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terça-feira, maio 31, 2011




Displicente inocência mórbida

Joana é uma amiga das antigas. Faz o serviço mais antigo da humanidade, atualmente a preços módicos, pois a idade, o corpo despencado e a dureza existencial em todos os sentidos, a transformou em uma maquina automática de foder.

Você inseriu a ficha na fenda, aperta o botão e ela põe-se a mexer sozinha, até que o leitinho seja derramado em algum dos seus rasgados buracos. Nada como o pratica, eu sempre digo. Em uma conversa que tivemos meses atrás, ela me dizia entre uma risada e outra, movida por alguma substancia venenosa:

-Tanto faz agora, na xoxota ou atrás nem sinto entrar... lá embaixo não doe mais nada, pode enfiar até um braço, apenas me pague antes...

-Mas que beleza em Joana, tua xoxota é mais ou menos como a vida, a gente toma umas porradas daqui e dali, daqui a pouco não doe mais, endurecemos a casca mole do coração...

-É, isso podes ter certeza, de endurecer eu entendo...

Sabia disso, há muito tempo atrás eu fiz uso dos serviços dela, quando era um pouco melhor, quando era meio humana, o sangue ainda corria em suas veias, e palpitavam algumas emoções, ousava dizer que acreditava no amor. Eu achava bárbaro isso vindo da boca de uma puta, aquela boca que engolia porra de vários paus durante um dia, queria achar o amor verdadeiro.

Creio ser sempre assim, a miséria seja ela qual for, nos dá fome de amor, muito embora muitas vezes não saibamos que amor é esse. Eu sou e continuo sendo um miserável, nunca soube muito bem no que acreditava. Mas fui descobrindo a medida que me entreguei a existência, a brutal corrente primitiva da vida, mergulho de animalidade com sonhos angélicos, me entrego ao dia que vivo, a hora que passa, aos segundos que piscam, só sei viver assim, uma caudal de intensidades, que se derramam da minha alma ao mundo, vivo, vivo e vivo até a ultima respiração, até a ultima gota de porra.

Minha conversa com Joana aconteceu em um pequeno bar nos arredores do Mercado Publico, lugar insalubre, onde tomamos um pequeno café barato e terrível. Meu interesse, era secundário, ela sempre fala muito, sua vida é o que posso chamar de extrema. Nisso havia arte, a maneira como ela expunha a colcha de merdas que sucederam em sua existência.

O café tava uma merda:
-Joana, que merda este café, o cara caprichou pra fazer isso...
-É o Breno, ele usa o mesmo coador a anos, dizem que repete o café até o fim do dia...
-Que beleza isso explica muita coisa, bom será que seja só café mesmo...

Ela gargalhava solta, que até escapou um peido bem fedorento. O cheiro da vida pura é mais ou menos assim. O liquido amniótico, fede e viemos embalados nele.

Então disparei de surpresa:

-Hoje não acreditas mais em amor Joana?

Minha pergunta que era fora do contexto de nossa conversa bagaceira, me pareceu desconfortável para ela, um golpe de surpresa no estomago, o sorriso desapareceu do seu rosto, deixando um silencio, ganchos que rasgando a pele.

Talvez ela não tivesse tão dura assim, afinal quem está? Algum lugar em nós sempre irá doer, a não ser que estejamos mortos.

-Olha guri, não penso mais isso. Gostaria de ter esperanças, que as coisas fossem diferentes. Mas hoje, com minha idade, o jeito que conduzi minha vida, já sei que nada ira retroceder. Então é melhor matar qualquer esperança de amar de uma vez, porque vai doer menos...

Uma amargura imensa encheu o ambiente, uma neblina densa que asfixiava as melhores qualidades humanas, até o Breno atendente do balcão parecia congelado, a mesa suja de açúcar, as marcas de copos ressecadas, eram marcas na alma de Joana.

Eu não iria lutar contra aquilo, não faço o perfil de autoajuda, porque existem instantes que a vida apenas é o que é, não há o que sonhar, pois a verdade é um copo de cianureto. Respondi:

-Eu também acho isso Joana, existem caminhos que são sem volta.
-Então vamos fazer um programa?
-Hoje não posso Joana, estou no meu intervalo, tenho que ir trabalhar daqui a quinze minutos...
-Guri, quinze minutos eu já fiz um cara gozar três vezes...
-Eu acredito, mas agradeço já comi hoje.

O café terminara, ainda bem, me despedi e deixei-a naquela mesa, parecia pensar alguma coisa. Tem que coisas que não se pergunta a ninguém, meu coração ficou desconfortável, como um rato tivesse saído da toca, e caminhasse no peito. Preciso parar com isso.



Luís Fabiano.

segunda-feira, maio 30, 2011

Áudio Poema

Charles Bukowski – Pássaro Azul
Voz: Luís Fabiano.

 


Navalhadas Curtas: Baratas da solidão

Não tenho problema de chegar em casa de madrugada, completamente derrotado. Não se pode ganhar todas, e creio ser como tudo que se repete, perde-se, o gosto torna-se enfadonho, ganhar demais ou perder demais será foda do mesmo jeito.

Três e dezessete da manhã, sem mulher, cansado, meio bêbado, cheirando a um dia de trabalho árduo, sou uma poesia marginal viva, que as tais madrugadas vão deformando, entre as estrelas de um dia pior, e os afagos falsos de pentelhos por aí...

