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terça-feira, dezembro 27, 2011



Cadáveres felizes do verão

Tive profissões terríveis
Difíceis de digerir
Auxiliar de legista, limpar o pior a merda e o sangue
Fica-se muito sujo
E os olhos anseiam a luz do sol

Com o tempo a barata existente em nós se acostuma
Ficamos resistentes ao pior
Músculos da alma tornam-se fortes
E respiramos o ar pútrido com serenidade angelical
Chamam isso de céu as vezes
Afinal não é onde você esta,
Mas como você se sente... as vezes...
Com o tempo os cadáveres se tornaram simpáticos
Como rosas secas abandonadas em um vaso

Oferecíamos lhes o sanduiche e um refri... ou vodca
As vezes aceitavam seriamente
E a morte se tornava uma piada
Até que Ela apareceu...
Havia morrido de câncer
Mas não parecia morta... gostosa como uma viva
Seios grandes e cara de anjo e sem pelos...
Olhamo-nos todos com cumplicidade erótica silenciosa
Uma inegável ereção de cavalo em uma enfermaria de vidro

Então tínhamos que destrinchar aquela carne nua
Tornar horrível o que a vida havia presenteado de esperanças
Não parecia justo ser instrumento do mal
Na indiferença da morte presente
A vida etérica pulsando nas dobras residuais do passado
Pensei em trepar com ela... encher-lhe de vida com a minha porra
Congela-la na intimidade do meu coração
Captura-la como se prende o voo do beija-flor

E mesmo enrijecidos na indiferença da morte
O arroz e feijão de todo dia
Aquela morta mais linda que muitas vivas nos arrebatou
E uma piedade nasceu em meio a escuridão
A frincha de cachoeira indiferente da natureza
E cada corte que fazíamos nela
Era como uma oração a uma santa que não existe
Naquele dia resgatamos nossa alma um pouco
Os bisturis e agulhas não eram para ferir ninguém...

Luís Fabiano.

segunda-feira, dezembro 26, 2011



Celeste arrancando Pedaços do Céu


É preciso manter um bom nível de cretinice instalada dentro de nossos corações. Faço o possível para que isso se mantenha. Um germe vivo que cultivo, como bactérias emocionais, nas dobras úmidas da alma... fungos cheirosos das loucuras imprevistas... húmus que deixa florescer algumas pétalas da alma... o inesperado que sussurra desejos, as vontades surdas respirando em nós... um eco de nossa respiração... a voz de nossa voz... a batida da batida de nosso coração.

Sentia-me em paz... uma paz estranha... uma sensação que nada tem haver com justiça... amor... tranquilidade... consciência leve... porque que se disso dependesse estava fodido. Não é possível tragar todas estas cosias na alma... e partir disso vislumbrar as nuvens mais sutis do pensamento... abraçar as belezas frescas das emoções.

O extremo oposto é uma verdade fatal... é preciso abandonar-se ao que se é... ao que acontece sem ter pretensões ocultas... a ansiedade de realizar tudo... capturar as estrelas para ai então encontrar paz? Não. Apenas aceite sua lassidão, a sua profunda incapacidade, sua derrota, seu desterro, a sua miséria, veja todas as merdas da vida de bom grado...não é melhor... mas é quase a mesma coisa que uma prece...um mantra... querer o bem.

Então me sentia fantasticamente filho da puta... e sorrindo para tudo. Estava indo a casa de Celeste, uma amiga, uma xoxota, e alguém que torna o perpassar da vida interessante. Ela tem aquele elã que raras mulheres carregam. Uma capacidade de desapegar-se de tudo. Ela diz gostar de mim... eu acredito, mas não sei realmente o quão ela é desapegada. Ou criou um personagem para estarmos eventualmente juntos... um fantasma animado que sorri diante de todas as outras, enquanto compartilhamos a vida... os bons momentos, os péssimos também. Não importa, existem cosias na vida que jamais se saberá... que jamais se terá certeza, que serão os germes no ar mesclando-se ao oxigênio... as intenções das intenções, e não se sabe se o ar é puro ou não. Faz diferença?

Apegamo-nos a verdade possível... ou inventamos uma logica para compreendê-la, não é assim? Pensava nesta merda quando estava chegando à casa dela.

Bato a porta e ela abre... leve e feliz. Usa um short curto... justo... deixando as dobras da bunda exposta, minha poesia vulgar e adorável. Tudo se diluiu depois disso. Ela em abraça como se tivesse chegado de uma guerra, forte:

-Fabiano... que saudade... nossa...
-É verdade... Celeste... bom te ver baby...

