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sábado, abril 30, 2011

Momento boa Música:

Mister Catra, agora esta lançando uma seita... curtam.




Rum, brigas e cavalinhos...


Quando se tem sete mulheres ao mesmo tempo, invariavelmente algumas tem filhos, outras são mais novas, outras meio coroas, algumas com sonhos abundantes ganhando espaços infindos, e ainda tem as que estão frustradas com a vida.

No meu entender, isso termina ao menos na minha cabeça, transformando-se em uma imensa família informal. Segundo esta linha de pensamento sou um cara que ama muito, meu coração é amplo, tenho a certeza absoluta que ele e meu pau, aceitam mais algumas damas, pois eu amo todas vocês.

Mesmo aparentemente sendo algo insano, como me disseram ontem de forma critica e maldosa, estranhamente foi um cara que nem me conhece direito, me criticou, disse coisas como: tu não passas de um cara egoísta, vaidoso, se aproveitando destas mulheres, fazendo-as acreditar em falsas esperanças... disse outras merdas que não quero reproduzir. Eu já estava um pouco alto, o rum havia entrado como tem que ser, aquecendo a mente, inspirando e me deixando de bom humor cínico, respondi:

-Que isso cara? Fica calmo, fica tranquilo na tua vibe, elas sabem com quem estão metidas, ao contrário da grande maioria das minhas ex-esposas... o jogo agora aberto camarada, limpeza!
-Isso é o que tu diz meu...

Comecei a fazer contas estupidas na minha cabeça, que tanto esse cara ficou assim chocado com minha situação? Que porra é essa? Porra é claro... o cara é viado!

-O cara –disse eu rindo –tu por acaso é viado?

A temperatura subiu rápido, o cara veio pra cima, me deu uns empurrões, mas sinceramente eu estava com bom estado de espirito, e não estava a fim de estragar a festa de ninguém, promover escândalos, e essas coisas que dão um toque agradável a vida. Pedi desculpa cinicamente barata, não tenho problemas em dizer isso, agrada as pessoas, e não preciso fazer força alguma, ou trocar porrada com marmanjo.

Mas a confusão estava armada no ar, uma de minhas mulheres estava na festa, veio verificar o que estava acontecendo... apenas olhei para ela: calma baby, tá tudo sob controle, fica fria.

Ela me beija, e o otário fica olhando sem dizer nada. Pedi mais uma dose de rum, vamos colocar álcool no incêndio, foda-se. O rum me deixa com muita disposição pra tudo, para o amor e pra guerra, as bebidas tem personalidade afinal.

Acabou que tudo ficou em paz relativa. Acabei indo pra casa de Monica (uma das sete), ela parecia feliz com a ideia, eu também, afinal já eram quatro e meia da manha. Legal, a casa dela estava vazia, apenas eu e ela e muito amor. Demos uma trepada fantástica, com muito tudo, beijos, carinhos, bebida, gritos, umas porradas na bunda e muita piroca. Sem duvida o amor é a melhor, a mais forte e viciante droga do mundo.

Acordamos tarde na manha de sábado. Ela se lembra da filha dela, que havia ficado com mãe dela. Tudo tranquilo, vamos busca-la e foi legal. A pequena Sol, ficou feliz ao nos ver, entrou no carro e me diz:

-Pai tu veio... que bom, bom, bom, bom.

Monica disse pra ela em algum momento que eu era o pai, não tive coragem de negar, ela me conhece há algum tempo. O pai de verdade dela é complicado, o cara que esqueceu que ela existe, é viciado em crack, e acho que na boa, esse filho da puta que fique com seu vicio e deixe-a crescer distante desta merda o quanto possível. Ele era um tipo meio violento, já havia batido em Monica algumas vezes, e disse que se ela tivesse outro cara ele a mataria. Tô acostumado com essa merda, quem fala muito que faz e acontece, costuma ser um merda, que joga palavras ao vento, e bater em mulher é prova disso.

Fomos para casa, e Monica fez um bom almoço enquanto eu brincava com Sol, virei o cachorrinho dela, o cavalo, quase detonou minhas costas, mas o sorriso dela é impagável. Por um instante dei-me conta, da coisa que estava vivendo. Aquilo parecia uma família, melhor não parecia, era.

Estranho como os quadros da existência se formam. Por muitos motivos não consegui ter uma família exclusiva, conforme o ideal, porem parece que a vida, Deus, o Universo deram um jeito que resolveu o problema, pelas vias mais transgressivas. E assim foi e é, fui pai de muitas crianças que não eram minhas originalmente, mas que se tornaram filhas amadas informais, mais uma vez eu digo, vai entender o amor.

Luís Fabiano.


quinta-feira, abril 28, 2011



Navalhadas Curtas: Cadelas Piscam


Nunca tive muita afinidade com cães, prefiro felinos, por ser minha personalidade algo semelhante a estes. Aprendemos a gostar de muitas coisas no decorrer da vida, mesmo que seja comprimido por desejos não satisfeitos, dores lancinantes e o caos que eventualmente aparece de surpresa.

Ontem em minha caminhada vespertina, passei por uma bela mulher vestida com uma roupa de ginástica, aquele tipo de mulher como diz o mestre Nelson Rodrigues: tão bonita que é lésbica de si mesma.

Um tipo inatingível para mim, mas nem tudo estava perdido. Ela estava com uma cadela muito grande e a cara da dona (desconheço a raça). Normalmente não dou atenção para isso, mas por uma fatal imposição do destino, ou de meu bestialismo fecundo, acabei olhando para xoxota da cadela. Não me perguntem por que olhei. Esqueci a dona da cadela.

Não sei o porquê motivo, aquela xoxota canina era curiosamente imensa, cheguei a sorrir sozinho, pensando na diversão que aquilo poderia dar... acho que a cadela até percebeu, pois veio para perto de mim lambendo minhas mãos, a safadinha!
Pisquei o olho para ela.


Luís Fabiano.
Amor doentio Amor


Gosto das reviravoltas que a vida dá, quando menos espero estou envolvido em um turbilhão, onde se mesclam dor, lágrimas, um pouco de merda e um coquetel de tempos. Nunca entendi muito de amor, e creio não existir uma única alma que entenda claramente isso.

Já o vi de tantas formas, cores e gostos que realmente apenas acredito que exista o amor, mas como ele irá manifestar-se, como será conduzido, se será ético, correto, limpinho ou sujo, não sei, e não me interessa se será desonesto talvez, quem sabe universal ou ridiculamente inocente, quem irá saber? O que servirá para você ou para mim?

Desde que me lembro, vendem a ideia de amor ideal e perfeitinho, onde tudo da certo, onde as coisas funcionam e tudo deve limitar-se a essa forma correta. Se destas linhas mestras a coisa sair, já não será mais amor, é isso que as pessoas acreditam.

