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quarta-feira, julho 28, 2010


Ninfomaníaca depressiva.

Quando você pensa que viu tudo. A vida arruma um jeito fodido de mostrar que não. Tento ser alguém que não surpreende-se com nada. Fui aprendendo com a vida, a ter reservas. É preciso ter guardado um leque vasto de tragédias em sí. E algumas poucas coisas boas na vida, para ser assim. Para equilibrar. Tenho isso no sangue.
Considero realmente muito, quando abro meus olhos pela manha e ainda estou vivo. Estou sempre à espera de uma tragédia. Não sei se é uma boa maneira de viver, mas é a minha. Então, traições não me surpreendem, um soco na boca não me surpreende, uma mulher querendo mijar em mim não me assusta, até gosto.
Uma facada que vem do nada, a merda de bala perdida que ache minha cabeça. Nada disso me surpreende. As vezes me emociono, embora seja raro.Não vendo minhas emoções de forma barata. O que me toca, é o que passa cego ao mundo.
Um sorriso de alguém desconhecido. Flores murchas jogadas no lixo. Uma katana afiada rasgando o vento. Um abraço indiferente. Uma buceta romântica, as vezes e carinhosa. A arte. Não sei da química do que me toca, mas é uma mistura secreta. Que tenha um pouco de minhas dores, e outro tanto do que não espero da vida.
Realmente aprendi a não esperar absolutamente nada, da vida e de ninguém. Vivo do lucro, quando existe.
A vida noturna é predatória. Sempre tem alguém querendo comer alguém. Putas ensandecidas, drogadas ansiosas por clientes. Pagos ou não. Putas formais e informais, este segundo grupo é bem maior. Não tenho nada contra nenhuma. Às primeiras cobram um preço mais baixo que as outras. E você não precisa ligar pra ela no dia seguinte. Nem deixar nada que seja seu. Goze e vá embora, porque a fila esta grande.
Parada naquela esquina, Nefertiti rebolava e rodava sua bolsinha. Sempre passava por ali de carro. Mas eu a achava meio fraca para profissão.Puta tem que ter um bom corpo ou um bom rosto. Ela não tinha nada disso. Apenas boas tetas em corpinho magro. Possivelmente devido às drogas. Algumas vezes a vi dando uma cafungada caprichada. Nada contra quem usa drogas, mas ver ás vezes é depressivo. Principalmente imbecis viciados. Viciados estragam o negocio.
Um dia parei para conversar. Não tinha planos de fazer nada. Parei apenas para tirar um tempo, talvez ela me surpreendesse, tivesse algo a dizer? Já sabia discursos das putas de cor. É sempre o mesmo script. Fale com uma, e falou com todas.
-E aí princesa...perdida e sem príncipe esta noite?
Ela sorri, cheira alguma coisa no pulso, e vem até a janela do carro sorridente.
-Oi...acho que meu príncipe chegou.
-Minha carruagem não é as melhores, mas é vermelha como o trenó filho da puta do papai Noel. Você lembra da musica, Papai Noel filho da puta...???
Ela começa a rir, meio chapada e frenética. Gente chapada normalmente quando não é discreta e sabem drogar-se, costumam ser apenas babacas. Parecia que aquilo ia torna-se promissor. Não sei, mas estava disposto. Ela dispara:
-Olha príncipe, é trinta no carro o boquete, e cinquenta no motel completo, mas não dou o cú.
Era um cardápio. A La Carte ou rodízio? Afinal cú, quem precisa de um cú, em uma noite quente e cheia de estrelas?
-Claro princesa, deixemos o cú fora, entre na carruagem do amor. Que nos levará aos braços de satanás.
-Cara, tu é completamente louco, mas gostei de ti.
-Gostar de mim é fácil a noite, mas a durante o dia , as coisas ficam mais complicadas.
Ela apenas sorria. Eu sabia que tudo aquilo era profundamente fútil. Mas minha vida sempre foi muito voltada a futilidade que desse algum prazer. Talvez seja a eterna briga de minhas esperanças frustradas. Tenho várias.
As vezes amores baratos são mais intensos que amores profundos. A exigência é menor. Não pesa tanto e ambos estão dispostos a ceder algo. Deslizei o Lada vermelho para avenida Bento Gonçalves. Queria tomar uma cerveja primeiro, ela aceitou. Disse:
