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quinta-feira, fevereiro 28, 2013




Ponto de ônibus, Bunda Encantada e Travestis Apaixonadas

Parte Final:

Não gosto de atrapalhar os encontros de ninguém. Sou um chato inconsciente, mas respeito as possíveis fodas alheias. Sujeira passou por mim... Em seu natural mau humor, eu disse:

-Ai Sujeira... perdendo uma grana pra Rebeca...
-Ééééééé...
-Tá feliz hoje?
-Ééééééé´...

Então como um soldado em uma guerra muda, Sujeira se esconde atrás do velho balcão, senta-se em um banco e fica nos olhando com indiferença aparente. Gosto deste sujeito, é estranho, mas sei que é boa pessoa. Coloca um milhar de fantasmas na frente de sua realidade, para ninguém ver a sua essência. Protege-se, encouraça, é foda mesmo, a vida nos machuca por ai, e em um dado momento, tudo que queremos é não verter mais lagrimas e ficar bem, curtir uma paz. Eu o entendo.

Rebeca vem até mim e me abraça forte, parece muito feliz ao me ver. Isso não é muito comum, normalmente as pessoas não se sentem tão felizes assim ao me ver. Quando a abracei forte ela gemeu:

-Ei que isso Rebeca? Se excitou com um abraço?
-Nada querido...a cirurgia ainda dói... E vai doer um pouco... mas ta linda...
-Opa, desculpa... é? E tu estas feliz agora?
-É um sonho que se realiza Fabiano... Hoje me vendo eu me sinto completa... E mais que mulher...
-Faço ideia... Que maravilha Rebeca... “buceta de plástico”, sensacional... Parabéns...
-Não é de plástico cara, é de carne mesmo... Claro, eu ainda não posso gerar uma criança dentro de mim... Nossa um útero seria tudo de bom... imagina isso Fabiano...
-Não faz isso Rebeca... O mundo tá cheio de crianças... E nem por isso esta melhor, adota um... Cria um cachorro, um gato... algo mais tranquilo...
-Só se tu fores o pai? Topa?

Minha mente viajou por um instante. É impossível não lembrar, de minhas tentativas frustradas de ser pai... Talvez Deus ou Diabo tenham decidido que melhor não... Talvez eu não fosse um bom pai mesmo, nunca fui muito bom em cuidar das pessoas, nunca fui muito bom de cuidar de mim... Mas ter um filho adotado, com uma transex? É tanta novidade que talvez pudesse dar certo. Vá saber...

-Não sei Rebeca... A gente precisa decidir agora? Não né?
-Não ...foi só uma suposição... Relaxa amor...
-OK, mas mudando a conversa... Tu e o Sujeira aí... ta rolando...algo...hummm espero não ter atrapalhado nada...
-Bem... digamos que tem dias que ele esta mais carente... E eu agora sou uma mulher de verdade... os homens precisam de um carinho, afago feminino de vez em quando... Isso é coisa que as mulheres devem fazer para seus homens...
-Entendo... Então acho que vou deixar vocês ai...  E vou dar mais uma andada nesta cidade de merda... Cidade sem carnaval, de bares fechados... de puteiros lacrados... E outras merdas obscuras...
-Fabiano... acho lindo quando falas assim... Mas fico pensando... e o amor hein? Tu não vai amar de verdade ninguém?
Sujeira lá de trás do balcão, resmunga alto:
-Falar de amor com o Fabiano... É o mesmo que falar de segurança com o Maníaco do Parque...

E caiu numa gargalhada estranha. Talvez ele tivesse razão.

-Rê, amor é assunto pessoal... Cada um sabe como ama... Vivo assim agora, não julgo nada ou ninguém... Por vezes a alma tem sede de amor, e as vezes ela bebe em fontes impuras...

-Porra, isso foi lindo e profundo...
-As vezes dá certo... mas deixemos o amor pra lá...

Falo com o Sujeira:

-Vem cá Sujeira... Nesta bosta de bar, não se atende mais os clientes direito?
-Não tem rum... Fabiano... Acabou...
-Tá bem... Cerveja tem? Cachaça? Mijo de dinossauro?
-Tem... Mas a cerveja é daquela ruim... Pode ser?
-Puta que me pariu... Sujeira... Trás isso mesmo, porque tem coisas na vida que só bebendo...

Sujeira trouxe uma cerveja que me da dor de cabeça (digo a marca para aqueles que falarem comigo pessoalmente)... Nem serviu deixou ali, jogada:
-Sujeira... senta ai com a gente...querem seguir o jogo de pôquer ta tudo bem... Eu não jogo esta merda...

Ele se sentou e ficamos ali os três, uma trindade maldita em uma madrugada, que arranhava as portas do inferno, na esperança de uma redenção ou então de sermos jogados ao abismo. Comecei a gargalhar... Ambos me olharam, e Sujeira:

-Deus...esse cara é louco Rebeca... Deveria estar em um hospício lacrado a sete chaves...
-Fala assim dele não... tadinho...

Eu seguia rindo.
E cada dia mais, eu dou conta que meus pensamentos são infinitamente mais interessantes que a realidade que me cerca. Mas que merda. Madrugada, silencio e um bar vazio. Percebi os olhares de Sujeira para Rê. Era o poder de uma buceta “plástica”, mexeu com os neurônios de Sujeira. O melhor que eu podia fazer era ir embora.
Então como uma espécie de insanidade herdada, Rebeca levanta e diz do nada:

-Queridos hora do show... Isso aqui tá muito parado... Sujeira liga o radio ali...

