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quinta-feira, dezembro 30, 2010

Navalhadas curtas: Companhia?



Eu sentando na poltrona, vendo uma tevê. Violência e noticias horríveis. Fico ali, não queria pensar em nada. Magda entra sala adentro com uma expressão raivosa:
-Então quer dizer que tens outra?
-Outra não. Outras...
Fica meio paralisada, acho que não a resposta que queria ouvir. Por fim diz:
-E achas isso muito normal? Certo?
-Acho meu bem...
-Por quê?
-Por que alguma companhia é melhor que companhia alguma.
Segui vendo televisão.

Luís Fabiano.
Sensacional Antônio Abujamra
O TEMPO



Amor Mio

Você será meu bichinho
Meu animal
Minha cadela e puta
Mas jamais te aprisionarei
Meu coração aberto
teu porto
Amas e não queres amar
Dói mas queres
Sou teu amor
teu cafetão eterno
Eventualmente dormimos abraçados
Como passarinhos aninhados
Minhas asas teu travesseiro
Tua língua é minha
e a alma também
ficamos assim
Somos parte um do outro
Numa cumplicidade feita de silêncios
A música errante de nossas almas
Sei que querias
Que assim não fosse
Sonhas com uma certa normalidade
Como uma barriga cheia de vida
Que crescesse lentamente dentro de ti parte de mim
Querias a previsibilidade do salto de um tigre
E com isso pensas em matar-me
És meu bichinho
Tudo que posso te dar é isso
Minha doce ferocidade
Meu carinho feito de garras afiadas
E as mordidas que dia a dia
vão te matando e fazendo viver
Teremos sempre isso
Nosso pedaço de eternidade
No segundo que a vida passa.

Luís Fabiano.


Foda-se 2010



Foda-se 2010

Não gosto de dramas finais
Repletos de lágrimas e ranho
O ano termina
Não tenho o que reclamar
Foi igual 
Como sempre é igual
Embora não sendo igual

Agora eles veem novamente
Com a baboseira de ano novo, vida nova
Enfiam isso pra dentro de seu rabo
E você acredita
Porem nada é como é
O novo não nasce de um numero a mais
É gestado nas entranhas do velho

A grande diferença
Quando o novo surge, o velho morre
E como uma sinfonia maldita,
Os gritos da morte
Mesclam-se aos gritos do recém-nascido
Dor e vida
Lagrimas e risos
Não há milagre algum
Se você não for seu próprio milagre

O sol nasce todos os dias
E deveria ser um milagre
Mas como os anos que se passam
Quadros emoldurados na parede
Seu brilho já não mais é importante
Oxidam pensamentos
A cada champanhe aberta

Enterramos nossos cadáveres
Asfixiamos outras emoções
Berramos esperanças como desesperados
Mas no fundo sabemos
O que bate em nossos corações
Não brindo a nada...
Quando acordei hoje pela manhã... eu já era novo.

Luís Fabiano.

terça-feira, dezembro 28, 2010


Poesia Fotografica



Gotas no seu chão


Não se deve ficar totalmente à vontade na frente dos outros. Cubra-se. Tal liberdade ás vezes pode ser brutal. E creio que pior que as palavras da censura, sejam os olhares mordazes. Se você deseja agradar, não seja você mesmo de forma alguma. Seja limpo e asséptico.

Coloque para debaixo do tapete existencial, tudo que você realmente pensa e sente. Eis o ideal. É o que todos fazem. É o que durante muito tempo fiz. A muito decidi não mais fazer.

É como uma espécie de narcótico, ser verdadeiro causa mal estar aos outros. Isso implica em algumas selvagerias pessoais. É como ter um tigre solto dentro de casa. Alguém já me disse que gosta da ideia. Porem nada como a verdade e o tempo.

Ela era muito pudica. Quando coloquei de quatro, bombeando com força, a sua xoxota generosa, começou a soltar peidos pelo ar comprimido. Pediu que eu parasse imediatamente. Tinha Vergonha. Não parei, aquele som vindo da xoxota, era como a Nona de Bethoven, adorei, gozei bem ali e no fundo.

Depois levantei da cama, pingando porra em seu chão limpo. Ela:
-Olha o chão, por favor... olha...
-Fique tranquila mi love, estou fecundando o seu chão, minha porra é muito boa...
-Que nojo Fabiano... não é tu vais limpar depois...
-Este nojo que você fala, esta dentro de você, bem no fundo da xoxota, no cú e na alma...

Ela calou. Elas sempre são assim, fazem um caso por pouca coisa. Estava á vontade demais. Aconteceu muitas vezes. Em um outro caso, uma amiga de cama, não deixava que a visse cagando ou mijando. Ela engolia cada gota de minha porra, mas vê-la mijando, era um pecado capital. As pessoas não compreendem que não existe pecado algum em nada. Um dia propositalmente disse:

-Um dia você deixa eu secar a tua xoxota depois de uma boa mijada? Ou limpar sua bunda depois...
-Não, nem pensar, que horror... que isso? Você é um doente Fabiano... isso é uma tara...credo...
-Ei se acalme, não farei com a língua, é com papel mesmo... com carinho...
-Fora de questão, estar no banheiro é pra mim algo intimo demais algo quase sagrado...

Ela não tinha jogo de cintura, nem imaginação, nem criatividade e queria algo que não existia em mim. Havia tanta censura, frescura , numa tentativa e fazer-me sentir culpado. Eu nunca me sinto culpado de nada. Eu assumo minha luxuria e vivo em paz. Um pouco transgressivo talvez, mas sem dramas de consciência.

Uns preferem se drogar, beber, fumar eu prefiro as situações limites. Pode ser meu pecado original. Gosto de levar os que convivem comigo ao seu limite. O que na grande maioria dos casos é fácil. Porque existe, pecado demais, escrúpulos demais, limpeza demais e quase nenhuma verdade.

Aprisiona-se o animal em uma jaula e acham que tudo está bem. O animal vai morrendo lentamente, adoecendo, o brilho de seus olhos vai se apagando como uma fogueira sem lenha. Porém esquecemos, quando o animal em nós é aprisionado e morre, com ele morre também a vida, o esplendor da existência, a fome de viver.