Triste lembrar disso, mas é necessário.

No meu primeiro casamento, sofria desta doença incurável. Lembro que ela era uma mulher cheia dos padrões ideais, bonita, sorridente, trepava como uma puta de alma, não se importando onde eu enfiaria o pau, ela simplesmente gostava. Tudo isso deveria ter permanecido assim, como um eterno namoro. Mas a vida, a maldita aspirações humanas, muitas vezes nos faz meter os pés pelas mãos.

Nesta época eu acreditava exatamente assim no amor, na entrega total, a tal ponto que era levado a doença. Tudo era ela, meu coração disparava por ela, eu a queria a todo o momento, queria estar agarrado a ela, de tal modo que a sua respiração fosse a minha, que seu fluxo fosse o meu refluxo. Naturalmente isso me levou a uma espécie de loucura. Infelizmente ela aceitou a doença amorosa e tornou-se doente também. E quando isso aconteceu, então caminhamos para a destruição sem limites.

Aquele sentimento era bom, mas tinha um ônus muito pesado, anulava o amor que tinha por mim mesmo, tornando-a a única coisa importante. Nem Deus, nem Buda ou Jesus eram alguma coisa pra mim.

Nutrimos tal sentimento como um porco, engordando dia a dia com tantas emoções difusas, inseguranças, ciúmes intermináveis e doentios, e em meio a isso demos o toque final que seria ao mesmo tempo a pá de cal. Casamos.

Então as coisas mudaram radicalmente. Ela tentou afivelar mais o laço que tinha sobre mim, passou exercer um controle total de meus movimentos. Queria saber a todo o momento onde eu estava, o que eu estava fazendo, com quem eu estava, a que horas chegaria e porque havia me atrasado dois minutos?

Silenciosamente, como algo que eu não percebi subjacentemente, a serpente começava a enrolar-se, cuidadosamente. Aquele controle todo, começou a me asfixiar inclusive fisicamente. Passei a sentir falta de ar, a ter medo de chegar em casa atrasado, a ter que explicar o porquê disso e daquilo. Tudo passou a ter uma explicação em minha vida, até mesmo um peido.

Lembro que um dia saindo do trabalho, senti aquele ímpeto de não ir pra casa. E foi o que fiz, na antiga Lusitana, uma Lancheria da Andrade Neves, sentei-me como estava, com terno e gravata e pedi uma cerveja. Foi onde conheci Arlom.

Ele era um coroa, que bebia a sua cerveja sozinho, e depois que passava da conta, começava a cantar Taiguara - O universo é teu corpo para todos que lá estivessem. Era uma figura. Alguma coisa aconteceu ali em mim. A voz de Arlom ecoando no ar, entre um gole e outro se cerveja, iria despertar em mim o estranho desejo de querer ser livre. Ele parecia feliz e vivo.

Quando cheguei em casa aquele dia, uma tempestade me esperava, precisei explicar meu cheiro de álcool, meu atraso, quem estava lá, e a falta de ar voltou, foi terrível, um trauma que só de pensar me da arrepios.

E o que fazer?

Eu amava aquela desgraçada por tudo que ela era, por sua atenção comigo, por suas fodas intermináveis, por aquela buceta enorme e peluda (coisa que até hoje me fascina), pela organização que ela dava a minha vida, a amava demasiadamente. E demasiado sempre é problema.

Por outro lado, me sentia doente, me sentia aprisionado, controlado, agrilhoado em correntes invisíveis. Levei este casamento desta forma, assim por dois anos, num total de mais quatro de namoro. Seis anos, isso pra mim é um recorde.

Tentei conversar, tentamos e inclusive nos separamos algumas vezes. E voltávamos e tudo continuava exatamente como estava. A bem da verdade eu não estava sendo honesto comigo mesmo. Aquela relação já havia terminado, mas por minha doença e doença dela, alimentávamos o que havíamos tido. Como um totem carcomido pelo tempo. Por fim chegamos ao final.

A última noite que passei com ela, foi como se não tivesse fim. Ela chorou como uma criança a noite inteira, um choro calado e pesado, com o corpo estremecendo, como querendo pendurar-se aos ponteiros do relógio, para congelar o tempo. Quando a manha se fez, ela levantou-se me beijou pela ultima vez e saiu. Disse que não queria ver-me recolhendo as coisas, e foi por ai.

Havia um luta se travando em mim, a liberdade e suas incertezas ou a conhecida prisão, feito de amor encarcerado, sexo desenfreado e uma cama quente. Como um prisioneiro que fica encarcerado muito tempo, a rua me assustava, pegar minhas coisas era pesaroso.

Arrancar de dentro de mim, aquela doença que acalentava em forma de amor, doía como se minha própria pele estivesse sendo arrancada. Tudo era medo, incerteza, mas a vida é exatamente assim, não há como servir a dois senhores ao mesmo tempo, dizia Jesus.

Por fim consegui sair daquela casa, deixando quase tudo para trás. Estou acostumado a perder bens materiais, já aprendi a me refazer uma dezena de vezes, porque a vida é assim, também esse ônus é o menor de todos.

Esse deveria ter sido o ponto final. Mas quem disse a vida tem ponto final? As coisas mudam, convertem-se e tudo ganha uma nova apresentação. As dores cicatrizaram com o tempo, eu prometi a mim mesmo jamais tornar a amar alguém extremamente a beira de um abismo, jamais desaparecer engolido por qualquer sentimento, fosse a quem fosse.

Pois uma cosia é certa amigos, a posse de si mesmo, dos próprios sentimentos é único meio de se amar verdadeiramente alguém. Longe das compulsões doentias, longe do aprisionamento dos sentimentos. Pois o amor existe, mas ninguém é dono dele, ele não caberá em espaços restritos, mas deve ganhar as alturas de nossas melhores e verdadeiras intenções, a isso que se deve ser fiel. Quanto ao resto,bem, aí é com você.

A vida não tem ponto final eu disse. Pois bem. Passados um ano depois de minha separação, eu estava tranquilo e com certa paz. Eu recebo um telefonema dela, querendo conversar pessoalmente. Dizia sentir saudade e tudo mais, mas tudo era um subterfugio.

Nos encontramos e trepamos como cavalos no cio, foi lindo. Mas desta vez eu estava vacinado, podia até ser maravilhoso, mas jamais passaria disto. A primeira ex-mulher converteu-se em amante e assim foi por um bom tempo... e foi assim que tudo começou em minha vida.

Bom, agora sim, creio ser o ponto final... porque o resto vocês leem no blog.



