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sexta-feira, janeiro 21, 2011



Macumba, despedida e rum


Existem acontecimentos que somam com tantas outras sucessões de fatos, como um trem prestes a descarrilar. Ficaria preocupado em outros momentos. Mas não hoje. Não após a dose de rum que hora me anima. Transformando agruras em doces melodias, os traços erráticos de minha existência, ganham arte na bizarrice de um mundo a delirar.

Sorrio como sorriem os palhaços, e me torno minha piada e minha lágrima amarga. Meu berço em chamas, ardendo dentro de minha consciência, e também, meu padre exorcista, expulsando demônios. E posteriormente chamando-os novamente.

Tenho uma relação de amor e ódio comigo mesmo. Mas não entenda-se literalmente isso. Tais pesos são em verdade um único que dividimos, porque somos parciais em tudo, portanto nem uma coisa e nem outra. As tempestades que matam e barbarizam os perplexados seres humanos, podem ser uma manifestação amorosa. Mas quem em agonia, dor e lágrimas intermináveis entenderá assim? Entender nunca foi fácil. Raramente estamos dispostos a abrir mão de nossos inexoráveis valores e defeitos.

Nossa compreensão de tudo é rasteira, e onde ás coisas ficam um pouco mais nebulosas, tudo converte-se em desavença e engano. A prova que carregamos um anjo e um demônio muito próximos um do outro.

A noite caiu, e eu precisava de uma fresca. Servi mais um trago de rum. E pela janela o quarto a vida desfilava com pressa, atormentada e inquieta. Carros velozes, eu parado desafiando o tempo com o olhar. Então o maldito celular toca. Sinceramente eu não gosto quando ele toca, seja quem for.

Pode ser um de meus tantos traumas, ou outra maluquice. Mas aquele som é como um despertador matinal. Felizmente no meu caso, meu celular é ocupado noventa e oito por cento de mulheres. Olhei, e era a Cris.

A historia dela é comum e estranha ao mesmo tempo. Mãe de cinco filhos aos trinta e três anos. Uma batalhadora, domestica cuja a grandeza e sonhos se culminavam em tornar-se mãe de santo. Os pais de seus filhos, se dividem em três homens diferentes. Todos muito “presentes”, um viciado em crack, e os que desapareceram no mundo, foram apenas a porra gozada.

Ela ficou muito fodida, criando ás crianças sozinha. Neste aspecto uma guerreira, que manteve o alto astral, um sorriso incansável, mesmo quando a fome se aproximava. Ela se virava, algumas vezes aconselhei-a trepar por dinheiro se fosse o caso. Mas nunca fez.

O corpo disforme dava a impressão de ser um hipopótamo. A conheci em na casa de uma cliente que fui atender. Ela ficou me esperando na porta, enquanto eu revirava o computador. Olhando as boas tetas que tinha. E por essas associações naturais do instinto, nos sentimos atraídos. Era tesão pura. Naquele dia mesmo dei uma carona pra ela, a beijei e acaricei os peitos flácidos revelados, com bicos escuros e grandes.

Depois disso, foi um passo. A primeira vez que transamos, tive a impressão que havia perdido o pau. Ela sendo toda grande, as fendas eram tuneis infinitos, e eu era um verdadeiro dedo de anão.

Então viramos instintos ferozes, tapas mútuos na cara, na bunda imensa, desci minha mão com vontade deixando hematomas. Lindos desenhos de amor. Ela gritava como se a tivessem matando, isso me deixava mais louco de tesão.

-Fale Cris, tudo bem ?
-Oi meu amor...estou com saudades de ti...sabes né...saudade gostoso...
-Sei sim, amor e porrada que você gosta...
-É, tu também adora safado filho da puta...
-Tá certo, então que vai ser ?
-Me pega aqui no Navegante dois, tipo a meia noite...
-Que porra é essa? Tarde né...
-É o horário que posso, mi lover, tenho que despachar umas encomendas, entregar para os Exus...sabes como é...sou responsável agora...
-Sei...tudo bem, faça o tiver que fazer, e venha bem puta pra mim...
-Sempre quero te dar...

