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sexta-feira, junho 17, 2011



Carinhoso Pesadelo


As vezes vinho demais e sexo de menos, não é uma boa combinação. Sou de um sono pacifico, deito e durmo pesadamente como um porco feliz .Um porco satisfeito, bêbado, guinchando de prazer, enquanto a vida escorre em minhas veias.

O vinho desce bem, aquecendo a alma e transformando o mundo em um borrão impreciso, uma tela cujo pintor arrependeu-se de pintar, então foi tentando aproveitar a obra, aquilo um pedaço do seu intestino colado a tela, um apego rudimentar pela obra morta. A alma aprisionada ao corpo morto, esmurrando o vento numa tentativa de volta ao que era. Mas não, nada é assim. Uma vez feito esta feito, gostando ou não.

O porco precisa banhar-se em sua lavagem, esparramando-se entre suas fezes, e viver a doentia existência de todos. Bom entregar-se aos pensamentos que o vinho embala, sentia-me tranquilo, coisas da embriagues. Por um instante não haviam inquietações, nem dilacerantes verdades ou anestesiantes mentiras.

Ela desistiu de mim, percebeu que eu estava a fim de nada. Ela seminua sobre a cama, eu com o zíper aberto, apenas tinha vontade de mijar, mas não tinha vontade levantar-me, tinha vontade de fazer ali mesmo, sobre a cama, o jeans, a camiseta... depois dormir feliz como um bebe mijão, entre as tetas dela. Puxa que maravilha. Estranhamente, isso me parecia muito sensato e profundamente normal:

-Lana, acho que vou mijar aqui mesmo...
-Tu ta brincando né? Minha cama cara...
-Não, tá apenas por um fio... daqui a pouco vai sair, as gotas douradas...
-Cara levanta agora, minha cama...agora...vai...vai...agora...

Ela não tinha nenhuma esportiva. Foi me empurrando para o lado até eu cair no chão. Cai como um saco de batatas jogado por um feirante preguiçoso. Não senti dor, mas senti um pouco de raiva e com isso, o entorpecimento pareceu aliviar, deu-me um pouco de lucidez. Mudei completamente as emoções. Lana era uma mulher impaciente com tudo, com sua vida, com a maneira como conduzo a minha. Temos um casinho breve, feito de pequenos encontros sexuais, quando nossas fomes eventualmente se alvoroçam, então trepamos, nada além disso.

Não me perguntem por que faço isso, ando com saco cheio de explicar a vida, não há o que explicar. Faço porque faço, as vezes gosto outras vezes não. Sou assim movido por ventos catastróficos e uns poucos ventos bons, que aquecem meu coração, esse sou eu.

Agora queria ir embora dali rapidamente. Levantei e fechei o zíper como quem fechasse a tampa de um caixão, me dirigi a porta sem dizer uma única palavra. Era melhor assim. Onde estavam as chaves do carro porra?

Lana permanecia silenciosa, a múmia seminua, acompanhando com os olhos. Achei as chaves e sai porta a fora, sem tchau, beijos ou abraços, exatamente como a vontade de urinar havia passado, como a bebedeira havia se evadido. Agora era volta para minha caverna, ou talvez olhar mais alguma coisa na madrugada?

Não, melhor não, coloquei o carro em uma marcha segura, fui devagar como gosto de andar, lentamente, pneus acariciando o asfalto. Lembro bem, andava pela Ferreira Viana, a altura do fórum, quando algo aconteceu com o carro, algo incontrolável, ele desviou-se da sua trajetória normal e reta, foi de encontro a uma parede. Apenas fechei os olhos, como que anda em uma montanha russa, senti o impacto forte, estrondoso explodindo tudo em mim e a minha volta.
A sensação que veio depois foi indescritível, não havia dor, não havia medo, nem sequer Fabiano. Morri.

Mergulhado em um silencio imenso, suavemente quente e carinhoso, sentia que estava próximo de algo bom, de uma bondade para além das fronteiras, mergulhei nesta sensação e lembro que pensei: se morrer é assim, puxa vida, é muito bom. Aquela energia foi me envolvendo mais, uma leveza foi me conduzindo para algum lugar... quando abri os olhos, estava em minha cama, com um sentimento que nada ou ninguém jamais me fez sentir. Seja como for eu estava vivo.

Quis abraçar alguém, mas não havia ninguém, fiquei tranquilo eu tenho tempo, em outro momento eu abraço alguém ou você que lê.


Luís Fabiano.

2 comentários:

Dóris disse...

Bah, além de carinhoso este pesadelo tbm foi bom, rs rs rs.
Acho que tu está dando poucos abraços na tua mãe e irmã.

Abraço carinhoso.

Anônimo disse...

Quem sabe abraços na dóris.....humhum...rsrs