Sentia sua respiração ansiosa, e mesmo sem palavras eu sentia uma nevoa por detrás da alegria. Isso as vezes é uma merda...muitas vezes não preciso de palavras. Ela não perde tempo... entramos... desabotoa minha calça com um olhar de poema triste... olhos semicerrados, o bicho já esta meio duro, ela ajoelha-se como se fosse rezar e lentamente vai engolindo-o... uma estaca entrando na terra... a cabeça... o tronco... os membros desaparecendo em sua boca de algodão.

Gosto das coisas sem pressa, ela engole... lambe... suga a cabeça...e torna a fazer o movimento... babando-se... de tesão. Pura saudade caralhal. Vejo a felicidade em seus olhos... me sinto narcotizado. Ficamos nisso um bom tempo... conheço seu jogo, ela não quer trepar...quer apenas beber de minha porra...engolir até a ultima gota. Eu dou, tenho muita porra. Por fim depois de uma meia hora eu gozo.

Então deitamos... e ela acendeu um cigarro e deixamos o silencio corroer o teto. Olhávamos para o teto limpo de sua casa. Celeste dispara depois de uma baforada:

-Por onde tu andaste? Com quem tu andaste? Que tu fizeste?
-Celeste... Celeste... já sei... onde chegaremos... sabes que não falo das outras. As outras não estão aqui, elas não existem aqui... estou aqui eu e você, que mais importa?
-Mas eu gostaria de saber... eu sou a melhor? A mais gostosa? A que te fode melhor?

Tu podias dizer isso...né...por favor...

-Não tenho como dizer isso... não sou tenho um ranking... apenas posso dizer que tu és única...
-Mas eu queria ser a melhor...
-Todos querem ser alguma coisa... esse é o veneno... o problema do ser humano é ambição... ninguém nunca esta feliz como está...
-Nem tu Fabiano... olha o jeito que tu vives...não é normal...
-Não...eu planejo nada, eu não descido nada... a natureza faz isso por mim... assim como a natureza faz que animais comam outros animais... não parece legal isso... mas é assim o jogo da vida e da morte. Algumas vezes que tentei ir contra esta natureza, tentei ser o padrão... mas não funcionou... alias nunca funcionou. Eu sou o equivoco da natureza, como ponto de equilíbrio para o padrão funcional. A palavra solta do poema, o traço incompleto da pintura...
-Tu és louco... isso sim... mas eu gosto de ti... tu parece ser fonte de uma felicidade...
-Não sou nada... sou o erro do acerto... sou um exercício constante sem resultado... foda é viver comigo.

Seguimos olhando o teto. Voltei aos meus pensamentos, as malditas bactérias, os vírus, a umidade estava ali, o teto perfeito e limpo não era assim...nas frinchas havia bolor, como nas nossas dobras, não conseguimos purificar, pois a vida é assim.

Tudo é uma tentativa despretensiosa do melhor... mas desapegue-se do resultado...apenas viva intensamente... viva até as raízes do cabelo...foda e seja fodido... não sei se você alcançará o céu...mas de vez em quando você vai sentir alguma paz...é bom.


Luís Fabiano.

Natal em Família

Desta vez reuniram todos
E lá estava eu... uma naufrago
Insistiram para que eu estivesse
É como uma ferida que adoramos arrancar a casca

No inicio me senti estranho a todos
Mas foram me tratando bem, desfazendo distancias de agulha
E servindo cervejas e mais cervejas bem geladas
Isso fez meus olhos dobrarem
E observar a vida diferente
Atolei numa cadeira de praia enquanto via
As mulheres de meus parentes
Vestidos leves que voavam ao vento
Calcinhas coloridas... bundas grandes... os pelos de uma xoxota
Engolindo a calcinha
E sorrisos todos os lados
a vida parece boa

Mais pessoas chegavam
Mais cerveja... tudo mais...
Mais comprimentos a desconhecidos felizes
Ok. ok...a porra do natal está ai ok
Então fodam-se as estranhezas
Creio que beijaria até o diabo e lhe desejaria felicidades
O diabo também quer ser feliz

Minhas tias estavam lá
Todas sentavam de pernas abertas
Ao som de um samba barato
Eu atolado na cadeira de praia sorrindo como um louco
Eu que gosto tanto de minha solidão
Sentia-me bem entre eles e não estava mentindo desta vez

Talvez a maldita idade mude o jogo
Minha vó sentada na cadeira sem emitir som algum
Deram-lhe vinho para matar a saudade de tempos idos
Anzóis das lembranças pescando saudade...
E amanheceres com poema
Ela reage como um excitante e pude ver o brilho do olhar

Achei fantástico
É bom não perder o brilho do olho
Porque ali há uma alma
Não entendo nada de amor ou tempo
Bom ser uma metamorfose
Desvestindo ilusões revestindo a vida com o melhor
Na pureza ancestral que permeia os astros
As nossas sombras desfeitas no afago
De querer bem, acho que foi isso
Apenas me entreguei.