Sujeira liga numa radio que tocava Sade...  Então Rebeca sobe numa mesa próxima a nós ,e começa a dançar, uma dança sensual, lenta, dançava devagar passando a mão pelo corpo... Nas tetas... Na bunda... na buceta novinha... Aquilo fazia bem. Homens gostam de strippers, por vê-las tirar a roupa, é como ver as estações do ano passando, acalma... Elas começam no inverno... e chegam ao verão como flores do encanto.
Rê foi tirando a parte de cima, mostrando as tetas, ela não iria tirar a parte de baixo. Sujeira sentando um pouco mais a frente, pegando as roupas de Rebeca... e olhando pra ela como uma santa no altar. Sorri para ela... Ela dançava bem.

Mas acho que melhor é ir embora. Tomei mais um gole de cerveja, e fui levantando de fininho...  Estamos sempre em busca de felicidade... E ela reside em coisas simples. Sujeira estava extasiado, atirei um beijo para Rebeca... ela sorriu... E sai.

Entrei no Kadett, encostei a cabeça no volante... Cerveja maldita de merda... minha cabeça já doía, a primeira coisa que pensei: como vou fuder assim, com essa dor?

Liguei o Kadett, liguei o radio e sai devagarinho... Na porta entre aberta se se via Rebeca dançando sobre a mesa... Sujeira debruçado aos seus pés... Que cena.
Eu iria pra casa, dormir o sono dos broxas e justos, e talvez pela manha, se tudo desse certo, bater uma punheta lenta e suave, com uma gozada abundante e feliz... Como um sonho da perfeição inexistente, a vida é boa.

Andei umas duas ou três quadras no porto... E uma moça correndo, em desespero para na frente do carro... Quase atropelei a vagabunda... Mas que merda... Então ela chega até janela do carro:

-Moço... pelo amor de deus...me tira daqui...por favor...ele vai me matar hoje...
-Hã? Quem... O que? (olhei para o lado e não vi ninguém)
-Moço me deixa entrar no teu carro... por Deus...

Olhei pra ela... Era o rosto do desespero... Numas tetas mui buenas... E apelava a Deus... O ser humano é uma merda...

-Entra ai guria...
-Obrigada...

Mas que merda... e agora?
Arranquei com o carro rápido, fui subindo a Barroso em alta velocidade... Nós em silencio, eu ouvia apenas respiração dela... De alivio.

-Aonde vamos?
-Qualquer lugar... tu podes me deixar em qualquer lugar... Que bom... foi Deus te mandou cara...

Pensei comigo: Deus ou outro... A gente nunca sabe...
Cheguei à Avenida Bento Gonçalves, quase vazia, estacionei próximo a Brigada Militar.

-Então princesa... Me conta qual o drama?
-É muita coisa... É muita coisa...
-Tudo bem... eu tenho tempo... Quer dizer... fala se quiser... Uma pergunta, eu corro algum risco hoje?
-Ta tudo bem... O Magrão não te viu... Se te vê... bem... É o seguinte, eu sou garota de programa...

Deus... Isso é a noite... com toda certeza as duas e tanto da manhã, ela não seria a Madre Tereza... Foda-se.

-Sei... e onde isso se converte em uma fuga em Pelotas?
-Ele queria me matar... Disse que se eu fizesse programa novamente, eu iria aparecer boiando no São Gonçalo...

Homem que mata mulher... não é muito homem.

Ela seguiu: pois então, mas eu não consigo resistir... Eu sou garota de programa, gosto do que faço... e pago a minha universidade com grana... É uma grana boa...

-Magrão é teu cafetão?
-Não, é meu homem... eu amo ele...

Claro... tudo era muito simples! O ser humano é um artista, na capacidade de complicar a vida... E o amor aparecia em cena novamente. Já tava de saco cheio disso. Olhei bem pra ela. Estava perfumada com um perfume doce, tinha cabelos pelos ombros, uma camisa aberta a na frente, mostrando seios grandes e pareciam brilhar...  estava com minissaia jeans... Curta alias muito curta, ela parecia não ter mais de vinte e dois anos. Vestida para matar ou morrer. Eu não tinha vontade de falar mais nada. A ideia era ir pra casa... A princesa estava em segurança... E os meteoritos não fizeram grande estrago na Terra.

Então ela me olhou com aquele olhar... e disse:

-Amor... eu vou te agradecer o salvamento tá?

Disse isso indo em direção ao meu fecho da bermuda... abrindo e sacando o “queridão” pra fora. Existem almas que são predestinadas... A fazerem o que fazem. A boca desta moça era uma maquina de sugar, com a delicadeza de uma luva de pelica... Ela começou lambendo, o bicho engrossou... quando estava de pau duro...então ela o engoliu lentamente. Relaxei... era um paraíso...era uma profissional. Fiquei ali... ela fazia tudo, a perita. Por fim gozei... Na boca dela... uma gozada longa (tenho muita porra), que ela acumulou na boca... E ai abriu o vidro e cuspiu. A cena era uma poesia.

Então me olhou, limpou o cantinho da boca, um restinho de porra, com um dedo... Me deu um beijo, abriu a porta do carro e se foi como uma fumaça. Tudo na vida tem um preço.
Um silencio percorria as ruas, as dores encontravam seu alento, e as igrejas estavam vazias... Mesmo as ambulâncias passaram sem gritos. Tudo estava em uma perfeita ordem como um álbum de família... Era hora de ir... uma noite, um minuto, um dia, tudo é tão inesperado, eu estava bem... E espero que você também.

Luís Fabiano.


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