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quinta-feira, fevereiro 28, 2013




Ponto de ônibus, Bunda Encantada e Travestis Apaixonadas

Parte Final:

Não gosto de atrapalhar os encontros de ninguém. Sou um chato inconsciente, mas respeito as possíveis fodas alheias. Sujeira passou por mim... Em seu natural mau humor, eu disse:

-Ai Sujeira... perdendo uma grana pra Rebeca...
-Ééééééé...
-Tá feliz hoje?
-Ééééééé´...

Então como um soldado em uma guerra muda, Sujeira se esconde atrás do velho balcão, senta-se em um banco e fica nos olhando com indiferença aparente. Gosto deste sujeito, é estranho, mas sei que é boa pessoa. Coloca um milhar de fantasmas na frente de sua realidade, para ninguém ver a sua essência. Protege-se, encouraça, é foda mesmo, a vida nos machuca por ai, e em um dado momento, tudo que queremos é não verter mais lagrimas e ficar bem, curtir uma paz. Eu o entendo.

Rebeca vem até mim e me abraça forte, parece muito feliz ao me ver. Isso não é muito comum, normalmente as pessoas não se sentem tão felizes assim ao me ver. Quando a abracei forte ela gemeu:

-Ei que isso Rebeca? Se excitou com um abraço?
-Nada querido...a cirurgia ainda dói... E vai doer um pouco... mas ta linda...
-Opa, desculpa... é? E tu estas feliz agora?
-É um sonho que se realiza Fabiano... Hoje me vendo eu me sinto completa... E mais que mulher...
-Faço ideia... Que maravilha Rebeca... “buceta de plástico”, sensacional... Parabéns...
-Não é de plástico cara, é de carne mesmo... Claro, eu ainda não posso gerar uma criança dentro de mim... Nossa um útero seria tudo de bom... imagina isso Fabiano...
-Não faz isso Rebeca... O mundo tá cheio de crianças... E nem por isso esta melhor, adota um... Cria um cachorro, um gato... algo mais tranquilo...
-Só se tu fores o pai? Topa?

Minha mente viajou por um instante. É impossível não lembrar, de minhas tentativas frustradas de ser pai... Talvez Deus ou Diabo tenham decidido que melhor não... Talvez eu não fosse um bom pai mesmo, nunca fui muito bom em cuidar das pessoas, nunca fui muito bom de cuidar de mim... Mas ter um filho adotado, com uma transex? É tanta novidade que talvez pudesse dar certo. Vá saber...

-Não sei Rebeca... A gente precisa decidir agora? Não né?
-Não ...foi só uma suposição... Relaxa amor...
-OK, mas mudando a conversa... Tu e o Sujeira aí... ta rolando...algo...hummm espero não ter atrapalhado nada...
-Bem... digamos que tem dias que ele esta mais carente... E eu agora sou uma mulher de verdade... os homens precisam de um carinho, afago feminino de vez em quando... Isso é coisa que as mulheres devem fazer para seus homens...
-Entendo... Então acho que vou deixar vocês ai...  E vou dar mais uma andada nesta cidade de merda... Cidade sem carnaval, de bares fechados... de puteiros lacrados... E outras merdas obscuras...
-Fabiano... acho lindo quando falas assim... Mas fico pensando... e o amor hein? Tu não vai amar de verdade ninguém?
Sujeira lá de trás do balcão, resmunga alto:
-Falar de amor com o Fabiano... É o mesmo que falar de segurança com o Maníaco do Parque...

E caiu numa gargalhada estranha. Talvez ele tivesse razão.

-Rê, amor é assunto pessoal... Cada um sabe como ama... Vivo assim agora, não julgo nada ou ninguém... Por vezes a alma tem sede de amor, e as vezes ela bebe em fontes impuras...

-Porra, isso foi lindo e profundo...
-As vezes dá certo... mas deixemos o amor pra lá...

Falo com o Sujeira:

-Vem cá Sujeira... Nesta bosta de bar, não se atende mais os clientes direito?
-Não tem rum... Fabiano... Acabou...
-Tá bem... Cerveja tem? Cachaça? Mijo de dinossauro?
-Tem... Mas a cerveja é daquela ruim... Pode ser?
-Puta que me pariu... Sujeira... Trás isso mesmo, porque tem coisas na vida que só bebendo...

Sujeira trouxe uma cerveja que me da dor de cabeça (digo a marca para aqueles que falarem comigo pessoalmente)... Nem serviu deixou ali, jogada:
-Sujeira... senta ai com a gente...querem seguir o jogo de pôquer ta tudo bem... Eu não jogo esta merda...

Ele se sentou e ficamos ali os três, uma trindade maldita em uma madrugada, que arranhava as portas do inferno, na esperança de uma redenção ou então de sermos jogados ao abismo. Comecei a gargalhar... Ambos me olharam, e Sujeira:

-Deus...esse cara é louco Rebeca... Deveria estar em um hospício lacrado a sete chaves...
-Fala assim dele não... tadinho...

Eu seguia rindo.
E cada dia mais, eu dou conta que meus pensamentos são infinitamente mais interessantes que a realidade que me cerca. Mas que merda. Madrugada, silencio e um bar vazio. Percebi os olhares de Sujeira para Rê. Era o poder de uma buceta “plástica”, mexeu com os neurônios de Sujeira. O melhor que eu podia fazer era ir embora.
Então como uma espécie de insanidade herdada, Rebeca levanta e diz do nada:

-Queridos hora do show... Isso aqui tá muito parado... Sujeira liga o radio ali...