Repeti este papo para meu amigo Sérgio, o psicólogo. Ele sorriu e disse que não tinha jeito. E repetiu a sua ladainha de sempre, quando entramos em tais assuntos. Que não me enquadro à sociedade, e por isso mesmo teria que me tratar.

Normalmente sou educado e não atenção pra isso. Concordei, contando que, quem me tratasse fosse sua mãe, gosto de coroas. Ele achou que eu estava brincando, e sorriu. Fiquei olhando para ele, olhos cravados.

Havia um silencio glacial, entre pensamentos berrantes. Por fim, educação demais, cavalheirismo e fim. Afastamo-nos sem ano novo, creio ser melhor assim. Não pretendo impor meu modo a ninguém e nem desejo mudar nada. No fundo ninguém quer a porra pingando em seu chão, ainda que seja um liquido mais sagrado que o mijo.


Luís Fabiano.




Perola do dia:

“ Não tenho nenhum problema com a saudade. Gosto de sentir. Se me sinto saciado de alguém, é sinal que chegou o fim.”

Luis Fabiano.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Dica de filme : Comer, rezar e amar


O filme das descobertas. Ás vezes coisas não fazem muito sentido em nossa vida. Porem é preciso descobrir.Nós que damos sentido as coisas. Para isso acontecer, quando se esta perdido, é preciso apegar-se ao mais próximo, ao simples e desvendá-lo.
É como pegar a ponta do destino e carinhosamente desenrola-lo. Comecei vendo o filme por causa do Javier Bardem, que pra mim um dos melhores atores desta geração.
O filme me pegou, me levando a um encanto como raramente sinto. É preciso fazer a sua descoberta. Curta, porque é realmente é muito bom.

Luis Fabiano.


Nascimento do nascimento

A merda é meu material de construção. Tiro-a fresca do meu próprio rabo e esculpo formas, adiciono um pouco do meu sangue e algumas reles emoções. Não consigo sentir ou arranhar o divino, pelo divino. Raspo minhas entranhas e ponho tudo pra fora.
Penso isso sobre a arte. Ao menos pra mim a arte é feita assim. Nada de insipidez e gostos amórficos. É preciso sentir algo, ainda que algo se o gosto do liquido amniótico, berço de nossa vida, onde éramos protegidos por nossa bolha. Entramos na vida perdendo. Perdendo a segurança e o silencio, e ao respirar a primeira vez neste planeta, temos o trailer mais ou menos de como a vida será. Lágrimas e gritos.
Depois a formação de um caráter, a deformação de nossa essência mais bela. E de anjos, vamos perdendo as asas, sendo lentamente conduzidos a criar chifres. Se temos sorte, em dado instante queremos virar o jogo. Mas não antes de mais lágrimas. Comigo é assim.
Por muito momentos desejei ser uma tartaruga, retroceder a escala evolutiva, ficar com casco duro. Creio que tanto alimentei tal pensamento, que o casco, a armadura se incorporaram a mim.
Me sinto hoje, homem meio tartaruga. Apenas não herdei a covardia da tartaruga. Herdei outras covardias.
A muito desacredito de todos. Não alimento absolutamente nenhuma ilusão quanto a criatura humana. Entendo que todos são filhos da puta, até se prove o contrário. Quando aceitei isso passei a me sentir mais confortável com todos.
É preciso confiar nas pessoas, e saber que elas em algum momento vão enfiar uma faca afiada em ti. Isso deve ser tranquilo, ser encarado com um ato normal. Sem revanche, sem vingança. Uma maneira de confiar com cuidado. Trato a todos desta forma. Não há uma alma neste planeta capaz de me surpreender, a não ser eu mesmo.
Mas para que isso funcione com eficiência, é preciso abandonar algumas coisas. Tudo tem preço. A primeira delas é o amor. Para algumas pessoas tal sentimento funciona, e acho bonito. Pra mim nunca funcionou.
Decidi a poucos dias que não mais pronunciarei nenhuma palavra que traduza amor. Nem aqueles que amam. Porque realmente não sinto isso por nada ou ninguém. Ao longo de minha vida, fiz de minha existência uma emulação da realidade. Tentei aliar o que pensava a respeito de amor e o que o amor realmente era. E tudo cansa.
E mesmo com minha mãe, irmã, pai etc...não funcionou. Nada representava aquilo que imaginava. Não havia ideias nobres..não haviam sonhos, e não haviam esperanças. E hoje um pouco mais esclarecido, pouco significado tem pra mim. Possivelmente as derivações egoísticas de minha alma falem mais alto. Bom, que seja. O único lugar que sinto alguma satisfação é em mim mesmo.
Com o tempo, passei a não tirar a armadura, e nem me afastar da espada. Custa-se muito tempo para afastar-se as pieguices humanas. Como espumas de um mar ondulante, por fim o vento leva e a onda quebra-se.
Regozijo-me em minha solidão. Uma solidão a qual nunca estive apartado. Por mais amores, ódios e indiferenças que a vida tenha me presenteado. Olhava para os lados, e os abraços não chegavam a em mim, não me tocavam, não me transpassavam.
Ao contrário de emoções, as coisas eram para mim uma ideia. Mesmo a dor era uma ideia, a perda uma idéia, eu a engolia, e junto com minha alma aquilo virara um bolo de merda. Por favor não me entendam mal. Não me considero um artista. Sou um aprendiz de feiticeiro. Mais ainda não faço minhas feitiçarias. Um dia quem sabe, ou nunca.
Sei que os artistas pegam o seu material de construção. As emoções doloridas, as perdas, o amor desiludido, as frustrações e decepções, a merda de cada um. Então compõem musicas, pintam telas, escrevem...uma tentativa de ver o final algo dar certo. Ás vezes dá. Outras vezes é puro desespero, um alivio a alma. Tentam nascer novamente neste mundo. Entre dores e liquido amniótico.

Luis Fabiano.







