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quarta-feira, abril 27, 2011



Anjos de Cristal

Ando pelas ruas quando parecem desertas
Um solitário entre solitários
Sóbrio demais para viver
Enfadado de tanto olhar-me
De perceber um mar de erros e insatisfações
Deus esta em férias e o Diabo surfa sorridente no caribe
Estou a beira de jogar-me de joelhos e pedir por favor
Resisto bravamente
Puta que pariu, hoje a noite nem estrelas têm
Como um animal ferido
Preciso em refugiar em alguma toca
Mas nas madrugadas de domingo
Uma Pelotas dorme pesadamente
Não há bares abertos, botecos de segunda nem braços receptivos
Apenas ratos de rua, mendigos misturados ao lixo e vielas sujas
Um carro lá que outros que passa iluminando brevemente a rua
Decido voltar pra casa insatisfeito
Sufocando silêncios
Lambendo suavemente minhas próprias feridas
E então ela estava lá
Com uma minissaia curta, cabelos soltos e olhos verdes
Esmeraldas a beira da estrada
Tesouro abandonado
Sozinha na parada de ônibus, esperando o Laranjal?
Ela não parecia assustada
Aproximei-me ficando com ela na parada
Ficamos em silencio um bom tempo
Por fim iniciamos a conversa uma conversa besta
As horas, o tempo, o calor, a chuva que acontecera amanha...
Não queria pensar nada errado, queria apenas esperar o ônibus com ela
Em minha cabeça criei uma nebulosa de boas ilusões
Onde ela era uma beleza intocada
Uma vitima de si mesma
Com seus sonhos devastados
E tudo que resta é esperar o ônibus de volta
Gosto das pessoas que idealizo mais do que as de verdade...
Por fim Valéria me conta que aquela noite deu tudo errado
Seu ex-namorado a trocou por uma travesti mais bonita
O pai disse para ir para o inferno
E a mãe estava bêbada demais para pegar o carro e buscá-la
O estranho o amor
Por fim o ônibus chegou vazio e calmo
Ela sobe e fica me olhando do alto da escada
Eu fico ali olhando para ela
Sorri tranquilamente
Ela diz: Não vai pegar o Bus?
-Não, não moro no laranjal...
Ela também sorri e senta-se
E através daquela da janela de vidro ela vai embora
Levando minhas melhores intenções
Sinto-me resgatado em uma noite densa
Salvo por um anjo de cristal.

 
Luís Fabiano.


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