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terça-feira, dezembro 21, 2010


Potro selvagem


Normalmente não ataco as mulheres de meus amigos, mas não posso dar certeza. Depende de muitas coisas. Já as mulheres de conhecidos, já não posso dizer o mesmo. Meus escrúpulos se esgotam facilmente, talvez por não existirem como concreto em meu coração.
Cabe dizer que não planejo tais atitudes, porem não me escondo de meus próprios desejos brutais. Não preciso dizer que isso já me causou alguns transtornos. Por que fazia isso de uma forma aberta, franca, inclusive na frente de minhas mulheres, e dos maridos de minhas amigas.
Por momentos me comportei como um jovem potro, comendo todas as éguas que cruzassem meu caminho, um jovem potro come ou tenta comer a própria mãe. Fui mudando, passei a agir diferente, hoje não é preciso agressividade, mas jeito, um papo melado, um papo que faça gozar.
Nunca fui um cara bom de dança. Pelo que sei sou horrível de dança, mas nada que o álcool não possa dar um jeito. Não digo que vire um dançarino, mas quebro galho. Estava em uma festa de casamento. Muitas bebidas, muita gente, alguns amigos e uma mesa cheia. Quando a quarta dose de wisk entrou, senti a festa havia começado pra mim.
Meus conhecidos e amigos conversavam coisas tolas. Quem fala de politica em uma festa de casamento? Falavam coisas sobre a esquerda e a direita, a centro esquerda, essas terminologias repletas de nada, tão voláteis quanto os interesses de tais administradores. Isso não me interessa e nunca me interessou. Tive vontade de manda-los se fuder. De certa forma fiz. Queriam me incluir no assunto. Que tu achas deste partido Fabiano ?
-Acho merda nenhuma, acho que vocês perdem um tempo precioso, pra mim não existe politica alguma, porque raramente as coisas tem haver com politica...
-Como assim?
Fiquei em silencio, pra mim havia acabado o assunto. Não sei se era a fotografia do momento, mas aquela conversa fiada me deixou aborrecido. Decidi agitar as coisas um pouco, tenho uma instabilidade que se manifesta em momentos estratégicos. Eu estava acompanhado, mas ela não queria dançar. Queria ficar ouvindo aquele vomito.
Olhei para uma das mulheres de meus colegas, que estava aborrecida, cuspi:
-Ei Jessica, vamos dançar um pouco? Ei fulano você...permite ?
-Claro...dancem...
As vezes o descaso acaba saindo caro. Ela aceitou na hora, e levantamos dançando um samba. Fui sincero, disse a ela que não dançava nada, que ela poderia me conduzir...sorriu. Bem ali começou uma nova festa. Meus escrúpulos tiraram férias rapidamente.
E quando encostei-a ao meu corpo, minhas intenções já eram outras. Ela estava linda em um vestido preto justo, pouco acima dos joelhos. Seios grandes, firmes sem sutiã, cabelos soltos. Dançamos, ela me ensinando, eu errava, ela sorria, me dizia como fazer. Eu ria e errava feliz. Esqueci-me da minha namorada, ela também esqueceu o marido politico.
Minha mão passava pelo lado dos seios e na cintura, local maravilhoso para tocar em uma mulher. Ela gosta, trago-a junto a mim e sopro suavemente em seu cangote, pouco abaixo da orelha. Sinto que esta arrepiada. Os bicos dos seios ficam duros sobre o vestido. E entendi que havia algo no ar.
Na mesa, pude olhar a cara de minha namorada. Não era uma expressão, era um mapa da Amazônia. Pelo que percebi o assunto politico havia esgotado, as pessoas nos olhavam, eu disse a Jessica:
-Sabe, acho que eles não estão gostando nada disso...olha lá...
-É Fabiano, eu já vi...
-Mas a festa é nossa Jéssica...nos estamos nos divertindo...é isso que queremos...
-Sim, mas meu marido e tua esposa...e...
-Que acha? Minha proposta agora, saímos juntos da festa, agora sem dar explicações...agora...
Fica em silencio um pouco, pesando valores. Gosto disso. Tais silêncios são berrantes. Quando valores são vacilantes, feitos de algo que não traduz certezas, nunca existe uma resposta pronta. Por fim...
-Não, não, vamos voltar pra mesa por favor, isso pode acabar mal...pra nós dois
Concordei. O que ela tinha era medo das consequências. Eu não.
Voltar pra mesa, teve o mesmo gosto de retornar ao inferno. Um inferno feito de caras feias, de sentimentos distorcidos, por ausência de diversão, incompreensão e outras frustrações. Banalizo o momento, porque se comportaram como banais. Uma conversa desanimada entre todos. Eu esperava alguma coisa.
Por fim minha namorada resolve, e vamos embora. Antes de chega ao carro, pergunta abertamente :
-Que tu pretendia Fabiano com a Jéssica? Diz...
Pensei duas vezes antes de responder. Essa seria uma boa ocasião para inventar uma boa mentira, talvez tentar apaziguá-la, e tudo terminar em carinho, um bom sexo depois. O sexo da reconciliação, o melhor. Mas não estava disposto a mentir...
-Na verdade eu não queria nada em primeiro momento, mas depois fiquei com vontade de come-la...de ir embora com ela...
Começa a chorar:
-Como tu pode ser tão filho da puta cara? E nem faz cara de arrependimento, não mente...não precisava me dizer a verdade...merda Fabiano...porque...
Naquele momento eu não entendia. Você mente é porque você mente. Se fala a verdade é porque você fala a verdade. Aquele atrito nos conduziu a fim. Quando a deixei em casa, ela disse pra mim nunca mais procura-la, sou obediente.
Quando cheguei em casa, fiquei tentando sentir dor de consciência, mas não sentia. Desisti. Não me arrependi de nada. Pensava: porque Fabiano, tu és tão insensível ?Porque é tão brutal e vomita sobre a mesa? Nada disso me doía. Não me sentia realmente assim, talvez eu seja um viciado que não se dá conta do próprio vicio. Nunca penso nas coisas como certo ou errado.
A soma de nossas emoções boas e más, misturados aos acontecimentos, forjam o que sentimos no final, bem no final, o resíduo.
E não gostamos ás vezes de ver tais verdades, vamos entulhando uma moralidade pseudamente correta, queremos ter certeza de que tudo certo. Porem expliquem isso, a fome, expliquem isso a sede, argumentem com a natureza.
Adormeci sozinho em minha cama, o pau estava duro...como estaria Jéssica?


Luís Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

A verdade é a realidade. Algumas pessoas não gostam da verdade porque a verdade mostra a realidade.

Abraço repleto de PAZ.