esta doendo. E se abraça em mim, tem algumas lagrimas nos olhos.

Então nossa montanha russa, faz agora uma curva suave. E mesmo com o calor nos abraçamos forte, como querendo entrar um para dentro do outro. Isso é impossível. Mas entre as dores que nos animam, existe uma ponte, e vez por outra nos encontramos lá. Isso é bom, nas dores do cinto, nos meus fragmentos emocionais, sentimos uma falta.

Minha mão acaricia sua bunda, coisa linda aquelas marcas. Desço até lá e vou lambendo os vergões. Julia, você é muito maluca. Eu não entendo nada do que esta acontecendo. Mas gosto de ter meu pior e meu melhor despertos as vezes, e por um motivo que nem mesmo você sabe, você também gosta.

Luis Fabiano.




domingo, janeiro 30, 2011

Poesia Fotográfica

Pelos e campos de centeio.




sábado, janeiro 29, 2011



Um tapa no amor.

Nunca tive bons motivos para acreditar no amor. Na mais das vezes, o amor é uma solução de problemas: solução para solidão, para falta de dinheiro, para procriação e outras. Raramente esta palavra é usada corretamente. Em tese, quando se espera alguma coisa em troca, chame do que quiser, menos amor. Seria mais honesto.

Ela ficou sorrindo, enquanto fazia meu discurso de praxe. Tenho vários discursos prontos, para tais ocasiões, coisa que falo e não preciso pensar, porque afinal de contas ás vezes simplesmente não existe grandeza alguma.

Então Julia quis me convencer do contrário:
-Mas eu te amo. Do jeito que tu és, da forma que és, na liberdade que gostas. Podes ter todas as mulheres que quiseres, todas, que isso não altera nada em mim, eu continuo te amando.

Sorri de lado, erguendo a sobrancelha direita em silêncio. Ela segue entusiasmada:

-Podes transar com elas na minha frente, eu acho mesmo que adoraria de ver tu transando com elas, para ver se elas fazem como tudo gosta, e se não fizessem, eu diria: faça isso, e ao final te beijaria na frente dela, porque só eu te amo Fabiano...ninguém te ama assim. Eu vou cuidar de ti, como já cuido mesmo a distancia. Se adoeceres eu vou aparecer na frente de todos para te tratar, cuidar de ti.

Agora comecei a rir com mais vontade. Julia parecia que tinha um discurso também. Disse:
-É? E se eu estiver me cagando, me mijando todo, sem poder me limpar, mergulhado em um mar de merda literal? Hein? Será que esse teu amor é tão forte? Amor que vence merda?
-Fabiano, eu sou mulher de verdade. Sou muito mais mulher que todas as que tiveste tens ou terás. Escreva isso. Cuidaria de ti, mesmo que estivesse em pior estado possível. Alias, eu não deixaria tu chegares a isso, eu estarei lá, deixando tudo em ordem.

As vezes é preciso levar as coisas ao limite, para vermos a face da verdade. Deixei que ela ficasse tranquila, como se estivesse acreditado em cada palavra sua. Uma coisa eu digo, palavras são coisas fáceis. Ela sempre será uma verdade relativa. Representa algo, mas creio que nunca será da intensidade real. Usamos efeitos pirotécnicos, bons enfeites, as coisas ficam algo poéticas. Mas em essência, quando se está mergulhado na bosta, as palavras são totalmente desnecessárias. Quem te abraçará assim...

Julia se distraiu, e eu dei-lhe um tapa forte no rosto, fazendo o cigarro dela voar longe. Fiquei com a mesma cara, tranquilo, meu coração não alterou suas batidas, pois o que me animava não era a violência, ou ser agressivo, ou machucá-la.

Olhos de Julia ficaram arregalados, e me olhava com surpresa. Fiquei em silencio. Então depois de alguns minutos falei:

-Julia, ergue um pouco a tua saia...deixa eu ver tuas pernas...gosto delas ...
Ela não questionou nada. Fez, ela tem pernas lindas, e algumas vezes deito ali, depois de transarmos, é bom dormir no seu colo. Ela não fala uma palavra. Por fim depois de um bom tempo diz:
-Podes me bater de novo, que isso não muda nada. Nada mesmo. Tu estás fudido comigo Fabiano, eu te amo já disse.

Confesso que ela se superou. Me abraçou e deitou minha cabeça nas suas coxas gostosas. Ficou fazendo carinho no meu rosto, relaxei muito e adormeci. Quando acordei ela ainda estava ali, me olhava com ternura demasiada, e beijou com suavidade.

Me senti estranho, como se a verdade tivesse raspado meu coração. Ainda não acredito no amor, mas Julia tem meu respeito.
Não quero pensar que talvez ela apenas esteja psicologicamente afetada. Que tenha herdado minhas doenças mentais. Quero pensar um pouco,que tal emoção que a anima, é grandiosa e brilha no alto de uma montanha, a qual meus olhos ainda não podem divisar.

Ela me olha nos olhos, e entre nossos olhares algo existe, tão fino e incapturável, eu apenas retribuo o sorriso e digo brincando:
-Quer outro tapa?

Luis Fabiano.



sexta-feira, janeiro 28, 2011

Fechando a semana: Bide ou Balde – Mesmo que Mude.


Do acústico Bandas Gaúchas. A irreverência de Carlinhos no vocal, uma musica leve que fala amor e mudanças.
Musica pra descontrair e pegar deve, ainda que o calor esteja infernal, e demônio gargalhe sonhando com um novo inferno.

Luis Fabiano.

quinta-feira, janeiro 27, 2011


Anti-social Sorridente.