Sujeira liga numa radio que tocava Sade...  Então Rebeca sobe numa mesa próxima a nós ,e começa a dançar, uma dança sensual, lenta, dançava devagar passando a mão pelo corpo... Nas tetas... Na bunda... na buceta novinha... Aquilo fazia bem. Homens gostam de strippers, por vê-las tirar a roupa, é como ver as estações do ano passando, acalma... Elas começam no inverno... e chegam ao verão como flores do encanto.
Rê foi tirando a parte de cima, mostrando as tetas, ela não iria tirar a parte de baixo. Sujeira sentando um pouco mais a frente, pegando as roupas de Rebeca... e olhando pra ela como uma santa no altar. Sorri para ela... Ela dançava bem.

Mas acho que melhor é ir embora. Tomei mais um gole de cerveja, e fui levantando de fininho...  Estamos sempre em busca de felicidade... E ela reside em coisas simples. Sujeira estava extasiado, atirei um beijo para Rebeca... ela sorriu... E sai.

Entrei no Kadett, encostei a cabeça no volante... Cerveja maldita de merda... minha cabeça já doía, a primeira coisa que pensei: como vou fuder assim, com essa dor?

Liguei o Kadett, liguei o radio e sai devagarinho... Na porta entre aberta se se via Rebeca dançando sobre a mesa... Sujeira debruçado aos seus pés... Que cena.
Eu iria pra casa, dormir o sono dos broxas e justos, e talvez pela manha, se tudo desse certo, bater uma punheta lenta e suave, com uma gozada abundante e feliz... Como um sonho da perfeição inexistente, a vida é boa.

Andei umas duas ou três quadras no porto... E uma moça correndo, em desespero para na frente do carro... Quase atropelei a vagabunda... Mas que merda... Então ela chega até janela do carro:

-Moço... pelo amor de deus...me tira daqui...por favor...ele vai me matar hoje...
-Hã? Quem... O que? (olhei para o lado e não vi ninguém)
-Moço me deixa entrar no teu carro... por Deus...

Olhei pra ela... Era o rosto do desespero... Numas tetas mui buenas... E apelava a Deus... O ser humano é uma merda...

-Entra ai guria...
-Obrigada...

Mas que merda... e agora?
Arranquei com o carro rápido, fui subindo a Barroso em alta velocidade... Nós em silencio, eu ouvia apenas respiração dela... De alivio.

-Aonde vamos?
-Qualquer lugar... tu podes me deixar em qualquer lugar... Que bom... foi Deus te mandou cara...

Pensei comigo: Deus ou outro... A gente nunca sabe...
Cheguei à Avenida Bento Gonçalves, quase vazia, estacionei próximo a Brigada Militar.

-Então princesa... Me conta qual o drama?
-É muita coisa... É muita coisa...
-Tudo bem... eu tenho tempo... Quer dizer... fala se quiser... Uma pergunta, eu corro algum risco hoje?
-Ta tudo bem... O Magrão não te viu... Se te vê... bem... É o seguinte, eu sou garota de programa...

Deus... Isso é a noite... com toda certeza as duas e tanto da manhã, ela não seria a Madre Tereza... Foda-se.

-Sei... e onde isso se converte em uma fuga em Pelotas?
-Ele queria me matar... Disse que se eu fizesse programa novamente, eu iria aparecer boiando no São Gonçalo...

Homem que mata mulher... não é muito homem.

Ela seguiu: pois então, mas eu não consigo resistir... Eu sou garota de programa, gosto do que faço... e pago a minha universidade com grana... É uma grana boa...

-Magrão é teu cafetão?
-Não, é meu homem... eu amo ele...

Claro... tudo era muito simples! O ser humano é um artista, na capacidade de complicar a vida... E o amor aparecia em cena novamente. Já tava de saco cheio disso. Olhei bem pra ela. Estava perfumada com um perfume doce, tinha cabelos pelos ombros, uma camisa aberta a na frente, mostrando seios grandes e pareciam brilhar...  estava com minissaia jeans... Curta alias muito curta, ela parecia não ter mais de vinte e dois anos. Vestida para matar ou morrer. Eu não tinha vontade de falar mais nada. A ideia era ir pra casa... A princesa estava em segurança... E os meteoritos não fizeram grande estrago na Terra.

Então ela me olhou com aquele olhar... e disse:

-Amor... eu vou te agradecer o salvamento tá?

Disse isso indo em direção ao meu fecho da bermuda... abrindo e sacando o “queridão” pra fora. Existem almas que são predestinadas... A fazerem o que fazem. A boca desta moça era uma maquina de sugar, com a delicadeza de uma luva de pelica... Ela começou lambendo, o bicho engrossou... quando estava de pau duro...então ela o engoliu lentamente. Relaxei... era um paraíso...era uma profissional. Fiquei ali... ela fazia tudo, a perita. Por fim gozei... Na boca dela... uma gozada longa (tenho muita porra), que ela acumulou na boca... E ai abriu o vidro e cuspiu. A cena era uma poesia.

Então me olhou, limpou o cantinho da boca, um restinho de porra, com um dedo... Me deu um beijo, abriu a porta do carro e se foi como uma fumaça. Tudo na vida tem um preço.
Um silencio percorria as ruas, as dores encontravam seu alento, e as igrejas estavam vazias... Mesmo as ambulâncias passaram sem gritos. Tudo estava em uma perfeita ordem como um álbum de família... Era hora de ir... uma noite, um minuto, um dia, tudo é tão inesperado, eu estava bem... E espero que você também.