Navalhadas curtas: Um produto estragado



Pouco antes do natal, assolado pelo estresse normal . Sufocado pela impaciência, sai no meu intervalo normal. Caminhando errante, um observador sem olhos e ou coração. Era preciso respirar apenas.
O calçadão fervia, um caldeirão onde misturavam-se, desejos, sonhos, dinheiro, miséria, ansiedade e papai Noel. Me enfadei. Decidi retornar ao serviço, uma caverna conhecida. Nas proximidades do Mercado central, fui atacado por uma putinha:
-E aí, gostoso, vamos fazer um programa?
Olhei bem pra ela. Muito magra, uma franga sem carne, peles sobre ossos, olhos quase vazados na caveira ossuda. Era a aranha, querendo uma vitima. Seria um bom momento pra ficar calado. Mas não, senti os caninos crescerem então disse:
-Que tu tem ?Não parece bem...
-Não tenho nada, sou saudável...ouviu, sau-dá-vel...há há há
Firmei o olhar, mas já havia entendido o que passava. Voltei a carga com todo o cinismo possível:
-Então, me diz, o que tu tens?
-Cara, já disse tô saudável...
-Eu sei que não...
-Tá cara, tá bom tô bem doente e ai? Vou morre sabia...vou morre...
Eu não tinha nada a acrescentar, agradeci e sai caminhando, em minhas pegadas, gotas de sangue.


Luís Fabiano.
Pérola do Dia:

" Tem dia que de noite é foda."

Autor desconhecido.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Fechando a semana: Clara Nunes - Conto de Areia

Apenas uma coisa: digam o que disserem, existem pessoas que são insubstituíveis. Vendo este vídeo , não tive como não me emocionar. Ela canta com raridade, trazendo um sorriso da alma, a voz flui e com ela o encantamento, a beleza e a espiritualidade.
Creio ser muito propício então...
Olhem com carinho e coração aberto.

Luís Fabiano.



Natal do lixo


Vendo o noticiário de hoje, a véspera de natal, não tem como não refletir. Um dia dedicado a notícias leves, suaves e doces como o papai Noel imaginado. O jornalista falava efusivo e repleto de felicidade aparente:
-Este é o natal dos shopping centers, pessoas comprando presentes, todos os anos é a mesma coisa, essa felicidade cheia de muita comida, muita bebida e presentes. Esse é o "espirito de natal",  na verdade é isso que importa.
Faz entrevistas falando exatamente isso, para engrossar a matéria. Tudo certo, fica bonito.
Não preciso dizer que fiquei nauseado. Aquela notícia parecia a coisa mais cretina que estava ouvindo. Porem não briguei comigo mesmo, pensei: Fabiano, não seja tão filho da puta, essa coisa é normal, as pessoas procuram felicidades que podem alcançar. E o presente está a mão, amor já não é bem assim. Entre no espirito natalino. Relaxei, deixei aquela merda de canal pra trás.
No banheiro, Carmem tomava banho, tivéramos uma boa noite. Ela roncou muito e parecia feliz cantando uma musica no chuveiro. Me dissera antes de ir pro chuveiro: Uma boa foda, deixa uma mulher nas nuvens, esse é meu presente de natal.
Sorri, a foda nem foi tão boa. Mas pra que tem carências abissais, um aceno é uma gozada. E ela tinha mais solidão que um iceberg. Creio eu, que quanto mais idade, mais carências. A noite foi boa e isso que importava afinal.
No inicio eu falhei, tentei trepar, mas havia bebida de demais e ai a jeba não se ergueu.Realmente não me importei, minha língua funciona bem. Não quero me vangloriar, mas elas sempre gozam na minha boca. Me chamado de cachorro, de puto e outras merdas. Isso me agrada muito. Ela gozou três vezes, e fomos dormir. Pudesse ser a vida assim, tão simples.
Na verdade estou com uma firme ideia, que na real, não existe simplicidade. Tudo é meramente aparente. Quando você mergulha dentro de um ser humano, somem simplicidades, e o que se percebe é um mar de pequenos e grandes conflitos camuflados.
Mas a vida deveria ser uma foto. Clique aquele instante e seja feliz. Se apegue ao melhor.Ainda que este melhor seja feito de cascalho bruto, é sua riqueza. Na tevê brilhava papai Noel. Carmem termina de banhar-se, fica tão limpa e perfumada. Queria tirar o cheiro de nossas porras misturadas. Eu gosto de tal cheiro, por mim não tiraria. Enfio dois dedos em sua xoxota sugo, enfio em sua boca. Gosto disso. Ela tem nojo.
Tomei um banho, tentei voltar a civilização. Pego meu carro e volto pra casa. Não iria pensar no natal, no espirito de natal e nada disso. Realmente não me importo. Talvez quando eu tiver mais idade, talvez eu fique mais sensível, mais aberto e tais momentos tenham algum significado.
Chego em casa e decido dar uma caminhada. Respirar o ar abafado das ruas. Fico lembrando de apresentador falando do Natal farto, que em tese é o natal de todos. Atravesso a rua, e na parte lateral esquerda de fronte ao meu prédio tem um lixão.
Ali acotovelavam-se e pessoas, disputado lixo. Parei para olhar a cena plástica. Não serei cínico desta vez. Elas pegavam velhos enfeites de natal, colocavam sobre si, como se fossem árvores de natal vivas.
Disputavam bolas de natal quebradas, um pinheiro semí-destruído e quinquilharias. Brigavam pelos pedaços de nada. Aquele é o natal da maioria das pessoas que não conhecemos. O apresentator filho da puta deveria ver aquilo. Mas ele não entenderia, eu mesmo não entendo bem e nenhum de nós quer entender.
Hoje terei um peru pra comer, muita comida e muitos abraços, e quando tudo isso estiver acontecendo, eu não lembrarei de Jesus, nem do lixão e nem das merdas que acompanham este mundo.
Assim seja.


Luis Fabiano.