Hoje me chamaram de antipático. Embora o conceito seja volátil, não me senti mal. A bem da verdade nunca fiz questão de ser simpático. Tenho pra mim, que um sorriso constante na face não é sintoma de normalidade. Mas idiotice crônica.

Como a linha vida, devemos ter nossos ápices e uma natural queda. Nossa maior briga é supor que a constância nos salvará. Aquilo que se torna constante e previsível, está morto na verdade. Animado apenas por nossa imaginação. Um balanço entre o recordar e o sonhar.
Sorri para quem me disse isso.

E com minha natural frieza, fiquei em silencio desagradável. Gosto de todos os silêncios, mas confesso que o desagradável é mais interessante. É uma espécie de vulcão que não se sabe quando irá explodir. A ejaculação que acontece rápida, acabando com a foda rápida, sonho de beijar anjos do céu, mergulhando loucamente no caldeirão do inferno abandonado.


Por fim, que ela gostaria ouvir de resposta?
Nunca perco tempo explicando, me explicando, tenho consideração por pouquíssima gente para tanto. Porem as vezes é preciso dizer algo. Houve um tempo que quis e tive uma aparência simpática. Uma simpatia estudada, fácil de ser obtida, quando filtram-se interesses outros. Tão educado e feliz, que tinha-se a impressão de um anjo. Para mim todos os anjos são filhos da puta. Se soubesse que sexo são, lhes comeria o rabo.

Sem duvida que ficava bonito, limpo e estético. Isso era demais. E como nada era verdadeiro acabei perdendo interesse por tal ideal. Como um quadro abandonado na parede, deixando marcas de mofo por detrás. Fui deixando o meu mofo sair lentamente. Hoje olho a parede marcada por ex-quadro. Coisas que cansam e se desfazem.

Ela saiu e bateu a porta profissionalmente, acariciada pelo meu mau humor. E ficamos assim. Fico pensando, até que ponto ela deseja que eu seja simpático? Não posso abrir mão de minha arrogância e orgulho naturais, armas que mantem indesejáveis a distancia. Nunca fiz o perfil de bom moço. Quem gosta dos bons moços? Aqui nos matamos bons moços.

O tempo esta encarregando de desenterrar o restante de meus defeitos, e talvez acordar raras virtudes, em algum lugar em mim, ainda não sei onde.

Gostáriamos de ter o controle absoluto sobre isso também. Sobre o que gostamos ou deixamos de gostar. Dos amore e ódios. Mas não é possível. Os seres despertam coisas diferente em nós, e nem sempre agradáveis.

As vezes gostaria de as coisas fosse mais integras em mim. Mas isso também é impossível. Lembro de pessoas que passam pela minha vida, por suas poucas virtudes. E em se tratando de mulheres, mais pelos seus defeitos e alguma virtude física. Essa tinha boas tetas, aquela uma boa bunda, aquela outra seca demais, a outra tinha uma abertura anal digna de uma hemorroida falida. Boas qualidades. Poucas riscaram minha alma. Que me lembre uma ou duas. E nunca me preocupei se seria saudável ou simpático.

Gostavam do que viam, porem não viam além do olhos. Além dos olhos dos ratos cegos pelo queijo. A bem da verdade, quando gostam de mim, isso me surpreende, acho mesmo que me assusta .Por que raramente estão vendo com olhos da verdade. Estão movidas pelos desejos pessoais, as vontades que sussurram mais vontades.

Tornei a abrir a porta batida, tinha um traço de sorriso sarcástico na boca, e disse para que todos ouvissem:
-Hei menina, não brigue com você mesma, as mulheres amam os canalhas, tá tudo bem apenas aceite e seja feliz...
Fez que não ouviu. Fiquei rindo só, imaginando que voltaria e diria mais alguma coisa elogiosa. Não veio, ótimo. A maior briga do ser humano é com ele mesmo. Uma coisa eu posso dizer:por vezes nem um par de tetas boas é capaz de salvar alguém, porque quando não desce na garganta, realmente não existe nada.

Luis Fabiano.

terça-feira, janeiro 25, 2011

O sensacional Tom Waits -Heart attack and wine  

Estilo marcante, triturando as cordas vocais, despejando vontade e ao mesmo tempo sendo suave aos corações fortes.
Curtam com serenidade.





Suicida às vezes

Uma das melhores maneiras de celebrar a vida
É trazendo a morte perto de si
Entender que todos que amas
e virás a amar, os que odeias também
E por ultimo você
Todos partirão hoje ou amanha
Felizes ou desgraçados
Injustamente iguais
Tempo... tempo
Não poucas vezes o morrer me assaltou
Mas sempre achei sereno
E como arte lacerante
Me entregava a morte
Como nos braços de minhas putas amadas
Então olhei uma corda
Enrolada como uma serpente silenciosa
Fiz um nó corrediço e coloquei no meu pescoço
Imaginei a hora derradeira, o ar faltando
Tudo ficando escuro, me cagando e mijando
como os enforcados normais
Não.
De outra vez foi diferente
Tinha em minhas mãos um revolver
Um bom trinta e oito
O tambor cheio e tudo em ordem
Fiquei escolhendo onde atiraria
No peito dilacerando o coração
Seria passional demais, não sou passional
Na cabeça, espalhando miolos como guisado
Seria culpa, não me sinto culpado
Rápido e estaria nos braços do demônio
O estampido não tem harmonia ou graça
Depois, alguém teria que juntar os pequenos pedaços de mim
Não
A lâmina de uma faca sorriu pra mim
Brilho diamantino
Onde faria o corte?
Nos braços?
Na artéria do pescoço, um pequeno corte elegante
E não dá tempo nem de dizer meu nome.
Tudo torna-se um circo de sangue
A adaga tem um cabo forte
Como deve ser a alma do ser humano
Por um breve instante já me sinto reconfortado
A morte me tenta
Sorrio pra ela porque a posso ludibriar
E agora sua puta, quem tem o controle?

