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segunda-feira, março 25, 2013




Vômito e um pouco de felicidade

Nós tínhamos um ritual diário...
Um apocalipse pessoal a quatro paredes
Com uma apoteótica de expelir tudo...
Talvez se pudéssemos, a alma também...
Era o nosso bizarro e atraente
Como a mosca deseja a teia da aranha...

Então eu chegava... Abraçávamos-nos
As vezes beijamos... eu metia a mão na sua bunda gostosa
E imos jantar como uma família mais ou menos normal...
Quando não encenávamos uma briga...
Briga que auxiliou a afinar uma espada oculta
Que e gestou navalhas, os filhos não vindos...
Feridas expostas ao meio dia...
Eu gostava do que éramos...
O terror e a sombra
Amor e a dor
Desespero e as taras
Gozo e carinho...
A prece para o demônio

Sentávamos a mesa... e sete garfadas depois...
Ela levantava-se da mesa em agonia suprema...
Em direção ao banheiro...
Vomitava tudo e mais um pouco
Que sua alma não conseguia expelir...
No inicio... Eu acompanhava... Preocupado...
Mas coisas que se repetem, acabam tornando-se banais...
Eu seguia jantando... Excelente arroz, feijão, linguiça e bacon...
Humm muito bom.

Então eu aí até o banheiro...
Diante do vaso como um altar encantando...
Eu a encontrava meio acabada
Às vezes rindo com lágrimas... E o forte cheiro de bílis no ambiente
Eu gostava...
Era o perfume que fundia o viria depois...
Incrível como nos habituamos ao terrível
Caminhávamos a beira do abismo sem medo mais...
Os insanos cavalgando em noite cheia de barulhos
Espetros delirantes enfiando as presas no amor
Desafiando os limites um do outro...

Sem duvida a melhor lição que tive em minha vida...
Tornou a lamina refinada
A tal ponto que ela nos partiu...
Sensacional.


Luís Fabiano.

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