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segunda-feira, agosto 29, 2011



O whisky de Marivera


Gosto daqueles que se destroem paulatinamente. Castelos que o tempo abençoa com as ruinas, com o desgaste, a tinta que descasca, o corpo que implacavelmente queda-se ante o peso da vida, dos vícios, desta aventura louca que é estar vivo neste mundo de merda e mel.

Assim os desprezíveis se tornaram meus mestres, os viciados de toda sorte, ladrões de alma, assassinos, os mendigos os meus heróis sem final feliz, com o gosto asqueroso da vida verdadeira, e com janelas que se abrem para o nascer do dia, o sol, a fuga e o próximo gole. Foi cultivando as minhas piores virtudes que conheci sem querer, Marivera.

Na época uma grande amiga havia se hospedado em sua casa. Andou enfrentando uns problemas viscerais, que a levaram a um beco sem saída. Não quero falar disso. Puta merda, quando não há saídas, é preciso cavar uma, ainda que seja em si mesmo, neste momento, encurralado só existe uma...

Depois disso, Marivera que também não fazia o perfil mais excelente de normalidade, entrou em cena ruidosamente. Curiosamente, ela é da área de saúde mental, psiquiatra ou psicóloga não sei. Não poderia ser melhor. Tudo me parecia uma imensa novidade contraditória naquele momento.

A vida de Marivera em casa, era a poesia do caos buscando balburdia. Achei isso belo. Em seu estado normal, falava alto, reclamava e falava demais. Essa era parte ruim. Mas toda moeda tem duas faces. Possivelmente por minhas afinidades de insanidade, acabei gostando da outra face.

Passei a frequentar a casa de Marivera, em primeiro fito de visitar minha amiga, depois como sempre, as coisas mudaram. Minha amiga melhorava a olhos vistos, e isso era muito bom, no fundo quero que todos sejam felizes e se deem bem. Gosto muito dela.

Porem, hábito não faz o monge. Visitava-as sempre a noite, após as vinte e duas e trinta, quando normalmente saio de meu trabalho. Para mim um horário perfeito, a noite começa sempre e todos os dias após isso. O momento onde abro o meu coração filho da puta, e deixo a madrugada entrar nele lentamente como sereno, vou me tornando o paraíso ou inferno que a noite sussurra. Entre os vícios e o amor, as melhores coisas da vida.

Acabei ficando intimo de Marivera. Ela tinha o excelente hábito de depois das vinte e três e trinta, sentar-se a mesa com um imenso copo de whisky, caprichado, colocava roupas mínimas de dormir e ficava aquela mesa, bebendo silenciosamente com olhos perdidos em um horizonte sem fronteiras, fumando um cigarro atrás do outro automaticamente, com olhos apagados e as vezes algumas lagrimas.

Tudo aquilo pra mim era a cena de um problema, um maremoto anunciado. Tenho faro aguçado para carências de todos os tipos. Faro de tigre, e para um tigre todos são presas, mesmo os mais próximos. Acho que sou realmente assim.

Então passamos a nos sentar os três a mesa. Marivera, eu e minha amiga. Não preciso dizer que em algum momento pensei em uma festinha com as duas. Seria fantástico. Whisky mexe com meu sistema nervoso, como o rum, fico mais louco que de costume, deixo a imaginação e a putaria rolar sem freios, gosto de fazer o devaneio da insanidade e urrar quando ejaculo, gritar como um animal furioso, entre a raiva e o amor.

Mas com as duas não rolou infelizmente, a oportunidade não apareceu ou ambas não eram tão loucas quanto eu. Minha amiga devido as circunstancias extremas, havia “perdido” a buceta. Mas não Marivera. As noites avançavam cada vez mais, conversávamos muito. E Marivera soltava-se mais, bebia mais e começou a tomar umas bolas, para apimentar as coisas. Dizia:

-To muito desanimada, to cheia de problemas, então neste momento fico solta...tu não te importas né...

Ela me fez um olhar significativo, engolindo um comprimido com whisky. Aquilo foi gasolina na fogueira. A alça do baby doll havia caído do ombro deixado parte das imensas tetas a mostra. Minha amiga talvez pressentindo o perigo no ar, inventou algo e foi dormir.

Então comecei fazendo uma massagem nos ombros de Marivera, ela sorria, gemia baixinho. Eu estava com uma ereção tremenda, meio alto e com vontade de fazê-la engolir toda a minha porra. A massagem desceu para os seios, então ela levanta-se rapidamente derrubando as cadeiras, e nos beijamos na mesa da sala. Minha mão desceu a xoxota, e estava inundada, com cheiro forte, como gosto, meti dois dedos com facilidade ela sorria, e sem perder mais tempo, a penetrei na sala de frente ao um crucifixo, tendo a madrugada como testemunha, enquanto Marivera berrava como uma cadela no cio, a puta redimida pelo diabo. Aquilo foi bom como olhar a Monalisa.

Tenho certeza que todos na casa escutaram nossa trepada alucinante, sua filha, as empregadas e minha amiga. Gosto da discrição das pessoas. Todos se comportavam, nos dias que sucederam como se nada houvesse ocorrido. Essa limpeza de posições é meu deboche original, como mijar na sala.

Passamos a repetir isso quase todas as noites, bebidas e muito sexo selvagem. Gosto disso. A poesia de olhar distanciado ficou pra trás, e nos convertemos no que somos, animais cheios de desejos, com putaria no sangue, com alma puta e sonhos que se desfazem, afogados ao prazer. Tem coisas que não interessam.

A merda dos sonhos, ante o ataque frontal da realidade inviolável, é um picolé que se desfaz ao sol. Pensava isso agora. Mas a bem da verdade, Marivera sã, sem suas drogas e bebidas, era uma pessoa insuportável, pesada como um chumbo sem asas, falando todas as merdas de seus problemas intermináveis, reclamando e gritando. Porem um copo de whisky depois... poderia fazer par com a virgem Maria.

Mantivemos isso por um bom tempo. Mas como já sei, tais coisas estão na disposição para o desgaste, o consumo que se consome e mergulha desaparecendo em lembranças suculentas. Boas lembranças. Sou um punheteiro romântico e eterno, enquanto escrevo pacificamente, estou com uma ereção eterna, e minha alma inflama-se como a baba do demônio. Pois assim se vive. Dou-me inteiramente a vida, me entrego ás vagas impetuosas da existência, da paixão e do amor.

Quero beber o gole mais forte da vida, me consumindo entre a dor e o amor, suando, sangrando e em paz, como uma prece ao Criador, a minha prece entoada a cada dia, a cada abraço, a cada revolta, a cada sorriso.


Luís Fabiano.


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