Luís Fabiano.

quarta-feira, abril 27, 2011

Dica de Filme: Vida e arte de Georgia O'Keeffe


Não existe artista que desconheça a dor, a solidão, a agonia e as lagrimas. É como um sinete de batismo da arte, qualquer arte. Georgia era uma grande pintora, e sua vida se tornou sua arte. Sua grandeza foi revelada por um pilantra, é preciso sempre algum pilantra útil na vida, o senhor Alfred Stieglitz.

O tempo nos faz bem, os traços se tornaram mais firmes, as cores mais leves e as formas ousadas. O filme é biográfico e possui uma beleza lírica dos amantes da arte, essa arte que faz falta ao mundo.

Luís Fabiano.





Anjos de Cristal

Ando pelas ruas quando parecem desertas
Um solitário entre solitários
Sóbrio demais para viver
Enfadado de tanto olhar-me
De perceber um mar de erros e insatisfações
Deus esta em férias e o Diabo surfa sorridente no caribe
Estou a beira de jogar-me de joelhos e pedir por favor
Resisto bravamente
Puta que pariu, hoje a noite nem estrelas têm
Como um animal ferido
Preciso em refugiar em alguma toca
Mas nas madrugadas de domingo
Uma Pelotas dorme pesadamente
Não há bares abertos, botecos de segunda nem braços receptivos
Apenas ratos de rua, mendigos misturados ao lixo e vielas sujas
Um carro lá que outros que passa iluminando brevemente a rua
Decido voltar pra casa insatisfeito
Sufocando silêncios
Lambendo suavemente minhas próprias feridas
E então ela estava lá
Com uma minissaia curta, cabelos soltos e olhos verdes
Esmeraldas a beira da estrada
Tesouro abandonado
Sozinha na parada de ônibus, esperando o Laranjal?
Ela não parecia assustada
Aproximei-me ficando com ela na parada
Ficamos em silencio um bom tempo
Por fim iniciamos a conversa uma conversa besta
As horas, o tempo, o calor, a chuva que acontecera amanha...
Não queria pensar nada errado, queria apenas esperar o ônibus com ela
Em minha cabeça criei uma nebulosa de boas ilusões
Onde ela era uma beleza intocada
Uma vitima de si mesma
Com seus sonhos devastados
E tudo que resta é esperar o ônibus de volta
Gosto das pessoas que idealizo mais do que as de verdade...
Por fim Valéria me conta que aquela noite deu tudo errado
Seu ex-namorado a trocou por uma travesti mais bonita
O pai disse para ir para o inferno
E a mãe estava bêbada demais para pegar o carro e buscá-la
O estranho o amor
Por fim o ônibus chegou vazio e calmo
Ela sobe e fica me olhando do alto da escada
Eu fico ali olhando para ela
Sorri tranquilamente
Ela diz: Não vai pegar o Bus?
-Não, não moro no laranjal...
Ela também sorri e senta-se
E através daquela da janela de vidro ela vai embora
Levando minhas melhores intenções
Sinto-me resgatado em uma noite densa
Salvo por um anjo de cristal.

 
Luís Fabiano.


terça-feira, abril 26, 2011


Navalhadas Curtas: Pau de chumbo


Não sei por que não me contive a tempo, uma nau de sentidos devassos a deriva. Porem sem grande vontade, sem aquela vontade capaz de nos levar a ejacular acima das nuvens. Movido pelo momento do bar, das bebidas e uma mulher que em nada tinha haver comigo, assim foi. Bebemos, nos olhamos depois bebemos mais, e quando vi estava na cama dela. Mas como já mencionei, não estava com tesão algum, ela era magra demais, tinha um bafo terrível. Nada disso é problema para mim, se meus desejos estiverem a ponto de romperem átomos, a fissão nuclear de minhas paixões.

É claro que foi problemático, quando finalmente ela ficou na posição mais primitiva humana, de quatro, e pude ser o sorriso transversal da vagina, meu membro encolhido como um pintinho sem mãe. Tive pena de mim mesmo, e dela. Já havia broxado antes, inclusive minha própria mulher, mas os motivos eram outros. Faltavam cheiros.

Balancei, sacodi, movimentei e até inclusive conversei com ele, olhando cabeça a cabeça... mas nada. Puta que pariu, lá estava eu novamente, prestes a ser derrotado.

Nada disso, fiz o que pude com minha boca, língua e foi o que deu. Depois ela acendeu um cigarro e ficou olhando para o teto, e ora para meu membro morto:

-Tu não gostou de mim né?
-Nada haver com você... problemas pessoais...

Sorriu, e fez aquele carinho ridículo de bilu-bilu no meu pau... tudo que pude fazer foi sorrir sem graça.

Luís Fabiano.

segunda-feira, abril 25, 2011


Pérola do dia:

“ Não existe uma só alma sobre a terra em que se possa confiar absolutamente.“

Henry Miller.
Poesia Fotográfica


Lado Sujo



Lado Sujo


As relações humanas não se dão a luz de uma verdade que se vê a olhos nus. Por mais que insistamos na austera sinceridade. Antes sim nas emoções subjacentes, acolhidas no coração em uma constante guerra de fome e miséria para consigo mesmo.

Mesmo em nossas melhores intenções, reside um traço de egoísmo bárbaro o qual dissimulamos, envolvemo-lo em panos caros com desenhos lindos, formas singulares, e ante o que os olhos veem tão pouco, tudo passa limpo como o ânus de um morto.

Fui me dando conta disso, a partir de mim mesmo, na condição de acalentar minhas piores emoções em relação aos outros, dentro desta obviedade com ausência de alma, dei-me conta que todas as pessoas e absolutamente todas, foram, serão ou são filhos da puta, em algum momento, onde a vida faça curvas súbitas.

Não deploro tal comportamento, abençoo-o, porque simplesmente faz parte da condição humana, amo tal condição por tudo que é, seja o pior ou o melhor. É preciso ver grandeza, nos ignóbeis atos humanos, por fazerem parte de uma imensa pintura, traços imbecis, infantis transformados em borrões, e deles sombra e depois luz e então novamente sombra, a obra viva do Demiurgo, do Grande Arquiteto, da Suprema inteligência do universo, o qual somos insignificantes filamentos.

Mas não é possível ver isso desta forma, quando agrilhoados por nossas necessidades prementes e imediatas, por mais que as estrelas insistam em brilhar seu diamantino brilho, ou a lua nos presentear com seu doce e sereno iluminar, tudo que percebemos é a nossa conta em baixa, o dinheiro que desaparece em nadas, os malditos credores a chicotear a porta, a vadia surrupiando a carteira simulando prazer barato, aquela mulher insatisfeita em nossa casa, porque algo falta, e algo sempre falta. Onde o sorriso puro e simples? O Vento que carrega devagar as folhas de outono?
Onde?