Luís Fabiano.



segunda-feira, janeiro 24, 2011


Navalhadas Curtas: Manteguinha


Gosto de shows humanos. Ainda mais quando são prodigalizados naturalmente, como uma pimenta servida quente. Com todos os achaques irretocáveis e imperfeições da alma humana.Creio que isso torna impagável todo o acontecimento.

Hoje quando a verdade bate fundo em minhas entranhas, percebo que nunca gostei das coisas bonitas, nunca o gostei das coisas limpas e sempre senti asco pelas coisas perfeitas.

Nada de máscaras para a realidade, e por momentos tanta verdade cansa. Eu chegava em casa ontem as três e alguma coisa da manha. Estacionei o carro, e fiquei olhando a noite que avançava.

Estrelas são sempre uma boa companhia, creio que as únicas incapazes de não estragarem nada no final. Ficam lá, longe e mudas nos olhando morrer lentamente.

Ficaria nisso, e depois de uma gozada maravilhosa, não havia mais nada o que esperar da vida. Errado. Sempre há o que esperar, esse é o segredo, é preciso estar aberto ao novo. Mas estamos mais preocupados com o limpo, com o perfeito e o bonito.

Pelo lado de fora da grade do estacionamento, um casal vinha cambaleante. Uma poesia bizarra de horrores e miséria divertida.
Ela vinha na frente tropeçando e gritava:

-Tu não vai me comer hoje não...hoje não...tu nem banho tomou...sujeira...piroca suja
Um pouco mais atrás, ele responde com voz de uma língua pesada:
-Sheila...Sheilaaaa...dexa eu passar manteiguinha no tu cuzinho...Sheilaaaaa...
Então não é lindo? Sentei-me pra ver este desfile:
-Manteguinhaaa no meu cuzinho??? Tu não vai me come hoje...hoje não...
-Vou sim...tu vai ver...dexa eu te pegá...vou mete tudo...até as bolassss...
Como ver algo assim e ficar indiferente. Aproveitei:
-O Sheila, dá o cuzinho pro cara...manteguinha é show de bola, depois passa um pão ali fica gostoso, já fiz...
-Sai caraaaaa, a Sheila é minha...a Sheila...Sheilaaaaaaa...
Sheila me olha atravessado depois do comentário, e manda eu me fuder. O bêbado vibra feliz:
-Isso Sheila...dá só pra mim...com manteiguinhaaaaa...como ontem...

Eu ria muito. Fiquei imaginando, aquele dois com a foda e mais manteiguinha, deve ser algo. Por fim os dois se agarram as grades do prédio, ficam ali jogados se xingando. Não caminham mais, haviam bebido tudo que puderam, exalavam cachaça barata. As vozes deles foram se apagando como um brinquedo de corda sem força.

Bom, o show da noite havia acabado as cortinas fecharam. Olhei mais uma vez para eles semi adormecidos. Naquela noite não trepariam, pois suas almas já estavam fodidas.

Dei tchau e me recolhi. No fundo eles eram meus semelhantes, estranhamente me senti orgulhoso disso.


Luis Fabiano.
Pérola do Dia:

" Viver é um risco...Não viver um risco maior."




Manoel Magalhães

domingo, janeiro 23, 2011


Ordinário incrível

A cena longínqua parecia trivial
Como o por sol cansado
de sempre, todo dia esquecido
Porem a magia é esta
O ordinário que desperta nobreza
Emoções que acordam
como fantasmas
E tudo converte-se em fantástico
Vida breve
Fotografia do tempo
Um casal atravessa a rua segurando a mão seu filho pequeno
Normalmente minha insensibilidade engole sem mastigar
Mas nem sempre
Por momentos sinto-me assombrado
Gosto de sentir assim
Isso me faz pensar que estou um pouco vivo
Deixo de lado
Tento não pensar nas mãos pequenas que não ajudarei a crescer
Nem todo o por do sol que perdi
Não me sentirei mais em paz
por tudo que não aconteceu
ou com os farelos que alimentam
tudo esta enfiado nas minhas entranhas
em estreita agonia e esquecimento
lágrimas e risos em uma balança
por breves momentos que seja
alguma beleza é espremida
acho que vale a pena.

Luis Fabiano

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Fechando a Semana:Samba da Benção
Bebel Gilberto

Faz parte da trilha sonora do filme: Comer, Rezar e Amar.
A belíssima voz de Bebel Gilberto, encanta e traz uma letra linda, inspiradora na proposta de ser uma benção. Curtam com leveza e bebam com suavidade.
Bom final de semana a todos.

Luis Fabiano.




Macumba, despedida e rum


Existem acontecimentos que somam com tantas outras sucessões de fatos, como um trem prestes a descarrilar. Ficaria preocupado em outros momentos. Mas não hoje. Não após a dose de rum que hora me anima. Transformando agruras em doces melodias, os traços erráticos de minha existência, ganham arte na bizarrice de um mundo a delirar.

Sorrio como sorriem os palhaços, e me torno minha piada e minha lágrima amarga. Meu berço em chamas, ardendo dentro de minha consciência, e também, meu padre exorcista, expulsando demônios. E posteriormente chamando-os novamente.

