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quarta-feira, agosto 31, 2011

Encurralado


Puta que pariu, é tudo que posso dizer, como um lamento enclausurado de minha alma, prisão densa de minhas limitações, estertor de forças que se perdem sem esforço. Um pensamento que vaga como onda impetuosa, em direção a nada, encontrando nos junto a entranhas na praia, se diluindo na areia.

Não me revolta com a realidade, pois isso é tolice e perda de tempo. A única revolução possível parte de nós mesmos, em uma solidão tão profunda, um ringue onde enfrentamos nosso pior inimigo. Não paro de pensar o porquê, um martelo golpeando minha mente fazendo em frangalhos meu coração. E então, como benção malditas do tempo, nos reconstruímos e somos levados ao poço das indiferenças lacerantes e contumaz. Como somos filhos da puta maquiados. Enforcamos nossos melhores ímpetos com elegância maldita.

Tenho todas as explicações filosóficas e evolucionistas da natureza dolorida da razão humana, mas nada, nada consola o aplaca o grito animal, o urro da alma.

A rua estava tranquila naquele horário de meio dia. Pessoas comiam em restaurantes, alimentam-se, aplacam a fome, fazem sua fotossíntese. Eu caminhava como um vagabundo, meus passos lentos como uma lesma leprosa, olhando a paisagem, sorvendo o tempo como um vampiro feliz, de consciência tranquila em meio a tanta merda, como ser diferente?

O canalha bastardo é uma nota que entoo com orgulho. O filho da puta fio de navalha, ou você odeia ou ama. Não há meio termo, o que de certa forma nos força a verdade. Não pode haver dissimulações feitas de sorrisinhos amarelos, não pra mim. Não.

Mergulho na existência com toda a intensidade, vivendo tudo em alta velocidade, os freios ficam esquecidos. Sou o verme que se você deixar entrar na alma, e vou te amando enquanto te devoro e me deixo devorar.

Ele vinha vindo de bicicleta. Uma bicicleta velha meio destruída, enferrujada, pintura totalmente gasta. Foi parando devagar, parecia algo desorientado. E a encostou no meio fio. Quando viu que estava em segurança, como um apelo de ancora para que ficasse firme ao meio fio. Então se sentou no mesmo meio fio. Diminui meus passos, fiquei atento. Então colocou a cabeça entre as mãos e a baixou num gesto que sem uma única palavra queria dizer: não aguento mais...

Rosto desgastado, sujo, roupas puídas, dentes podres, um cheiro que mesclava suor e merda, era um asco. Sentia-se asqueroso, a bicicleta era seu bem e a Barroso também. Queria ficar plantado ao meio fio, queria virar asfalto, pedra, queria ser qualquer coisa sem vida, queria que a morte viesse agora, agora... por favor...

Meu coração se confrangeu dentro de mim, uma lesma que se contorce em uma chapa aquecida. Realidade infame que nos viola, um estupro pacifico, silencioso, sem gemidos ou lagrimas de dor. Endurecemos-nos como o asfalto. Olhei para meu relógio, não tenho tempo pra nada. Agarrei-me a esfarrapadas possibilidades, e mesmo vendo tudo isso passei, porque é assim. É preciso endurecer o intimo transforma-lo em pedra, converter os outros em criaturas abandonadas de Deus, afinal ele também esta indiferente, e a porra dos anjos? O que fazem esses merdas? Voando em céu imaginado e lambendo o divino rabo?

Voltei a mim, os passos pesaram como chumbo. Olhei o céu, o sol brilhava indiferença, meus sentimentos setas de apelo apontado em todas as direções, queria salvar, me salvar. Enquanto meus carinhos raspavam o chão, misturando-se a sujeira, querendo criar raízes em meio a tanta dureza. Arrancar em meio impossível, a pureza e as esperança. Desejei que o próximo passo fosse feito de asas, leve e mais livre.
A Barroso ficou tão estreita...


Luís Fabiano

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