Quando vocês se aproximaram, como as pétalas esvoaçantes ao vento, que carinhosamente afagam nosso rosto? Quando a mão que dá, será apenas a dá, e não com a outra serpenteando obscuramente, surrupia o que preço não tem, confiança franca e despojada?!

Gostava de Edith, uma coroa gostosa e muito safada, alias diga-se de passagem, gosto de coroas safadas e gordas, originais, embora tal espécie esteja em extinção como dinossauros, mesmo a safadeza de hoje é impura.

Ela contava com cinquenta e poucos anos, tivera um bom estoque de ex-maridos, mas por sua indecência natural traíra a todos com muito orgulho. Hoje vivia em pequeno apartamento na Guabiroba, mísero e destruído. E talvez isso que nos irmanasse, a putaria calma, repleta de amizade e longas conversas em bares de segunda categoria.

Fui um dos seus amantes durante um bom tempo, até que ela se intoxicou de mim infelizmente, quis torna-se a única, queria atenção exclusiva, queria o amor raspado de minha alma em dor, e o sacrifício da coisa que mais amo: eu mesmo.

Tudo de tranquilo mar ondulante, foi convertendo-se em uma merda em forma de tempestade. Então brigamos, como só poderia acontecer, não desejava isso, e não queria agrilhoar-me, tolher-me, fazer minhas pequenas asas se fecharem em pleno voo cego. Mas era inegável o carinho que tinha por ela.

Ela me apresentou o seu lado sujo, que era em parte meu, e seu também. Carregamos isso como uma chaga incurável dos pendores de nossa alma. E tenho a certeza absoluta que é o tal lado sujo, que corrompe tudo a nossa volta, o que torna nossa visão embaçada em relação a vida. Então engolimos tudo a nossa volta, o amor torna-se prisioneiro, a beleza torna-se refém de si mesma, os beijos tornam-se mesquinhos e tudo se converte em um móvel morto, pois assim gostamos mais. Não interessa que esteja morto, mas que seja nosso o cadáver.

O tempo passou, e uma saudade suave capaz de absorver o nosso lado sujo, resgatou nossa conversa, nosso carinho e nossos beijos também. Por agora Edith, sorri como a velha safada de sempre, dizendo entre baforadas do seu cigarro barato, o quanto é difícil entender as reviravoltas do amor, da vida e do tesão:

- Não Edith, por favor, não fale de amor por favor, tenho asco desta palavra absurda, sou como Krishnamurti, acho essa palavra deveria ser removida do dicionário da vida, abolida das bocas profanas, por ser tão mal usada!
-É, eu acho as vezes Fabiano, mas é tão bonitinho dizer: amo você. E você sabe que eu te amo, que vou te amar sempre...
-Puta que pariu, tudo bem, o que te salva Edith, são as boas tetas que tens, sim, me sinto um bebe amado sugando-as lentamente, sorvendo um liquido invisível enquanto tua xoxota peluda fica molhada desejando meus carinhos.
-Pra ti sempre Fabiano, é tudo teu faz como tu quiseres...

Aquela conversa me excitava, pois tenho um desejo irrefreável pela vida, a bebo em grandes goles. Edith embora o tempo houvesse lhe castigado muito, tinha uma xoxota capaz de catapultar-me ao paraíso. Usava sua técnica miraculosa, capaz de fazer os santos gozarem, eu quando estava dentro dela, bem no fundo, apertava os músculos vaginais, massageando o pau ordenhando-o lentamente até a ejaculação suprema, onde o mundo desaparecia num mar de porra.

Naquela noite a levei para casa, e na porta do seu prédio, não resisti e enfiei minha mão por debaixo do vestido, encontrando-a muito molhada, a melhor sensação do mundo. Não me interessa amor, aquela xoxota era o amor vivo, o máximo que o ser humano pode dizer em silencio, uma canção onde se mesclam emoções, desejos e instinto, isso é tudo que quero.

Trepamos ali mesmo, na entrada do prédio, algumas pessoas viram isso pra mim não faz diferença, ainda deixei uma boa possa de amor no chão, como a lembrança dos intensos momentos. Quando estávamos nos despedindo, ela então dispara:

-Será que tu podes me ajudar Fabiano...
Aquilo me soou como algo denso, talvez sujo mesmo...
-Diga Edith... as vezes posso ajudar...
-É que to meio quebrada de grana... e preciso comer algo amanha...tu não...

Revirei meus bolsos, e achei uma nota de vinte reais, dei tranquilamente, eu sabia da sua condição e fiquei feliz que tivesse sido apenas dinheiro. Se tudo se resumisse apenas a isso, a vida seria mais fácil, mas como disse inicialmente o problema é, justamente o que não vemos com os olhos nus, o lado sujo que nos negamos a perceber em nós mesmos.

Fui embora, de volta a minha dolce vita, sentia-me preenchido, pois em meio a tantas misérias que a vida me apresenta, as vezes algo da certo, e podemos sentir aquele breve momento de paz, onde nada em nós grita, apenas um passo de cada vez lentamente em direção a vida...


Luís Fabiano.


domingo, abril 24, 2011

Navalhadas curtas: Páscoa de DKV


Navalhadas curtas: Páscoa de DKV


Ontem a noite encontrei o Marcinho DKV. Ele tem este apelido, porque tá sempre imitando sons dos motores de carro, tem esta mania desde muito tempo, não sei desde quando. Marcinho, tenho certeza absoluta que ainda permanece com dez anos:

-E aí Marcinho, qual é a boa hoje?
-Raaaaaaaaaammmmmmmm, rammmmmmmm, rammmmmmmmmmmm
-Puta que te pariu cara, responde direito...
-Tá nervosinha Fabiano,tá? Raaaammmm...vrummmm
-Deixa pra lá DKV, já vi que você tá a mil hoje...
-Tô sempre a mil, a vida passa rápido cara, muito rápido, a mais de oitenta e sem multa...
-E a pascoa?
-Rammm, tais brincado né?
-Não cara, as vezes algo tem que ser normal... tu não acha ?
-Vou te dizer uma coisa Fabiano, pra mim o coelho da pascoa é coelha, e eu quero estuprar o coelho, isso que eu quero de páscoa... um coelho estuprado.
-DKv, pura poesia... muito bonito.