Noite Feliz

Nada me torra me torra mais os culhões
Que musiquinhas de natal
Uma das canções mais tristes que escuto
Por ai é Noite Feliz,
Com aquele coro
Babujando lentamente uma noite infeliz
Mas parece inescapável
As pessoas correm comprando significados
Em forma de presente
Sem entender
Quando não se entende é assim
Nos atulhamos com o que esta mais próximo a nós
Náufragos desesperados
O mais visível,
mais táctil e o que cheira mais forte
Nada e abraços demorados,
Nem olhos nos olhos ou um
Sentimento que saia das entranhas.
Repetimos coisas ditas, ecos educados
Sorrimos os sorrisos dos bestas
Dentro disso, colocamos nossas intenções
Alguns até soaram verdadeiros
Mas ser verdadeiro ou não fará diferença?
Não me sinto revoltado
Ontem, e hoje já sorri assim para muitos
Entendo o jogo, como todos entendem o jogo
Tento parecer menos brutal, defendendo minhas pontas mais agudas
Entro em uma espécie de espirito de natal, adquirido a suaves prestações
É assim
Ontem enquanto pensava nisso
Comprei três garravas do espirito de natal
E tive vontade de abraçar todas as putas
Que me amaram, amam ou amaram...
Um sentimento real
Abraçar a fileira interminável dos que me odeiam
É natal porra.
Ao fundo, a maldita noite feliz...

Luis Fabiano.





terça-feira, dezembro 21, 2010

Áudio trecho
Extraído da obra – Animal Tropical
De: Pedro Juan Gutierrez
Voz: Luís Fabiano.



Poesia Fotográfica


Potro selvagem


Normalmente não ataco as mulheres de meus amigos, mas não posso dar certeza. Depende de muitas coisas. Já as mulheres de conhecidos, já não posso dizer o mesmo. Meus escrúpulos se esgotam facilmente, talvez por não existirem como concreto em meu coração.
Cabe dizer que não planejo tais atitudes, porem não me escondo de meus próprios desejos brutais. Não preciso dizer que isso já me causou alguns transtornos. Por que fazia isso de uma forma aberta, franca, inclusive na frente de minhas mulheres, e dos maridos de minhas amigas.
Por momentos me comportei como um jovem potro, comendo todas as éguas que cruzassem meu caminho, um jovem potro come ou tenta comer a própria mãe. Fui mudando, passei a agir diferente, hoje não é preciso agressividade, mas jeito, um papo melado, um papo que faça gozar.
Nunca fui um cara bom de dança. Pelo que sei sou horrível de dança, mas nada que o álcool não possa dar um jeito. Não digo que vire um dançarino, mas quebro galho. Estava em uma festa de casamento. Muitas bebidas, muita gente, alguns amigos e uma mesa cheia. Quando a quarta dose de wisk entrou, senti a festa havia começado pra mim.
Meus conhecidos e amigos conversavam coisas tolas. Quem fala de politica em uma festa de casamento? Falavam coisas sobre a esquerda e a direita, a centro esquerda, essas terminologias repletas de nada, tão voláteis quanto os interesses de tais administradores. Isso não me interessa e nunca me interessou. Tive vontade de manda-los se fuder. De certa forma fiz. Queriam me incluir no assunto. Que tu achas deste partido Fabiano ?
-Acho merda nenhuma, acho que vocês perdem um tempo precioso, pra mim não existe politica alguma, porque raramente as coisas tem haver com politica...
-Como assim?
Fiquei em silencio, pra mim havia acabado o assunto. Não sei se era a fotografia do momento, mas aquela conversa fiada me deixou aborrecido. Decidi agitar as coisas um pouco, tenho uma instabilidade que se manifesta em momentos estratégicos. Eu estava acompanhado, mas ela não queria dançar. Queria ficar ouvindo aquele vomito.
Olhei para uma das mulheres de meus colegas, que estava aborrecida, cuspi:
-Ei Jessica, vamos dançar um pouco? Ei fulano você...permite ?
-Claro...dancem...
As vezes o descaso acaba saindo caro. Ela aceitou na hora, e levantamos dançando um samba. Fui sincero, disse a ela que não dançava nada, que ela poderia me conduzir...sorriu. Bem ali começou uma nova festa. Meus escrúpulos tiraram férias rapidamente.
E quando encostei-a ao meu corpo, minhas intenções já eram outras. Ela estava linda em um vestido preto justo, pouco acima dos joelhos. Seios grandes, firmes sem sutiã, cabelos soltos. Dançamos, ela me ensinando, eu errava, ela sorria, me dizia como fazer. Eu ria e errava feliz. Esqueci-me da minha namorada, ela também esqueceu o marido politico.
Minha mão passava pelo lado dos seios e na cintura, local maravilhoso para tocar em uma mulher. Ela gosta, trago-a junto a mim e sopro suavemente em seu cangote, pouco abaixo da orelha. Sinto que esta arrepiada. Os bicos dos seios ficam duros sobre o vestido. E entendi que havia algo no ar.
Na mesa, pude olhar a cara de minha namorada. Não era uma expressão, era um mapa da Amazônia. Pelo que percebi o assunto politico havia esgotado, as pessoas nos olhavam, eu disse a Jessica:
-Sabe, acho que eles não estão gostando nada disso...olha lá...
-É Fabiano, eu já vi...
-Mas a festa é nossa Jéssica...nos estamos nos divertindo...é isso que queremos...
-Sim, mas meu marido e tua esposa...e...
-Que acha? Minha proposta agora, saímos juntos da festa, agora sem dar explicações...agora...
Fica em silencio um pouco, pesando valores. Gosto disso. Tais silêncios são berrantes. Quando valores são vacilantes, feitos de algo que não traduz certezas, nunca existe uma resposta pronta. Por fim...
-Não, não, vamos voltar pra mesa por favor, isso pode acabar mal...pra nós dois
Concordei. O que ela tinha era medo das consequências. Eu não.
Voltar pra mesa, teve o mesmo gosto de retornar ao inferno. Um inferno feito de caras feias, de sentimentos distorcidos, por ausência de diversão, incompreensão e outras frustrações. Banalizo o momento, porque se comportaram como banais. Uma conversa desanimada entre todos. Eu esperava alguma coisa.
Por fim minha namorada resolve, e vamos embora. Antes de chega ao carro, pergunta abertamente :
-Que tu pretendia Fabiano com a Jéssica? Diz...
Pensei duas vezes antes de responder. Essa seria uma boa ocasião para inventar uma boa mentira, talvez tentar apaziguá-la, e tudo terminar em carinho, um bom sexo depois. O sexo da reconciliação, o melhor. Mas não estava disposto a mentir...
-Na verdade eu não queria nada em primeiro momento, mas depois fiquei com vontade de come-la...de ir embora com ela...
Começa a chorar:
-Como tu pode ser tão filho da puta cara? E nem faz cara de arrependimento, não mente...não precisava me dizer a verdade...merda Fabiano...porque...
Naquele momento eu não entendia. Você mente é porque você mente. Se fala a verdade é porque você fala a verdade. Aquele atrito nos conduziu a fim. Quando a deixei em casa, ela disse pra mim nunca mais procura-la, sou obediente.
Quando cheguei em casa, fiquei tentando sentir dor de consciência, mas não sentia. Desisti. Não me arrependi de nada. Pensava: porque Fabiano, tu és tão insensível ?Porque é tão brutal e vomita sobre a mesa? Nada disso me doía. Não me sentia realmente assim, talvez eu seja um viciado que não se dá conta do próprio vicio. Nunca penso nas coisas como certo ou errado.
A soma de nossas emoções boas e más, misturados aos acontecimentos, forjam o que sentimos no final, bem no final, o resíduo.
E não gostamos ás vezes de ver tais verdades, vamos entulhando uma moralidade pseudamente correta, queremos ter certeza de que tudo certo. Porem expliquem isso, a fome, expliquem isso a sede, argumentem com a natureza.
Adormeci sozinho em minha cama, o pau estava duro...como estaria Jéssica?