Abro a porta, ligo a luz, entro, o silencio de um necrotério. No banheiro, sento meu rabo onde todas as pessoas de boa e má vida sentam ritualmente, isso nos torna a todos irmãos.

Faço minha serenata de merda. Quando olho minha escova de dente jogada na pia, a volta dela, pequenas baratinhas filhotes a exploram, andavam por cima das cerdas, pareciam comer algo invisível ali.
Sorri toscamente, afinal não estava tão só assim, pensei: afinal Deus não é bom?

Luís Fabiano.

Poesia Fotográfica


Confissões ardentes da ausência


Confissões ardentes da ausência


Tenho a impressão que a vida precisa ser por vezes, uma montanha russa desatinada em um mergulho frenético aos abismos, levando-nos a extremo das emoções, o radical de nossa alma saltando sem paraquedas para dentro da existência,  então como um repuxo de contradições nos erguendo, novamente sendo catapultado ao céu dando-nos a impressão que nos espatifaremos no universo intangível. É maravilhoso.

Eis o espirito de aventura, conversava com uma amiga minha, que agora se dizia bissexual, tais rótulos nunca me disseram nada, pois nossa animalidade brutal, é de uma gama de variações com incrementos emocionais, tudo isso apenas nos da uma pálida ideia do que anima o ser humano por dentro.

Por vezes as carências falam mais alto que os escrúpulos, e o que era inquebrantável, impensável, ganha ares de flexibilidade, uma cobra estática feita de pedra, que ganha vida, se torce e retorce no afã de sentir a vida pulsando em suas entranhas.

Creio que Mila era assim, contava com trinta anos, e uma carga de decepções amorosas que a fizeram questionar sua sexualidade e outras tantas coisas. No fundo eu sabia que era apenas uma ave ferida, e tais questionamentos era o grito do desespero calando sem voz.

Naturalmente eu estava ali, talvez na crista oportunista desta onda, onde os ventos queriam a mudar a direção de Mila. Acho que gosto da crise, entendo-a como um parto. Gosto de ver o ser humano dividido, bifurcado no centro, onde seu coração exposto bate junto com seu intestino, sangue e merda casados no maldito jogo para saber o que ira prevalecer.

Sou o expectador maldito desta cena barbara, de nascimento e morte. Não foram poucas vezes que presencie isso, lambendo os dedos gordurosos. Alguém me disse que eu não passava de um demônio a espreita, porem o demônio sempre carrega alguém consigo para os infernos, não é?
Não perdi tempo:

-Acho Mila, que você deve mesmo buscar alternativas, talvez os homens não sejam tudo isso, talvez não passemos todos de uns filhos da puta, oportunistas a espera de uma xoxota brilhante...e as emoções sejam apenas acessórios...

Eu sabia que havia falado uma imensa besteira.

-É, eu creio que é isso mesmo Fabiano, ou eu me envolvi com os homens errado... sabe-se lá? Nunca tive sorte...
-É, não sei de nada. Mas acho que se você quer transar mulher... vai em frente...e depois me convide pra uma festinha...
-É? Daria conta das duas?
-Não sei, mas acho que a brincadeira seria no mínimo interessante, a fantasia mais besta de todo homem, trepar com duas mulheres, fantasia pura, agora se vai dar conta e outro assunto...
-Tá certo. Desde que comecei a falar com a Sonia, cara não sei, algo em mim se mexeu, ela é tão carinhosa, cheia de atenção, olhares e abraços sabe... comecei ficar atenta na dela... nunca pensei nessa possibilidade, agora até já penso...
-Sei, mas apenas vê menina, se não é tua carência executando uma opera no teu coração, se for, até um cachorro que olhe para você com ternura, você topa tá ligada ? Sexo animal, bestialismo, esse papo saudável se satisfazer as necessidades... acho esse terreno onde a carência se encontra com a falta de prazer, leva a entender no coração que seja amor, e porra amor não é nada disso...

Aquele papo lésbico me deixou muito a vontade, bebia rum barato na casa de Mila, já sabia que não iria transar com ela nesta vida, então trepei com o rum mesmo. Ouvir confissões de uma mulher, que pensa em ter algo com outra mulher é excitante:

-Mas então Mila, já rolou alguma coisa entre vocês?
-No banheiro do serviço, ela me roubou um beijo eu fiquei estática... total de surpresa...
-Mila você parece uma maldita adolescente, descobrindo os pelos da própria xoxota... mas um beijo já é algo promissor.

Eu conhecia a Sonia, era o tipo de mulher leve, leve demais, parecia uma pluma feita pra fazer estragos na alma de qualquer homem ou mulher. Muito elegante sempre, um sorriso fácil e decote generoso sem ser grosseiro, as pernas que davam a impressão que no topo ficava a entrada de um templo sagrado.

Eu não tinha muito a acrescentar, desejei que Mila e Sonia tivessem a maior a ventura na terra. O afã do ser humano é ser feliz de alguma forma, e nem tudo é exatamente como queremos, o maior empecilho a nossa felicidade são nossas escolhas, aquilo que estabelecemos para ser feliz, não entendemos que a felicidade encontra-se aqui neste momento, não amanha quando tivermos isso ou aquilo, porque amanha existiram outras prioridades, e a felicidade não cabe no amanha, mas nos espaço atômico deste segundo, que você perde tempo lendo esta merda... aí esta a felicidade, seja feliz ou foda-se com honra.

