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quinta-feira, abril 28, 2011

Amor doentio Amor


Gosto das reviravoltas que a vida dá, quando menos espero estou envolvido em um turbilhão, onde se mesclam dor, lágrimas, um pouco de merda e um coquetel de tempos. Nunca entendi muito de amor, e creio não existir uma única alma que entenda claramente isso.

Já o vi de tantas formas, cores e gostos que realmente apenas acredito que exista o amor, mas como ele irá manifestar-se, como será conduzido, se será ético, correto, limpinho ou sujo, não sei, e não me interessa se será desonesto talvez, quem sabe universal ou ridiculamente inocente, quem irá saber? O que servirá para você ou para mim?

Desde que me lembro, vendem a ideia de amor ideal e perfeitinho, onde tudo da certo, onde as coisas funcionam e tudo deve limitar-se a essa forma correta. Se destas linhas mestras a coisa sair, já não será mais amor, é isso que as pessoas acreditam.

Triste lembrar disso, mas é necessário.

No meu primeiro casamento, sofria desta doença incurável. Lembro que ela era uma mulher cheia dos padrões ideais, bonita, sorridente, trepava como uma puta de alma, não se importando onde eu enfiaria o pau, ela simplesmente gostava. Tudo isso deveria ter permanecido assim, como um eterno namoro. Mas a vida, a maldita aspirações humanas, muitas vezes nos faz meter os pés pelas mãos.

Nesta época eu acreditava exatamente assim no amor, na entrega total, a tal ponto que era levado a doença. Tudo era ela, meu coração disparava por ela, eu a queria a todo o momento, queria estar agarrado a ela, de tal modo que a sua respiração fosse a minha, que seu fluxo fosse o meu refluxo. Naturalmente isso me levou a uma espécie de loucura. Infelizmente ela aceitou a doença amorosa e tornou-se doente também. E quando isso aconteceu, então caminhamos para a destruição sem limites.

Aquele sentimento era bom, mas tinha um ônus muito pesado, anulava o amor que tinha por mim mesmo, tornando-a a única coisa importante. Nem Deus, nem Buda ou Jesus eram alguma coisa pra mim.

Nutrimos tal sentimento como um porco, engordando dia a dia com tantas emoções difusas, inseguranças, ciúmes intermináveis e doentios, e em meio a isso demos o toque final que seria ao mesmo tempo a pá de cal. Casamos.

Então as coisas mudaram radicalmente. Ela tentou afivelar mais o laço que tinha sobre mim, passou exercer um controle total de meus movimentos. Queria saber a todo o momento onde eu estava, o que eu estava fazendo, com quem eu estava, a que horas chegaria e porque havia me atrasado dois minutos?

Silenciosamente, como algo que eu não percebi subjacentemente, a serpente começava a enrolar-se, cuidadosamente. Aquele controle todo, começou a me asfixiar inclusive fisicamente. Passei a sentir falta de ar, a ter medo de chegar em casa atrasado, a ter que explicar o porquê disso e daquilo. Tudo passou a ter uma explicação em minha vida, até mesmo um peido.

Lembro que um dia saindo do trabalho, senti aquele ímpeto de não ir pra casa. E foi o que fiz, na antiga Lusitana, uma Lancheria da Andrade Neves, sentei-me como estava, com terno e gravata e pedi uma cerveja. Foi onde conheci Arlom.

Ele era um coroa, que bebia a sua cerveja sozinho, e depois que passava da conta, começava a cantar Taiguara - O universo é teu corpo para todos que lá estivessem. Era uma figura. Alguma coisa aconteceu ali em mim. A voz de Arlom ecoando no ar, entre um gole e outro se cerveja, iria despertar em mim o estranho desejo de querer ser livre. Ele parecia feliz e vivo.

Quando cheguei em casa aquele dia, uma tempestade me esperava, precisei explicar meu cheiro de álcool, meu atraso, quem estava lá, e a falta de ar voltou, foi terrível, um trauma que só de pensar me da arrepios.