Luís Fabiano.

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Pérola do dia:




“ Você sabe, algumas vezes, se um homem não acredita no que esta fazendo, ele pode fazer um trabalho muito mais interessante, porque ele não está emocionalmente envolvido com a causa.”

Bukowski – Ao Sul de Lugar Nenhum.
Dica de Filme: Minha Cama de Zinco


O filme questiona valores e propostas. Tema gira em torno de vicio alcoólico, e a real proposta de libertar-se do álcool. Com abordagens polêmicas, sobre a postura do AA como um vício substituto, e de onde o vicio real reside. Entende-se que o problema ás vezes não é o vicio.
Enquanto não se curam sentimentos doentios, tudo será um problema, o álcool o menor deles. Com uma atuação fantástica de Jonathan Pryce, um rico provocador, e Uma Thurman uma pseudo recuperada do vicio.
Gostei muito do filme porque ele expõe a cretinice sobre a mesa de jantar. Nada melhor que sobre a mesa.


Luis Fabiano.



ps- não achei o trailer legendado em português, mas este serve pra ter uma idéia.




 

Breve silêncio no caos



Breve silêncio no caos.


Raramente sinto uma expansão real de felicidade sem mácula. Um sentimento gratuito de paz e silencio, tem sempre alto preço. Então ser feliz, não é ser tão feliz assim, ficam pendores. Mas nem sempre acontece desta forma.

Neste dia especialmente, sentia em mim que tudo estava em ordem. Como garrafas vazias ou cheias em fila, ordenadas por qualidade. As cheias eu não havia esvaziado ainda. Era uma questão de tempo. As vazias, o conteúdo já havia se transformado em idéias, lágrimas, rancor ,fé ou algum outro dejeto emocional qualquer. Como uma religião sem Deus. Uma foda sem gozada.

Respirei fundo, tentei encontrar alguma macula. Alguma coisa deveria estar errada. Não achei. Então realmente estava tudo bem. Senti que estava fazendo algo certo. Não quero dizer correto, mas certo.
Tinha acabado de sair da casa de uma de minhas amantes. Uma grande gozadora. Me chama de Marginal. Diz coisas caótica pra mim sempre. Que eu não presto, que sou animal, um mentiroso, e que a toco com mais desejo a cada dia. Gosta que lhe chupe o cu. Normalmente dou umas porradas na bunda dela, muito forte, ela gosta, sorri, o sorriso das vagabundas e goza. Isso a torna linda. Tudo que temos, é porra e um coração ás vezes. Saí de lá bem.

Lembrei das outras. Uma meia dúzia ou mais, não sei bem. Elas são meus amores, estariam caladas, em suas casas, era assim que me parecia. Eu havia gozado o suficiente naquele dia, e não havia desejo algum. Desejo de nada. Uma cerveja talvez.

Porra, pensei, a vida poderia ser sempre assim Fabiano. Mas logo esqueci essa merda de pensamento. Porque instável como sou, sei muito bem que me entedio rapidamente, quanto tudo está tão bem. Quando está mal também.
Porem ter alguns raros momentos de descanso, onde nada é exigido, é bom. Mas tenho certeza que se demorasse mais um tempo naquele estado de paz, certamente começaria achar uma merda. Tudo passa, e isso me agrada muito.
Preciso de doses de caos, servidas dia a dia, lentamente. Coisas que me aproximem da vida real. Minha sede profunda. Nada de ideologias distantes, repleta de possibilidades surreais, e sonhos de felicidade eterna. Não.

Você sabe e eu também, que essa merda não existe. Pensando bem, pouca coisa existe de verdade. O que existe é a exata dimensão daquilo que você sente e pensa. O resto é dejeto.
Lembro muito bem, quando tinha dezenove anos, o dia que coloquei todos os meus sonhos na privada. Até hoje considero o dia mais feliz de minha vida. Ali acabaram as minhas ilusões quanto a vida, quanto ao ser humano e o resto.

Meus amigos me acharam muito radical naquela época, descordaram visceralmente. Porem o tempo sempre nos mostra a verdade. Quando a merda começa acontecer em nossa vida, tudo se reduz ao exato tamanho do que é, você começa a entender muitas coisas. A primeira delas, que a vida real, é a que esta em teu coração, os sentimentos que te animam ou matam.

Confesso que isso, me tornou uma pessoa melhor por um lado, e pior por outro. Passei a entender a fragilidade que permeia todos nós. Não que sejamos todos filhos da puta. Mas existiram momentos que fatalmente seremos, e esta tudo bem.

Encontrei um destes amigos do passado em dia destes. Não quero considera-lo. Porque me encontrou no calçadão de Pelotas, e tudo que fez foi queixar-se incansavelmente. O entendi, porem não concordei com nada.
Para Eliezer, nada ou ninguém eram justos com ele. Queixas e mais queixas. Sentia que eu estava em um banheiro, e a descarga funcionava ao contrário. Você aperta o botão ou puxa a cordinha, e toda a merda do vaso vem pra cima de você, em um banho suculento e melado.
Quando ele terminou de falar, fui direto e sem anestesia com uma certa dose de maldade benévola:

-Na boa Eliezer, tu não passa de um merda cara! Eu disse a muito tempo que não existem ilusões, lembra? A vida é o que é. Porra, faça o possível e saia dessa, tente não cagar sobre as pessoas, ninguém aguenta merda.

