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terça-feira, abril 20, 2010


Trecho “...

“Atravessava uma fase de azar ou tinha perdido o talento. Foi Huxley, ou um dos seus personagens, creio eu, que disse em Contraponto: ”Qualquer homem pode ser gênio aos vinte e cinco anos: aos cinqüenta fica bem mais difícil.” Ora eu estava com quarenta e nove, o que não é cinqüenta - faltavam alguns meses.E já andava devagar, quase parando.
Tinha lançado, recentemente, um pequeno volume de poemas: O Céu é a Maior Buceta que Existe, que me rendeu cem dólares quatro meses atrás, e agora esse troço virou preciosidade de colecionador, cotado a vinte pratas nas livrarias de edições raras. Nem sequer tinha um exemplar de minha própria obra.
Um amigo, se aproveitando da minha bebedeira, havia roubado o único que tinha.Amigo?
Andava azarado. Genet, Henry Miller, Picasso e ao sei quem mais, me conheciam, e no entanto não conseguia emprego nem para lavar pratos.Tentei num restaurante,mas só fiquei uyma noite com minha garrafa de vinho.Uma gorda descomunal,sócia da casa, proclamou: “Mas este homem não sabe nem lavar prato!” Fui despedido naquela noite.Mas a todas essas,já havia bebido duas garrafas de vinha e comido metade de uma perna de ovelha que haviam deixando bem atrás de mim.
De certo modo era terrível fracassar desse jeito, mas me doía,acima de tudo,lembrar que tinha lá em São Francisco uma filha de cinco anos, a única pessoas que eu amava no mundo, que precisa de mim, e de sapatos, vestidos,comida, carinho, cartas, brinquedos e, de vem em quando ,uma visita.”

Charles Bukowski - Crônica de um Amor Louco.

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