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terça-feira, janeiro 31, 2012


Tipos Duros


Os botes da vida, são picadas ou salvação. Embora gostemos da zona de conforto, a zona do meio, a intersecção do bem e do mal, evitamos as zonas pardas das indiferenças, por onde as verdades são mais fulminantes, e o cheiro é mais forte.

Não reclamo disso. Faço o que preciso fazer, não foram poucas vezes que simplesmente abandonei resultados. Tomando por um enfado natural, que as pessoas plasmam em suas vidas, sou uma espécie de vampiro maldito, o morcego voando a noite, sugando a vida e revolvendo a minha merda existencial... o exótico prazer que levar as pessoas ao extremo... aos seus limites todos. Única maneira de crescer.

A emoção torna-se um balanço, ora sentindo o máximo de prazer, ora vagando nos desvãos densos e sombrios de si. Naturalmente ninguém gosta de ser exposto a isso. Quem gosta de ver sua sombra de frente? Brilhantes olhos negros firmando nos teus? Tento não ser assim.
Assim o único caminho foi endurecer-me paulatinamente. Dia a dia revestindo todas as emoções em uma capa de aço, com isso um preço maldito pago.

Emoções fluentes e cruas, são espécies de mães d’água, moles e sem aprimoramento, levando a alma humana ao ignóbil, medíocre, frágil e brutal. A fonte de todas as dores... a perda da leveza, fazendo que nos convertamos em minhocas de chumbo, arrastando-nos como os mendigos da cidade a pedir esmolas fáceis... pedimos tudo... piedade...amor...paz...saúde...felicidade... e outros mendigos.

Encontrei Antônio a muito. Coisas da infância. Éramos bons amigos a distancia. Gosto disso, creio que o paraíso emulado, é a distancia que ficamos dos outros, desconhecendo nossos pendores, o silencio reverberando poesia, é infinitamente mais belo que, que o riso serra no esmo vazio de nossos destinos.

A vida transcorria leve naqueles tempos, como o fatal do tempo, fazendo seu trabalho eterno, levando, conduzindo, afastando, tornando o meu pau maior, minhas emoções mais complexas e meus traumas mais contundentes, meus sonhos, pássaros mirando estrelas. Gosto disso.

Nunca mais vi Antônio. Mas nossa cidade é uma espécie de ilha. Um dia, mais dia menos dia nos esbarramos... inclusive com os mortos. Minhas viagens noturnas por vezes propiciam isso. Então não encontrei Antônio... mas sim a Isabeli Prada.

Bebia no bar do Zé. Não tinha planos de amor... nunca tenho planos de nada, é mais fácil. Ligo a merda do piloto automático, e deixo o destino cravar suas unhas mordazes em mim... as vezes da certo, como uma curva em alta velocidade e não vem ninguém do outro lado.

Então, uma morenona, peituda, perfumada e com lentes azuis, chegou ao meu lado. Eu conversava com uns parceiros, e estava de olho em uma gordinha sorridente... muito fácil ela. Por vezes o homem gosta disso. Nada de desafios inglórios, nada escalar o Everest da sedução, mas uma coisa suave, o fruto podre que cai da arvore, que tem apenas um bichinho... não existe perfeição da vida. A perfeição é um vidro quebrado maquiado.

-Com licença Fabiano...
-Te conheço?
-É... tens razão... conhecias antes como Antônio na infância... agora... muito prazer... Isabeli Prada.

Fiquei em silencio roendo o espaço. Afinal a vida muda, eu estava reconfigurando a mente. Eu conheci um cara agora era uma garota. Não bonita.

-Tudo bem... quanto tempo não... como foi isso? (apontei pras tetas dela)
-Uma longa descoberta. Tive que fazer muito tratamento para aceitar a verdade. Da mulher que existe verdadeiramente em mim. Muita psicanalise. Eu estava em conflito comigo mesma sabe...agora me achei... e o homem que existia em mim morreu...
-Sei... e tu cortaste a pica?
-Sim claro... hoje eu sou uma mulher total... minha vagina é mais linda que de muitas mulheres...

Outros amigos meus que estavam no boteco hediondo... riam-se, bêbados em um deboche equivocado. Antônio olhou para eles como um típico olhar de quem não gosta.

-Quem são esses merdas – me pergunta Isabeli ou Antônio...
-Não esquente não... são apenas bêbados, idiotas... falando merda...
-Não gosto de quem tem preconceito Fabiano... não gosto mesmo... isso me deixa muito irritado...

Senti um cheiro de merda no ar... daquelas merdas frescas bem cagadas... que alguém esbarra em cima.

Então a voz anasalada de Isabeli se converteu no grave do tenor de Antônio... o homem havia ressuscitado.

-Que foi pessoal? Qual é o problema... vocês não gostam de mulher? Ou preferem homem?
-Não é isso... calme ai cumpadi...tá tudo bem..
-Tudo bem o caralho...

Os caras pareciam assustados como aquele cara de seios, falando grosso. Mas creio que não deu tempo pra isso... a porrada comeu... a chinela cantou... o salto converteu-se em uma lança de pirocas ausentes.
Onde eu estava, fiquei. E foi lindo. Isabeli colocou três caras pra correr, mas o cabelo ainda estava em ordem. Então como uma gazela alada pousa a meu lado novamente, respirando forte.

O rum descia bem... um pneu careca no asfalto molhado. A gordinha havia se ido... depois daquela confusão. Eu achei tudo isso muito engraçado. E talvez fosse minha vez de apanhar.

Isabeli agora mulher novamente... fez seu ar sedutor... o clima no ar.

-Onde estávamos Fabiano...
-Sei lá Isabeli...tu fazes isso sempre?
-Não posso ser provocada... não gosto de falta de respeito...
-Ok.
-Olha Fabiano... eu tenho um AP aqui perto... tu não queres ir tomar um drink lá... eu preciso estrear a nova xoxotinha...

A bem da verdade, achei não existia xoxotinha nenhuma. Achei que ela tava vendendo fácil aquela xoxotinha. Deixei assim. Não arrisquei.

-Agradeço Antônio. Fica pra outro momento... eu tenho...
-Tudo bem. Desculpa qualquer coisa tá bem?
-Tudo bem.
-Me sinto muito sozinha Fabiano... essa readaptação mental, espiritual, onde as indiferenças doem muito. Eu quero amar... Deus sabe que quero amar... sou uma pessoa boa... eu mereço ser feliz.
-Creio que todos merecemos Isa. Mas por vezes a felicidade tá ali... e não percebemos... queremos uma moldura perfeita... e não é assim... a busca é a chave, seja menos exigente...

Ela me abraça e estava em lágrimas.
Que merda, todos temos uma alma em algum lugar em nós... e as vezes esbarramos nela.

Luís Fabiano.

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