E o que fazer?

Eu amava aquela desgraçada por tudo que ela era, por sua atenção comigo, por suas fodas intermináveis, por aquela buceta enorme e peluda (coisa que até hoje me fascina), pela organização que ela dava a minha vida, a amava demasiadamente. E demasiado sempre é problema.

Por outro lado, me sentia doente, me sentia aprisionado, controlado, agrilhoado em correntes invisíveis. Levei este casamento desta forma, assim por dois anos, num total de mais quatro de namoro. Seis anos, isso pra mim é um recorde.

Tentei conversar, tentamos e inclusive nos separamos algumas vezes. E voltávamos e tudo continuava exatamente como estava. A bem da verdade eu não estava sendo honesto comigo mesmo. Aquela relação já havia terminado, mas por minha doença e doença dela, alimentávamos o que havíamos tido. Como um totem carcomido pelo tempo. Por fim chegamos ao final.

A última noite que passei com ela, foi como se não tivesse fim. Ela chorou como uma criança a noite inteira, um choro calado e pesado, com o corpo estremecendo, como querendo pendurar-se aos ponteiros do relógio, para congelar o tempo. Quando a manha se fez, ela levantou-se me beijou pela ultima vez e saiu. Disse que não queria ver-me recolhendo as coisas, e foi por ai.

Havia um luta se travando em mim, a liberdade e suas incertezas ou a conhecida prisão, feito de amor encarcerado, sexo desenfreado e uma cama quente. Como um prisioneiro que fica encarcerado muito tempo, a rua me assustava, pegar minhas coisas era pesaroso.

Arrancar de dentro de mim, aquela doença que acalentava em forma de amor, doía como se minha própria pele estivesse sendo arrancada. Tudo era medo, incerteza, mas a vida é exatamente assim, não há como servir a dois senhores ao mesmo tempo, dizia Jesus.

Por fim consegui sair daquela casa, deixando quase tudo para trás. Estou acostumado a perder bens materiais, já aprendi a me refazer uma dezena de vezes, porque a vida é assim, também esse ônus é o menor de todos.

Esse deveria ter sido o ponto final. Mas quem disse a vida tem ponto final? As coisas mudam, convertem-se e tudo ganha uma nova apresentação. As dores cicatrizaram com o tempo, eu prometi a mim mesmo jamais tornar a amar alguém extremamente a beira de um abismo, jamais desaparecer engolido por qualquer sentimento, fosse a quem fosse.

Pois uma cosia é certa amigos, a posse de si mesmo, dos próprios sentimentos é único meio de se amar verdadeiramente alguém. Longe das compulsões doentias, longe do aprisionamento dos sentimentos. Pois o amor existe, mas ninguém é dono dele, ele não caberá em espaços restritos, mas deve ganhar as alturas de nossas melhores e verdadeiras intenções, a isso que se deve ser fiel. Quanto ao resto,bem, aí é com você.

A vida não tem ponto final eu disse. Pois bem. Passados um ano depois de minha separação, eu estava tranquilo e com certa paz. Eu recebo um telefonema dela, querendo conversar pessoalmente. Dizia sentir saudade e tudo mais, mas tudo era um subterfugio.

Nos encontramos e trepamos como cavalos no cio, foi lindo. Mas desta vez eu estava vacinado, podia até ser maravilhoso, mas jamais passaria disto. A primeira ex-mulher converteu-se em amante e assim foi por um bom tempo... e foi assim que tudo começou em minha vida.

Bom, agora sim, creio ser o ponto final... porque o resto vocês leem no blog.



Luís Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

As pessoas que dizem amar, nem sempre amam verdadeiramente, pois o verdadeiro amor liberta, nunca aprisiona.
Quando não amamos nosso par, apenas servimos de mero complemento.

Abraço repleto de PAZ.