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segunda-feira, dezembro 24, 2012




Trecho Solto...

Estendi a mão e comei a pedir a todos que passavam por mim. Mal balbuciava alguma coisa. 

Para pedir esmolas não se pode falar com clareza, nem argumentar, nem nada. Você é um animal miserável, um micróbio pedindo umas moedas pelo amor de Deus. Um pesteado. Assim foi desde que o mundo é mundo. É toda uma arte de pedir esmola e aparentar imbecilidade, cretinismo, embriaguez crônica, burrice. Só um imbecil pede esmola. Se o cara esta um pouquinho acima da imbecilidade é porque pode fazer alguma outra coisa. Assim é. É preciso fazer cara de imbecil para convencer. Mas nem assim. Ninguém me deu nada! Andei muitos quarteirões, lentamente. Esfarrapado. Sem rumo.Com cara de louco e imbecil , estendendo as mão abertas diante de todos e balbuciando. Ninguém me deu nem uma moeda! 

Que horror! Nada. Naquela noite eu podia ter morrido de fome. Percorri a Carlos III. Duas ou três horas. Não sei por quanto tempo. Pedindo pelo amor de Deus. E todos viravam a cara . Olhavam para outro lado. Ou fingiam que era um fantasma. Eu nunca tinha pedido esmola antes. Mas é terrível pedir esmola quando as pessoa são tão miseráveis. Estão todos no fundo do poço e detestam quando outro vem se queixar. Muitos me disseram: ”não enche o saco, velho, que eu até gostaria que alguém me desse esmola”.


Extraído de:
Trilogia Suja em Havana -  Pedro Juan Gutierrez

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