Luís Fabiano.

 

domingo, dezembro 25, 2011

Momento Boa Música

Mercedes Sosa - Como Pajaros En Air

Edição e Legenda - Luís Fabiano.

sábado, dezembro 24, 2011



Fugaz delírio em ti

Aqueles anos foram fantásticos
O despercebimento de liames que nos emaranhavam
Boas bebidas... drogas e intermináveis prazeres
Nosso sexo era um trem fora dos trilhos
Colidindo com o céu
E nos arrebentando depois... ao solo com toda força

Curiosamente nunca percebemos tudo...
O pescador desconhece a profundidade do oceano
Desconhecemos o quanto estamos um dentro do outro
Limites longínquos do querer
O Everest desafiando as nuvens
Abismo beijando a luz

Então como uma onda que se dissolve
Você se foi...
Partidas que partem ... oprimem
Asas abertas sem querer...
Aceitei como se aceita a morte
A muda revolta do peregrino sem consolo
Um carro sem dono
Um apito esquecido

Passei a ser o véu pinçando tua beleza
Refazendo teus caminhos no afã de aspirar
O perfume residual de tua alma
Pegar com minhas mãos nuas
O éter silencioso do amor sublimado
Pisar em tuas pegadas... diluídas
Beijar o vento
E se ainda nada consigo sentir... de ti
Como mãos e suor
Minha aspiração não adormece
É como o pulsar de meu coração
Ecos de ti
Reverberando em minha indissolúvel realidade.

Luís Fabiano.

Trecho solto...

Noite de Natal, sozinho

Noite de Natal, sozinho
Num quarto de motel
Junto á costa
Perto do Pacífico –
Ouviu?

Eles tentaram fazer desse lugar algo
Espanhol, há
Tapeçarias e lâmpadas, e
O banheiro é limpo, há
Mini barras de sabonete
Rosa

Não nos encontrarão por aqui
As piranhas ou as almas ou
Os adoradores
De ídolos

La na cidade
Eles estão bêbados e em pânico
Furando sinais vermelhos
Arrebentando suas cabeças
Em homenagem ao aniversario de
Cristo. Isso e uma beleza.

Em breve terei terminado esta garrafa de
Rum porto-riquenho
Pela manha vomitarei e tomarei
Banho, voltarei para
Casa, comerei um sanduiche á uma da tarde,
Estarei no meu quarto por volta das duas
Estirado na cama,
Esperando o telefone tocar,
Sem responder,
Meu feriado é uma
Evasão, minha razão
Não é.

Charles Bukowski - O Amor é Um Cão dos Diabos.


sexta-feira, dezembro 23, 2011

O Natal do Fio... ho, ho, ho...(porra..)







Pérola do dia :

" Descobri que quando estou cagando, que me surgem as maiores inspirações... não sei se por causa da força da vida ou do cheiro da morte... "


Luís Fabiano

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Poesia Fotográfica...



Nenhum lugar aonde ir

 
Avisaram-me que estavam indo para Londres
Gaivotas batiam asas para o norte
Um gafanhoto saltou de minha janela para o nada
O vento levava folhas adiante
Eu ainda estava ali curtindo isso

Astronautas russos passarão o natal no espaço
A velha do sétimo andar olha-se no espelho com decepção
Luzinhas piscam na rua entre a ambulância delirando de dor
Uma morena com uma bunda fantástica passa e eu olho
Parentes nervosos querem saber que vai ser do natal
E eu ainda estou ali... curtindo tudo isso

Então vem alguma bebida
E pássaros cantam na Amazônia
Entre arvores indiferentes
Com nossa indiferença
Esperando milagres do amanha
Não tenho vontade de ir a lugar algum
Desenredando e enredando teias de minhas emoções
E eu ali curtindo tudo isso

Ligam para meu telefone me convidando
Para trepar...beber...excitar...chupar tetas
Mas ela não tem nada haver comigo
Digo ok ok... mas não saio do lugar
Me sinto em paz e redimido
Não tenho pra onde ir...não quero ir a lugar algum
Estou aqui pleno...inteiro...integro
Apenas curtindo tudo isso.