Ele não gostou nada disso. Eu achei bom que não tenha gostado. Existe uma chance que reflita, pare de arrancar as cascas das próprias feridas. Desejei um bom natal e feliz ano novo pra ele. Não respondeu. Menos um.

Voltei a mim. Tudo estava tão bom. Não sei se é o espirito de natal. Não creio. Mas é bom saber que se pode estar assim, tranquilo gratuitamente. Como um bom barco a vela. Ela desfraldada e o vento norte soprando devagar em um mar encapelado, não há força ou resistência apenas se desliza silenciosamente, atrás o continente vai desaparecendo, como sentimentos densos que se desfazem com o tempo, nos tornando tão leves como os ventos do norte e do sul.



Luis Fabiano.

sábado, dezembro 18, 2010

Calcinha Suja


Calcinha Suja

Gosto do jeito que a lingerie toca
os corpos das mulheres
Com uma leveza sem par
Tecidos feitos de ar
costurados com desejo
Envolvendo pecado e pesadelo
Sonhando com o céu
É...
Minhas mãos são ásperas
E meu coração é duro
Sou o bruto que delira
A raiva inquietante
O sibilar da serpente
Um aprisco sem teto
Pego suas calcinhas sujas entre meus dedos
Cheiro profundamente
Querendo busca-la nos espaços
Faz Lembrar do seu passo suave
Quase uma dança feita de amor e sedução
Nos misturávamos
Fim e começo, abandonados
Onde andara aquela xoxota molhada?
Por onde baterá o coração
eco de nossas vontades...
Mergulho em um mundo feito de retalhos e lembranças
Coloco a calcinha dela em minha cabeça
E adormeço
Com o cheiro do seu rabo em mim
Sonhando com sua alma.
E cativo de seu amor.

Luís Fabiano.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Mister Catra


Pra fechar a semana em alto estilo. Deixo o Mister Catra cantando seu funk, e se divertindo com a natureza, a nossa melhor e pior natureza. Esse cara é um autêntico personagem marginal.

Luis Fabiano.

Poesia Fotográfica

Poesia Fotográfica




Gaiola Quebrada




Gaiola Quebrada

Nada pode ser mais democrático que uma suruba. 
Ali naquele campo de batalha, cujo fim é o prazer, dividem-se ânsias, paixões e devassidão, como alimentos doados para caridade. Porem, longe de se ter certeza que a satisfação será completa. Mas no gesto caridoso pode-se não encontrar satisfação também, depende sempre da maneira como faremos a entrega.

A entrega é a chave. Ela precisa ser completa, como completo precisamos ser em tudo que se faz. Entregar a alma em um só gole, e não homeopaticamente. Como traço inapagável da vida, cada decisão deve ser um corte que marcará nossa vida e desdobrará nosso caminho.

Durante muito tempo me economizei, realmente não havia interesse em ser integral com nada. E mesmo hoje, escolho as pessoas a quem serei integral. Nunca escondo este jogo, como uma espécie de insanidade eterna, nada ou ninguém tem um conceito pronto pra mim. Meu olhar tenta acompanhar a volatilidade da existência. E me acomodo bem a isso. Pois minha paz é algo errático.

Sei que isso transtorna as pessoas. Mesmo as poucas que gostam de mim, mas entre o gostar em sentido de agradar, e a autenticidade, qual você escolheria ? Foda-se o gostar.
Me comprazo muitas vezes nas contradições. Creio que quanto mais contraditório, mais beleza subjacente, a mais difícil de ser percebida e entendida. Alguns acharão que é desculpa de minha parte, por trepar com tantas pessoas de aparecia esdruxula por exemplo. A medida que o tempo passa isso fica mais evidente.

Nunca trepei com aparecias, trepo com almas, com espíritos e com a nevoa de desejo e vida, que pode ou não converter-se em uma espécie de amor. Ali faço minha entrega. Não como personagem, com uma vontade tão imensa, que tenho a impressão que arranho as teias do de um sentimento divinal. Há olhares, carinhos e beijos, mas não apenas isso.

Em minha brutalidade primitiva, deve haver cheiros, pelos e algum desespero de prazer. Tudo isso pode ser não compreendido. Entenderão os carregam mortalhas morais, que minha obscenidade profunda é o desgarro das mãos de Deus.
Outros talvez animados pela fome de um pão caridoso, verão beleza e singularidade. Na verdade, tudo que veem é a sí mesmos.

Corações deformados pela vida ou lacrados pela dor. Não participariam de uma suruba, ainda que Deus estivesse nela. E muitas vezes está. Em um dado momento Deus e o Diabo esquecem suas eternas diferenças. Você acha que não?
Posso dizer isso com todas letras e com minha consciência serena, como um mar ondulante ao amanhecer. As pessoas não sabem quem é Deus, e muito menos seja o Diabo. 

Os seres humanos são de uma infantilidade profunda quando se trata de crença. Tudo deve ser incrível miraculoso e milagroso.
Porem quanto mais fantástico algo é aos olhos, menos ele o será para alma. A humanidade crê em algo que não conhece, quer sentir mais ainda não sente. Fica tentando decifrar pela barganha de quinquilharias da vontade, as pegadas do divino, sem nunca percebe-lo que esta consigo.

Céticos da hipocrisia, os quais fiz parte com muito orgulho. Hoje não pretendo ser uma pessoa melhor, não pretendo que ninguém seja melhor do que é, ou salvar o planeta da fúria tóxicas, ou festejar todos os meus natimortos enterrados, ou que os anjos dos céus venham me buscar na hora derradeira. Não.

Quero viver tirando vida até dos ossos, como uma espécie de ereção interminável por tudo que me cerca. Quero fazer a entrega de minha vida. Seja o pão ou pau.
Em harmonia vive em mim, um amor e uma raiva pela existência. Nem destruir ou construir. Como um casamento de Deus e o Diabo, dessa relação maldita, cujo ás sombras carrego para minha vida. 

