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quinta-feira, julho 29, 2010


Navalhadas Curtas: Lambendo o saco.

Minhas breves caminhadas tentam ser culturais. Tentam ser descontraídas, como uma bunda que senta-se uma almofada de pentelhos. Às vezes consigo, mas invariavelmente a vida termina gritando aos meus ouvidos.
Cadeiras falam, janelas entreabertas também. Um vômito canino em uma rua semi-escurecida. Fragmentos brutais da vida, que berram aleatoriamente. Que nos lembram algo. Que passam.
Entrei no sebo para flertar com os livros. Gosto disso, todos aqueles títulos, todos querendo dizer alguma coisa. Errantes de mãos estendidas. Não procuro nada, olho na esperança de ser escolhido por um.
No recinto, havia um senhor de terno e gravata. Conversava com outros dois caras da minha idade. Falavam inquietamente da guerra do Paraguai, sua importância capital. O senhor vangloriava-se, de ter tido acesso a documentos secretos da guerra.
Não me interesso por guerra. Friamente, morre gente todo dia, por motivos mais dignos. Infelizmente guerras sempre são motivadas por mesquinharia. Então o referido senhor começou a falar mais alto. Como se estivesse em um púlpito. Excesso de teatralidade, para explicar os meandros da guerra. Me olhava de canto de olho.
Os livros calados em suas estantes. Os caras olhavam o senhor assombrados. Detalhes da guerra, o velho era a guerra. Agora berrava, babava-se e fazia chover saliva, nos seus dois expectadores ansiosos.
Me senti um imbecil, embotado e feliz. Documentos velhos, raros e secretos?Nada mais há de secreto neste mundo.Tudo está profanado. Sorri para mim mesmo. Fiquei com vontade de aplaudir o velho, mas me contive. Gosto de ir aquele sebo, o dono estava feliz. Não é bom estragar os prazeres alheios.
Passei meus dedos nas confissões de Santo Agostinho. Senti-me consolado e fui embora.

Luís Fabiano.

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