Cansei-me de Mila, sua paixonite aguda por Sonia, eu era seu amigo e, portanto meu pau não sairia das calças, um jogo perdido naquela noite. Fui ao banheiro, dei uma boa mijada dourada e caprichada, mas quando olhei para o lado, as calcinha de Mila estava ali no boxe do banheiro, era um pedaço de Mila ali. Meu membro deu uma crescida boa, não resisti a oportunidade de homenagear aquela micro calcinha.

Sorri pra mim mesmo depois que gozei, a risada de um louco feliz, me olhei no espelho e disse pra mim mesmo: cara tu és muito idiota...



Luís Fabiano.

sábado, maio 28, 2011



Ela não tem culhões

Me olhou nos olhos
E tudo era um mundo borrado de lágrimas
Maquiagem diluindo-se
Emoções liquefazendo
Alma
Corpo
Frustrações
E a ilusão que acalentou com tanto carinho a respeito de mim
Desfez-se como uma facada
Agora sou o fantasma do seu amor
A estátua construída
Pelas suas agonias desesperadas
De uma felicidade instantânea
Pronta e igual a todos
Então percebeu como um açoite em pele nua
Que pertenço a vida
Logo pertenço a todas
Não tenho como ser diferente
Pois a alma não se adultera
Mesmo que a asfixiemo-la
Então me olha nos olhos através do véu das lagrimas:
-Não podes ser diferente?
Meu silencio é uma navalha rasgando o eco
Abracei sua dor
Beijei seu desalento
Num deserto de uma noite estrelada
Nada podia fazer
Ela tentou ser o que não era
Quando tudo era diversão
Quando os sorrisos amenizam a aspersa da verdade
Descobriu sozinha
Que não conseguia abrir mão de seus princípios
Uma briga do amor contra si
O amor perdeu
Então me disse triste:
-Eu não tenho culhões Fabiano... eu não tenho...
Ninguém disse que era fácil


Luís Fabiano

sexta-feira, maio 27, 2011

MOMENTO BOA MÚSICA
Lama nas ruas – Zeca Pagodinho
Acústico MTV




Navalhadas Curtas: Secreção

O homem pode ser atormentado por muitos demônios, internos e asquerosamente externos. A reunião começara, e meu nariz congestionado, fazia uma serenata em minha cavidade nasal, tinha uma lesma verdolenga se arrastando, pra baixo e depois pra cima, quando dava aquela fungada.

Então na fungada, a lesma catarrenta ia parar na garganta, aquele eterno impasse, engolir ou não ? Os médicos dizem que se pode engolir na boa, o corpo descarta. A bem da verdade gostaria de cuspir a aquela porra pra frente, como faço normalmente, nas ruas, nos lixos ou banheiros. Geralmente cuspo, e olho bem a textura, a composição e a cor.

As vezes me sinto orgulhoso do que sai de mim, cada um faz a arte que pode. O assunto da reunião se esfumou diante de mim, nem os decotes generosos me chamaram, já pensou se caísse uma boa porção de ranho ali dentro?

Minha real preocupação era que aquele catarro não caísse sobre a mesa? Talvez usar as costas das mãos como lenço? Estranhamente lembrei-me da minha infância, eu fazia bolinhas de cuspe em uma brincadeira inocente, agora a mesa receberia um presente?

Por fim a reunião acabou, corri para um banheiro próximo, dei a maior cuspida do mundo, como se tivesse tirado secreção da alma, porra o paraíso pode ser algo tão simples...



Luís Fabiano.


quinta-feira, maio 26, 2011

Vis à Vis

Ela olhou para o lado
Indiferença viva entre cadáveres emocionais
Uma certeza que rebolava na corda bamba
Num piscar de olhos
O chão se foi
Tudo mudou novamente
Insuportável mudança pulsante
Curvas de rio
Muda a paisagem
A cor
A dor
A forma
O mundo torna-se pequeno então
Um anão que mija nos próprios pés
Sofre porque a paisagem que muda
Não espelha as estatuas erguidas a nós mesmos
Queremos flores
E a vida é concreto
Flutuar nas bolhas de sabão
Mas a vida é alfinete
No entanto flores, bolhas e alfinetes são reais
Uma visão entre milhares de nadas
Probabilidade de verdade
Nas agruras inquietantes da alma
Resfolegam sonhos
Babando desejos
Brincando de trepar com a vida
Enquanto ela corre em nós
Dentro de nós em veias abertas
Enquanto tudo é apenas uma visão
Doente vendo a doença
Cretino a cretinice
Medroso o medo
O amor o espelho
Mas apenas uma visão
Uma miserável única visão...
Esse é o verdadeiro abandono


Luís Fabiano.

Pérola do Dia

Pérola do dia:



“ Uma vagina sem um único fio de pentelho, é praticamente um corpo sem alma.”

