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sexta-feira, julho 09, 2010


Eu, a amante e minha esposa.

Todos nós temos pontos fracos. Meu fraco são bucetas. É quase um ópio, fico inebriado pelo cheiro, forma e textura. Não importa, se são lindas mulheres ou terríveis, sempre vejo além disso.
Enxergo pelo cheiro, pela química, por algo que está no ar que nada tem haver com forma física. Bundinhas duras ou bundas caídas, para mim são quase a mesma coisa. Não me importa se o manequim é cinquenta ou super- extra- GGG.
Se houver a magia no ar, estou dentro e apaixonado. Meu pau não é tão grande, mas meu coração o é, creio que a natureza equilibra as coisas assim. Onde falta não abunda.
Durante um tempo tais pensamentos me perturbaram. Como e porque meu gosto é assim. Por vezes eram mulheres bonitas, descentes, pessoas boas mesmo. Bem arrumadas, cabelos bem cuidados, unhas em dia e roupas bonitas.
Mas em mim nada acontecia. Não sentia o menor tesão por tais coisinhas assim, tão perfeitinhas. Não tinham aquele cheiro primitivo, um pouco sujo, suado, nunca deixavam vencer o desodorante, e nem esforçavam tanto assim na cama.
Uma coisa é certa, mulheres bonitas se esforçam para serem bonitas, mas somente isso. As horríveis amam com mais intensidade, se esforçam para ir além do corpo que ás vezes não tem.
A natureza é foda mesmo.
Naqueles dias tudo ia indo bem, estava casado, tinha um trabalho legal e uma amante no emprego. A vida poderia ser melhor? Bons tempos dos hospitais. Mas o mundo não é, e não será jamais um lugar de perfeições.
Lembro que chegava a trepar com as duas no mesmo dia, era muito bom. Todos ficávamos satisfeitos, de uma forma informal, marginal mas era assim que eu gostava.
Elisa minha terceira esposa, estava desconfiada, sempre foi desconfiada. Aquilo foi um clássico, uma mancha de batom no colarinho. Mais Nelson Rodrigues que isso é impossível. Me pergunta diretamente:
-Que isso aqui?
-Bem, que parece?
-Batom é claro, ela tava muito perto de ti né?
Percebi que isso não ia para um caminho bom, havia rancor ou raiva na sua voz. Eu deveria esperar o pior. Sempre espere pelo pior. Não sou um cara de negar nada, se me perguntarem frontalmente.
-Sim, estava muito perto mesmo...
-Sei seu filho da puta. Eu sei...filho da puta...
Correu para o quarto chorando ou algo parecido.
Eu estava sentado vendo televisão. Achei melhor ficar ali mesmo, considerando que nestas condições, ela teria um crise, iria berrar, talvez jogar alguma coisa em mim, talvez ir na cozinha pegar uma faca afiada, talvez rasgar minhas roupas e colocar porta a fora, um barraco destes qualquer, algumas mulheres adoram isso. As vezes falta elegância.
Era preciso esperar. Nesta época eu era uma pessoa muito fria, com emoções sob controle. Sou um pouco assim ainda, mas não acho mais tão divertido.
Confesso que não perdi minha tranquilidade. Não era um casamento longo, juntamos nossas coisas em dois meses, fazia quatro que estávamos juntos. Não tinha feito planos para isso, foi acontecendo naturalmente. Eu te amo pra cá, eu te amo pra lá, e foda-se, vamos casar.
Também não fiz planos de ter uma amante, nunca faço, elas aparecem do nada como pipocas em uma panela quente.
Depois de mais ou menos uma hora, Elisa volta do quarto. Parecia refeita do choque, queria conversar civilizadamente. Gente civilizada me assusta, costumam ser muito cruéis, matam com requintes de crueldade. Me sentia com o cú na mão.
-Por que tu fez ou faz isso? –pergunta ela.
-Não fiz nada. As coisas acontecem. Você acha que planejo alguma coisa em minha vida?
-É, eu sei que não. Mas porra tchê, tu estas em minha casa, e ta me traindo com uma vagabunda qualquer por ai, tu acha certo?
-Bom, Elisa vamos nos economizar tudo, você quer que eu vá embora?
-Calma aí, tu vai me escutar agora...