Tenho uma relação de amor e ódio comigo mesmo. Mas não entenda-se literalmente isso. Tais pesos são em verdade um único que dividimos, porque somos parciais em tudo, portanto nem uma coisa e nem outra. As tempestades que matam e barbarizam os perplexados seres humanos, podem ser uma manifestação amorosa. Mas quem em agonia, dor e lágrimas intermináveis entenderá assim? Entender nunca foi fácil. Raramente estamos dispostos a abrir mão de nossos inexoráveis valores e defeitos.

Nossa compreensão de tudo é rasteira, e onde ás coisas ficam um pouco mais nebulosas, tudo converte-se em desavença e engano. A prova que carregamos um anjo e um demônio muito próximos um do outro.

A noite caiu, e eu precisava de uma fresca. Servi mais um trago de rum. E pela janela o quarto a vida desfilava com pressa, atormentada e inquieta. Carros velozes, eu parado desafiando o tempo com o olhar. Então o maldito celular toca. Sinceramente eu não gosto quando ele toca, seja quem for.

Pode ser um de meus tantos traumas, ou outra maluquice. Mas aquele som é como um despertador matinal. Felizmente no meu caso, meu celular é ocupado noventa e oito por cento de mulheres. Olhei, e era a Cris.

A historia dela é comum e estranha ao mesmo tempo. Mãe de cinco filhos aos trinta e três anos. Uma batalhadora, domestica cuja a grandeza e sonhos se culminavam em tornar-se mãe de santo. Os pais de seus filhos, se dividem em três homens diferentes. Todos muito “presentes”, um viciado em crack, e os que desapareceram no mundo, foram apenas a porra gozada.

Ela ficou muito fodida, criando ás crianças sozinha. Neste aspecto uma guerreira, que manteve o alto astral, um sorriso incansável, mesmo quando a fome se aproximava. Ela se virava, algumas vezes aconselhei-a trepar por dinheiro se fosse o caso. Mas nunca fez.

O corpo disforme dava a impressão de ser um hipopótamo. A conheci em na casa de uma cliente que fui atender. Ela ficou me esperando na porta, enquanto eu revirava o computador. Olhando as boas tetas que tinha. E por essas associações naturais do instinto, nos sentimos atraídos. Era tesão pura. Naquele dia mesmo dei uma carona pra ela, a beijei e acaricei os peitos flácidos revelados, com bicos escuros e grandes.

Depois disso, foi um passo. A primeira vez que transamos, tive a impressão que havia perdido o pau. Ela sendo toda grande, as fendas eram tuneis infinitos, e eu era um verdadeiro dedo de anão.

Então viramos instintos ferozes, tapas mútuos na cara, na bunda imensa, desci minha mão com vontade deixando hematomas. Lindos desenhos de amor. Ela gritava como se a tivessem matando, isso me deixava mais louco de tesão.

-Fale Cris, tudo bem ?
-Oi meu amor...estou com saudades de ti...sabes né...saudade gostoso...
-Sei sim, amor e porrada que você gosta...
-É, tu também adora safado filho da puta...
-Tá certo, então que vai ser ?
-Me pega aqui no Navegante dois, tipo a meia noite...
-Que porra é essa? Tarde né...
-É o horário que posso, mi lover, tenho que despachar umas encomendas, entregar para os Exus...sabes como é...sou responsável agora...
-Sei...tudo bem, faça o tiver que fazer, e venha bem puta pra mim...
-Sempre quero te dar...

Desligamos o telefone e voltei ao rum. A meia noite eu a peguei na esquina de sempre. Estava falando com sua Mãe de Santo. Uma senhora com certa idade e um olhar inquiridor, que não gostava de mim.

Fiquei tranquilo, nunca tive medo destas coisas. Algumas de minhas ex-mulheres fizeram dezenas de macumbas pra mim. Eu sempre soube. Umas pra broxar, outras pra nunca encontrar ninguém que ame, outras pra ficar doente e morrer, outras pra não ser feliz jamais. É tanta macumba, que imagino que exista uma fila de feitiços a serem realizados ainda. Não posso fazer nada. Não quero misturar as historias mas, lembro que comi uma mãe de santo, que disse que havia desmanchado sete trabalhos feitos. Paguei o serviço com algumas trepadas, acho que ficamos zero a zero.

Cris entra no carro, e fomos para Avenida Bento beber. Ela tenta se fazer de difícil, mas é um jogo simples. Fico esfregando meu corpo nela, e ela vai ficando orvalhada como as flores da madrugada. A vagabunda da madrugada.

Fica falando se sua religião. Que agora está pronta, que esta fazendo e desfazendo trabalhos, e claro esta levantando uma boa grana com isso, os espíritos pedem...

-Não quero mais saber de lavar banheiro cagado Fabiano...não mesmo, vou amarrar um macho pra me sustentar...quero vida boa, como toda mulher quer...
-Olha Cris, espero que tenhas uma boa sorte, eu não sirvo pra sustentar ninguém...
-Não entendesse, um vai me sustentar e tu vai fazer amor comigo...bem gostoso...

Sorri cínico, como um copo de cristal cheio de ácido. No fundo sabia que era verdade, mudei o tema :


-Cris, você emagreceu? Ou é impressão minha?
-Tu achou ? é acho que sim...

No fundo eu sabia que não era verdade. Ela estava muito gorda. Mas ela ficava feliz de pensar que era verdade. Dar uns goles de felicidade aos outros é fácil. No fundo é isso que a vida faz conosco, nos dá por um lado e nos tira de outro. Uma troca em busca de algum equilíbrio.