Luís Fabiano

sábado, abril 23, 2011

Momento Boa Música
Kleiton e Kledir
Corpo e Alma

Gotas de minhas perversões

Ela apanha o chicote como lágrimas culpadas
Cortando o ar e rasgando a minha pele uma vez mais
Um berro inumano grotesco, rompe o silencio almas santas
A candura se quebra
Parece-me bom
Como todos os pecados tão humanos mesclam-se
A musica do amor
A mais linda sinfonia das dores
O afago do açoite
Ela se sente poderosa
Com o salto negro e suas tetas duras
Enquanto excita o poder de sua sombra
Deixo que ela me bata mais e mais
Como o narcótico viciante as avessas
Pois do fiel prazer
Ela é cativa de minha dor
Sorri bestial e inocente a beira do abismo
Desconhecendo meu macabro jogo de prazer
Enquanto meu sangue e algumas gotas de porra caem no chão
Na fronteira de meus pensamentos nebulosos
O pior destino se desenha
Dentes que se afiam, sonhando com a jugular pulsante
O vampiro sorri ocultamente
Mais uma chicotada tenta rasgar minha alma
Ela mija agora sobre minhas feridas
Enquanto beija minha boca
E quando menos espera
Salto sobre seu pescoço
Mãos ,dentes, braços suor e morte
-E agora vagabunda? Hein...?
Medo, lágrimas e surpresa
Não existe amor que faça sentir isso
Nem promessas eternas de cumplicidade fiel vagando no paraíso
Tudo desaparece engolido pelas sensações
Ela desmaia sonhando com a morte
Nunca esteve mais linda
Silenciosa e suave
Penetro-a lentamente ao som de ave-maria
O couro dos mil anjos malditos cantam hosanas
Será que ela morreu?
Não, respira ainda
Como uma manequim morta,
Enrolo seus braços no meu pescoço
Adormeço em paz mergulhado no silencio
Ao vapor do sangue, suor, medo e do amor.

Luís Fabiano.

sexta-feira, abril 22, 2011


Uma conversa

Manoel Magalhães*

- Caro mestre, que faço para escrever bem?

- Escute o zumbido das abelhas, o pisar suave das formigas na terra úmida, o esvoaçar do pássaro entre nodosos galhos...

- Só?

- Não. Preste atenção à melodia do vento na copa das árvores, o sussurrar dos córregos em contato com o leito, a maciez de um beijo...

- E isso basta?

- É preciso mais... Como entender a linguagem do coração, desvendar a fome da alma, compreender a rebeldia dos sentimentos, a intrepidez dos nervos...

- Não conseguirei.

- Conseguirás, sim, pois a luva ajusta-se à mão, os olhos à visão soberana. E o paladar à tenacidade da pimenta e à doçura do mel.

- Amar resolve?

- Sim, sobretudo se teus ouvidos ouvirem a melodia das curvas de um corpo, teu olfato apreender o significado dos cheiros que dele exalam e tua vontade sobrepujar a vontade do outro que, movido pela paixão, deixa-se escravizar.

- Que Deus tem a ver com isso?

- Tudo e nada. O tudo significa o todo, o nada remete ao vazio.

- Acho que não conseguirei?

- Conseguirás.

- Me aponte o caminho?

- Vês o abismo que se estende à tua frente?

- Vejo.

- É o caminho.

- O abismo?!

- O próprio.

Manoel Magalhães é jornalista e escritor.



Evangelho de outro Jesus


Tento furtar-me ao oportunismo momentâneo, por uma confessável canalhice que me é  natural, torna-se impossível, inescapável e porque não dizer o prazeroso, o vômito que divido com vocês, entre peixes e o vinho.

Tais datas evocativas, são pontos máximos onde a razão humana mistura-se aos ideias sublimes, e depois fatalmente cansados da encenação, mergulham novamente no nada cotidiano, onde palavras como renascimento, ressurreição e outras tantas do mote, vira poeira engolida pela vida real. Nossa vida real, a qual tentamos dia após dia dar algum significado, dizendo de nós para conosco mesmo: isto esta certo, isso é verdadeiro, eu tenho certeza, vai funcionar...

Sem renascimento, apenas luta, luta e luta, para fazer algo além de sobreviver. Particularmente a pascoa não me trás boas recordações, e não quero entrar nisso, talvez não neste momento. Irremediavelmente, sempre quando me falam de Jesus, uma coisa é certa, aquele de Nazaré não é o que me lembro. Existiu um outro, palpável que marcou mais minha vida, ao invés do de Nazaré, que é ao mesmo tempo uma chaga e uma cura, impregnada no inconsciente coletivo da humanidade.

Conheci Jesus quando estava saindo do quartel. Estava voltando a estudar, depois de um longo estágio dentro do aquartelamento, brincando de ser soldado da pátria, enquanto me esgueirava a procura de não fazer nada. De volta a escola, ele tornou-se meu colega de aula, e de saída percebi que algo diferente havia nele.

Um cara de experimentado, já havia ido para o reformatório, na época a FEBEM. Muitas historias para contar de um assalto que participou, e no final deu errado. Talvez por afinidade vivencial nos tornamos amigos. Afinal Jesus acabou se tornando um dos mestres que tive, desta ganga especial de bêbados, tarados, drogados, putas, ladrões, assassinos e pessoas problemáticas de toda sorte. Estes sempre tinham algo a dizer, algo da vida real, algo que não deixava espaços para devaneios vaporosos, os que trilhavam a vida mais difícil, por opção ou por falta total de escolha.

Jesus era muito silencioso, mas aos poucos começamos a falar mais, então percebi o orgulho de sua fala, suas pausas reflexivas, quando dizia em detalhes como sua adrenalina subiu, naquele dia, quando com uma arma na mão, tinha controle das vitimas, que tremiam:

- Medo era o meu combustível cara, ter a sensação que o mundo estava pela primeira vez a teus pés, é a melhor droga que se pode ter, faz com que a cocaína, maconha ou quaisquer outras merdas destas desapareçam – Dizia Jesus, e seus olhos brilhavam como pequenos diamantes a procura do infinito, naquela pele escura, dentes brancos e um corpo magro.

No bar da esquina onde ficávamos horas, eu e mais alguns colegas a volta dele. As aulas da escola tornaram-se nada, entre uma boa cerveja, cachaça barata e aquelas conversas, íamos escrevendo a nossa vida, uma vida tão certinha comparada a de Jesus. Perguntei a ele certa feita:

-Então cara, que tu pensa hoje, vais voltar a assaltar?

Ele ergueu aqueles olhos, como se buscasse inspiração no alto, ou tentasse afastar terríveis pensamentos, tomou um bom gole de cerveja e disse gravemente:
-Não quero que isso aconteça, porem, jamais digo não definitivo a nada. Minha mãe é muito doente, e se piorar, a quem eu vou recorrer? Tu irás abandonar tuas coisas para me ajudar? Tu abriras mão da tua vida confortável e certinha, para ajudar a Neuza e a mim, que somos desconhecidos, e não representamos nada neste mundo? É claro que não, o mundo não é assim. Eu me fodo, e me fodo sozinho, porque Deus não permite discussões. Já com dinheiro, todos se ajoelham...