Sorrio feliz, como uma satisfação, porque algo sai de mim, faço a entrega de meus amores e meus pesares, e como quem abre porta das gaiolas, e uma revoada alada ganhando o céu, beijando o sol e acariciando as estrelas. 
Tudo nasce aqui, e aqui morre.


Luis Fabiano.





quinta-feira, dezembro 16, 2010

Destras da barba





Nunca ninguém percebe o que se passa por detrás das cortinas. Também não percebemos o que se passa em nossos intestinos, mas vemos o resultado final. No final, vemos a merda flutuando poeticamente em um vaso muito limpo.

Como o resto que nos cerca, dentro ou fora não nos interessa. Esqueça os detalhes, veja o resultado, o que sobra, o resíduo e a isso nos agrilhoamos. Nosso pensamento. Porem nem sempre derrota é derrota, ou vitória uma vitória.

É preciso entender o que anima nossas emoções, ou a emoção das emoções. É como caçar um fantasma horrível, cheio de garras e capaz de transformar tudo em céu ou inferno.

Muitas vezes, beijos não serão beijos, abraços não serão abraços, olhares profundos se assemelharam a abismos, mas se ficamos no resultado... ganhando ou perdendo não fará a menor diferença.
Sentado a um balcão, de um bom bar de Pelotas. Esse bom, não quer dizer bom, um bar apenas mais elitista. Naquele dia resolvi dar um tempo com a chinelagem que me anima sempre, esquecer espeluncas felizes que frequento. 

Fui dar uma de sofisticado, em um local um pouco melhor. Cabe dizer, que um lugar se conhece pelo banheiro. Muito limpo e cheio de espelhos, tem espelho ate onde você mija. Eu olho pra minha ferramenta pelo espelho, parecia maior, comecei a rir, é um bom marketing. Claro que acabei mijando no espelho também.

De volta ao balcão do bar, tinha comigo uns cigarros blacks e mentolados, são suaves. Não fumo muito, mas vezes é bom se intoxicar. No copo a minha frente, rum de Havana. Essa e minha maneira de estar próximo daquele lugar. Justamente com o cara que me ensinou a gostar de rum. Laços invisíveis, feitos de pensamento e emoção.

Então se achega um cara também solitário, como uma grande barba, óculos redondos e muito esteticamente correto. Queria conversar. Já disse que nunca consigo ficar sozinho por muito tempo.
Ficamos falando amenidades, idiotices , coisas sem importância. Essa besteira de final de ano, papai Noel filho da puta, da banda Garotos Podres, fazendo sarcasmos ao bom velho.

O cara tinha ares intelectuais, gostava de falar sobre origens, de onde as coisas vinham.Durante muito tempo quis saber de onde as coisas vinham. Principalmente de onde vinha o caos que me anima. Descobri que vinha de muitos lugares. Das minhas sombras, das minhas paixões e de uma sede pela vida, uma sede insaciável. Como um grande copo de cerveja e você tem vontade de bebe-lo de uma única vez. Então você derrama sobre sí, se engasga, vomita e a sede ainda está ali.

Com isso, acabei esquecendo as origens. Tornei-me um asséptico. Vivo sem futuro ou mesmo passado. É preciso deixar espaço dentro de si para o novo. E não um novo manchando de pesadelos que passaram, ou ânsias pelo que não existe, das coisas que são apenas zigotos de probabilidades. O intestino trabalhando em oculto.

Com o rum as coisas fluem.
Mesmo os antipáticos de metabolizam em mim. O cara seguia falando a respeito de origem disso e daquilo. Nosso assunto fluía, mas sem grande animação de minha parte. Fui notando que a medida que o tempo ia passando, a voz do cara se alterava. Começou com um grande grave, digno de um barítono com tendências ao baixo, e foi afinando. Como se alguém apertasse suas bolas. Agora parecia já uma cabra rouca. Os efeitos especiais da vida real. Por fim a cortina se abre. O cara se insinua :

-Que achas Fabiano de sairmos daqui? Ir pra um lugar mais tranquilo? Conversar melhor...

Entendi tudo.
Gosto de ver o ser humano. Toda a conversa intelectual desapareceu, a historia das origens, eram como armadilhas em uma floresta. Conheço bem esse jogo, a máscara que oculta desejos simples e banais, e repentinamente uma revelação fotográfica em câmara escura.
Sorri para Fred:

-Agradeço, mas creio te faltam alguns equipamentos que fazem mais a minha cabeça. Além do mais, seria preciso tirar outras coisas também, é melhor ficarmos no zero a zero,agradeço.

O cara era muito educado. Pediu desculpas e se afastou rapidamente. As pessoas gostam de limpeza, e que tudo fique como se não tivesse existido, ainda que tenha existido. Temos esse comportamento. Não gostamos de resíduos, e por outro lado é preciso que tudo deixe resíduo. São as mutilações do quanto perdemos, e o quanto ganhamos. No corpo são marcas, na alma, tendências, sonhos e pesadelos.

Não me demorei muito ali, comecei a sentir saudade da minha miséria. E como nunca sabemos o que há por detrás, mesmo sendo miséria, algo lá preenchia me coração, batendo no mesmo ritmo dele.
Precisamos estar no ritmo.



Luis Fabiano.


quarta-feira, dezembro 15, 2010

Áudio Poema - Poema para Glória
Extraído da obra- Animal Tropical
De Pedro Juan Gutierrez
Voz – Luís Fabiano.



Navalhadas curtas: Blue Bird em um domingo


Existem lugares que são mágicos por excelência. Porem a magia esta dentro de nós, ou ela existe, ou não é nada.
Nos sentamos, eu a cantora a mesa no Blue Bird. Naquele dia a voz da cantora foi substituída por um sanduiche prensado. Eu digo sempre, a fome vence a arte. Ou será a fome uma outra arte? Sinfonia das tripas vazias?Bem...
Eu pedi um rum, e deixe meu olhar passear por aquele ambiente tranquilo. Ao balcão dois homens bebiam cervejas, já estavam um pouco altos, olhos um pouco vidrados. Um show em dvd tocava, e de certa forma havia um outro silencio no lugar.
Então entra a voz de Humberto Gessinger, cantando Revelação de Fagner. Fomos todos transportados na musica, como um hino hipnótico, unindo nossas ilhas. O silencio se fez mais profundo, e por um instante nos irmanamos permeados de beleza. Sorri pra ela:
-Que momento hein...
Apenas retribuiu suavemente, nada a dizer.
Naquele instante não haviam dores, nem coisas dilacerantes, nem a merda que insiste em estar a nossa volta.
Apenas a paz de um bar errante.


