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domingo, fevereiro 20, 2011


Noites em Blue Bird


Algumas noites podem parecer promissoras. Mas como minhas expectativas estão mortas, vou deixando que a vida me surpreenda se quiser. Da certo,até quando dá errado.Tudo que se precisa, é estar aberto e experimentar, experenciar. Esquecer padrões do que é ruim ou bom. Raramente sabemos exatamente o que é isso.

Pendurados nas peias ideais, somando vantagens, tentando gozar com a vida e preenchendo vazios com coisas ocas, assim entendemos a existência, sem entende-la.

Aquela noite de domingo caia serena. Noite cinza com um temperatura ideal. Combino com a cantora, uma volta, um papo algo que preencha nossas sedes com verdade, seja ela qual for. A ideia agrada a ambos, vamos escorregando nas ruas escuras de Pelotas, deixando que o caminho decida onde iremos aportar então pergunto:

-Então, onde ?
Ela sorri com olhos naturalmente semicerrados:
-Pois então...
Risadas, pois jogamos ao ar a sorte, a vida deve ser assim:
-O bar das tuas amigas ? Se não me engano, House Beer, na Barão de Sta Tecla ?
-É uma...vamos ver...é na sorte..
-Noites de domingo são foda...como um enterro de fim de semana...
Quando chegamos lá, estava fechado. Novamente a pergunta clássica:
-Então minha cantora ?
-Quem sabe Blue Bird?
-Perfeito, lá é certo...

Blue Bird é como uma igreja, esta sempre aberta. Talvez não, porque as igrejas não ficam mais abertas a noite, então Blue Bird é melhor que uma igreja. Lá os pecadores inveterados comungam felizes, suas doenças, suas dores e algumas alegrias, entre cervejas e destilados. O lugar é aprazível, espaço comunitário a todas as tribos. Eu não tenho tribo. Sou daqueles que querem a vida, suga-la lentamente, e se der pra trocar uma ideia enquanto isso acontece, fará bem pra ambos.

Naquela noite a cantora não iria cantar. Gosto quando canta, seu canto é suave, tranquilizante e deixa espaços a inspiração. Mas não aquela noite. A musica seria outra. Temos uma musicalidade silenciosa, uma distancia próxima, um complementar feito incompletudes. Espaços entre as notas da vida. Uma perfeição imperfeita.

Neste dia estava mais silenciosa que doutras feitas. Pergunto se há alguma coisa guardada:
-Uma TPM acontece, e uma menstruação que se nega a descer.
-Sangue é sempre uma solução ou um problema, vida e morte brigando dentro ti. Relaxa.

Ambos sorrimos. A cerveja chega e com ela, outros personagens dão entrada no Blue Bird. Duas meninas que não pareciam ter mais de vinte e dois anos. Sentam-se começam a beber. Dois caras as acompanhavam. Tinham caras de predadores perdedores, visivelmente queriam come-las. Fiquei olhando de canto esta situação. Gosto de ver gente de longe. Então elas começam a dar um pequeno show. Começam a acariciar-se no rosto, trocar expressões mais intimas e por fim beijos molhados.

Gosto de mulheres se beijando. Nada me choca, acho a estética bela. Aquilo foi ficando interessante. Os caras ficaram sobressaltados, incendiados de tesão, acho. Mas ao que parecia, eles não faziam parte dos planos delas. Homens de um modo geral são idiotas. Misturam suas fantasias sexuais com quase tudo.

Já trepei com duas mulheres ao mesmo tempo. Naturalmente uma delas tive que pagar. O preço justo, mas no final todos gostamos mais ou menos. As duas fizeram um pequeno show erótico, muitos beijos, muito oral, pareciam um quadro vivo de putaria, mas sinceramente não achei grande coisa.

Não havia nada espetacular. Anjos não desceram do céu, e nem diabos subiram do inferno, nem saiu mais porra do meu pau. Três gozadas depois, eu não podia nem olhar aquelas duas se chupando. Como um encanto que se acaba. Tem certas coisas, que devem existir no plano imaginário, e morrerem ali. Porque sua realidade destrói com a magia, com a beleza purpúrea, de luzes a meio plano, e vapores de que são feitos os sonhos.

Duas bucetas, eu cansado e quarenta reais a menos. Não creio que vá repetir isso. Acho que sou melhor com uma pessoa de cada vez, ainda que sejam várias pessoas.

A madrugada avançava. Outras tribos chegam ao Blue Bird. Um pessoal meio barulhento. Falando alto, cantando vantagens como qualquer idiota pode fazer. Fizeram uns comentários cheios de preconceito. E decididamente, não gostei deles. A cantora também não. Demos mais um tempo de decidimos ir embora. Conversamos um pouco mais no carro. Entre risos e uma musica perene. Gosto de vê-la cantar. Os seus cantos dão paz, seus recantos misteriosos falam, e tudo que faço é ouvir. Gosto de vê-la cantar.


Luís Fabiano.

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