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quarta-feira, julho 21, 2010


Delinquente

Talvez eu esteja perdendo a sensibilidade. Os restos vivos do meu ego estejam entrando em decomposição. Mas a verdade que sinto-me bem. Acho que nada mais me interessa além disso. Tenho o carinho de algumas pessoas, e não preciso pagar tanto por isso. Já considero uma vitória.
Ontem acabei encontrando o ex-marido, de minha ex-mulher. Logo eu também era ex. Uma historia entrelaçada de derrotados. Curiosamente nos damos bem.
Tenho impressão que minha vida torna-se uma piada a cada dia. Esta é uma historia interessante, quase bizarra. Ronaldo começou a namorar Alessandra depois que nos separamos.
Uma separação cheia de terror, drama e dor. Uma situação tão corriqueira na minha vida que com o tempo você não teme mais nada. Nem ameaças, nem coisas ditas ao vento em tais ocasiões.
Alessandra era bem bonita, uma mulher independente, vivia em uma boa casa, sem filhos e havia casado com um cara. O seu primeiro marido que lhe traiu, na própria cama, com um outro cara que ela desconhecia.
Quando ela abriu a porta do quarto, ali estava seu maridão, sarado, forte, suado e muito definido, de quatro, enquanto um criolo parrudo, arrancava-lhe as ultimas pregas do rabo,com amor.
Ela quase enlouqueceu. Na verdade acho que enlouqueceu. Esteve em psicólogos, psiquiatras, tomou todo tipo de medicamento para controlar depressão, e todas estas merdas que as pessoas sentem quando não aguentam o tranco da vida.
Acho que esta mistura de situações não poderia ser pior. Depois deste episódio, ela me conheceu. Nós tornamos amigos, e de amigos pra cama é uma questão apenas de tempo. Homens e mulheres são assim. Esse é nosso normal. A amizade só é possível, se a mulher não der uma entrada, nenhuma facilitada.
Porque os homens sempre vão tentar comer a amiga. Sinceramente não acho nada demais. As vezes sexo é só sexo. Não precisa haver, flores, jantares, vinhos e todo o papo furado. Entre amigos existe intimidade, já é suficiente. Me aconteceu várias vezes e nunca me furto a oportunidade.
A relação até que era boa, mas ela era profundamente controladora. Este tipo não é fácil de lidar. Eu tentava relevar, talvez ela tivesse medo que eu desse o rabo para seu melhor amigo? É talvez. Em nome disso ás vezes temos paciência. Mas estava começando a ficar de saco cheio. Ela olhava meus e-mails, meu telefone, minhas roupas. Tentava ser discreta, mas eu percebia, não gostava nada disso.
Não sou uma pessoa muito inteligente. Mas minhas traições sempre foram eficientes. Nada de telefone, nada por email, nada de provas visíveis. Tudo ao vivo, palavras e carinhos ao vivo. Sem rastros, sem traição.
Ela fazia este ritual, tomava seu rivotril, e acho que ficava em paz . Mas claro que não aguentamos. Sexo só fazíamos uma vez por mês. Bom, porque eu ficaria com uma mulher que mais parecia um brinquedo quebrado? Desconfiada, assexuada, ansiosa ,medrosa e que não queria sair de casa? Puta que pariu.
Acho que meu amor tem limites. Acabei indo embora. Cheio de escândalos normais, os vizinhos ficaram sabendo, ela gritava e quebrava a casa, fiquei parado, apenas cuidando para que algo não me acertasse. Telefonei para seus pais depois e disse:
-Estou indo embora, a Alessandra esta tendo uma crise forte.
-Tá bem Fabiano. Tá bem, estamos indo pra aí.
Pela passividade, acho que já esperavam. Fui embora.
Algum tempo depois, o Ronaldo, o outro marido, agora convertido em ex-marido, assumiu meu cargo. Alessandra agora tinha ficado pior.
Uma coisa é certa na vida. O envelhecer é uma merda, ou você fica como um bom vinho, ou converte-se em vinagre azedo, não tem escolha. A maioria acha que é vinho, mas não passa de vinagre.
-Então Ronaldo como tá?
-Olha cara, agora to ótimo.
-E a Alessandra?
-Me separei dela. Não aguentei, a mulher pirou de vez. Só dizia que na vida dela, ela teve o primeiro marido viado, e um segundo delinquente que foi tu.
-Nossa, mas que pesado.
-Mas Fabiano, tu és meio delinquente mesmo. Um delinquente muito controlado, frio.
-Não fiz nada demais, apenas me cansei e fui embora. Que você queria eu fizesse? Que mentisse? Dissesse que era o amor da minha vida? Que iludisse? Não planejo nada em minha vida. As coisas acontecem, vou vivendo. As vezes caio na teia da aranha, e tento escapar.
-Alessandra diz que tu fazias horrores. Que traias ela, que queria transar sempre...que forçava ela...a fazer coisas...
-Você não quer transar sempre?
-Bom..é...
-Foda-se Ronaldo. Trepe uma vez por mês e veras, que você começa a olhar todas as mulheres a tua volta. Elas vão tornando-se lindas, gostosas, desejaveis. Na verdade não são, mas teu pau faz pensar que são.
-Isso é verdade.
-E você foi embora porque?
-Não dava, nada era normal, estava insegura demais, com medo que fosse embora, viciada em comprimidos, com um humor que alterava-se, de forma bipolar. Acho que meu amor não era tão grande assim!
-Vivemos tempos que o amor é uma espécie de anão perneta.
Começamos a rir, como dois idiotas perfeitos. Na verdade, Ronaldo quis consolar Alessandra, acabou caindo na teia dela. Penso que por vezes nos homens somos muito idiotas.
A possibilidade de uma vagina molhada, faz que nós percamos um pouco a razão. Tento não perder a minha, mas ás vezes é difícil.
Despedi-me de Ronaldo, chegava de papo nostálgico, as vezes falo tanto sobre tais coisas, que tu vai se tornando uma espécie de mentira. Os personagens deixam de ser humanos, convertem-se em brinquedos de plástico, sem vida ou emoção. Mas acho que no fundo somos assim, mas fazemos o possível para não ser. Um esforço de nobreza.
Ronaldo saiu dizendo que eu era um delinquente. Tudo bem, sinceramente não importei com isso, não considero a delinquência uma ofensa. Talvez mesmo ele não quisesse dizer isso.
Também não interessa os significados. Ainda sentia-me bem, e hoje isso que me importa.

Luís Fabiano.
A paz é estar aparentemente fora dos eixos, mas só aparentemente.

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