Luís Fabiano

quarta-feira, maio 25, 2011



Olhos Vestidos de Verde

Ela tem olhos esmeraldinos
Brilham de amor e dor
Sua alma sorri por eles
As vezes chora
Gotas a sombra do mar do Caribe
Dançando através dos ventos
Fragmentos de sonhos vivos
Suas dores quentes
Desejos incandescentes
Sorri doce e inocente entre eles
Como o primeiro gole bem aventurado da vida
Seu olhar afaga minha alma
Como se a tocasse por dentro
Olhos que derramam intocadas emoções
Atemporais
Cuja beleza não se esvai
As vezes nossos olhares se tocam
Se enroscam
Mergulham um no outro
E o mundo ganha cor e brilho
Beijo da verdade última de todas as coisas
Como amanhecer de verão
Ebulição dos sentidos
Nadamos assim em uma torrente verde
Permeados de paz
A floresta
Que adormece nos braços da noite

Luís Fabiano
Pérola do dia:


“ Ninguém pode se sentir melhor, do que o homem que é completamente logrado. A inteligência poderá ser um obstáculo, mas a confiança completa, exagerada ao ponto da idiotice, a entrega sem reservas, esta é uma das alegrias supremas da vida.”


Henry Miller.

terça-feira, maio 24, 2011

Parte 4


Elisa adoece a alma.

Ganhamos a rua novamente, nos despedimos na esquina do Hotel Leste. Dentro de mim, sentia algo me corroendo por dentro, um rato selvagem que se esgueirava no peito,mordendo, arranhando, escavocando as entranhas a procura da saída.

Era o medo, talvez devesse deixar o rato sair para fora, e me comportar-me com um, saltar do navio antes que tudo fosse dar na praia de merda. Não queria fazer mais parte daquele plano mesquinho, não havia paixão, não eram minhas virtudes cantando sua opera, mas não parecia legal.

Elisa saíra rebolando a bunda, convicta que era uma verdadeira filha da puta assumida. A dança dos escrúpulos humanos, movidos pelas varetas dos vícios ou virtudes, com uma ausência de alma, que chega a ser desesperador, como uma dor nos ossos.

Segui tocando minha vida, em casa o mau humor Marisa se aliviava quando fazíamos amor, e creio que isso tornava a coisa suportável, a merda de vida que estava vivendo. Mas o maldito rato dentro de mim, ali ainda queria sair, mais um navio, que cedo ou tarde seria necessário pular em alto mar.

Finalmente as coisas começaram a acontecer, Elisa fora no baile e pescara um velho dos bons, um peixe gordo e suculento, um rosto bonachão de sorriso fácil, uma barriga protuberante, cabelos nevados mas o olhar dele tinha alguma coisa.

Rapidamente, passou a frequentar a casa de Nelson, as visitas se tornavam mais intimas até que um dia os desejos se tornaram inflamados, e o velho tentou algo a mais, porem infelizmente o membro não ajudou. Nervosismo, a idade e o coração fraco, falou.

Elisa sentia-se mais que excitada quando ele broxou, entendeu que a vida se lhe seria muito fácil, afinal ela aguentava coisas piores, diante de um pau que não sobe, existiam outros que pareciam incansáveis, estacas eternas apontadas para o céu:

-Elisa, como isso será agora?
-Bem, ele já tá no papo cara, disse que nunca sentiu o que sente por mim, nem a falecida Rute (que Deus a tenha e o diabo mantenha) mexeu com ele como eu mexo... acho que vamos casar...
-Nada como o amor, o eterno amor, a velha Rute certamente esta vendo isso de camarote...
-É ,ele diz que minha boca é de ouro, que a Rute nunca chupou ele... tinha vergonha, medo sei lá...
-Nossa que poesia, um boquete leva a pessoa ao amor rápido...
-Pra tu veres, homem é realmente muito idiota, só pensa com uma cabeça... a que fica na minha boca...há,há,há.
-Tá, mas ele fica com pau duro?
-Não, nadinha, aquilo parece uma lombriga, um verme, branco mole-mole, as vezes fica meio molhado, mas acho que ele se mija um pouco...
-Ual, Elisa isso é muito nojento... seja como for, você tem culhões garota.
-O afrodisíaco é o dinheiro querido, dinheiro facil...

Gargalhou como uma pomba gira louca, sem duvidas o diabo havia comprado aquela alma. De qualquer forma, beijei aquela boca que havia sugado Nelson, que tentava fazer reviver o membro lânguido, que talvez acordasse aquela alma a caminho da morte.

Naturalmente, ela conseguiu seu intento, em questão de pouquíssimos meses, morava com senhor Nelson, e seus oitenta e cinco anos. Porem, a prisão não precisa ter necessariamente grades, as correntes são feitas de teias invisíveis. Junto com as roupas novas, os cuidados com o cabelo e algum dinheiro, as sombras de Elisa também foram invocadas.

Neste interim fomos naturalmente nos perdendo, nos afastando porque, Nelson, queria Elisa sempre dentro de casa com ele. Insistia que ela devia fazer isso e aquilo pra ele, o bom velhinho também foi mostrando suas garras, expondo suas patologias mentais, o quadro se distorcia, felizmente eu estava longe disso, pois a narrativa agora ganha distancias, como as noticias de Elisa vieram a mim.

Agora já não mais existia o nosso plano, ela havia terminado sua metamorfose, o Hotel Leste ficou para trás, a cama barata onde nos divertíamos como almas inocentes, onde a vida escorria leve, embora a dureza financeira fosse algo patente, mas quem lembrava-se disso? Poderíamos viver assim para sempre.

