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segunda-feira, fevereiro 18, 2013

O Rabo de Ludmila, Sangue e três corpos



O Rabo de Ludmila, Sangue e três corpos
Então eu havia me recuperado um pouco. Sou assim, vivo assim intensamente. Minhas gozadas me levam a um delírio apocalíptico fantástico, não sei o que real ou não, quase desmaio, as vezes desmaio mesmo depois da gozada.

Levanto depois de um tempo, tenho sede alcóolica, vou até a janela do AP Ludmila. Gosto de olhar pela janela daquele oitavo andar, uma chuva se aproxima num céu chumbo. Gosto de céu chumbo. Encosto a cabeça no vidro fico olhando. Me sinto o mais macho de todos os tempos, como se tivesse culhões de ouro, um touro reprodutor gozando acido sulfúrico, o estuprador jamais pego gargalhando na escuridão.
Ludmila geme baixinho na cama:

-Fabiano... Vem me abraçar... Meu cu ta doendo... Mas eu te quero aqui pertinho...
-OK... Lu a chuva tá se aproximando...gosto de ver o céu assim... Tu não?
-Eu prefiro o sol... Céu limpo e claro... Tu beijas o meu cuzinho depois?
-Sim, claro, sim farei mais que isso... e muito mais... Tenho sede...
-Bebe o que tu quiseres Fabiano, o AP e a minha alma são teus...

Ela vira de bunda e abre a mesma, expondo um olhinho inchado. Porra, como eu gosto deste jeito dela... Sem freios ou limites, sem censura, não se preocupa com os limites do certo ou errado. Ludmila vive como uma cachoeira de fogo ,que jamais para de jorrar. Enfrenta os problemas de uma maneira única, enfrenta como se não houvesse problemas. Passa por cima deles, como um trem esmagando um pardal.

Já a vi passar por situações complicadas, ela consegue manter o bom humor, e aquele sorriso de menina, apesar dos seus trinta e cinco anos. Temos um caso sem caso, que torna tudo perfeito.
Fiquei ali, massageando o cuzinho dela devagarinho... entre beijos e uma lambida para aliviar qualquer dor. Então subitamente escuto o som de sirenes na rua, uma, duas, três...

Puta que pariu, que houve? Volto até a janela e lá estão duas viaturas da policia e a Samu. Digo para Lud:

-Acho que deu alguma merda no teu prédio... policia e Samu... Vou me informar o que houve... Guenta ai...
-Estas louco Fabiano... Não tem mete nisso não, não é problema nosso...
-Eu to ligado... Nunca é... mas não sei quero lá saber... Sabe-se lá...
-Então vai... E leva a chave amor...

Coloco uma bermuda e uma regata e saio. A coisa aconteceu três andares abaixo, eu sigo o som das dores. Os vizinhos estão assustados... Dizem no corredor que foi tiro, outros dizem que a mulher chegou mais cedo em casa e pegou uma cena imoral... então matou...

Mas que merda, sempre temos uns conceitos prontos para julgar os outros... imoral, pecado, certo, errado... Que você sabe a respeito disso? Você saberá disso quando a dor se tornar tão opressiva, então o empurrando  com um trator... acabamos não tendo grandes opções. Não há nada de errado com o mundo, é apenas nós que não sabemos compreende-lo, e por pior que seja é natural.

Eu chego a cena do crime. Não era algo bonito de se ver. Você já sentiu cheiro de sangue ainda quente? O cheiro se tornando mais forte a ponto que o paladar começa a salivar com gosto de sangue fresco também.
Isso me fez lembrar dos cadáveres que eu trabalhava quando era mais jovem. Um auxiliar de patologista, aquele cheiro forte inescapável, éter e podridão. Pensar nisso é quase nos tornar uns nada.

Os policiais não deixam passar, estão agitados, parecem gostar da ação, uma espécie de chacais felizes em seu trabalho, dizem que é cena do crime com o rosto muito sério.
Devo estar ficando muito bizarro mesmo... Pois queria saber o que tinha acontecido. Então escuto uma vizinha dizendo entre lagrimas e ranho com uma língua venenosa:

-Eu sabia que um dia isso ia acontecer... Ele se arriscava demais... E aquela mulher não tinha uma cara boa... Ela batia nele como se ele fosse um frango... e agora isso... Até da justiça dos homens ela escapou... A covarde... se matou e tudo vai ficar por isso mesmo...que Deus me perdoe...
Não resisto:

-Mas senhora, porque ela o matou?
-Eles meu filho. O marido tinha um caso com um homem negro... muito forte, eles vinham pra aí... E faziam um escândalo daqueles... tu nem imaginas meu filho... Um horror, todos sabiam... Então hoje ela chegou mais cedo e não perdeu tempo... Matou os dois e se matou depois...

Tanta violência... Puta merda... por que? Orgulho manchado de sangue, dignidade desferida projetada em páginas que saltam... De boca em boca, raspando a dor, removendo a tinta... Não deixando nada a nós os supostos melhores sociais?

Ainda tinha o gosto de sangue na boca. A policia tira um dos cadáveres... Coberto... mas o sangue estava muito visível. Deus tenha pena daquelas almas, que morrem por causa de amor.

Algumas pessoas choravam, parecia ser os parentes. Bem, é melhor deixa-los agora. Resolvi subir pelas escadas, bem devagar... Ir me afastando daquilo lentamente... Como um nevoeiro que fica pra trás, a pintura ganhando traços... mais suaves de luz.
Chego ao AP de Ludmila.

Ela esta ainda deitada na mesma posição. Digo pra ela o que aconteceu, ela fica atordoada, num lamento silencioso daquelas coisas que não podemos evitar... porra nada é pior que, o não poder evitar.
Abraçamos-nos, ela me pergunta a seco:

-Tu vais me matar algum dia?
-Não Lu, eu já tive inimigos, que me fizeram coisas terríveis... E nunca matei nenhum deles... Estou calejado... Podes fazer o que quiser, eu não te mato jamais...
Eu tinha alguma certeza disso.

-Esse é o teu amor por mim? Um amor que não mata nada?
-Logico... não mato.
-Eu poderia fuder com a tua vida... Te dar um filho louco, me viciar em crack, viver chapada, bêbada, trepar com todos a minha volta... Que ainda sim tu não??
-Não, eu não... Você pretende fazer isso? Já diz agora...
-Não Fabiano... Eu sou a única mulher que tu não precisas te preocupar com nada, eu sempre vou estar pronta e limpa pra ti, eu vou te querer sempre, ainda que não apareças por um ano, tu podes ter todas as que tu quiseres e mereces isso... Eu vou estar te esperando amor, tu podes fazer tudo aquilo que quiser... Pois meu amor vai além... Tu podes até esquecer meus sentimentos... Tu Fabiano... podes fazer qualquer coisa comigo!

Fiquei em silencio ouvindo aquilo como uma estatua. Era uma declaração capaz de arrancar o reboco das paredes... Ludmila me olhava fixamente e parecia ter uma certeza rara. Então nos beijamos, e começamos tudo novamente. Ela para de me beijar e diz:

-Gosto de sangue na boca?
-Não tem como participar da vida e não se sujar ou limpar-se um pouco...

Tinha vontade de não sair dali, ficar aninhado em tecidos de verdade... Uma verdade que não sabemos dimensionar e ainda sim temos sede.
É preciso cavar um pouco mais a nossa alma.

Luís Fabiano.


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