-Então meu amor, me conte uma destas historinhas, “românticas” que te levaram a esta vida glamorosa...
-Eu não tenho historia triste. Tinha uma vida mais ou menos legal, não passava fome, não tenho filhos que dependam de mim. Vivo pra mim mesma. Faço porque gosto.
-É, isso parece coerente demais.Ninguém é tão coerente assim, onde esta a insanidade? Aquilo que diferencia um filho da puta do outro....
Ela é meio nóia. Talvez fosse o pó, ou era maluca mesmo. Você sabe como é a risada dos loucos? É, ela ria assim.
-É que sou louquinha sabe.
-Sei.
-É, tenho taras, adoro transar, transo com qualquer um, com qualquer sexo, quero é transar mesmo. Não tenho restrições, gosto de sado-maso, bukake, chicotada, porrada, gosto de ser agredida. Uma amiga diz que sou ninfomaníaca. Acho que sou mesmo. Adoro sexo.
Não acreditei em uma palavra do que ela disse. Não sou muito de acreditar no que as pessoas falam. Em ninguém. Elas são sempre movidas por algum entusiasmo ou tristeza. Isso torna tudo uma grande mentira. Alem do mais, ali éramos personagens. Não levo em consideração nem pessoas sérias. Decifrar o que vai na alma das pessoas, é sempre entrar em um labirinto.
-Claro, conheço varias ninfos. Na verdade a ninfomaníaca é uma mulher que não consegue gozar, isso faz ela querer ter varias relações inúteis...
Ela concorda. E chegava de papinho furado, era hora de ir pra ação. Terminamos a cerveja e fomos para o motel. Quando entramos no quarto ela despe-se rapidamente. Não errei, as tetas eram boas. O corpo tinha algumas marcas e roxões, muito magra. Ela parecia ter pressa. Veio pegando meu pau direto e colocando na boca.
-Ei, se acalme, deixe eu tirar a roupa, pelo menos.
-Vem pra mim, gostoso, vem, me come, me engole, vem rasgar minha buceta...
Não sei o que foi. Não gostei daquilo, ela não era assim. Mandei ela parar com o circo. Gosto de teatrinho as vezes, hoje eu não queria.
-Que foi? Você não gostou de mim?
-Não. Se acalme, fique tranquila, vou te pagar, gozando ou não. Mas não faça teatro pra mim. Agora me dê sua alma...
-Hã ?
-Isso aí, me dá teus sonhos, me dá aquilo que mais desejas. Ser amada com carinho, ser desejada não pelas tuas tetas grandes, mas pelo bate aí dentro...me dá a tua alma...podes me dá-la por cinquenta reais?
Não sei o que aconteceu com ela. Seu rosto se modificou. Pareceu ficar muito triste com tudo aquilo. Não queria provocar isso,por vezes causo dores sem querer. Como um gilete que corta sem querer.
Falei a verdade, queria a alma dela. Buceta por buceta, eu bato uma punheta e tudo fica bem. Mas não gosto e lançar esperma no chão do banheiro, ou nos lençóis de minha cama. Acho um desperdício, leite inútil.
Nefertiti começa a chorar. Senti que começava a dar algo verdadeiro. As vezes precisamos de alguma coisa que seja verdadeira em nossa vida. Eu a abraço, ela fala:
-Não é Nerfertiti, é Paula, meu nome é Paula.
-Obrigado Paula, obrigado Paula.
Ficamos abraçados assim. Não precisa transar mais. Ela me deu aquilo que não se toca nela. Sexo sempre é fácil. O resto é raro. Ficamos assim um bom tempo. Então ela me beija suavemente. Me empurra devagar na cama. Não tem pressa. Era uma nova cena. Paula não estava sendo profissional, estava com sede. Sede amor eu acho.
Transamos como amantes saudosos. Que não se vêem a muito tempo. Talvez nunca mais eu a visse. Seja como for, ali estávamos em paz. Minhas frustrações encontraram as dela. Acho que de certa forma um penetrou no coração do outro.
Tomamos banho juntos e fomos embora. Não falamos muito. Peguei o dinheiro para pagá-la. Ela não aceitou. Na esquina onde tudo começou a deixei, deu-me um beijo carinhoso e desapareceu.
Fiquei a pensar. A alma às vezes está mais nas esquinas que nos templos. Quando todos os artificialismos caem, o que sobra é alma. Mas é o você sente, por detrás daquilo que você sente.

Luis Fabiano.

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