Engolia em seco aquelas verdadeira palavras, realmente nem eu e ninguém faríamos nada, aquele silencio pesava.

Por dias, Jesus desaparecia da aula, e não tínhamos noticias deles, naturalmente sempre esperávamos o pior, morto ou preso. Então reaparecia tranquilo e silencioso como sempre, quando sorria, parecia que a vida também sorria com ele, lembro que jamais o vi chorar. Contou-nos uma vez da historia do reformatório, sua universidade como dizia:

- É preciso ser forte para sobreviver, por lá ninguém liga pra você. Quando as luzes se apagam tudo vira terra de ninguém, ou você demonstra que é o pior, ou comem seu cu e o transformam no viadinho a quem todos chutam. Aprendi isso da pior maneira. A luz se apagou, na minha primeira noite lá, e um cara gordo veio pra cima de mim, dizendo: Agora novinho, tu é meu, vai ser minha mulherzinha... Ha, há ,há. E já foi tirando a piroca pra fora, e me fazendo ajoelhar. Quando não se tem força física, tu precisas de coragem, inteligência e alguma fé. Eu acreditava em mim. Seguia dizendo o gordo: agora chupa, chupa bem gostoso putinho... ha há há. O troço dele tava duro, e eu teria apenas uma chance em uma, de mostrar quem era homem ou não, tinha muita disposição. Botei a piroca do cara na minha boca, e conforme botei, mordi com toda a força que eu pude, agarrando as bolas dele e apertando com tudo. A dor foi algo, o cara apagou entre gritos, e eu cuspi um pedaço da glande dele na cara do filho da puta. Eu estava coberto de sangue, e perguntei em voz alta para todos aqueles filhos do demônio lá: Então, mais alguém quer uma chupetinha? Outra vez aquele silencio, onde todos se sentiram congelados. Puta que pariu, na minha cabeça, voltei a cena do assalto, lá estavam eles aos meus pés. Eu tornava a acreditar na fé.

A historia nos arrebatou a todos, em momento algum me lembrei de Nazaré, e creio que Jesus o filho de dona Neuza, também não. Alias como muitos instantes de nossa vida, em que o tempo leva adiante, sublimando ou simplesmente enterrando tudo, queiramos ou não.
Lembro carinhosamente dele, sua fala pausada, e o olhar firme de quem fala a verdade.

Um dia ele desapareceu de vez, a classe vazia cada dia que eu chegava na aula, dizia em silencio o que meus medos ecoavam, importante que se diga, aquela classe jamais alguém sentou novamente, como uma espécie de oratório inconspurcável.

No fundo queríamos que ele voltasse, que nos contasse novas historias, e que principalmente tudo estivesse bem como ele e dona Neuza. Mas como o outro Jesus, ele também desapareceu, ou foi arrebatado, não sei.

Luís Fabiano.

quinta-feira, abril 21, 2011

Dica de Filme: Nome Próprio.

A vida as vezes parece um texto mal acabado, cheio de falhas, erros e historias que não acabam ou terminam repentinamente. O filme trata disso, a protagonista vai tentando acertar sua vida, enquanto escreve tudo.
Mas as linhas de sua vida não são retas e certinhas, e se tem a impressão que nem Deus escreveria por tais linhas. Essa é a proposta, terminamos de ver o filme com uma imensa sensação de vazio, porem enriquecidos.
Se você não entendeu esta merda, vá ver o filme.

Luís Fabiano
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quarta-feira, abril 20, 2011



Acarinhado pela doença

Quero infectar-me de ti
Mergulhar em tuas profundezas
E beber de tuas rasuras
Quero o cheiro forte e acre do teu suor
E todos os outros odores
Todas as tuas dores
Meio carcomidas e devoradas
Teus pedaços que se quebraram nas dobras da vida
Quero-te em mim
Ferindo-me
Ferindo-te
Como uma doença incurável
Invadindo as frinchas de minha alma
Tornando caos minha vida uma vez mais
Não quero tua cura
Ou devaneios insondáveis de preces vazias
Mas aquilo que tua fé não me pode dar
Um pouco sangue
Sussurros
Gemidos e luxuria
As lágrimas desesperadas
De doloroso prazer
Quero o que Deus em ti duvida
E em mim descrê
Te quero a maldita
Hedionda e puta
Viciada
Ultrajada
Cuspida e mijada
Quero injetar-te em mim
Alastrar a benção do meu pior em ti
E permear-me dos teus brilhos serenos
Partes da tua doença
Misturando-se as minhas
Raiva de tua raiva
Saliva de tua saliva
Meus medos afagando os teus
A porra em tua garganta
Assim
A certeza mais passional e desenfreada
Deixa-me morrer aconchegado em ti
Como um pequeno pássaro no ninho
Enquanto adormeces aquietada em mim

Luís Fabiano.
Pérola do dia:

“ O amor torna-se verdadeiro e grandioso, quando esta disposto a abrir mão de tudo, inclusive de si mesmo. Do contrário, é apenas um brinquedo.”

Luís Fabiano.

terça-feira, abril 19, 2011



Sara e o fim


Sempre lidei bem com culpas escarradas frontalmente, uma agressividade frontal permeada de asco e xingamentos. Lido bem com isso, porque não me sinto culpado por nada, não me sinto arrependido de nada, ainda que criminoso fosse, não arderia nos quintos dos infernos, pois, me sentiria alado como os anjos puros, com suas ridículas asinhas brancas, voz fina e assexuada, em um céu modorrento e congelado de perfeições.

Ela blasfemava a plenos pulmões, cabelos desgrenhados, um olhar de louca irretocável, e a certeza de que tudo aquilo era vão. Raramente estamos dispostos a crer que as coisas em nossa vida são vãs. Queremos a justificativa atroz de uma realização, que não se abale por nada, ainda que a merda da terra insista em tremer sobre nossos pés, e converter nossos mais acalentados sonhos em nada.

Já havia tomado minha decisão. E por pensar muito, minha decisão é sempre final, não acontecem arrependimentos comigo. Sara não estava disposta a entender isso, porque antes de qualquer amor possível, doía-lhe o orgulho lacerado, aquela ponta odiosa e cancerígena da alma humana, que insiste em estar no controle. Creio ser a pior das dores:

-Vai embora Fabiano, vai, é o que tu sempre faz, não é? Idiota, some daqui seu merda, tu e este teu carro ridículo...