Luís Fabiano.


quarta-feira, fevereiro 27, 2013



 Pérola do dia:  

“ Vasculhe qualquer ser humano a fundo... você vai encontrar alguma merda, mas não só...”

Luís Fabiano


  Cidade Tatuada  


     Rua: Sete de Setembro n 135     




Navalhadas Curtas: Ciúmes e uma rachadura

Detesto papinhos indiretos. Se você tem algum problema comigo... Bem, não faça rodeios. Va no ponto G da merda... Porque de alguma forma será resolvido, nem sempre da maneira que você vai querer. Foda-se.

Ela serviu uma boa dose de rum, já era a segunda da noite. Mas havia algo ruim no ar, como uma nevoa perebenta... Dizendo assim: algo vai fuder! Suelen me olhava, e havia longos silêncios.
Merda de intuição... Dito e feito.

-Fabiano... Tu sabes, eu não sinto ciúmes... sou muito legal pra ti...
-Sei, tudo bem... e aí ?
-É... Mas o dia que eu sentir ciúmes, bah... Não quero nem pensar no que sou capaz de fazer... Não sei mesmo...

Me senti como um vietnamita encontrando um americano solitário, numa floresta em guerra. Existem coisas que não caem bem mesmo... Não gosto de ameaças, não me assusto. E com a idade venho ficando pior... ou melhor.
Peguei o copo, dei um longo gol, respirei então:

-Vais fazer o que? Hein? Vais te comportar como uma criminosa passional? Vais dar uma tipo, destes programas policiais das tardes? Hein? Me matar talvez... cortar o meu pau... Jogar água fervendo quando eu estiver dormindo... isso? Essa é a ideia? Tu esperas o que? Que eu fique com medinho disso? E que a partir de agora, me comporte como um padre capado? Hein... hein...??! Fala porra...

Minha voz foi aumentando gradativamente... Como se algo tivesse disparado o botão da fúria... Levantei... e fiquei olhando pra ela... O silencio era rocha pronta a desabar. Ela estava nervosa agora...

-Calma Fabiano... calma...nada disso...calma cara...calma... Eu apenas ia pedir pra tu trazeres a outra ou outras, para nós comermos ela junto... só isso... Tudo bem? Fica bem assim?

Eu estava com muita raiva... E isso era um balde de água fria... 
Mas que sem graça.


Luís Fabiano.


terça-feira, fevereiro 26, 2013


 Momento Meste            

- Bukowski Tapes 18 -






Ponto de ônibus, Bunda Encantada e Travestis Apaixonadas







As noites escorrem pelas veias da cidade. Luzes, neon, buracos, valetas entupidas, bêbados, putas, travestis e drogados. Uma prole, que se agita assim que a lua aparece. A poesia viva dos desgraçados embelezando o mundo, dando o gosto, enquanto as boas almas tentam dormir, o sono dos justos e broxas.

Definitivamente não sou uma boa alma. Jamais quis ser, pelo que lembro. Faço parte do outro time, dos tipos duros, do tipo que não se assusta com umas porradas, que não dispara quando a coisa esquenta. Mantenho a frieza, quando a merda for feia. Você aprende isso, depois de ter visto e vivenciado muito terror. Não, não estive em uma guerra no Paquistão, nem preciso disso. Aquilo é apenas exercício de crueldade, em função do ambiente de interesses.

Refiro-me ao que as pessoas fazem umas com as outras,, nas suas casas, no emprego, na cidade, nas relações, quando suas doenças explodem... É isso. Você fica calejado, como um bom boxeador... Algumas dores você nãos sente mais, melhor assim, mas isso não impede de causar dores por aí... Sou assim, uma dose reservada de veneno, nas asas de beija-flor.

Eu estava muito filosófico aquela noite. Este é o outro lado da bebida. Algumas pessoas ficam chatas, outros e perdem a noção. Eu dependendo do momento fico filosófico. Filosofia de merda, neste aspecto fico afiado, e disposto a fazer alguma merda.

Tudo começa no AP, bebendo uma boa dose de rum. Yes, rum incendiando as veias me conduzindo a uma felicidade induzida. Uma felicidade que ninguém participa, solidão que ecoa e gargalha loucamente na esquina. Como se eu criasse asas, e voasse por sobre a merda existencial. Você já voou sobre toda a merda? É bom, eu recomendo.

As paredes do apartamento pareciam me expulsar. Eu estava de cueca, sem camisa e meias, olhando na janela do quinto andar. Sentia-me alentado pelas coisas terem voltado ao normal. Horários certos, o trabalho de sempre, porra a realidade assim agrada.

Na parada do ônibus que fica frente ao meu AP, uma mocinha com uma sainha muito curta, se exibia, fácil? Porra, será que a frente da minha casa tá virando ponto de putas? Sorri, mas que maravilha, não precisaria nem sair de casa, era apenas abrir a janela e dizer: Ei... você ai... Sobe aqui... é no 501...rs..rs.