Mas o berço da miséria inquietava a vida, sacodindo a borra que carregamos na alma, espelho de miséria em nós, onde se mesclam nossa primitiva inferioridade e os sonhos angelicos. Em nome disso, muitas vezes perdemos o melhor da vida, o grito selvático e pesado do nosso pior.

Já haviam passado seis meses que Elisa havia desaparecido. Tentei não esquentar a minha mente com isso, tocando minha vidinha despretensiosamente como sempre, sempre fui um homem talhado para perdas, perder isso ou aquilo não me atinge, já entendo que faz parte da existência.

Vivo mais intensamente o que a vida me presenteia, sem que as asas sejam acorrentadas em eternidades, afinal a eternidade esta em um segundo quente, vivo e pleno.

O meu telefone toca, era Elisa:

-Fabiano, tu podes me encontrar, preciso de ti?
-Posso, sem problemas, onde?
-No Hotel Leste, eu pago...

Havia um desespero na voz de Elisa, uma ansiedade, algo que não gostei de perceber no silencio entre suas palavras.

Quando cheguei no Hotel, a cafetina apenas apontou o quarto a direita, o melhor quarto da casa, tinha até um banheiro. Elisa estava sentada na cama, com um vestido preto, curto, os cabelos muito bonitos, unhas pintadas, um sapato de salto alto e um perfume que tentaria os arcanjos, um contraste total com aquele ambiente sujo. Seu rosto parecia envelhecido:

-Olá menina, mas que linda estas...


Ela me abraça forte, um abraço dolorido, chorava, e foi logo vomitando:

-Eu sou uma escrava Fabiano, tô presa aquela casa, aquele velho asqueroso, nojento. Tu não fazes ideia o que ele é, ele é monstruoso...
-Monstruoso?

Eu tentei imaginar alguém de oitenta e cinco anos, monstruoso, vestido de sadomasoquismo, berrado, chicoteando, batendo de forma violenta... mas algo não combinava.

-Sim ele me obriga a fazer coisas terríveis, me joga na cara que me da tudo, que me paga tudo e logo eu sou dele, que vou morrer junto com ele...
-Mas isso é verdade, você é dele, lembra tu te vendeu... golpe do baú...e tal...
-Eu sei, mas quero sair de lá, mas não tenho mais pra onde ir, o velho não fica de pau duro nunca, então não vou engravidar, tenho sugar aquela linguiça crua, ele gemendo como um cabrito, se mija dizendo que tá gozando...olha...tem mais, muito mais...ele não me da dinheiro vivo, apenas me paga as coisas, logo eu tenho tudo e não tenho nada.

Lembrei das lutas de MMA. Onde os lutadores precisam saber mais de um tipo de luta, onde chutes de muay thai desferidos no mesmo local, terminam por mudar a luta completamente, bastam apenas três chutes fortes, e luta não é mais a mesma para vitima.

Afinal Elisa tinha entusiasmo inicial, porem na continuação, o velho parecia estar ganhando o round. Elisa se saísse da casa do velho, teria que dar adeus ao bom tratamento, e voltar a faxina, e não queria isso. Vivia uma pressão dupla, interna e externa:

-Elisa, eu acho que deves sair de lá o mais rápido possível, e voltar a realidade, a vida é foda, dura, e as vezes um chão sujo é melhor...

-Nem pensar, jamais voltarei a ser o que eu era...nunca.
-Nunca?
-Nunca. Já me fodi muito na vida Fabiano, agora eu prefiro então comer merda na mesa de luxo, que comer merda em um mochinho.
-Tua escolha tá feita garota...

Os ratos em mim saiam pra fora, pelas orelhas, pela garganta, pelo cu. Aquilo era uma historia típica tecida de egoísmo, eu não poderia ajuda-la, queria que voltasse a ser a Elisa leve, sapeca mas não mais, ela naufragava sem salvação.

Nos olhamos em silencio, um silencio feito de farpas afiadas, ela se ergueu e foi embora batendo a porta. As malditas fragilidades do ser humano. Conheci diversas mulheres oportunistas, e invariavelmente o destino delas foi idêntico, cedo ou tarde se deram mal...



Continua.
Luís Fabiano.



segunda-feira, maio 23, 2011

Dica de filme: Marat/Sade - 1967

Diretor: Peter Brook

Imaginemos o sanatório de Chareton, onde o Marquês de Sade estava em tratamento.
Como parte do tratamento, ele encena uma peça onde narrativa vira em torno do assassinato de Jean Paul Marat, um dos lideres mais influentes da revolução francesa.
No dialogo, o tema gira em torno de violência, sexualidade e política. Se pensarmos bem, é quase uma mesma coisa.
Os atores da representação são os internos, o público é a aristocracia francesa, e Sade rivaliza com Marat, expondo as vísceras da hipocrisia social, das falhas purulentas da moral, revelando o que borbulha nas entranhas do homem comum.
O filme é perturbador, tenso e apoteótico, porem não é para todos os gostos.

Luís Fabiano.




