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sexta-feira, março 22, 2013





Paz vacilante, Marião e uma ratoeira

Parte final.

Aquele semblante era um lamento aberto, um arrependimento tardio e por outro lado, a sensação que havia curtido o que queria. Sim... A vida tem um preço e por vezes este preço é alto:

-Porra Marião... Festinha? Os caras te roubaram e tu chamas de festinha...
-Era um casal... Sabes como é... Gosto de ver uns shows eróticos... Tava muito bom... Eles colocaram musica, e foram se despindo... E me despindo... O cara era meio gay, um negro muito lindo, e a mulher muito alta, loira peituda, com uma xoxota com lábios enormes, muito ativa ela, garota é de programa. Eles aumentaram a musica... E tudo foi esquentando...
Fiquei imaginando a cena. Nada contra... cada um fode com quem quer... Mas eu chamaria se fosse possível, uma negra e uma loira...  Creio que coisa seria bem interessante... Gosto de contrapontos, gosto de misturas. Sorri e Marião seguiu:

-É... Ai vieram as bebidas... Eles pegaram meus whiskies, e foram bebendo na garrafa... E chegavam e mim... Se esfregavam... e abriam minha boca...e a bebida foi entrando e me entorpecendo...
-Vais me dizer que não estavas sentindo as pernas?!

-Não tava sentindo era mais nada... Então eles me deram um comprimido azul... Disseram que era viagra... eu sentia sensibilidade em todo o corpo... Então vieram e tiraram minha roupa disseram que  precisava de um banho... A loira estava agitada... Começou a cheirar cocaína... Ela vinha até mim... me beijava...e depois me dava tapas na cara...  Nesta altura... eu estava na banheira... O negro disse que iria me fazer...  Mas antes ele e a loira transaram enquanto eu estava na banheira... Ela pegava meu saco murcho e dizia: olha só parece de plástico o saquinho dele...

-Deus... É que ela te considera sexo bizarro...
-É creio que sim... Mas a coisa não ficou por ai... Então não sei bem por que... ele começaram a brigar... O cara dizia pra ela que aquilo não era direito... se aproveitar e roubar de um aleijado...  Que Deus... Iria punir... Que iriam para o inferno... Mas a loira não tava nem ai... Foi até a cozinha e trouxe uma faca enorme... Nesta altura do campeonato eu estava tonto... sonolento...e não percebia exatamente o que estava acontecendo. Mas achava que eu havia feito uma merda...

-Porra... tu achava? Benza Deus... Mas Marião, como é que estes “anjos” descaídos vieram aportar aqui no teu cafofo? Eles não caíram do céu né?
-Não... claro que não... Eu os chamei... Há horas tinha visto no jornal local... nos anúncios de sexo... Casal que faz tudo o que você quiser... Eu tava com medo... Mas eu tinha uma grana... então disse pra mim mesmo: porque não?

-Sei...
-Mas eu achei que eram profissionais... Que chegariam... Fariam o trabalho... e tentaria gozar... Eu tomo um remédio muito forte... sabe como é...o pau sobe, mas eu não sinto nadinha...

-Cara era isso que ia te perguntar: tu ficas de pau duro.
-Sim... Mas não sinto nada, as pessoas que estão comigo adoram... ele vai amolecer umas duas horas depois...

Aquela conversa estava interessante. Pessoas fio da navalha... podem ter certeza. Era estranho... Mas por um momento, achei que Marião gostou de ser roubado.

-Marião... eles levaram tudo... Roupas... carteira, o som, o computador lamentável...

-Mas eram gostosos...
-Marião... Me conta uma... Tu és gay?

Ele olha para o chão como se sentisse vergonha disso. Não tenho preconceitos, com nada. Seja feliz...apena seja feliz.

-Bem Fabiano... Não sei exatamente o que sou. Gosto de tudo... Gostei da loira e gostei do cara... Que era dotado... Eu não lembro muito bem... Porque tava chapado e também não sinto nada lá embaixo... Mas acho que ele me comeu...

-Sei... Tudo bem Marião, relaxa. Não vou dizer nada pra ninguém.
-Minha família não faz ideia disso.
Ele parecia melhor ou pior, não sei dizer exatamente. Não morreria pelo menos, creio que isso já é um inicio... Creio que ele estava com uma ressaca moral, um lugar de solidão aonde as palavras dos outros não chegam, tudo que se pode fazer é observar.

-Bem Marião... Nem sempre as pessoas precisam saber tudo sobre as outras pessoas. Sabes muito bem... Todos tem algo a esconder... E o cara que diz... Que  a vida é um livro aberto, podes ter certeza que ele apagou algumas linhas de dizer isso. Não se preocupe com tanta franqueza.
-Pô Fabiano... Eu sabia que tu ias me ajudar cara... Sabes como é... eu não tinha ninguém mais que pudesse me dar uma força, tava com medo de morrer aqui sozinho...

-Não sou bom samaritano Marião... Mas vou movido pelo momento... tudo o que existe é o momento.

Acontecimentos fantásticos acontecem no obscuro de olhos não podem ver. Somos as coisas mais fascinantes e estranhas que caminham sobre a terra. O caos estava de volta aos trilhos, me sentia cansado, eu era o super herói sem fantasias, o anti-herói de uma noite de perdedores, gargalhando diante da vida. O silencio criminoso da casa de Marião me incomodava agora.

-Marião, então mais alguma coisa?
-Nada não Fabiano... Agora eu me viro... minha cadeira ta ai...vou telefonar para o banco...porque os putos vão fazer coisas com meus cartões...
-Ok Marião... Boa noite então...

Vou saindo... sobre a mesa uma meia metade de whisky esquecida. Consultei o rotulo, porra... Vinte quatro anos? Acho que Marião não iria dar falta... Sai bebendo ele no gargalo... Caiu suave como musica. Eu já estava na porta então dei volta.
No quarto Marião estava olhando para o vazio:

-Marião... Eu me esqueci de te perguntar uma coisa...
-Diga-la Fabiano...
-O negão eu dispenso... Mas qual o telefone da loira mesmo? Porra... loira, louca, puta e com lábios enormes...


Luís Fabiano.



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