Fiquei observando-a um bom tempo, ninguém parou pra ela. A noite é foda mesmo. A aparência de uma pessoa a noite de longe é algo encantador... Mas de perto, bem às vezes deixa a desejar, quando não causa asco. Os caras diminuíam e então aceleravam... Ela não devia ser estas coisas. Mas aquelas pernas vistas do quinto andar... Eram boas, já valiam uma punheta. Toquei no pau... mas ele estava tranquilo...só teu uma inchadinha...

Decidi sair de casa, num impulso de um asfixiado.
Vesti uma bermuda, e uma camiseta que não estava muito suja, entre tantas que ficam em canto do meu quarto... Uma boa cheirada no suvaco, ok perfeita. Desço e pego o Kadett, que dias atrás o Júlio acabou me dando um outro nome pro meu carro, disse-me ele: Fabiano, o kadett não deveria ser chamado de kadett, mas de “fudett, o fudett ”.
É Júlio... Gostei da ideia. Possivelmente até coloque um adesivo assim... Vamos ver.

Dei a partida e liguei o radio, a radio 99.9 tocava Luiz Miguel – La Media Vuelta... Sensacional. O Fabiano romântico... O filho da puta romântico... Boa, dançaria até esta musica coladinho com alguma por aí...
Abro o portão e saio... E claro paro olhar a putinha em detalhe na parada do ônibus. Entendi na hora porque os caras aceleravam... Ela tinha boas tetas, boa bunda e boas pernas... Mas o rosto estava cheio de “pipocos”... Como se fosse uma comunidade e espinhas sobre outras espinhas, muitas marcas na cara e uma inclusive tava até saindo pus... Deus... Baixei o vidro e ela veio:

-Oieeeee lindão...
-Oi, “bonita”...tudo na paz aí...
-Sim... Tudo, tu moras aí gostoso?
-Yes...
-Não sai não... Volta pra casa, e me leva pra dentro... Tu não vai te arrepender, de pegar o material aqui... To cheinha de tesão... gostoso...
-Sei... não sei... Sei...
-Assim, ó pra ti que é morador da zona... Faço um boquete por trinta pila e uma completinha, com tudinho... cuzinho e tals...por uma onça? ( 50 reais )
-Humm.. .interessante... mas tu faz isso no cartão? Hipercard ,barricompras?Algo...
-Ta louco cara? Tu queres pagar buceta a prestação?Que isso...
-Calma... É... Claro, é final de mês moça... A gente pedala isso pro próximo mês...

Ela virou de costas e saiu rebolando de volta a parada de ônibus... mas antes levantou a pequena sainha...e mostrou a bunda...com uma calcinha verde fio dental. Adoro calcinha verde...

Fui embora. Luiz Miguel ainda tocava. A cidade estava tranquila. Também uma segunda feira. Que esperar? Por vezes lamento não estar em uma cidade maior. Foda-se, eu ia fazer alguma coisa. Estava deslizando pela Avenida Bento, tudo fechado, tudo menos o Pássaro Azul... a Catedral dos desvalidos,  estava vazio. Segui... Peguei a Deodoro, algumas outras putas nas esquinas... 

Criaturas mirradas, secas, magras por causa do crack e pó. Elas me acenam, mostrando partes do corpo... tetas feias, uma bunda chupada... Bem, não diria que desta aguas jamais beberia... mas com toda certeza não era minha vontade, aquela noite.
Lembrei da zona do Porto... A minha segunda casa. Iria visitar o meu velho amigo Sujeira.

Chego lá... A porta esta pela metade fechada. Ouço vozes lá dentro. Entro e numa mesa jogando um carteado, valendo ali algumas moedas de um real... A dupla mais que inacreditável deste planeta. Sujeira e Rebeca Sharon.
Rebeca Sharon é uma travesti, muito conhecida no Porto, ela sempre me provocou, querendo ter um caso, sempre se veste muito bem, têm tetas grandes e firmes de silicone, cabelos tão loiros quando da Sharon Stone... “a idala” dela como sempre disse. Já conversamos muitas vezes, é alguém do bem, e como as maiorias solitárias, das noites. Mas nunca tive nada com ela em vias de fato. Prometi pra ela que teria algo com ela... O dia que ela fizesse uma operação... E virasse a mulher que sempre sonhou ser, bem... 
Esta é outra historia...

Ela diz:
-Bati Sujeira... tu agora estas me devendo mais duas geladas... Sharon é a campeã do pôquer...
-Rebeca tu estas roubando, não é possível...
-Tu não sabes nada de pôquer Sujeira... nadinha...

Eles pareciam muito íntimos, muito me admirei, Sujeira é um cara que não curtia muito a proximidade com travestis, ele tem alguns preconceitos... Mas 
vá saber... todos mudamos. Gritei:

-Boa noite pessoal... Todo mundo com a mãozinha na cabeça...
Ambos se viram pra trás... e Sujeira parece constrangido...mas quem fala é Rebeca:
-Fabiano... Nossa, amor... Quanto tempo...
-O tempo... não é nada Rê, dependendo de quem esta pelo lado de dentro do banheiro...
-Uallll... Que profundo querido... Vem cá me da um abraço bem apertado... que saudade...

Sujeira foi se levantando, vermelho. Não sei... Ao que parece, Sujeira estava interessado em Rebeca Sharon? Merda, acho que atrapalhei alguma coisa... o amor é algo inesperado.

  Segue...

Luís Fabiano.





  Pérola do dia:  

“ Por vezes por detrás do silencio de alguém... o tal mistério encobre uma tremenda burrice”.