A voz entrecortada, distorcida com ranho, muco e lágrimas, era o painel das agonias encenando sua tragédia, uma tragédia que conheço bem, inicio, meio e fim. Chata como qualquer dor. Por que neste aspecto, a dor sempre é igual. Não sinto orgulho disso, porque não é meu desejo original ser um dispensário de dores, o semeador do trágico, o plantador sem colheita. Mas entendo como uma consequência natural, os fracassos apoteóticos de minha vida têm. Talvez soasse bonito neste instante, dizer que aprendi muito com eles. Mas não digo isso, aprendi porra nenhuma, apenas me endureci um pouco mais a cada ano, a cada derrota e quando o chão sumia debaixo dos meus pés:

-Sara pare com isso, esse fiasco besta, essa pantomima de desespero... tente salvar um pouco de dignidade, se é que sobrou ainda alguma coisa em ti, aceite o inevitável, porque é inevitável.

Meus conceitos eram demasiadamente lúcidos para aquele momento, uma lucidez polida, fria e aguda como uma cirurgia sem anestesia. Sentia minha lamina entrando lentamente, rasgando tecidos a procura da alma. Nada é tão bonito assim, tudo que Sara queria era berrar e talvez me agredir um pouco, tentar colocar grilhões pesados que dificultasse minha imutável ida.

Puta que pariu, porque eu não desisto disto de uma vez por todas? Opto pela vida mais fácil, caso com uma vagabundinha qualquer, e me torno um senhor pai respeitável de família? Acho que preferiria fazer o haraquiri.
Então, ela fala pra mim, a fala que talvez em quatro meses de relação, ela jamais tivesse sido tão verdadeira ou profunda ou tão Sara:

-Eu lamento de me evolver com um merda como tu, hoje, tu me roubou a coisa mais preciosa que ainda tentava cultivar em minha vida... acreditar que as pessoas podem legais comigo, mas hoje tudo acabou.

Ela deu um ar dramático demais a dor. Dores profundas calam tão forte que tudo é silencio. Isto é uma pratica normal em finais de relacionamentos. O jogo das culpas, uma acirrada e jocosa maneira de fazer que uma espécie de culpado apareça ou seja eleito. Por entender demais deste jogo idiota, assumi a culpa toda, porque isso termina com a discussão rapidamente, pois as pessoas ficam se altercando, não para se acertarem, mas para descobrir de quem foi a culpa:

-Certo Sara eu roubei tudo de você, tudo bem, mas não se preocupe, alguém irá devolver, porque a vida é assim.

Vi que ela parecia agora sem forças para dizer mais alguma coisa, as lagrimas haviam secado em um deserto a noite, com frio e silencio, silencio cortante ao mesmo tempo em que estertorava em gritos.
Subi no carro e fui embora, não olhando para trás. Estranhamente eu desejei que nada daquilo acontecesse daquela forma, não foram incontáveis vezes que desejei ser o objeto contrário daquelas dores. Gostaria de estar agonizando no lugar dela, gostaria que minhas emoções fossem aniquiladas e que eu chorasse a exaustão, a ter que fazer o que faço. Tento tomar o cuidado para que isso não aconteça, mas as malditas guelras emocionais, grudam-se as paredes lisas da alma, sugam, aproximam tudo em demasia ao sufoco. E mais uma asfixia.

Luís Fabiano.



Episódio de Bar

Sempre detestei mulheres que se fazem de desinteressadas, enquanto por dentro vibram ardilosamente, em um desejo controlável por um bom senso frágil, uma moral hedionda, um medo de si mesma e do mundo.

Em tais circunstancias meu estado de espirito as vezes se altera, como é praxe em todas as situações, cuja normalidade se me torna letalizante, a um ponto que é imprescindível fazer alguma merda, para dar aquele colorido a vida.

Caso ainda não tenham percebido, tanto em nossa vida pessoal, como também nas dos nossos supostos semelhantes, e do planeta como um todo, segue a mesma lei que inquieta do átomo ao cosmos, o grande átomo Dele.

Quando tudo parece por demais brando, calmo em uma ordem excessivamente antropocêntrica, uma quietude estagnante, eis que algo acontece, uma espécie de quebra do protocolo existencial, sugerindo intrinsecamente que a vida almeja movimentos, que não deseja que as ondas do mar parem, que os ventos levem adiante as sementes da vida, como também nossos fétidos aromas, porque sempre é preciso ir adiante, irremediavelmente o passo dado a frente, rompe com a possibilidade de voltar.

Aquele bar começava a ficar bom depois uma da manha. Onde então, vampiros, seres escusos da natureza, criaturas sombrias e porque não dizer o próprio diabo, resolviam aparecer. Dava pra sentir a atmosfera se modificando. Somente quem sai a noite e frequenta as sombras, sabe exatamente do que estou falando.

Eu acompanhado de minha irremediável solidão, estava naquele bar barato, nas imediações do porto. A música era de um radio pequeno, que chiava por estar mal sintonizado, mas aquele pouquíssimo público não ligava para isso, eu não ligava para isso, meu único e exclusivo interesse era o copo de rum a minha frente.

A noite estava quieta demais. Então eis que ela surge no frontispício da porta, no meu entender distorcido, uma aberração naquele lugar de miseráveis, bebuns, drogados, loucos e seres perdidos a procura de um suave afago, algo que lhes motivasse ainda viver.

Ela vestia-se bem, bem demais para aquele antro, o cheiro do seu corpo perfumado chegou as minhas sensíveis narinas, parei de olhar o copo como minha bola de cristal, e passei a vê-la mais detidamente. Era bonita. Que merda fazia uma mulher como aquela, sozinha as duas e pouco da manha ali?

Os que estavam no bar, ficaram um pouco assustados, estão sempre esperando o pior da vida, ela parecia ser o pior disfarçado. Ela com seu salto alto, veio flutuando como uma puta alada, batendo o salto, como se pisasse nas bolas de todos que ali estavam, que agora estavam em silencio sepulcral. Até o maldito radio pareceu se calar. Fiquei pensando comigo mesmo: bem, e agora que mais vai acontecer? Ela vai sacar umas garrafas da calcinha e fazer malabares? Ou talvez com bolinhas tailandesas, fará arremessos vaginais das tais bolinhas?

Mas não, nada disso, ela foi até o balcão e pediu vodca pura. A bebida veio ela derramou um pouco para o santo, e bebeu um bom gole. Uma mulher de fé aquela. Meu rum havia acabado, fui até o balcão pedir mais, e claro olhar aquela silhueta melhor. Era boa, boas tetas, boas pernas e uma boa bunda, isso costuma ser a porta do paraíso, ou a passagem expressa e sem escalas para o inferno.