Enfiei a mão pode debaixo se sua saia, estava peluda e com a xoxota muito cheirosa, com uma calcinha fio dental que estava engolida entre suas carnes. Cheirei o dedo, estava fantástico, cheiro bem natural, mijo, suor e secreção vaginal, perfeito. Fomos parar no motel. Trepamos com violência dos condenados. Nos espancando muito e ficamos cansados. Então ela se aninhou em mim, deitou no meu braço e olhava o teto como se sonhasse com algo. E dispara:

-Não posso te ver mais Fabiano...não vou te ligar mais...nunca mais pode escrever...
-Mesmo? Porque?
-Teu coração é de pedra...tu não te apaixona...tu não ama...tu não vais me dar um filho...tu é um veneno que faz chorar...
-Que bonito isso. Gostei.
-Não é bonito, é triste gostar de alguém que jamais será da gente...é teu caso, tu não pertence a ninguém...eu olhei nos búzios hoje... teu coração é fechado pela tua força, e pelo mal que te fizeram...
-Pare com este papo furado de mãe de santo da porra...

A voz dela parecia cansada e me pediu para ir embora. Tomamos uma ultima cerveja na Avenida, e a deixei em casa:

-Tu não vai sentir minha falta? – disse Cris.
-Não tenho este costume. As pessoas existem pra mim, quando meus olhos a vêem. Sem olhar elas estão sempre a espera de nascer novamente, mas sempre nascem dentro de mim.

Entrou em sua casa sem adeus. Vasculhei meu interior numa tentativa de raspar algum sentimento, como rebocos de uma parede velha. Mas não. Me sentia em paz e vazio. Não havia tristeza ou mesmo esfuziante alegria.

Creio que é isso que se quer. Nem goles excessivos de uma felicidade volátil, ou tristezas infindáveis levando á correntes de amargura. Nada disso. Mas um silencio e um vazio, preenchido por uma plenitude. Ás vezes é preciso abrir espaço em nós.

Luis Fabiano.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Escolha da ausência


Sempre tive uma dificuldade imensa para escolher tudo em minha vida. Qualquer coisa, de mulheres a roupas, tornavam-se um enigma. Quando era mais jovem isso me causava um conflito imenso. Por vezes uma situação banal, e eu não sabia o que fazer, o que queria, o que escolher...

Naturalmente isso não perdurou durante muito tempo. Com as leituras e algumas experiências frustrantes, fui aprendendo a matar as expectativas em relação a tudo. E quanto ás escolhas, aprendi a não escolher, e sim ser escolhido. Até hoje vale pra tudo. Pensando mais friamente, não há nada fora de nós que possa nos dar uma satisfação plena.

Uns falam que não tenho iniciativa. Talvez, mas não pretendo tê-la mesmo. Não tenho uma idéia pronta em relação a nada. Mesmo este texto, não sei como terminará, ele que escolha seu término. Nem sentimentos, nem a vida, nem ao por vir. Fico tranquilo, e me deixo ser escolhido.

Isso tudo seria muito fácil se dependesse somente de mim. Mas o mundo não sabe viver assim. O mar de expectativas deve ser atingido, ou morre- na areia. Frustrei dezenas de pessoas depois que passei a viver assim. Uma vida pautada em minha fé inabalável nas incertezas que balouçam dentro de mim, a procura do encontrar-se.

Todos sempre quiseram ser alguma coisa, eu nunca soube o que queria ser. Fui me tornando um estrangeiro em todos os lugares, mesmo criança já apresenta uma anormalidade.

Vivo a distancia, para que meus espinhos não machuquem ninguém. E mesmo aqueles que me tocam, ainda não me toquem, porque não podem segurar meu coração entre suas mãos.

Lembro que uma vez, quando criança, tive este dialogo com meu pai. Ele achava importante que se soubesse o que se queria ser na vida. Todos os dias eu lhe dava uma resposta diferente. Hoje era policial, amanha pintor, no outro dia sapateiro... O devaneio passou a realidade. A resposta não veio e creio que nunca virá. Talvez ele gostasse que eu dissesse com todas as letras, que queria estudar, para ser algo na vida. Nunca gostei de estudar. Achava os professores tediosos. Robóticos, ensinando regras e tudo deveria andar com aquelas regras. Era certo que não iria funcionar. A única professora que me recordo até hoje, foi uma que tive na quarta série. Ela era muito nova, estava fazendo um estágio. Usava uma camisa xadrez com botões na frente. E não sei porque cargas d’água ela deixava os botões abertos, e se podia ver os peitos grandes ali, balançando hipnoticamente.

Lembro que eu a abraçava, e acabei me apaixonando por ela. Não faço a mínima ideia do que ela ensinava, mas quando me amassava naquelas tetas, era maravilhoso. Não é poético, mas o que fica em nós, é aquilo que mais nos marca.

Não lembro das outras professoras, nem mesmo quem me alfabetizou. Como tudo em nossa vida, nada é eterno. Coisas, pessoas e momentos veem, fazem sua trajetória em nós, e depois vão buscar outros portos.

Não podemos aprisionar nada, como nós mesmos não gostamos de prisões. A essência mais profunda daquilo que permanece, é o que fez acontecer em nós. O gérmen da mutação. E se não aprendemos nada, é como se não tivesse existido. Aí todo o amor é vão, toda a inteligência uma falácia e toda a experiência um engodo.

Então vieram os sinais. As coisas que te escolhem, falam contigo. E mesmo que a cor não seja exatamente o que você gosta, acaba ficando bom. Não somos feitos para andar em trilhos. Mas para viver intensamente a aventura fodida de poucas alegrias e muitas tristezas.