Luís Fabiano.

segunda-feira, fevereiro 25, 2013


Dica de Filme: Os Intocáveis - 2012 (  Intouchables  )  

Porra, se você ficasse tetraplégico, assim, num piscar de olhos? E ai? Bem, você naturalmente iria precisar de alguém pra cuidar de ti... Ok ? Certo. Como esse alguém deveria ser? 

Alguém que te olhe com piedade? Alguém não queria se salvar dos próprios pecados... e receber um céu? É isso. Alguém que te trate normal, como gente... Sem frescuras ou clichês. É por aí.
Esta é a historia, que teria tudo pra ser uma chatice gloriosa, porem não, a historia de Philippe e Driss. Um paciente que não sabe viver e um cara que toma conta, que é maluco de pedra...vivo, muito vivo.

De uma proposta de emprego simples... Algo acontece... Uma amizade regada ao que a vida pode ter de melhor... A descoberta, o respeito e alguma sacanagem, porque não?

Confesso que achei que o filme iria ser uma merda... Mas não, o filme te pega, pega porque mexe com o teu lado “tetraplégico”... o que não faz tu ires em direção as coisas melhores da existência, as coisa que te chamam a paixão... 
Vai lá, vê o filme é bom pra caralho.
Curte o trailer ai abaixo:

Luís Fabiano.






Pérola do dia:

A mulher casada, silenciosa, submissa. A maioria dos homens sonham com uma mulher assim. Sonham com isso, mas não se atrevem a dizer em voz alta, porque os outros pensariam que são retrógrados e machistas. Mas é uma maravilha: uma mulher quente, sensual, complacente ,domesticada e masoquista ”.


                                                 Pedro Juan Gutierrez

       Áudio Poema      

Animais 

texto e voz -  Luís Fabiano.





domingo, fevereiro 24, 2013





O Retorno de Sebastian

Por vezes a vida é feita de detalhes. Acontecimentos grandiosos passam despercebidos, como um raio que cai por ai, que talvez faça diferença apenas para quem sucumbe a ele. Super-acontecimentos normalmente não em chamam a atenção, sou discreto, frio e quase insensível a muitas coisas.

Foi o jeito que aprendi a viver, gosto deste estilo e não nego que por muitas vezes, alguém faz o tigre sair de sua toca, alguém que instigue a fúria, garras e unhas e que torne possível a possibilidade de exercer o que é selvageria em mim... Gosto disto, e lamento por quem provoca isso. Muito embora isso esteja acontecendo em uma frequência bem menor. Talvez a idade, talvez. Ficar mais velho é ter peles caídas, cabelos brancos, olhos sem brilho, ficar broxa e claro esperar a morte.

Nestes dias que se passaram, trabalhei bem mais que o comum dos dias, num período de praticamente três turnos diários. Trabalho é trabalho, e por muitos momentos era levado a reflexões. Com a mente estamos livres, podemos estar onde quisermos... Na praia, vendo boas bundas, a lagoa tranquila, o sol... Foda-se a o mundo, isto é muito bom.
Mas me deixem regredir um pouco.

Na noite anterior desta sexta-feira que passou, eu tive um sonho louco: eu estava no Barro Duro ( uma praia primitiva local), era alta madrugada, a noite mergulhada em estrelas e não havia luar. Sentei-me a beira da lagoa e fiquei olhando o silencio, num misto de paz e temor... Temor por tudo, mas lembro que o futuro me deixou inquieto. ( somente em sonho me inquieto com o futuro, não creio em futuro algum, creio no agora). Então comecei a ouvir algo se mexendo na agua... Algo que parecia se aproximar lentamente, como se um peixe tivesse nadando sobre a agua ou... Da escuridão mais profunda alguém vinha... alguém?! Alguém caminhando sobre as aguas? Naturalmente como vocês eu também pensei: é Jesus? Não pode ser! Aquele cara barbudo vindo, se aproximou de mim, não disse uma única palavra apenas me olhou... Sorriu e seguiu seu caminho sobre as aguas... Acordei com o despertador me chamando ao trabalho. Esqueci-me desta besteira.

Meus sonhos nunca tem sentido algum, e prefiro que seja assim. Fui trabalhar e deixei isso pra trás. Era o que me faltava, insights religiosos agora? Prefiro a embriagues consciente ao devaneio místico, que fazem os anjos se apiedarem da humanidade e sua miséria...

O dia transcorreu modorrento, eu no piloto automático, em função de tantas atividades. Você sabe como é isso? Mandam você fazer... E você faz, como uma maquina eficiente, sem questionar, sem pensar, sem sequer estar presente, você liga a maquina e ela funciona bem como uma batedeira.

A noite chega, o período que mais gosto. Noite profunda, a noite parece que a vida é melhor, as coisas se tornam extremas ou mais terríveis ou serenas, o dia traz o meio terno de tudo. Não gosto de meio termo, gosto de tudo ou nada, vida ou morte, sobriedade plena ou embriagues eterna. Sentia-me tranquilo. Olhava a janela de minha sala, a rua parecia bela, como uma mulher pelada generosa, abrindo a xoxota e dizendo: vem amor, faz tudo o que tu quiseres, me come, me chupa e lambe... vem eu sou tua hoje e sempre...

Sorri sozinho em meio a tais pensamentos. Então alguém me interrompe, arrancando dos meus devaneios:

-Fabiano? O Fabiano... Tem um cara lá fora que quer falar contigo urgente...
-Diz pra ele entrar...
-Ele disse que não, prefere que tu vás lá... um tipo estranho viu...

