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domingo, agosto 21, 2011



A historia de Marcelinho


Em minha infância tive alguns momentos marcantes, pontuais que determinaram minha personalidade atual. Eu era naturalmente arredio, e muito longe de ser inocente, como hoje. Não me considerava uma criança ”normal”, havia uma maldade e malícia em mim, a qual eu estava completamente consciente, e exercia não a guisa de criancice. Não.

Sabia que fazia errado, ainda assim fazia. O adulto que hoje sou não mudou muito, talvez agora a crueldade tenha se amenizado um pouco. As porradas existenciais jamais me assustaram, por muitas vezes me sinto uma pedra, que não se altera mesmo que os golpes mais lacerantes me acertem. Porem mudei um pouco.

Mudo de conformidade ao que tenho plena certeza. Mesmo sem saber o que é certo, o quanto é certo, e em que se agarram as certezas. Seja como for, deixo margem. Uma boa margem para que as pessoas me fodam e sejam felizes, e não me torrem o saco, apenas quero isso. Uma derrota previsível que me da paz. Fiquei bom nisso.

Gostava de Marcelino, tínhamos por volta de quatorze anos. Não gostava dele por ele. Tinha aquele aspecto sujo, a falta de banho diário, um nariz com uma constante coriza, que ele limpava na manga da camisa. Ele morava a uma quadra da minha casa. Era tudo muito estranho, nos éramos todos pobres, Marcelinho beirava a miséria. A casa era um barraco semidestruído, uma sujeira para todo lado. Confesso que aquela sujeira não me fazia mal.

Frequentava a casa dele, e sempre haviam garrafas vazias pelos cantos, uma pia de louça suja, uma geladeira quebrada, as paredes rachadas, pontas de cigarro pelo chão, ainda sim Marcelinho sorria, era um sorriso sem graça, um sorriso prisioneiro e inescapável.

Mas como disse, minha amizade com Marcelinho não era interessante, saiba que ele realmente não me interessava. O mesmo não posso dizer de sua mãe. Aos quatorze anos, em tenra idade aquela mulher velha, de tetas enormes e caídas, me chamava atenção mais que tudo nesta vida.

Sempre gostei de mulheres mais velhas. Uma mulher mais velha coloca qualquer outra jovem no bolso, elas são mais soltas, mais loucas, mais bêbadas, mais abertas e fodem como anjos. Que eu me lembre, tive apenas em minha vida uma mulher mais jovem que eu. E foi a pior de todas. Uma impaciência, mortal e cansativa. Não sou de dar explicações, não creio que precise explicar nada. Ela me exigia constantemente explicações definitivas.

Na ultima vez que pediu, eu disse que responderia assim: Adeus. E sai porta a fora. Foi como desligar um botão, sem gosto, sem alma, sem nada.Click. Apenas foda-se e viva. É preciso muitas vezes ser uma bigorna existencial, para não machucar-se. Raramente em minha vida, confiei em alguém. Minha confiança era medida pela possibilidade que essa pessoa poderia-me foder a qualquer momento. E sempre acontecia, por que os seres humanos são completamente previsíveis. Todos. Nunca me enganei. E nestas coisas emocionais, somos cativos que batem asas com a gaiola junto, pesando em nossa consciência.

A mãe de Marcelinho era maravilhosa Mais tarde vim a saber que era puta de profissão. As putas...eu adoro as putas, todas as putas sejam elas como sejam. Tive caso com três ou quatro e foi no mínimo curioso. Ter uma mulher publica não me incomodava. Como um narcótico, gostei o tipo de vida. Compartilhávamos algumas coisas, ás vezes elas traziam alguma amiga e depois de beber um pouco, fazíamos a três ou quatro. Uma festa. Posso dizer que trepar a três ou quatro não é tudo isso. É mais ideológico, na pratica cansa muito e sempre tem alguém querendo mais... mas a experiência foi boa. Quando você sai de uma merda assim, tem a impressão que é o super macho, essa sensação é ótima, melhor que qualquer droga.

A mãe de Marcelinho, no inicio era recatada, eu frequentava a casa deles, e ela sempre mais ou menos vestida. Porem com o tempo e a intimidade, ela passou a andar com seios a mostra, provocante. Que maravilha, eu adorava ver aquilo. Já tinha visto as tetas de minha mãe, primas e tia... mas não era mesma coisa.

Dona Zuleica, era fantástica. As tetas caídas, com bicos grossos e negros como a noite. Ela alimentou as minhas punhetas durante tempos e tempos. Bons tempos. Um dia ela apareceu só de calcinha. Uma calcinha horrível e esfarrapada, eu lembro era branca. Puxa vida, deixava a mostra a vasta pentelhama do púbis. Um pelo grosso e vaso que subia pelo umbigo. Aquilo era uma poesia. Como gosto disso. Lembro que fiquei de pau duro na hora, pedi licença para ir ao banheiro. Uma bela gozada nas paredes imundas e fétidas de dona Zuleica. Gozei tendo por testemunha única, um enorme cagalhão abandonado no vaso.

Depois as coisas foram mudando. Dona Zuleica passou a trazer diversos amantes para casa. E Marcelinho foi sofrendo atrocidades. Lembro que todos na rua chamavam Marcelinho de filho da puta. Bem, isso era verdade, mas eu achava ofensivo, não era certo. Ou era a minha paixão por dona Zuleica. Nunca julguei situação alguma. Cada um faz o que acha que precisa, e sente como sente, vive como vive. Temos dentro de nós uma nascente e um cemitério, vamos vivendo ao sabor que conseguimos sentir.

Então vieram as surras. Os amantes de dona Zuleica foram ficando mais a vontade e piores, naquela casa destruída. Marcelinho, ignorado, todos bebiam demais, e Dona Zuleica colocava Marcelinho pra fora, seja hora que fosse, madrugada, tarde ou noite.

Ele agora não sorria mais, e ficava calado olhando o vazio, como se uma sombra o envolvesse. No pude mais frequentar a casa de Marcelinho. Um dia o encontrei com nariz sangrando e o levei lá em casa, minha mãe fez o que pode, porem não queria meter-se na criação de outras pessoas. Neste tempo crianças não tinham direitos.

Mas nada foi suficiente. Dona Zuleica agora era uma puta viciada, bêbada e louca. Se por um lado eu achava isso fantástico, por outro era uma miséria suprema eu sabia. Mas nestas circunstancias, era esperado que a desgraça viesse. Somos assim, condutores e protagonistas de nosso próprio roteiro.

Um dia, ouviu-se uma freada brusca, todos acorreram, mas era tarde demais. Era Marcelinho que se jogara na frente do carro, e morria sob a luz do sol de verão. Dona Zuleica não estava em casa. Quando chegou era muito tarde e drogada, não se deu conta. Ficou sabendo pelos vizinhos o ocorrido. Nos dias que se seguiram, a casa foi abandonada, as portas ficaram abertas e janelas também. Como se alma tivesse saído. Tudo ia se deteriorando, aquela casa vazia gritava uma dor sem fim, como unhas afiadas tentando arranhar o céu sem estrelas.



Luís Fabiano.


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