E em meio a isso, ficar em paz. Resgatar a paz disso nunca foi fácil. Filtrar da merda, filigranas de amor e serenidade, é um profundo desafio. É preciso estar aberto. Um coração e uma mente aberta.


Viver é nadar, eventualmente é preciso descer as profundidades, e ver o que não é visto, reencontrar o que ficou pra trás. As vezes dá certo.

Luis Fabiano.

quarta-feira, janeiro 19, 2011


Navalhadas curtas: De joelhos

Eu vinha caminhando, quando vi aquele cara de joelhos no não, olhos marejados e gaguejando. Foi na Barroso, nas imediações da padaria. Tudo que ouvi foi:

-Não Clara, eu não vou fazer mais, nunca mais prometo...Clara eu te amo, Clara por favor...Clara...

Clara estava em pé, braços cruzados e impassível, montada na razão. Gostei da postura e da bunda dela também.
Eu não era a Clara, mas pensei por um momento. Quando alguém se humilha assim, de joelhos representando o drama da vida, é porque tem consciência pesada. E certamente não merece respeito.

O cara me olhou nos olhos quando passei devagar, eu achei graça. Aquilo havia se tornando um show, as pessoas olhavam, apontavam.

Seja como for, eu espero que Clara o tenha mandado se fuder. Arrependimento não é pose, é postura.Toda a dramatização humana é por falta de essência. Não existe um cú no mundo que me faça ajoelhar.

Luís Fabiano.


Excessos

Estava ficando tarde
Areia das horas que sepultam
O dono do bar,queria trancar as portas
Mastigava um codea de raiva, cansaço e inveja
Para os bêbados o tempo não existe
Fui convencido a ir embora
Arrastando o corpo pra fora
Sozinho e com o pau mole
Mas antes o último ato
Dei a mais longa mijada da historia
 na parede de fora
Teria me masturbado se tivesse condições
Entrei no carro
As ruas pareciam embaçadas
 Londres em seus piores momentos
Congelada em esquecimento
Assim como o abandono que me cerca
Fui acelerando lentamente
até as luzes se tornarem um borrão denso
Não estava em outra galáxia ou estava
Preocupados ?
Relaxem...
Não matei ninguém ou mesmo morri
Nem tudo na vida
 tem de terminar em desastre fatais 
A maior parte de tais coisas
não termina assim
Corri para entrar na vida
ou sair dela
Fui ao encontro da luz
a saída do útero
boca da vagina sorrindo vertical
que tanto gosto
Cheguei em segurança de uma noite
 e mil e uma
Tantas bebidas
Tantas horas
um cansaço perene
Não perco a consciência
E infelizmente, sei que estarei normal amanha
Pode existir algo mais deplorável, que o normal?
As contas estarão nos mesmos lugares
As vagabundas que amo também
O pó sobre os livros que ainda não li
E o mar esperará um novo mergulho
O velocímetro estará no zero
A vida é assim
Sempre pronta a receber-te, será que você a quer?

Luís Fabiano

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Poesia Fotográfica

O que esse olhar sugere ?


Arrancando casca de ferida



A vida ou nós mesmos, nos encarregamos de deixar tudo tão normal. Como uma espécie de sono. Agonias, dores , tragédias e mesmo a felicidade, tudo converte-se em breve espaço de tempo em nada.

Fico pensando, para onde irão estes nadas de nossa vida. A zona do esquecimento que todos queremos fugir em desespero. Morte á longo prazo.

Vamos sepultando a tudo e a todos. Não queremos pensar assim, mas no fundo sabemos que não tem como ser diferente. A natureza fala mais forte em nós, e mesmo com toda a polidura de nossos instintos, é a eles que seguimos a contra gosto.

Durante muito tempo pensei que se devia lutar contra isso. Abrir minha mente para ideias de nobreza, as virtudes angélicas, os devaneios de um céu repleto de anjos, o qual eu gostaria de fazer parte. O tempo se encarregou de deixar cair o véu de minhas aspirações.

Elas se converteram em sonhos tolos. Como crianças pobres sonhando com um brinquedo caro. Não pensam que jamais terão. Sonho. Porem o tempo vai mostrando lentamente. E se vai entendendo que apenas sonhar não basta. Talvez melhor seja esquecer os brinquedos. E esquecemos.

Quando criança eu queria tal brinquedo, meus pais nunca me iludiram, não tínhamos dinheiro, e eu jamais ganhei, como qualquer criança acreditava que um dia iria ganhar.

Não deixei de crer em virtudes. Apenas não quero que ela seja filha do escambo. Quero que ela venha surgindo, como as lágrimas de meus olhos, como a chuva fina, como o meu coração apertado pelas dores que causo e que sofro. Como um parto interno, me rasgando por dentro e como um natural reconhecimento de sua beleza e nobreza.

Em primeiro momento, se eu sentir isso por apenas uma pessoa, já me sinto bem. O esforço é meritório, tão meritório como a indiferença. O que o torna digno, é sua essência que raspa a nossa alma. Se não houver alma, não há nada.

Vi muitos falsos nobres. Quebrando-se em pesadelos daquilo que não eram. Não lamentei ou mesmo me rejubilei. Pois não há nada surpreendente. Ao maquiar nossas sombras, elas continuam sombras com outra aparência.

Olho o ser humano não mais com suas almas angelicais. Faço a questão de revira-lo o contrário. Sem pele, apenas músculos, veias, artérias, sangue, coração e merda. Nossa essência. Se você achar Deus em meio a isso, a alma em meio a isso, já não é preciso dizer nada. Toda e qualquer intenção será real.