Acontece que naquela noite de segunda feira, eu não estava a fim de nada. Ainda que as bucetas recitassem poesias de Gutierrez ou Pessoa, eu apenas queria beber e ir para minha toca, o corpo pesava, e possivelmente a morte seria bem vinda naquele instante.

Ela estica-se como gata, como se tivesse se despreguiçando, olha a todos com um olhar de supremacia irritante, uma chacota silenciosa, a mais poderosa as mulheres ali, a fodedora do tempo com sua roupa justa. Normalmente isso pra mim é de uma indiferença atroz, me interesso por gente poderosa ou supostamente poderosa, mas por um motivo desconhecido, aquela maneira de olhar para nos os miseráveis, revolveu meu interior.

Não tenho ataques de justiça repentina, mas talvez pelo rum, pelo cansaço, pelo olhar por minha merda de vida, tomei as dores:

-O princesinha dos infernos, que foi hein? Você tá com algum problema?
-Calma cara...calma – disse um pouco assustada.
-Calma porra nenhuma...que você tem em mente? Que você quer?

Gostei daquilo, se ela fosse realmente fodona, iria me encarar. Já estava com vontade de pega-la pelos cabelos, e transforma-la em minha vaquinha de estimação.
Dava para ouvir as pedras crescendo, tamanho o silencio que se fez. Ninguém saiu em devesa da putinha esnobe.

-Nada não, eu já tô indo embora...calma tá tudo bem.

Zefa, o dono ou dona do bar, serviu o rum e fiquei parado, vendo a moça se afastar, muito sem graça, com passos decepcionados. Zefa é uma mulher que é mais homem que muito marmanjo que conheço, acho até que ela mija em pé, nunca vi, mas gostaria:

-Fabiano, que houve? Tu nunca dizes nada, nunca faz nada, que te deu cara?
-Sei lá, as vezes é assim. Essa putinha sente necessidade da vida, uma vida que ela não vive, por que tudo é uma ilusão de facilidades, ela veio aqui atrás de vida real, nossa vida, a bebida barata, o cheiro azedo que se mescla ao cigarro vagabundo, a sujeira das paredes e aos pedaços de alma espalhados por aqui...
-Filosofando e tudo hein...
-Vai a merda Zefa.

A machorrona saiu de perto rindo sozinha. Tomei o ultimo gole e fui embora, sentia uma saudade inquietante das estrelas, do ar da rua, de voltar para alguém. Na porta do bar olhei para o céu constelando, a lua cheia, respirei fundo querendo viajar para fora de mim, mergulhar em uma quietude, mergulhar nos braços dela.



Luís Fabiano.

segunda-feira, abril 18, 2011

Poesia Fotográfica




Adoradores de Dinossauros

Ontem me perdi em mim mesmo, eventualmente deixo que tal situação aconteça numa tentativa de pensamento intuitivo que aspira algo. Ás vezes se realiza, e consigo entender com alguma serenidade o que se passa em minha vida, na vida do cosmos e dos meus próximos, tão próximos como abismos sem fundo.

Não queiramos auscultar os vãos profundos de um único humano, encontraremos mistérios indecifráveis e neste aspecto creio, que o outro ás vezes seja surpreendente. Não acho ninguém surpreendente, não os tempos atuais, a possibilidade de uma desdita ou do afago da vida são naturalmente esperadas, um pendulo existencial e não há com que se surpreende com isso. Não é nisto que reside a surpresa da vida, mas sim no seu elã interno e solitário. Detido nas dobras sombrias das noites que passam, dos dias lépidos que iluminam e que fazem acordar em nós alguma coisa, esse algo que anima nervos, que arrebata o coração e transporta a mente.

Via um filme ontem, e pensava nisso, o filme cheio de efeitos especiais de um aclamado diretor hollywoodiano, porem com um roteiro barato, com uma historia vã cujo desfecho era apenas um simples encontro de amor, daqueles impossíveis amores que o roteiro torna realidade e que a vida torna modorrento.

Perdi-me entre os personagens também, passei a odiá-los como filhos malditos de uma merda de roteiro, uma merda de atuação de uma mega superprodução de merda. Que este cara tinha na cabeça afinal? Já briguei com muita gente, mas com os filmes era a primeira vez.

Então relaxei, minhas doenças psíquicas talvez estejam se agravando, fui tateando pensamentos numa tentativa de fazer luz, creio isso ser importante, é preciso saber fazer luz meridiana em nossa vida. Somos portadores dos archotes e das sombras. Fui em direção ao tempo que se vive, viajando para o passado de um tempo sem tempo ainda, onde andávamos a busca de fogo, onde era preciso caçar para alimentar-se, onde o sexo era um estupro consentido na perpetuação da espécie humana. Vi dinossauros famintos tremendo o chão com suas pegadas enormes.

Que filme chato.

Voltei a mim nos estertores do filme, uma breve cochilada no enfadonho filme. As coisas se tornaram mais claras eu acho. Eu era o dinossauro dos tempos passados. E, portanto não posso achar maravilhas nos tempos que hoje surgem, enquanto minha mente observa outros dinossauros pregressos. É o significado pungente que fala, minha mente tenta abrir-se ao novo sempre, porem como um sinete encarcerado em meu coração ou um irremediável dinossauro ferido sem consolo.

Então quer dizer, que o maldito filme, é cheio de significados para os tempos de hoje, são novos dinossauros sendo caçados, com novos valores e pensamentos do amanha, sua verdade é apenas isso, nem melhor ou pior que os velhos dinossauros enfadonhos.

Nada esta pior, as coisas estão como estão por sua natureza própria. Não façamos comparações baratas dos gênios que se foram enterrados como dinossauros podres. Como peixes, estamos fisgados ao tempo que vai nos arrancando da vida, num parto as avessas, arrastando nossos pensamentos e emoções, agarrando-se as pequenas certezas e aos supostos valores adquiridos, nossos pés firmados em uma terra que não oscila, que não desmoronará, imaginamos. A inexorável certeza de estar certo, e disso raramente estamos dispostos a abrir mão. Pensamos no tempo e no suor derramado para tudo converter-se em nada?

O filme estava nos créditos, com uma musica muito agradável que sugeria paz, uma tentativa de abrandar os dinossauros, sorri pra mim mesmo. Tudo parecia tão limpinho e certinho demais, como é da minha natureza querer movimentar as coisas, quando tudo parece tão parado, baixei minhas calças e fiquei acariciando meu aquietado membro, dizendo impropérios para ele. Pelo filme precisava xingar algo ou alguém. Como um morto ele nada fez, guardei-o e achei melhor ir dormir, estas madrugadas com pensamentos demais, bebidas de menos e filmes vagabundos, servem apenas para elevar minha convicção que realmente a vida pode ser uma merda.


Luís Fabiano.