 
Luís Fabiano.




Gazela do amanhecer – Fendas das escuridão

Ela surgiu como uma utopia
Excessos desmedidos em um corpo grande
Um metro e oitenta e sete de alegrias e transtornos
As vezes eu olhava pra ela e pensava segurando os culhões inchados:
Isso é incrível, uma égua violenta e minha...

Mas tinha a outra parte... a pior
Tentava controlar meus impulsos sacanas
Castrar meus cometas cintilantes
Cercear minha merda e capturar o frescor da manhã
Para que sentisse feliz
Então brigávamos um pouco
Até coisas voarem pelo ar...
A doce vida

Quando se tem muitos amores
É preciso apreciar as falhas fluorescentes do encanto
Que moldam a paisagem do paraíso ideal
Um silencio depois do terremoto
Ela vinha com suas pernas compridas de gazela
E tudo acabava como tinha que ser
Eu enfiando meu cipó nela...
Bombeando porra industrial...

Carícias de uma gata ao amanhecer
Seu pulo no meu horizonte
Com as pétalas rubras e orvalhadas do hoje
O sublime engolindo o horrível
E a vida mergulhando enfiada
Nas dobras do destino.

Luís Fabiano.


quarta-feira, dezembro 21, 2011

Natal Antecipado do Away...

terça-feira, dezembro 20, 2011

O Fio do Natal... ho, ho, ho...



Navalhadas Curtas: Começando bem...


Abrindo os olhos para este mundo maldito... as vezes é melhor não acordar.

-Fabianooooo...
-Sim...
-Porque tu não és mais romântico?

Puta que pariu, pensei, este é o bom dia... dos condenados. Você acorda com dor de cabeça, de ressaca, e ouve uma merda dessas... minha paciência se esvai.

-Não sei... acho que nunca fui.
-Foi sim... quando eu era casada e éramos amantes... eu lembro.
-Você também era outra mulher... mais flexível... menos questionadora...outra...
-Isso justifica?
-Isso não justifica?
-Eu queria que tu fosses mais romântico...
-Você queria que eu fosse outro?
-Não tu mesmo... apenas bem mais romântico...
-Desculpe my love... eu sou a placidez de um cagalhão... a verdade ultima, o cheiro natural e a beleza singular do asco... ame o cagalhão...ou dê a descarga...
-Tu não és romântico mesmo...

Luís Fabiano.
Momento Boa Música

Joaquin Sabina

- Contigo -

Edição e legenda: Luís Fabiano


segunda-feira, dezembro 19, 2011



Magrelinha Ossos de Cristal

Não sei de onde ela veio...
Apenas que fumava um cigarro atrás do outro lindamente
Ficava encostada nos piores bares a espera do milagre
O seu arco-íris encantado,
Brilhando na noite sem esperança dos cometas apagados
Eflúvios etéreos de emoções desfeitas
Nó feito de feridas ressecadas
Não trocamos uma única palavra no abismo
Melhor assim

Eu ficava bebendo meu rum
Até que as pessoas se tornassem suportáveis e belas
Ainda que nada fizessem pra isso
Moscas voejam em um chão vomitado
Ela vomitou, talvez tentando salvar o intragável na garganta
O cheiro era terrível
Bafejando hálito do demônio

Ela as vezes me olhava sem dizer nada
Ficamos nisso, um silencio fecundo de possibilidades adormecidas
O respeito dos cretinos
Talvez ela fosse a foda do século
Talvez fosse uma vagabunda barata
Ela já tinha feito boquete para todos do bar
Eu ainda estava virgem

Olhei-a bem... a cara amassada lembrando Bukowski
Aquela cicatriz no peito, um coração implantado?
Mensagem de uma casa em chamas
E aquelas perninhas e braços fininhos
Lembrava um esqueleto animado sem riso

Sorri irônico
Descortinando que ela fazia parte daquele tipo de pessoa
Que é melhor não conhecer
Pois a imagem que tenho dela, é muito melhor que a verdade
Terrível roubar a beleza volátil dos sonhos
Pela realidade feroz da natureza cruel

Talvez por isso eu beba mais
Não para me salvar do caos
Mas para salvar o mundo da implacável feiura
Que todos trazem imersos nas vagas impetuosas
De nossa santidade emulada.