Hoje vivo assim, não desejo adormecer e nem converter nada em algo tão normal. É um esforço para manter o filho da puta em mim bem alerta. Porque se adormecemos, perdemos a seiva da vida. Vamos encaixotando emoções e visão de vida e viver torna-se turva. Não.

Acorde dia após dia o seu filho da puta interno. Minha auto-ajuda as avessas. Não seja melhor amanha, seja mais real amanha, seja o que for. Se você um idiota, seja um bom idiota autêntico e estarás a um passo da virtude. Se você é um santo, não torre a paciência alheia.

Lembro que na manhã, que meus véus ilusórios caíram, senti-me vazio. Como se minha cabeça tivesse adormecido na terra seca. Sem cama ou travesseiro.

E talvez como um “satori”(insight), minha miséria me fez muito bem. Senti uma paz desconhecida, uma paz que vinha de minha essência mais profunda. Esqueci idéias adquiridas, compradas de todas merdas que havia lido. Nada era meu. Agora o que era meu, era o nada, e foi sensacional, como um copo d’água quando se esta seco.

Naturalmente ninguém gostou do que viu. Quem gosta de se ver por dentro como é? Não é bom. Seja saudável Fabiano, seja mais educado, seja mais falso, seja certinho... Sorri o sorriso dos tolos. Mas já era tarde. Eu já era outro, nem melhor ou pior. Apenas eu, despido como estou agora. Sou capaz da atrocidade e do gesto belo.

Fui entendendo melhor as dores e sobretudo, entendi que viver feliz, é de certa forma uma ingenuidade. Vá matando essa ingenuidade lentamente. Despertando da morte imposta á vida, a visão não será bela é verdade, mas posso garantir que algo acontece em nós, algo intransferível , suave como respirar por dentro uma nova vida, um beijo tranquilizante, e uma tempestade após.

Não garantias, nem receita.

Luis Fabiano.

domingo, janeiro 16, 2011

Dica de Filme: Gritos e Sussurros - Ingmar Bergman - 1972

Filme claustrofóbico, três irmãs unidas involuntariamente por uma doença fatal de uma delas. Aos poucos a doença vai revelando ser apenas um pequeno detalhe, em meio ás outras dores silenciadas.
As mulheres vão expondo lentamente, feridas de uma vida. A elegância converte-se em mesquinharia, a educação limpa em instintos represados. O filme é fantástico, lento e nada aparece de pronto e óbvio, é como uma penetração em nossa alma. Um filme pra refletir, se você tem pressa, não o veja.

Luís Fabiano.

sábado, janeiro 15, 2011



Um a mais e menos um.


Mais um ano, mais um tempo, um passo a mais próximo da morte. É reconfortante pensar assim. Com trinta e nove anos, ou trezentos e noventa não faria nenhuma diferença em minha essência.

Sinto-me agradecido por estar vivo até aqui, satisfeito com tantos nadas, e morreria hoje mesmo de bom grado, em paz, nada ficaria para trás.

Busca-se o tempo todo alguma satisfação, algo como um norte, que torne a existência com algum sentindo mais profundo.Se faz isso entregando-se a alma, alimentando-a com uma chama serena de intenções, boas ou más. Porem não basta tão somente isso.

É preciso desapego. Entregar as emoções, com as asas abertas, ganhando espaços e sem garantia de retorno. Mas sempre queremos o retorno. Somos cativos de nossas tolas emoções, querendo que nossas sementes cresçam, fechadas em nossas mãos.

Talvez a beleza de tal ato, seja justamente não haver garantias. A satisfação deve estar presente no momento que se entrega, a entrega deve ser a satisfação, a paz mora ali, a alma esta ali.

É cantar em salão vazio, a plena voz, e ainda sim sentir ternura tal, estar feliz da voz que escapa de nós, buscando espaços, pássaros de nosso coração, almejando o céu.

Mas quem entenderá assim?
Quem estaria pronto a amar assim?

Abrir mão dos grilhões que estamos acostumados, grilhões que prendemos uns aos outros, onde todo o sentimento nobre mescla-se ao egoísmo, coisa que conhecemos bem. Nossa felicidade e mácula.

Não me sinto nem mais feliz ou mais triste que ontem. Tudo permaneceu igual porque não é isso que conta. O que me importa é justamente onde estou e quanto de mim está ali. Não trocaria minhas frustrações por um pedaço de felicidade vazia, comprada barato ou vendida de mim para agradar ao mundo. Já sei desta impossibilidade. Pudera saber de todas as impossibilidades.

Não sou de comemorar aniversários, nem sou de muitos amigos. Mas ontem de uma forma natural, com o Magalhães e a Carmem, e muitos personagens, algumas cervejas, boas risadas, uma comemoração das melhores que tive em minha vida.

Com direito a presente e tudo, e mais um santo marginal entra em minha vida (Roberto Arlt ) seja bem vindo.

Como eu sempre digo, o melhor da vida é o inesperado e sou grato a isso. Não preciso mais nada.

Luís Fabiano.

Navalhadas Curtas: Cachorro Louco

Perto de minha casa tinha um cachorro. Até ontem ele era bonzinho. Ás vezes até falava com ele, era um cão de rua uma mistura de rusk siberiando com vira lata.

Mas nenhuma relação é definitiva. Hoje o cão amanheceu pirado. A boca espumante, olhos arregalados, atacando a tudo e a todos. Falei com ele, e ele babou e avançou, me desconheceu. A amizade se foi. Sei como é, eventualmente enlouqueço, mas não tanto.