Fiquei meio receoso. Que merda será essa? Sempre penso que pode ser um amante ciumento de alguma mulher que deu com a língua nos dentes... bem, nunca se sabe. Fui atender esperando um tiro.
Vou até a porta, quando abro, me deparo com uma surpresa, que sorria a todos os dentes:

-Sebastian? És tu?
-Fabiano... Tu sabes, o bom filho a casa torna... (rindo)

Sebastian é um grande amigo. Da ultima vez que falamos, ele anunciou que estava indo embora, para uma viagem longa, segundo ele, pelo mundo a fora. Não acreditei nele, em Sebastian tudo é muito impreciso. Ele deveria ser meu irmão. Porque a despedida dele, foi algo como: Até mais Fabiano, nos falamos em breve. Este breve agora se resumia a mais de um ano. Você sabe que é ficar sem um grande amigo?

-Cara por onde tu andaste? Que tu fizeste cara, e essa barba e cabelo comprido? Tais parecendo Jesus Cristo... Ou fundaste alguma religião nova?
-Estive na terra dele... Mas nem assim me convenci... Eu sou Sebastian... o explorador dos mundos...estou de volta, esta Pelotas continua a mesma coisa hein, que bom... Voltei para incendiar as noites e amordaçar os dias... Voltei porque tenho amigos aqui Fabiano, coisas raras que não se tem por aí... O mundo é uma selva quando se é estranho...
-Seja bem-vindo cara... Tu estas em casa... E eu estou trabalhando... Esta aparição assim não exatamente o teu estilo Sebastian... Mas...
-Salamaleico Fabiano...
-Que porra é essa cara? Virou muçulmano ou islâmico?
-Sou Multi-religioso... E multi-pecador também, sou rabo do demônio e asas de Rafael Arcanjo...
-Certo Sebastian, então me diz... Onde vamos beber hoje? Isso merece uma comemoração... afinal..
-Não, hoje não posso, preciso pagar uma divida de sangue... Mas estou de volta... Falando nisso, recebeste o meu recado ontem, não é??
-Ãh? Que recado? Ninguém me deu recado algum...
-Tu és de uma sensibilidade tosca hein Fabiano? A vida é sentida cara, é preciso perceber... O sonho, eu caminhando nas aguas, lembra?
Fiquei em silencio por um instante. Não entendi exatamente o que isso significava. Sebastian me abraça e diz:
-Farei contato... Me aguarde brother... E não fique olhando muito pra lagoa...
-OK Sebastian... vai em paz...
-Certamente brother...

Que merda, que isso significava?
Sebastian estava indo novamente? Voltaria? Não tem como saber, como milhares de coisas que não sabemos exatamente. A vida a morte, quando o infarto vai acontecer, quando tudo vai dar certo?
Voltei a trabalhar, mas falar com o ele me fez bem. Sebastian é sempre uma surpresa grata, e duvido muito que tenha se modificado, duvido que não me coloque mais em frias... Tornei a olhar noite pela janela a noite estava linda mesmo...

Luís Fabiano.




sábado, fevereiro 23, 2013

  *  POESIA FOTOGRÁFICA  *  







Navalhadas Curtas: Velho coxador


Por vezes lamento que o mundo não tenha acabo, conforme o calendário Maia. Os putos erraram a data, ou estavam apenas de caô? Não sei, e também, foda-se.

Eu estava na fila do caixa eletrônico, então um coroa chegou. Achei um pouco estranho, ele ficou muito perto de mim.
Tratei de ignorar o velho, as a cada passo quando fila avançava, ele colado atrás de mim, numa distancia não mais que três centímetros. Apenas olhei pra trás, extremamente mal encarado. Então finalmente chegou minha vez, e por incrível que pareça o velho colou atrás de mim a tal ponto que senti a barriga dele nas minhas costas então parti pra estranheza:

-O meu velho... Qual é? Tais querendo me comer aqui na fila, pô? E sem camisinha?
-Opa, opa... Que isso senhor... que isso... Nada disso... opa...
-Que isso umas porra meu... Pode dando três passos pra trás.. Vai velho...

Ele fez... Naturalmente as pessoas da fila ficaram me olhando, uma senhora desistiu de pegar grana... E o velho assustado ficou quieto.
Ok, peguei a grana e sai, na passada pelo velho disse:

-Escuta ai meu senhor... nada de coxar as pessoas na fila de novo hein...

O cara envergonhado, nem me olhou... Sai dando risada.
Malditos Maias, e seu calendário furado.

Luís Fabiano.





