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sexta-feira, abril 16, 2010


Tudo Fala

Quando se está em silêncio,
ouve-se tudo.
Até as coisas que são mudas, mortas.
Gosto de me ouvir quando estou assim.
Sons inarmônicos,
vozes que se distorcem.
Tive um desses momentos.
Olhos param de piscar,
fico olhando o nada
Ouvindo, ouvindo-se...
Algo congela-se,

a bebida não desce na garganta,
A fumaça não vai para o pulmão.
A fronteira entre o profundo e o raso.
Lucidez involuntária, acidental.
Ali fiquei,

olhando uma janela de vidro,
Ficava entre andares de um outro prédio.
A única coisa que podia ver,
Pernas, pedaço de pernas.
Do joelho para baixo.
A voz das pernas.
Sorri um pouco...
Vi algumas passarem.
Passou uma bem fininha,
usava saia curta.
Branca como gaze,

salto alto.
Essa falou alto.
Uma tatuagem negra nela ficaria perfeita,
A benção da natureza.
Contrastes da perfeição.
Não precisava ver mais nada.
Aquele pedacinho dela era perfeito.
Escutei-a com carinho.
Se foi pelo corredor.
Carregou um pedaço de mim,
Um pedaço feito de rara ternura.
O resto dela não importava mais.
O resto sempre corrompe o que é puro.
Como a alma fala pelos pincéis,
Pela pena, pela perda.
Foi como tivesse a beijado, o
Primeiro e inesquecível beijo.
Voltei a mim.

Luis Fabiano.
Uma fotografia não fotografa nada

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