Véu de risos e lágrimas

A ignorância é uma benção. O denso véu que descemos sobre nossa vista no afã de que, limitando o espaço da visão consigamos perceber, a felicidade em algum canto esquecido. A bem da verdade, é mais fácil mesmo, não dê muitas expectativas a alguém, coloque Deus como causa e final de tudo em sua vida e pronto.

Não tenho problemas com religiões, porque tal assunto não me interessa, creia em qualquer coisa e a vida acontece, coloque sua fé em alguma coisa, qualquer coisa, e dará certo. Deus não se preocupa com isso, assim como a natureza. Apenas acredite com as veras da alma, a única coisa que conta.

Encontrei Eduarda no calçadão dias atrás, estava transformada não só fisicamente, a alma adulterada, um ferro que se retorce ao calor, os cabelos compridos, e a roupa que agora escondia as suas voluptuosas formas, sopro de pecados escrito no corpo bonito.

Pois certas formas só lembram o quanto queremos consumi-las, só despertam isso, o poço dos desejos despidos, a provocar o demônio que carregamos em nós. Disso é feito o mundo, todos querem atiçar demônio de alguma forma, querem ser desejados por todos, que suas formas brilhem mais que suas almas, que as tetas e a bunda, sejam incandescentes como a caldeira do diabo, para que os anjos esqueçam as preces, o Criador e todo o resto.

Meu olhar clínico não erra, ela havia se convertido, mas três em meses ? A vida é realmente estranha, de um segundo para outro nada mais é igual. Confesso que me sentia desapontado, pois Eduarda era uma mulher atraente, chegamos a ter nada serio brevemente.

Ela vivia preocupada, com trinta anos, tudo lhe era preocupação demasiada, uma excessiva alucinação existencial de ansiedade. Uma vez até falou que sentia vontade de morrer, que não tinha esperanças em nada. Tentava persuadi-la, que estava exagerando na maneira que estava percebendo a vida. Nada é tão extremo sempre, entre uma merda e outra da vida, conseguimos respirar, e alguns chamam isso de felicidade. Mas ela não acreditava em mim, não acreditava em nada e ninguém, falava que talvez tirasse sua vida, era como se não tivesse dito nada.

Um dia sugeri que não perdesse tempo pensando como, que realmente fizesse isso, milhares de pessoas fazem, e são esquecidas no anonimato de um silencio da morte. Afinal morte é morte, seja dormindo em casa, ou saltando de um prédio, uma pandorga sem cordas que não plana, que mergulha, mergulha, mergulha...

Não fez nada disso. Estava vivinha, tinha um olhar confiante como nunca teve, e uma bíblia nas mãos. Sorri pra ela, cumprimentando-a parando:

-Eduarda, tudo bom ?
-Oi Fabiano, tudo em paz graças ao Senhor...

Como uma pedra no feijão, engoli aquilo, tentaria fazer o possível para não provocar nada, tentar sair ileso de uma discussão, carregando meus pecados para longe solitariamente, os crentes não gostam de mim, já tive experiência disso.

-Que bom Eduarda, eu fico feliz de te ver assim tão bem...
-Estas debochando de mim né?

Puta que pariu, começou.

-Não Eduarda, tu estas diferente e quero crer melhor...
-Certamente Fabiano, o Senhor me salvou, do pior, ao contrário de ti, agente do demônio...
-Calma Eduarda, tá tudo bem, tu não precisas te voltar contra mim eu apenas...
-Sei, o que tu és agora, o Senhor me mostrou, filho de satã...

Eu sabia que aquela puta arrependida, agora ovelha do senhor, ia fazer isso, pensei em ir embora rápido, mas algo em mim acordou do sono mórbido que vivo, realmente não dou atenção a isso, raramente digo alguma coisa de resposta, porque normalmente o tigre deve ficar quieto, é melhor:

-Tudo bem, Eduarda, sou filho de satã, agora vou te dizer uma boa, se não fosse o diabo, Deus não teria sentido algum, diga-se de passagem, dinheiro algum também né, então o diabo é um bom negócio pra Deus...

-Eu sabia, viu o satã fala por ti...
-Há um ano quando satã mamou nas tuas tetas, você não falou assim...
-Nunca mais me dirige a palavra, o meu Deus vai te perdoar, rezarei pela tua alma...
-Agradeço, mas meu caso é perdido, e tá bom assim...chata.

Foi embora sem tchau, adeus ou coisa alguma. O senhor havia levado a educação dela também. A sede de esperanças leva as pessoas a se converterem, acho isso bom, temos conversões para todos os gostos.

Eduarda não esboçou um único sorriso, a cara fechada para plasmar dignidade fabricada. Lembrei-me de Buda, Jesus, São Francisco e outros tantos. Cuja vida fantástica, marcada de fenômenos e coisas inusitadas e amor, porem não pareciam felizes, eram contrario, taciturnos, tristonhos, alguns alucinados preocupados em acabar com a dor da humanidade, sem um único sorriso?

Procurei textos que falassem de um breve sorriso de Cristo, de Buda, mas nada. Acho que um véu denso e invisível desceu sobre mim, minha solidão profunda e meus breves sorrisos, preocupando-me apenas com o próximo minuto de vida, uma tentativa de sorrir, de fazer sorrir a quem quer que seja, acho que me sinto bem assim, você tem um minuto?


Luís Fabiano.