Inútil e irrequieto

Minha vizinha levanta
Lava a roupa que é apenas sua (pois vive só)
Varre a casa, que não esta suja
E providencia algo pra comer
Então vê a merda da televisão
Dorme
Depois recomeça tudo novamente
Inútil

Fiquei observando-a, e ela é apenas uma representação de milhões
Tudo uma tentativa de tapar lacunas
Enquanto se fabrica um pouco de merda
Este é o plano fantástico de Deus... Ual...
Ontem a observei dependurando no varal, umas calcinhas puídas e com um furo...
Normalmente ignoro isso...
Mas senti asco daquela peça, por ela, pela limpeza e a vassoura
Então a vizinha me cumprimentou de forma sofrida
Como se o mundo tivesse caído sobre sua cabeça
Tive vontade de dizer algo hostil pra ela...
Talvez um tapa para que acordasse... As vezes funciona

Uma flor rara crescendo em uma caverna escondida dos olhos mundo
Peixe dos abismos oceânicos que nadam solitários enquanto você dorme
Folhas secas levadas pelo vento a um destino também ignorado
Um cão latindo para rodas de um carro em movimento
As ondas vindas, uma após a outra, todos os dias, todas as horas e sempre...
Milhares de palavras escritas por dia e ninguém lerá nunca
Garrafas vazias se acumulado sobre a pia da cozinha
O gelo derretido no fundo de um copo
Um carrasco sem vitimas
Todos inúteis

E isso nos leva ao próximo passo...
Que você tem feito da sua vida, que valha a pena?
O quanto tem estado feliz?
E dentro disso, de vez em quando você se lembra dela...
Por vezes não teremos as respostas
E é importante não ter pressa para obtê-las
Mas continue perguntando, perguntando... Sempre
Para que o coração não se acomode
Para que músculos não adormeçam
E a alma não se converta em pedra.


Luís Fabiano.



quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Pelotas Fantasma - IV



Praça Cipriano Barcelos – A Praça dos Enforcados

O Pelotas Fantasma viaja pela praça dos Enforcados, fazendo a poesia da vida, e lentamente  se encaminhando para aquilo que também é rascante também. Somos assim, a dose de mel com uma breve destilada de veneno, isso é viver.É a representação mítica disto.
Boa Viagem.
Luís Fabiano



O olhar deste anjo....é no minimo suspeito...






Os olhos de Charles Manson

Ele entoa uma cantiga com laminas manchadas
Quando frascos feitos de ideias se destilam a noite infinda
Quando a pagina é virada outra vez, e outra vez
Quando o cuspe sela o pacto
E o ato mais cruel, que ecoa num horizonte como um por do sol
Flores da agonia, em veias de opressão
O limite que raspando os abismos

Ela tão doce, com o seu maternal olhar
Embalando o amor, como uma vela aberta a espera do vento
Caracóis sobrevivendo agarrando-se ao que podem
E nos exortamos, quando a palavra se afoga em nossa alma quase vulgar...
O medo...
A dor...
A merda...
O horror...
O amanha...
O ontem...
Somos frágeis como formigas, esculpidas em egos de catedral
Desconhecidos errantes, a procura de alguma paz
E todos terão uma solução...
Como a promessa da semente...

Mason tem o que a todos ausenta
A convicção sem fronteiras, o míssil certeiro pairando no deserto, como um beija-flor
A fé inabalável, como uma passarela de navalhas
Um rinoceronte em fúria, ardendo chamas
Como os teus piores silêncios, feitos de pura solidão
Quando o chão parece se abrir...
E nem Deus ou diabo parecem ligar...

Vi nos olhos de Manson, o que falta aos de bem...
Uma razão tão profunda, como as raízes da sequoia
Uma raiva tão visceral, como um milagre de um santo
Como a paz de um meditante, nos sonhos de uma quietude quase inumana
E por um instante...
Um piscar de olhos, me percebi do tamanho que sou
A engrenagem sistêmica de um caos delicado
A crueldade fiel, de esperanças simples
O sorriso fabricado para quem não ligamos

Luís Fabiano

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Pelotas Tatuada




Rua José do Patrocinio N-42 ( antiga cervejaria)


segunda-feira, fevereiro 18, 2013

O Rabo de Ludmila, Sangue e três corpos



O Rabo de Ludmila, Sangue e três corpos
Então eu havia me recuperado um pouco. Sou assim, vivo assim intensamente. Minhas gozadas me levam a um delírio apocalíptico fantástico, não sei o que real ou não, quase desmaio, as vezes desmaio mesmo depois da gozada.

Levanto depois de um tempo, tenho sede alcóolica, vou até a janela do AP Ludmila. Gosto de olhar pela janela daquele oitavo andar, uma chuva se aproxima num céu chumbo. Gosto de céu chumbo. Encosto a cabeça no vidro fico olhando. Me sinto o mais macho de todos os tempos, como se tivesse culhões de ouro, um touro reprodutor gozando acido sulfúrico, o estuprador jamais pego gargalhando na escuridão.
Ludmila geme baixinho na cama:

-Fabiano... Vem me abraçar... Meu cu ta doendo... Mas eu te quero aqui pertinho...
-OK... Lu a chuva tá se aproximando...gosto de ver o céu assim... Tu não?
-Eu prefiro o sol... Céu limpo e claro... Tu beijas o meu cuzinho depois?
-Sim, claro, sim farei mais que isso... e muito mais... Tenho sede...
-Bebe o que tu quiseres Fabiano, o AP e a minha alma são teus...

Ela vira de bunda e abre a mesma, expondo um olhinho inchado. Porra, como eu gosto deste jeito dela... Sem freios ou limites, sem censura, não se preocupa com os limites do certo ou errado. Ludmila vive como uma cachoeira de fogo ,que jamais para de jorrar. Enfrenta os problemas de uma maneira única, enfrenta como se não houvesse problemas. Passa por cima deles, como um trem esmagando um pardal.

Já a vi passar por situações complicadas, ela consegue manter o bom humor, e aquele sorriso de menina, apesar dos seus trinta e cinco anos. Temos um caso sem caso, que torna tudo perfeito.
Fiquei ali, massageando o cuzinho dela devagarinho... entre beijos e uma lambida para aliviar qualquer dor. Então subitamente escuto o som de sirenes na rua, uma, duas, três...

