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segunda-feira, abril 25, 2011

Lado Sujo



Lado Sujo


As relações humanas não se dão a luz de uma verdade que se vê a olhos nus. Por mais que insistamos na austera sinceridade. Antes sim nas emoções subjacentes, acolhidas no coração em uma constante guerra de fome e miséria para consigo mesmo.

Mesmo em nossas melhores intenções, reside um traço de egoísmo bárbaro o qual dissimulamos, envolvemo-lo em panos caros com desenhos lindos, formas singulares, e ante o que os olhos veem tão pouco, tudo passa limpo como o ânus de um morto.

Fui me dando conta disso, a partir de mim mesmo, na condição de acalentar minhas piores emoções em relação aos outros, dentro desta obviedade com ausência de alma, dei-me conta que todas as pessoas e absolutamente todas, foram, serão ou são filhos da puta, em algum momento, onde a vida faça curvas súbitas.

Não deploro tal comportamento, abençoo-o, porque simplesmente faz parte da condição humana, amo tal condição por tudo que é, seja o pior ou o melhor. É preciso ver grandeza, nos ignóbeis atos humanos, por fazerem parte de uma imensa pintura, traços imbecis, infantis transformados em borrões, e deles sombra e depois luz e então novamente sombra, a obra viva do Demiurgo, do Grande Arquiteto, da Suprema inteligência do universo, o qual somos insignificantes filamentos.

Mas não é possível ver isso desta forma, quando agrilhoados por nossas necessidades prementes e imediatas, por mais que as estrelas insistam em brilhar seu diamantino brilho, ou a lua nos presentear com seu doce e sereno iluminar, tudo que percebemos é a nossa conta em baixa, o dinheiro que desaparece em nadas, os malditos credores a chicotear a porta, a vadia surrupiando a carteira simulando prazer barato, aquela mulher insatisfeita em nossa casa, porque algo falta, e algo sempre falta. Onde o sorriso puro e simples? O Vento que carrega devagar as folhas de outono?
Onde?

Quando vocês se aproximaram, como as pétalas esvoaçantes ao vento, que carinhosamente afagam nosso rosto? Quando a mão que dá, será apenas a dá, e não com a outra serpenteando obscuramente, surrupia o que preço não tem, confiança franca e despojada?!

Gostava de Edith, uma coroa gostosa e muito safada, alias diga-se de passagem, gosto de coroas safadas e gordas, originais, embora tal espécie esteja em extinção como dinossauros, mesmo a safadeza de hoje é impura.

Ela contava com cinquenta e poucos anos, tivera um bom estoque de ex-maridos, mas por sua indecência natural traíra a todos com muito orgulho. Hoje vivia em pequeno apartamento na Guabiroba, mísero e destruído. E talvez isso que nos irmanasse, a putaria calma, repleta de amizade e longas conversas em bares de segunda categoria.

Fui um dos seus amantes durante um bom tempo, até que ela se intoxicou de mim infelizmente, quis torna-se a única, queria atenção exclusiva, queria o amor raspado de minha alma em dor, e o sacrifício da coisa que mais amo: eu mesmo.

Tudo de tranquilo mar ondulante, foi convertendo-se em uma merda em forma de tempestade. Então brigamos, como só poderia acontecer, não desejava isso, e não queria agrilhoar-me, tolher-me, fazer minhas pequenas asas se fecharem em pleno voo cego. Mas era inegável o carinho que tinha por ela.

Ela me apresentou o seu lado sujo, que era em parte meu, e seu também. Carregamos isso como uma chaga incurável dos pendores de nossa alma. E tenho a certeza absoluta que é o tal lado sujo, que corrompe tudo a nossa volta, o que torna nossa visão embaçada em relação a vida. Então engolimos tudo a nossa volta, o amor torna-se prisioneiro, a beleza torna-se refém de si mesma, os beijos tornam-se mesquinhos e tudo se converte em um móvel morto, pois assim gostamos mais. Não interessa que esteja morto, mas que seja nosso o cadáver.

O tempo passou, e uma saudade suave capaz de absorver o nosso lado sujo, resgatou nossa conversa, nosso carinho e nossos beijos também. Por agora Edith, sorri como a velha safada de sempre, dizendo entre baforadas do seu cigarro barato, o quanto é difícil entender as reviravoltas do amor, da vida e do tesão:

- Não Edith, por favor, não fale de amor por favor, tenho asco desta palavra absurda, sou como Krishnamurti, acho essa palavra deveria ser removida do dicionário da vida, abolida das bocas profanas, por ser tão mal usada!
-É, eu acho as vezes Fabiano, mas é tão bonitinho dizer: amo você. E você sabe que eu te amo, que vou te amar sempre...
-Puta que pariu, tudo bem, o que te salva Edith, são as boas tetas que tens, sim, me sinto um bebe amado sugando-as lentamente, sorvendo um liquido invisível enquanto tua xoxota peluda fica molhada desejando meus carinhos.
-Pra ti sempre Fabiano, é tudo teu faz como tu quiseres...

Aquela conversa me excitava, pois tenho um desejo irrefreável pela vida, a bebo em grandes goles. Edith embora o tempo houvesse lhe castigado muito, tinha uma xoxota capaz de catapultar-me ao paraíso. Usava sua técnica miraculosa, capaz de fazer os santos gozarem, eu quando estava dentro dela, bem no fundo, apertava os músculos vaginais, massageando o pau ordenhando-o lentamente até a ejaculação suprema, onde o mundo desaparecia num mar de porra.

Naquela noite a levei para casa, e na porta do seu prédio, não resisti e enfiei minha mão por debaixo do vestido, encontrando-a muito molhada, a melhor sensação do mundo. Não me interessa amor, aquela xoxota era o amor vivo, o máximo que o ser humano pode dizer em silencio, uma canção onde se mesclam emoções, desejos e instinto, isso é tudo que quero.

Trepamos ali mesmo, na entrada do prédio, algumas pessoas viram isso pra mim não faz diferença, ainda deixei uma boa possa de amor no chão, como a lembrança dos intensos momentos. Quando estávamos nos despedindo, ela então dispara:

-Será que tu podes me ajudar Fabiano...
Aquilo me soou como algo denso, talvez sujo mesmo...
-Diga Edith... as vezes posso ajudar...
-É que to meio quebrada de grana... e preciso comer algo amanha...tu não...

Revirei meus bolsos, e achei uma nota de vinte reais, dei tranquilamente, eu sabia da sua condição e fiquei feliz que tivesse sido apenas dinheiro. Se tudo se resumisse apenas a isso, a vida seria mais fácil, mas como disse inicialmente o problema é, justamente o que não vemos com os olhos nus, o lado sujo que nos negamos a perceber em nós mesmos.

Fui embora, de volta a minha dolce vita, sentia-me preenchido, pois em meio a tantas misérias que a vida me apresenta, as vezes algo da certo, e podemos sentir aquele breve momento de paz, onde nada em nós grita, apenas um passo de cada vez lentamente em direção a vida...


Luís Fabiano.


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