Taça de vícios

Ela chegava a mim sempre meio entorpecida
Nau de insanidade
Montanha russa louca sem freios
Num mergulho no buraco negro
Não sei o que a fazia delirar assim
Que drogas usava
Que outros vícios tinha
Chega cheirando a álcool, cigarro e paixão alucinada
Boa essa mistura
O corpo quente berrava vis desejos
Entregávamo-nos ao mais antigo ritual da humanidade
Duas serpentes entrelaçadas tentando fecundar a vida
Atracávamo-nos violentamente e ora com suavidade crepuscular
Como vampiros malditos, querendo sugar a seiva um do outro
Mas ela não era ela
Abria espaços para suas sombras
Seus pecados, suas doenças e agonias
Seja como fosse, era infinitamente mais interessante que sua realidade sóbria
Feita de uma vida comum
Mixórdia da vida que idolatramos, como uma verdade despida de felicidade
Alimentada dia após dia cansadamente
A detestava lucida
Suas lágrimas sem graça
Sonhos feitos de nada sem satisfação
A tola esperança de deixar tudo pra trás
Por fim adormecia pesada uma ancora no abismo
De dor, de cansaço, da vida
Três horas e dezessete minutos depois acordava
Agora era um pesadelo insuportavelmente real
Xixi, coco e peidos e ranho
A existência rascante em um coral de verdades
Sentia-me como se a nau houvesse afundado
O avião caiu e não houve sobreviventes
Vestia-se lentamente
Como quem quer recompor a alma
Como juntar pedaços da alma deixados pela vida a fora?
Apenas queria que fosse embora
A porta sorriu sem sorrir e disse:
-até o próximo porre...

Luís Fabiano.

domingo, maio 22, 2011




Crueza adocicada

Ela resolveu me trocar por sua melhor amiga. Nada de choque, nada que não fosse esperado, raramente a vida é surpresa. Ela sentava-se alegremente, e depois que bebíamos um pouco, sempre a narrava com uma fala excessivamente entusiasmada, a qualidade de sua amiga.

Em minha vida nunca sofri de ciúmes, embora já tenha sido corneado uma dúzia de vezes, mas nada de fiascos, creio que me sentiria estranho se sentisse algo assim.

Ser devorados por monstros internos, movidos por inquietações e valores que impomos a nossa mente, sem que isso seja necessariamente pensado por nós, aceitamos o que supostamente é certo, na esperança de ser apenas igual a todos. Haveria tempo no meio deste denso caminho de aceitação fácil, para ouvir nossa verdadeira voz? O berro dos nos nossos desejos mais profundos, quando os medos que nos envolvem batem em retirada? Quando existe um pouco de coragem para afrontar o que for?

Fiquei olhando para Kátia, enquanto ela dizia suavemente, o quanto eu era descartável, como um absorvendo usado, um papel higiênico sujo, havia de certa forma uma crueza nas suas colocações, queria que eu sentisse alguma coisa, raiva, ciúmes uma revolta talvez, mas por razões que não entendendo bem, não sinto nada disso. Fiquei em silencio olhando-a nos olhos apenas:

-Sabes né Fabiano, não te acho mais o mesmo, sabes né... e então não quero mais nada contigo, já deu o que tinha que dá entre nós...
-Hum, hum...tudo bem.

Houve um silencio breve, e ela seguiu:

-Ontem quando encontrei a Nina, na Praça Coronel, cara, olhei nos olhos dela, ela tinha aquele brilho sabe? Tu não sabes não... Um brilho cheio de esperança, com cheiro de algo novo, algo que faz a vida valer a pena de verdade...
-Claro que sei, ela tem... o que ? 25 anos?
-24, mas nada haver com a idade... ela é algo, faz meu corpo vibrar, acho que to amando, só pode ser isso!

Katia tem uma cabeça vaporosa, vive nas nuvens, e sinceramente não sei por que tínhamos alguma coisa. Sempre dizia que jamais gostaria de mim de verdade, que eu servia pra uma trepada e deu. Porem vinhamos mantendo isso em banho Maria, algo muito sem graça, como que assua o nariz semanalmente, sem a mínima emoção. Os seres precisam de paixão, viva com paixão, mate com paixão, transe com as arvores, mas tenha paixão.

Não creio que dê mais para coisas assim tão vazias, eu preciso ao menos uma pitada de emoção, nada de um mergulho cego na paixão desenfreada, também detesto esse tipo, costumam ser patológicos demais, passionais ao extremo, transformam a vida em um grilhão, e o encantamento se desgasta rapidamente:

-Não sei como tu consegue viver assim cara, tu não reage, tu não chora, tu não bate... cara tu és a pessoa mais vazia que eu conheço...
-Certo Katia, obrigado, não faz meu ego ficar maior do que ele já é... agora tudo bem, vai lá encontrar a Nina, não se preocupe com seu ego, você me deu o pé na bunda, então tá tudo bem...não é?
-É, é... tchau otário.

O lugar na mesa ficou vago, algumas pessoas me olhavam de canto de olho, talvez esperando alguma cena típica, o copo de rum estava pela metade, poderia beber uma dezena deles e Katia já desaparecia mais rápido que um jato de porra. Existem situações impensadas que se constroem inconscientemente a busca de sua própria solução, talvez essa seja a beleza da vida, tudo tão errado, tudo tão certo e nós no meio, pêndulos entre teias, ora enredados, doutras desfazendo enredos.