Puta que pariu, que houve? Volto até a janela e lá estão duas viaturas da policia e a Samu. Digo para Lud:

-Acho que deu alguma merda no teu prédio... policia e Samu... Vou me informar o que houve... Guenta ai...
-Estas louco Fabiano... Não tem mete nisso não, não é problema nosso...
-Eu to ligado... Nunca é... mas não sei quero lá saber... Sabe-se lá...
-Então vai... E leva a chave amor...

Coloco uma bermuda e uma regata e saio. A coisa aconteceu três andares abaixo, eu sigo o som das dores. Os vizinhos estão assustados... Dizem no corredor que foi tiro, outros dizem que a mulher chegou mais cedo em casa e pegou uma cena imoral... então matou...

Mas que merda, sempre temos uns conceitos prontos para julgar os outros... imoral, pecado, certo, errado... Que você sabe a respeito disso? Você saberá disso quando a dor se tornar tão opressiva, então o empurrando  com um trator... acabamos não tendo grandes opções. Não há nada de errado com o mundo, é apenas nós que não sabemos compreende-lo, e por pior que seja é natural.

Eu chego a cena do crime. Não era algo bonito de se ver. Você já sentiu cheiro de sangue ainda quente? O cheiro se tornando mais forte a ponto que o paladar começa a salivar com gosto de sangue fresco também.
Isso me fez lembrar dos cadáveres que eu trabalhava quando era mais jovem. Um auxiliar de patologista, aquele cheiro forte inescapável, éter e podridão. Pensar nisso é quase nos tornar uns nada.

Os policiais não deixam passar, estão agitados, parecem gostar da ação, uma espécie de chacais felizes em seu trabalho, dizem que é cena do crime com o rosto muito sério.
Devo estar ficando muito bizarro mesmo... Pois queria saber o que tinha acontecido. Então escuto uma vizinha dizendo entre lagrimas e ranho com uma língua venenosa:

-Eu sabia que um dia isso ia acontecer... Ele se arriscava demais... E aquela mulher não tinha uma cara boa... Ela batia nele como se ele fosse um frango... e agora isso... Até da justiça dos homens ela escapou... A covarde... se matou e tudo vai ficar por isso mesmo...que Deus me perdoe...
Não resisto:

-Mas senhora, porque ela o matou?
-Eles meu filho. O marido tinha um caso com um homem negro... muito forte, eles vinham pra aí... E faziam um escândalo daqueles... tu nem imaginas meu filho... Um horror, todos sabiam... Então hoje ela chegou mais cedo e não perdeu tempo... Matou os dois e se matou depois...

Tanta violência... Puta merda... por que? Orgulho manchado de sangue, dignidade desferida projetada em páginas que saltam... De boca em boca, raspando a dor, removendo a tinta... Não deixando nada a nós os supostos melhores sociais?

Ainda tinha o gosto de sangue na boca. A policia tira um dos cadáveres... Coberto... mas o sangue estava muito visível. Deus tenha pena daquelas almas, que morrem por causa de amor.

Algumas pessoas choravam, parecia ser os parentes. Bem, é melhor deixa-los agora. Resolvi subir pelas escadas, bem devagar... Ir me afastando daquilo lentamente... Como um nevoeiro que fica pra trás, a pintura ganhando traços... mais suaves de luz.
Chego ao AP de Ludmila.

Ela esta ainda deitada na mesma posição. Digo pra ela o que aconteceu, ela fica atordoada, num lamento silencioso daquelas coisas que não podemos evitar... porra nada é pior que, o não poder evitar.
Abraçamos-nos, ela me pergunta a seco:

-Tu vais me matar algum dia?
-Não Lu, eu já tive inimigos, que me fizeram coisas terríveis... E nunca matei nenhum deles... Estou calejado... Podes fazer o que quiser, eu não te mato jamais...
Eu tinha alguma certeza disso.

-Esse é o teu amor por mim? Um amor que não mata nada?
-Logico... não mato.
-Eu poderia fuder com a tua vida... Te dar um filho louco, me viciar em crack, viver chapada, bêbada, trepar com todos a minha volta... Que ainda sim tu não??
-Não, eu não... Você pretende fazer isso? Já diz agora...
-Não Fabiano... Eu sou a única mulher que tu não precisas te preocupar com nada, eu sempre vou estar pronta e limpa pra ti, eu vou te querer sempre, ainda que não apareças por um ano, tu podes ter todas as que tu quiseres e mereces isso... Eu vou estar te esperando amor, tu podes fazer tudo aquilo que quiser... Pois meu amor vai além... Tu podes até esquecer meus sentimentos... Tu Fabiano... podes fazer qualquer coisa comigo!

Fiquei em silencio ouvindo aquilo como uma estatua. Era uma declaração capaz de arrancar o reboco das paredes... Ludmila me olhava fixamente e parecia ter uma certeza rara. Então nos beijamos, e começamos tudo novamente. Ela para de me beijar e diz:

-Gosto de sangue na boca?
-Não tem como participar da vida e não se sujar ou limpar-se um pouco...

Tinha vontade de não sair dali, ficar aninhado em tecidos de verdade... Uma verdade que não sabemos dimensionar e ainda sim temos sede.
É preciso cavar um pouco mais a nossa alma.

Luís Fabiano.