Luis Fabiano.

terça-feira, dezembro 14, 2010


Emoções encaixotadas


Sou assim mesmo. Sentimentos mutantes, nem por isso ausentes. Eles se alteram, como a rapidez do flash de uma máquina fotográfica. Eventualmente sei que é preciso ser um bom filho da puta. E talvez essa seja a parte que as pessoas não gostem muito. Porque nunca é bom ver algo cujo o foco é difuso ou transgressivo.
Quem entende a vida a partir de um único ponto vista, descarta o universo que existe em cada ser humano. Creio que assim perdemos uma grande a riqueza. Queremos trilhar o caminho que todos querem trilhar, e se possível pisar nas pegadas deixadas por todos que nos antecederam. Como vacas indo ao encontro do campo verde ou do abate. Durante muito tempo pensei assim.
Afinal, quem não tem sede pelo óbvio?
Comportar-se como um exemplo, ter sentimentos acondicionados em caixinhas, bonitinhas e bem fechadas, ordenadas em armário. Tudo muito limpo e assustador, ao menos pra mim. Sei que é assim.
Conheci gente tarada por limpeza, entendi que limpeza também pode ser uma modalidade sexual. Não foram poucas vezes, que sujava o local que a pessoa considerava sagrado, propositalmente, para vê-la correr de um lado para o outro, como se tivesse arranhado um anjo do céu.
Seria bom que tudo ficasse nesta patologia, tão limpa. O terrível sempre é o que esta por detrás, no quarto escuro, onde raramente entramos. Nunca me enganei, então a alma de toda aquela limpeza, era um borrão de merda muito fresca e fedida. Inúmeras vezes disse a estas pessoas, tinham em verdade nojo de si mesmas. Eu também tinha.
Me irritava profundamente, vê-las acordando muito cedo em um domingo, tirando tudo dos lugares, e passando incansavelmente um pano.
Não demorava muito. Depois de um tempo, mostravam os sentimentos fora das caixas. Ou eu fazia o possível para que isso acontecesse. Nada como a intimidade. Tive um colega de trabalho, meio coroa e considerado excelente pai de família.
Era a mesa mais limpa da sala. Os lápis em perfeita ordem por cor, canetas que sempre funcionavam, e folhas em branco sobre a mesa para qualquer escrita de emergência.
Aquilo não era uma mesa de trabalho, era um ideal angélico. Muitas vezes olhava aquele altar, tentando devassar, mergulhando nos detalhes disformes de uma organização feita para esconder.
Não é relevante, mas vale a pena dizer que ele não era o chefe. Meus colegas não gostavam de Nestor. Não gostavam pelo que viam e sentiam em suas próprias almas. Um sentimento totalmente equivocado. Meus colegas tinham complexo de inferioridade, ou seja não gostavam por si mesmos, sentiam o cheiro do próprio lixo. Nestor não era o problema.
A bem da verdade, o ser humano nunca gosta do que fede em si. Sem duvida que aquela situação era um grande cena.
Os tipos patológicos me atraem, por mais limpos que aparentem ser. Me aproximei dele a ponto de trocar confidencias, coisas sobre família, mulheres, falar sobre as putarias que todos os homens falam, como quem  alisa o próprio membro todos os dias.
Então, um dia saímos pra tomar um trago de fim de tarde. Começava a achar que realmente estava errado sobre ele. O filho da puta era eu. Ele era tudo o que dizia, não havia falhas.Nesta época eu não tinha carro e depois do trago, ele me deu uma carona. Já dentro do seu carro, ele começou a ter ideias mirabolantes...sim, passaríamos em uma rua onde tinham travestis de esquina. Enfim saiu da toca.
Quando passamos pela Barão de Sta Tecla por volta de vinte e uma horas, havia muitos travestis. Nestor para o carro e descubro que ele é muito conhecido.
Olhei ele tocando nas bonecas, feliz, pegando seus paus em plena rua, dizendo que voltaria mais tarde. Confesso que senti satisfação naquele momento. Foi como se cheiro merda francesa adentrasse meu nariz. Gosto de gente exemplar.
Ele me deixou na porta de casa, entre sorrisos. Entrei para meu lar, onde nada era ordenado, e creio que ainda continua desordenado. Na época, minha mulher já estava com a cara fechada pelo horário. Sorri pra ela:
-Olá amor, tudo bom...
-Só se for pra tí...né...porque não veio pra casa cedo?
-Eu estava estudando uma alma...
-Fabiano, tu sempre com essas respostas furadas? Tu pensas que sou idiota ?
Fiquei em silencio, pensando que resposta daria, ou onde acertaria a porrada. É bom sempre ter algumas variantes. Tudo sempre passa em minha cabeça, mas tento sempre ser lacônico, deixar que as coisas esfriem por esfriar. Sempe faço o mais fácil, mas não descarto possibilidades.
Em casa meus sentimentos não estavam em caixinhas, e sim no vaso, eu estava prestes a dar descarga. Ela falou mais algumas coisas que não dei atenção. Lembrei de Nestor e suas travestis oferecidas.
Talvez a mulher dele fosse assim?
Talvez e ele pagasse um preço menor, que estar em casa fazendo companhia ao que não mais existe, embebidos em divergências, cultivando diferenças como roseiras sem rosas. Regando arame farpado, na esperança que deem flores. Não faria isso.
Peguei meu casaco e sai pra rua, deixando ela falando sozinha, já estava sozinha, apenas não havia percebido. Caminhei em uma noite calma e salpicada de estrelas, tentei organizar minhas próprias emoções, e talvez a ideia de coloca-las em caixas por algum tempo não fosse tão má. Foi isso que fiz.
Eventualmente abro alguma para ver como estão, ás vezes me faz bem como um bom abraço.

Luis Fabiano.