Nestas condições, os taxistas não hesitaram, deram umas porradas no bicho até ele não espumar mais.
Entendi os caras, tinha crianças ali e antes que desse merda pior. Morte terrível cheia de agonia, chega uma hora que não se tem escolha e tudo torna-se fatal.

Lamentei o cão louco, que iria encontrar o demônio na minha frente .
Boa viajem.

Luís Fabiano.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Trem das inquietações


Por vezes é preciso agitar um pouco as coisas. A muito venho achando as pessoas de minha convivência, excessivamente monótonas. E quando acho que tá demais, abro um pouco a minha jaula. A quem goste, mas a maioria detesta. Principalmente, dependendo do momento, e que animal estará á solta.

As pessoas procuram o tédio em tudo que fazem. Fazem isso automaticamente, subconscientemente arquitetada. Existe um esforço, para que entremos nos trilhos existenciais. Trem feito de esperanças, e de uma eterna busca por certezas vaporosas.

“Então , os” certinhos”, ficam todos felizes. Eu não. Em todos os momentos que tive oportunidade de estar “certinho”, tive uma breve euforia, e depois o tédio fatal.

A culpa não é das pessoas, é minha. E não me enquadro em sonho algum. Com algumas poucas lagrimas e sorrisos cinzas , tive o prazer de ver tudo desmoronar em minha vida. Lentamente sem que nada eu fizesse. Reagi tranquilamente, aceitando uma sentença de morte. Morremos varias vezes na vida.

Por muitos momentos tive atitudes inesperadas, como um peixe que salta fora do aquário e tenta respirar oxigênio. Como ele, me dei mal, mas certamente, para este peixe quanto para mim, á vida dos aquários e oceanos nunca mais foi a mesma.

O contraponto de dores versos prazer. Também isso esta estreito em nós. Amamos nossas dores porque elas acionam o contraveneno, temos um apego insofismável pelo que dói em nós. A porrada que você dá na bunda de sua amante, que berra de dor, é o excitante que a fará gozar como uma cadela no cio. Estreito prazer e dor. Nossa doença vertida para outros lados, longe e perto de nós.

Nossa agonia a procura de paz, nossa memória como cicatrizes e chicotes a nos bater dia após dia, lembrando as merdas existenciais. Eu acho belo e inescapável, como um verso inconcluso. Fica o silêncio, este silêncio que carregamos nas lembranças mudas, giletes engolidas. Então repetimos e repetimos, a busca de tornar tudo tão excessivamente normal. Normal porra nenhuma. Nada deve ser normal, tudo deve estar muito vivo, como um feto no ventre.

Disse que as pessoas parecem meio mortas e tediosas. Estava sentado a mesa, com três casais conhecidos, em um bar de arrabalde. Eu e meu amigo copo de Rum. Uma conversa que não levava a lugar algum. Eu apenas ouvia. Normalmente quando você não gosta, inventa-se uma desculpa esfarrapada, repleta de ternura, educação e sorriso falso, e se vai embora ao vento com lençóis brancos balançando.

Não fiz isso. E não fui embora também. Torturei-me até provocar em mim um sentimento pleno de foda-se. Tal sentimento, nasceu como nascem os filhos bastardos de pais anônimos, filhos jogados nos lixo.

O assunto era dos fúteis, e quase mortos. Casais falando de outros casais conhecidos, o que disseram, o que faziam e como se vestiam. O que eu estava fazendo ali? Era um primata em uma cristaleira. Abri a jaula, depois de mais um gole:

- Pessoal, quem sabe vamos falar sobre a vida sexual de cada um de nós... Nelson Rodrigues já dizia, “se soubéssemos o que cada um faz entre quatro paredes jamais tornaríamos a nos cumprimentar...”(dei uma larga risada...) putaria amigos, falemos de putaria...

Fui acompanhado na risada, e acharam que eu estava brincando. Não brinco. Minha vontade era tirar o pau pra fora naquele instante, e sugerir uma suruba .

As mulheres riram sem graça, e uma corou na hora. A mais safada é certo. Os colegas desconversaram, tinham a fome dos trilhos limpos e certos, que vão dar em uma estação segura, eu segui:

-Se não querem falar, falo eu. Todas as manhas, acordo com o pau duro como uma estaca, e fico masturbando-o lentamente até minha alma volte ao corpo e vou acordando...

Os caras me olharam feio, mostrando rapidamente a face da brutalidade, em um tom de ameaça.

-Tá Fabiano, para com o assunto... que isso cara...maluquice
-Não é pecado falar a verdade Jurandir... eu prefiro o meu membro, que esta conversa de vocês, de cú pra piça que não dá em lugar algum...
-Deu cara, chega, vais ficar falando estas merdas na frente das mulheres...que isso..não tô te conhecendo...

Uma delas estava rindo, talvez sentisse sede de vida, as pessoas sufocam o quem tem, o que sentem pra ficar tudo bem. E nunca fica tudo bem:

-Eu mesmo não me conheço, tá tudo certo.

É claro que ninguém gosta de ninguém se masturbando sobre uma mesa de bar. Previsivelmente, eles foram inventando desculpas toscas, e indo embora, limpos e sem graça. A solidão veio lentamente, me abraçou e sorrimos um para outro. Tem momentos que a melhor companhia para você, é você mesmo, fique a vontade.

Lá fora uma chuva fina caia lentamente, quebrando o calor do dia. Como eu disse, tudo está tão estreito e nem percebemos.

Luis Fabiano.