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segunda-feira, abril 18, 2011



Adoradores de Dinossauros

Ontem me perdi em mim mesmo, eventualmente deixo que tal situação aconteça numa tentativa de pensamento intuitivo que aspira algo. Ás vezes se realiza, e consigo entender com alguma serenidade o que se passa em minha vida, na vida do cosmos e dos meus próximos, tão próximos como abismos sem fundo.

Não queiramos auscultar os vãos profundos de um único humano, encontraremos mistérios indecifráveis e neste aspecto creio, que o outro ás vezes seja surpreendente. Não acho ninguém surpreendente, não os tempos atuais, a possibilidade de uma desdita ou do afago da vida são naturalmente esperadas, um pendulo existencial e não há com que se surpreende com isso. Não é nisto que reside a surpresa da vida, mas sim no seu elã interno e solitário. Detido nas dobras sombrias das noites que passam, dos dias lépidos que iluminam e que fazem acordar em nós alguma coisa, esse algo que anima nervos, que arrebata o coração e transporta a mente.

Via um filme ontem, e pensava nisso, o filme cheio de efeitos especiais de um aclamado diretor hollywoodiano, porem com um roteiro barato, com uma historia vã cujo desfecho era apenas um simples encontro de amor, daqueles impossíveis amores que o roteiro torna realidade e que a vida torna modorrento.

Perdi-me entre os personagens também, passei a odiá-los como filhos malditos de uma merda de roteiro, uma merda de atuação de uma mega superprodução de merda. Que este cara tinha na cabeça afinal? Já briguei com muita gente, mas com os filmes era a primeira vez.

Então relaxei, minhas doenças psíquicas talvez estejam se agravando, fui tateando pensamentos numa tentativa de fazer luz, creio isso ser importante, é preciso saber fazer luz meridiana em nossa vida. Somos portadores dos archotes e das sombras. Fui em direção ao tempo que se vive, viajando para o passado de um tempo sem tempo ainda, onde andávamos a busca de fogo, onde era preciso caçar para alimentar-se, onde o sexo era um estupro consentido na perpetuação da espécie humana. Vi dinossauros famintos tremendo o chão com suas pegadas enormes.

Que filme chato.

Voltei a mim nos estertores do filme, uma breve cochilada no enfadonho filme. As coisas se tornaram mais claras eu acho. Eu era o dinossauro dos tempos passados. E, portanto não posso achar maravilhas nos tempos que hoje surgem, enquanto minha mente observa outros dinossauros pregressos. É o significado pungente que fala, minha mente tenta abrir-se ao novo sempre, porem como um sinete encarcerado em meu coração ou um irremediável dinossauro ferido sem consolo.

Então quer dizer, que o maldito filme, é cheio de significados para os tempos de hoje, são novos dinossauros sendo caçados, com novos valores e pensamentos do amanha, sua verdade é apenas isso, nem melhor ou pior que os velhos dinossauros enfadonhos.

Nada esta pior, as coisas estão como estão por sua natureza própria. Não façamos comparações baratas dos gênios que se foram enterrados como dinossauros podres. Como peixes, estamos fisgados ao tempo que vai nos arrancando da vida, num parto as avessas, arrastando nossos pensamentos e emoções, agarrando-se as pequenas certezas e aos supostos valores adquiridos, nossos pés firmados em uma terra que não oscila, que não desmoronará, imaginamos. A inexorável certeza de estar certo, e disso raramente estamos dispostos a abrir mão. Pensamos no tempo e no suor derramado para tudo converter-se em nada?

O filme estava nos créditos, com uma musica muito agradável que sugeria paz, uma tentativa de abrandar os dinossauros, sorri pra mim mesmo. Tudo parecia tão limpinho e certinho demais, como é da minha natureza querer movimentar as coisas, quando tudo parece tão parado, baixei minhas calças e fiquei acariciando meu aquietado membro, dizendo impropérios para ele. Pelo filme precisava xingar algo ou alguém. Como um morto ele nada fez, guardei-o e achei melhor ir dormir, estas madrugadas com pensamentos demais, bebidas de menos e filmes vagabundos, servem apenas para elevar minha convicção que realmente a vida pode ser uma merda.


Luís Fabiano.

Um comentário:

Dóris disse...

Ótimo texto, boa reflexão sobre o tempo passado, sobre a vida.
Quem falou que viver é fácil? Morrer certamente é muito fácil, ou bem mais fácil que viver. Viver é uma merda mesmo, são muitos os obstáculos que enfrentamos para continuar vivendo.


Abraço.