Desligamos o telefone e voltei ao rum. A meia noite eu a peguei na esquina de sempre. Estava falando com sua Mãe de Santo. Uma senhora com certa idade e um olhar inquiridor, que não gostava de mim.

Fiquei tranquilo, nunca tive medo destas coisas. Algumas de minhas ex-mulheres fizeram dezenas de macumbas pra mim. Eu sempre soube. Umas pra broxar, outras pra nunca encontrar ninguém que ame, outras pra ficar doente e morrer, outras pra não ser feliz jamais. É tanta macumba, que imagino que exista uma fila de feitiços a serem realizados ainda. Não posso fazer nada. Não quero misturar as historias mas, lembro que comi uma mãe de santo, que disse que havia desmanchado sete trabalhos feitos. Paguei o serviço com algumas trepadas, acho que ficamos zero a zero.

Cris entra no carro, e fomos para Avenida Bento beber. Ela tenta se fazer de difícil, mas é um jogo simples. Fico esfregando meu corpo nela, e ela vai ficando orvalhada como as flores da madrugada. A vagabunda da madrugada.

Fica falando se sua religião. Que agora está pronta, que esta fazendo e desfazendo trabalhos, e claro esta levantando uma boa grana com isso, os espíritos pedem...

-Não quero mais saber de lavar banheiro cagado Fabiano...não mesmo, vou amarrar um macho pra me sustentar...quero vida boa, como toda mulher quer...
-Olha Cris, espero que tenhas uma boa sorte, eu não sirvo pra sustentar ninguém...
-Não entendesse, um vai me sustentar e tu vai fazer amor comigo...bem gostoso...

Sorri cínico, como um copo de cristal cheio de ácido. No fundo sabia que era verdade, mudei o tema :


-Cris, você emagreceu? Ou é impressão minha?
-Tu achou ? é acho que sim...

No fundo eu sabia que não era verdade. Ela estava muito gorda. Mas ela ficava feliz de pensar que era verdade. Dar uns goles de felicidade aos outros é fácil. No fundo é isso que a vida faz conosco, nos dá por um lado e nos tira de outro. Uma troca em busca de algum equilíbrio.

Enfiei a mão pode debaixo se sua saia, estava peluda e com a xoxota muito cheirosa, com uma calcinha fio dental que estava engolida entre suas carnes. Cheirei o dedo, estava fantástico, cheiro bem natural, mijo, suor e secreção vaginal, perfeito. Fomos parar no motel. Trepamos com violência dos condenados. Nos espancando muito e ficamos cansados. Então ela se aninhou em mim, deitou no meu braço e olhava o teto como se sonhasse com algo. E dispara:

-Não posso te ver mais Fabiano...não vou te ligar mais...nunca mais pode escrever...
-Mesmo? Porque?
-Teu coração é de pedra...tu não te apaixona...tu não ama...tu não vais me dar um filho...tu é um veneno que faz chorar...
-Que bonito isso. Gostei.
-Não é bonito, é triste gostar de alguém que jamais será da gente...é teu caso, tu não pertence a ninguém...eu olhei nos búzios hoje... teu coração é fechado pela tua força, e pelo mal que te fizeram...
-Pare com este papo furado de mãe de santo da porra...

A voz dela parecia cansada e me pediu para ir embora. Tomamos uma ultima cerveja na Avenida, e a deixei em casa:

-Tu não vai sentir minha falta? – disse Cris.
-Não tenho este costume. As pessoas existem pra mim, quando meus olhos a vêem. Sem olhar elas estão sempre a espera de nascer novamente, mas sempre nascem dentro de mim.

Entrou em sua casa sem adeus. Vasculhei meu interior numa tentativa de raspar algum sentimento, como rebocos de uma parede velha. Mas não. Me sentia em paz e vazio. Não havia tristeza ou mesmo esfuziante alegria.

Creio que é isso que se quer. Nem goles excessivos de uma felicidade volátil, ou tristezas infindáveis levando á correntes de amargura. Nada disso. Mas um silencio e um vazio, preenchido por uma plenitude. Ás vezes é preciso abrir espaço em nós.

Luis Fabiano.

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