-Não, não vou. Você quer que eu justifique, peça desculpas, me arrependa e diga que te amo e depois você me chuta, algo assim, ou vai dar pro meu amigo...
-Calma ai, quero discutir os rumos desta relação seriamente. Eu sempre soube que não eras santo, mas mesmo assim eu embarquei por que quis. Sou muito mulher pra assumir tudo isso.
-Ok, então diz que você quer, sem drama, diretamente.
-Quero abrir nosso relacionamento. Vamos morar juntos e ter uma relação aberta, você transa com quem quiser, eu dou pra quem eu quero e tudo certo. Exatamente como a vida que tínhamos antes de nos conhecer, topa?
Tive a impressão que não havia escutado aquilo. Fiquei pensando: onde estaria aquela mulher que dizia-se apaixonada por mim, que amava de forma instantânea. Que me disse, eu te amo no terceiro encontro? Chegava a conclusão que o amor tava ficando algo muito barato.
Mas o assunto me agradou. Na verdade achei a coisa mais perfeita que escutei em toda minha vida. Mas mantive meu pé atrás. Tudo poderia ser um plano pra me foder. Me dar uma punhalada no peito enquanto estivesse dormindo, crime passional é moda.
-Sim, Elisa, isso me parece uma boa idéia, afinal eu gosto muito de você, não gostaria de separar. Mas meu jeito de gostar é assim, meu amor não é absoluto, como nada na vida é absoluto. Não pergunte por que amo assim, meu amor é desta forma, mas é amor. É possível até tocá-lo.
-Então estamos acertados. Porem tem uma regra: transar com estas pessoas sempre de camisinha e nunca em hipótese alguma traze-las para cá, isso vale para mim e pra você, ok?
-Isso é fácil.
Nos abraçamos, beijamos, como amigos, amantes, pessoas inteligentes. Em tese estas coisas sempre funcionam. Para mim era muito fácil fazer. Sempre tive amantes em minha vida, houve um tempo que cheguei a ter três ao mesmo tempo. Não era um grande troféu, mas aconteceu.
Então ela pergunta: Posso conhecer a minha rival?
Aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha. Disse que sim. Apenas não disse quando. Era preciso fazer o teste do tempo. E se ela fosse calculista? Ela era professora de química, poderia jogar alguma substancia no rosto da rival? Crime passionais estão em moda e as pessoas fazem coisas terríveis.
Conversamos mais um pouco e ela terminou a janta. Boa janta, chuleta frita, batata frita, arroz e feijão novo. Adoro coisas gordurosas, tava perfeito tudo nadando no óleo. Vimos tevê e fomos deitar. Estranhamente demos a melhor trepada desde que nos conhecemos. Talvez aquilo fosse um sinal. Ela parecia la amante loca! Mui loca.
Gostei daquilo. Então Elisa pergunta:
-Minha rival fode mais que eu?
-É um outro estilo, ambas trepam bem, cada uma tem um estilo. Cada mulher é um universo. Não a chame de rival, ela agora é nossa amiga.
-Eu chamo de rival.
-Tudo bem como você quiser.
Ela deita em meu peito, e vai adormecendo lentamente. Fiquei aguardando e pensava: daqui a um mês eu apresento as duas, talvez elas se entendam e todos nós nos entenderemos.
Mas nada disso aconteceu. Elisa propôs algo que ela não teria condições de cumprir. Infelizmente ela gostava ou me amava demais, isso é algo que nunca recomendo. E o que parecia fácil de cumprir foi se tornando um suplicio.
Notei que ela começou a ficar triste. Foi perdendo o sorriso, tudo foi perdendo a graça também. Eu permanecia o mesmo, mas reconhecia que dentro de Elisa uma luta acontecia. Aquilo foi nos matando, um dia ela decidiu por um fim a tudo, em uma conversa civilizada. É, as coisas civilizadas são assim, limpas, higienizadas, controladas como assepsia de uma cirurgia de estomago, um transplante de coração. Merda de coração.
Fui embora, era o melhor a fazer. Abraçamos-nos e nunca mais nos vimos.

Luís Fabiano.
Às vezes são tantos abraços e beijos
Que um labirinto se cria e a paz se perde.

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