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segunda-feira, outubro 11, 2010

O cheiro da vida.


As batalhas da vida ás vezes não são tão nobres. Em se tratando de mim, raramente são. Via a televisão, com indiferença bovina, mascando aquela merda toda pelos olhos. Depois iria ruminar aquilo, eterna e infinitamente dentro de mim.
A notícia era de uma criança que tinha todos os problemas e saúde que você possa imaginar. Com menos de três anos, já tinha tido dez ataques cardíacos, inúmeras paradas respiratórias, tinha dificuldade de alimentar-se, e outras tantas coisas que não lembro.
O que lembro é da mãe da criança. Dizia para a câmera neste tom: “não interessa como, mas vou estar com o meu filho até o fim, eu o amo mais que tudo. Deus me deu essa missão, e vou cumpri-la para que ele fique bem sempre, não o importa o custo, eu faço.”
Não preciso dizer que ela debulhou-se em lágrimas depois disso. Não me senti tocado. A notícia se mistura no turbilhão de tantas outras tragédias, que fica difícil escolher o que sentir primeiro.Depois vieram as noticias da estrada, as mortes, a violência, assaltos. Quando se vê televisão, não se pode dar muita atenção a nada direito. A grande maioria das noticias é pura mentira cênica. Ás vezes as coisas não são assim tão grandes, mas é preciso dar uma maquiada, aplicar um photoshop, colocar um pouco de sangue aqui e ali, e as coisas ficam interessantes.
Comecei a rir do meu raciocínio hediondo, quase cruel. Não podia fazer nada. E o que você pode fazer? Bem, se não podia fazer nada a respeito da merda do mundo que vivemos, daria um jeito em mim, sair fazer alguma merda por aí. Minhas noites nunca são muito promissoras, alias nada em minha vida é promissor. E me sinto orgulhoso e satisfeito com isso.
Sai roncando meu motor suavemente, pelas ruas de uma outra Pelotas.A noturna. Estava disposto a fazer algo, apenas não sabia o que. Por momentos sinto uma compulsão por isso. Minha atração pela merda. Todo tipo. Como quem mastiga um chiclete de cocô.
Fiz os caminhos de bares abertos em um dia semana. Todos muito decadentes claro. Blue Bird, vomitava lésbicas, travestis, drogados, putas ,tribos diversas, uns metaleiros. Por todos os cantos. Parei um pouco ali. Bebendo uma cerveja, apreciando o visual, a cena de cada um. Todo o tipo de coisa que não se vê durante o dia.
Existe um tipo humano que só sai a noite. Os vampiros. Achou que sou um também, mas de uma outra espécie. Talvez a pior. Fiquei um bom tempo ali, e mesmo com uma fauna tão diversa, nada aconteceu. Sai acompanhado de minha eterna solidão. Acabei indo para em outro bar, nas proximidades do porto.
Pedi outra cerveja, ali ás companhias femininas estavam melhores aparentemente. Gente sorridente demais. Entupindo o nariz de pó ou fumando crack. Para mim pouco interessa o que fazem. Ás vezes em tais ocasiões, sobra alguma coisa. Mulheres bêbadas, drogadas ou com depressão profunda, me atraem. Os tipos anormais e doentes.
As de boa vida, as comportadas que buscam algo normal me assustam muito. Essas são capazes de matar. No caso, me matar. Não pensem vocês, eu tenho experiência, sei o que estou falando. Convivência com muitas desgraçadas.
Eu estava a ponto de ir embora. Pois nada acontecia. Mas que merda, hoje nada vai acontecer? Ás vezes é assim, a magica não acontece e você vai pra casa, bate uma punheta se tiver animo, e todos são felizes para sempre.
Pensava em tais probabilidades, quando uma morena de cabelos cacheados, que estava acompanhada de algumas pessoas, me olhou com aquele olhar típico. Apenas sorri pra ela. Ela retribuiu. Talvez minha sorte começasse a mudar. Pra melhor ou pior? Taí uma coisa que nunca sei. Mas também nada ou resultado algum me surpreende. Ganhando ou perdendo. Perderia.
Ficamos naquela sedução de longe, apontei o lugar vazio na minha mesa. Não queria conversar com as amiguinhas dela. Nada de me enturmar. Só me enturmo para aparentar simpatia, quando isso é inescapável.
Ela senta-se a mesa, conversamos aquele papinho besta. Era estudante da universidade Federal, não era da cidade. Sustentada pelos pais, e curtia festas no porto e drogas. Etc...etc..blá, blá blá. Ela foi bebendo eu também. Com vinte e três anos, que ela queria comigo? O tio. Acabamos ficando bem íntimos. Coisas da bebida. Em um dado momento nos aproximamos nos beijamos e estávamos felizes. Os estranhos mais felizes deste mundo. Para mim que não creio em felicidade, aquele pedaço de bar, a morena meio bêbada, seu sorriso de safada promissora, algumas cervejas. Que mais felicidade eu precisava? Sentia-me no topo Everest.
Satisfeito. Não precisa nem transar com ela. Lembrei das batalhas da vida. Achei que iria leva-la para um motel. Mas a sorte sorriu pra mim novamente. E fomos para o apartamento dela. Uma kitineti ,que cabia apenas nos dois ali. Deus era bom. O demônio havia tirado férias.
Nos amaçamos, beijamos e fomos nos despindo.Com fome um do outro, cegados pelo álcool e pelos desejos primitivos. Eu fiquei pensando, ela me levou fácil para o apartamento dela. E seu fosse um assassino? Ou se ela fosse uma assassina? Se essa puta fosse uma devoradora de bolas? Ela me capava, e comia no almoço o meu saco assado? Renovei minha fé na vida.Po um momento.
Mas agora foda-se, é tarde demais. Porem minha sorte começou a mudar novamente. Quando finalmente tirei a calcinha dela, em meio ao escuro, senti o cheiro mais forte e terrível que já havia sentindo. Aquela mulher não se lavava á muito tempo. O cheiro era uma fossa entupida de carniça apodrecida. Eu até duvidei que viesse da buceta dela tal aroma. Mas era pura verdade. Aquilo fedia muito. Não tenho nada contra cheiros fortes, eu gosto e acho estimulante. Porem Valeska havia exagerado. Eis minha batalha na vida. Não titubeie, enfiei minha cara naquela carniça viva, sentindo o cheiro de podridão espalhando no meu rosto, no meu cavanhaque, na minha boca, na lingua.
Suguei, engoli, beijei e claro depois a beijei-a na boca. Tive um breve momento, vontade de vomitar, mas segurei, engoli novamente. Ela gozou algumas vezes, e ambos apagamos imersos nos cheiros.
Acordei com o gosto mais estranho na boca, um gosto horrível. Valeska roncava ao meu lado. Fui até o banheiro fiz um bochecho para me livrar daquilo. Que tragédia. Lembrei da noticia, que havia visto antes de sair. A batalha de uma criança para sobreviver. Cada um tem suas batalhas. A minha não era muito nobre, quase nunca é.
Me vesti e voltei pra casa. O cheiro de Valeska parecia entranhado em mim. O fedor de Valeska estava dentro de mim. Bom, agora não importava. Eu havia sobrevivido, talvez amanhã quando eu acordar eu tome um banho.

Luís Fabiano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Creio que deverias ter tomado um anho antes de dormir, talvez ao acordar o cheiro ja tenha te entranhado na alma daí ja viu.