A cadeira vazia do bar olhava pra mim, me refletindo num misto de desafio, um blues silencioso e fumarento, o rum entorpece os sentidos, relaxa o coração e a vida torna-se macia como um sonho bom, sentia-me livre, desapegado, o copo vazio pedia outro trago.

Cada dia me convenço mais que é preciso desapegar-se das coisas, da vida, das contas, do amor, dos medos e da morte, apenas bata suas asas levemente, se entregue ao vento, o carinho do vento.




Luís Fabiano.

sábado, maio 21, 2011

Pérola do dia:


“ Nada na vida tem brilho próprio, emprestamos nossa luz ao que nos cerca, raramente isso fica claro o suficiente.”

Luís Fabiano.

sexta-feira, maio 20, 2011

Momento Boa Música



Salto alto sobre as águas

Nunca vi uma mulher caminhando com passos metálicos
Feitos de absoluta confiança
Passos tão plenos
Tecidos de dúvidas inexistentes
Saltos que não quebram
Pernas que não vacilam
Não conheci nenhuma mulher assim
Talvez tenha idealizado alguma sobre-humana
Que bate asas douradas
Voando acima de minhas garras frágeis
Quem sabe com num prazer sadomasoquista
Fizesse-me dobrar os joelhos
Entre suas pernas
Enquanto mutila meu coração seco
Jamais encontrei uma assim
Encontrei todos os tipos
Melhores e piores
Hediondos e algumas estrelas
Que brilharam por um tempo
Mas o chão não estremeceu
Seus passos eram delicados
Algumas sorriam com ironia as vezes
Arrancaram-me coisas
Roupas, pentelhos, sangue e beijos amargos
Mas nunca chegaram perto do que um dia sonhei sentir
O arrebatamento assombrado de um encanto febril
Algo que não mora no dinheiro, na inteligência, na beleza ou na feiura
Algo muito além
Talvez essa criatura
Seja um fantasma
Um espirito que paira em meus sonhos
Arrastando-me ora para o céu
Ora para o abismo
Mas elas não caminham
Como quem pisa nos culhões
Flutuam como um zepelim de chumbo
Temendo o próximo vento.

Luís Fabiano.

Pérola do dia:

A razão da vida é a destruição, e o único jeito de medir a vida é a morte. O homem tem dado uma falsa importância a morte.”

Marquês de Sade / Marat

Navalhadas Curtas: Entre o quinto e o sétimo inferno


No prédio que resido, a colmeia, uma gama de moradores alternativos e democráticos, como uma favela bem arrumada, de uma aparência boa, porem uma alma simplória. Gosto de todos ou de nenhum, porque amor coletivo é mais fácil e nobre que um amor exclusivo.

Ontem quando chegava em casa, cansado e com o saco arrastando no chão, dois moradores tentaram disfarçar uma boa cheirada de cocaína dentro do elevador, ainda limpavam as narinas brancas, faziam trejeitos típicos.

Lembrei-me de outra moradora que gosta de masturbar-se no vão do banheiro, gemendo para todos ouçam seu gozo, uma outra que trata a mãe como uma cadela de rua, aos gritos sendo que ela não consegue mais andar. Uma senhora maniática que acha estar sempre certa, sobre os posicionamentos das roupas no varal e outras preocupações nobres do estilo.

Eu ali preso no elevador, com aquelas duas bixinhas, que fazem festas escandalosas e jogam garrafas do sétimos antar, tive esperança que talvez um dia um deles pulasse... não vai acontecer.

Tudo isso se passou até eu chegar ao quinto andar, nem oi ou boa noite, apenas disse secamente:

-Boa viagem...

Luís Fabiano.

quinta-feira, maio 19, 2011


Ganchos da vida

Ela sorria com dentes niquelados
Enquanto agarrava o membro de 27 cm do marido
Declarava seu amor mais profundo
Uma medonha beleza palpável a olhos nus
gancho
Eu mesmo muitas vezes
Agarrava-me a olhares
beijos ou silêncios palpitantes
Enquanto íamos lentamente para o buraco
Saltimbanco fúnebre
Agarrado a alça do caixão
gancho
Doutras vezes chamei amor
Os seios mais bicudos que beijei
Era poesia aguda cravada em minha boca sedenta
Gostaria de ter sugado a alma dela por ali
Mas apenas pendurei-me e cai no abismo
Apenas uma verdade fútil
Depois de um tempo seja com quem for
É preciso ter ganchos fortes
Magda tinha tetas grandes e uma alma mesquinha
Mas quem se lembra de alma?
Simone tinha os maiores pelos do sovaco que conheci
Enredei-me em sua teia emaranhada
Ganchos e cheiros fortes
E amei mais uma vez
Com outra era a maior xoxota do mundo
Agarrou-me como um polvo
E desejei nascer novamente dali
Mas nada forte o suficiente
Tais ganchos não aguentam o peso da vida
Foi quando um gancho transpassou meu coração
Transfixou minha alma
Gancho de açougue e eu pendurado
Vi na sombra da essência
Sonhos agonizando em semente
A incerteza de tornarem-se as flores da vida.

 
Luís Fabiano.