Luís Fabiano.


Conto Maldito de Natal


Parte 3 - O final sem final...

Embora naquela manhã, eu tivesse ido levar o lixo para o latão... tinha em mim um peso hediondo misto de angustia, culpa adquirida, verdades mescladas com as calhordices que fiz por ai... como um engodo fatal, uma chaga exposta para dentro de mim.
Eu sabia muito bem que não poderia fazer nada por Zéfiro, que como um trem arrancando-se dos trilhos, ele começava a sua descida ao inferno.

Você conhece o diabo? Nem queira, a presença do mal calcinando nossas mais tenras emoções e sensações... sabia disto tudo.
Nos dias que se seguiram, ele aparecia cada vez pior, fora perdendo o olhar inocente, o animal convertendo-se em um instinto, o homem matando o menino... beijando ruinas do desterro, num natal sem pai... mãe... a rua... a mãe ingrata, restos de tudo, e uma tentativa de sobreviver.

No final de semana desci para levar o lixo novamente. Zéfiro dormia no chão, próximo ao latão, sujo e quase irreconhecível. Não sofro de humanidade aguda... pouco em importam que se do outro lado mundo, milhares morrem como cães... mas quem de nós esta preparado para ver o obscurecer de alguém luminoso ao seu lado?

Como uma doença informal nas entranhas da emoção... quando nada ou ninguém liga? A lucidez esmagada pela deformidade... uma peia na tentativa de reservar um pouco de felicidade volátil?

Acordei Zéfiro.

-Ei Zéfiro... Zéfiro...acorda ai cara...tudo bem?? Tudo bem?

Ele que parecia morto... abriu os olhos devagar... puxa vida que sensação boa de o ver abrindo os olhos... não estava morto... vivo sim...ainda que seja nas misérias de sua vida iniciante. Talvez como aquele dia que amanhecia... ele talvez... pudesse... trilhar outra coisa... fazer outra historia... como vamos saber?

-Tio... oi...tio... que dor... de cabeça... bah...
-É... bom para se saber que ainda se tem cabeça...

Ele ri sem graça.

-Como tu tá cara?
-Aqui tio... vivendo...o corpo me dói... to com fome...
-Fome?
-É faz uns dois ou três... dias que não como nada...

Não queria me meter nisso... mas acho que de alguma forma já estava...

-Segura ai Zéfiro... Já volto aqui...

Fui ate o apartamento e fiz uns três pão com manteiga... e levei pra ele. Eu era um cotonete tentando aplacar uma sangria de artéria. Mas não havia tempo pra medir a razão disso. Peguei um comprimido pra dor de cabeça... e um copo de refri...
Chego lá e ele ainda estava deitado.

-Bah tio... massa... e esse remédio aqui?
-Pra dor de cabeça... eu acordo de ressaca quase todos os dias da semana... e dor de cabeça é danado de ruim...
-Legal.

Ele comeu rapidamente, tomou o remédio. Comida sempre cai bem.

-Então Zéfiro... tá chegando próximo ao natal... tu não vais tentar falar com alguém? Mãe... tio...alguém...

Houve um longo silencio, uma pressão asfixiante que explodiu pelos seus olhos marejados. Acho que havia tocado no botão errado.

-Não tenho ninguém tio... ninguém... minha mãe ta morta... morta...
-Sei Zéfiro... sabe, meu pai também morreu. Mas é impossível não lembrar dele nestas datas todas... de alguma forma ele esta conosco. Algumas vezes não temos o ideal... a coisa perfeita que não existe. Cada um de nos dá o que pode... oferece o que pode... por muitos motivos... uns oferecem sua dor... seu medo... sua saudade... seu inconformismo... mas que são essas coisas? Um valor de um abraço... que seja... um olhar...sei lá...
-Tio tu tens cinco reais?
-Vais comprar pedra?
-Vou... preciso agora...
-Não vai rolar Zéfiro... eu não sou moralista... mas não tenho a mínima vontade de te dar essa grana...pra isso... já ajudei bêbados...e outros viciados mais velhos que tu... mas de uma forma estranha eu acredito que tu podes sair isso...ainda...então...
-Tu acreditas em coisas estranhas tio...
-É verdade...sou todo estranho...

Ele achou engraçado. Talvez do meu ar de concórdia, sou realmente estranho, como tais situações que se criam em nossa vida... a flor cáustica do deserto... a aurora boreal... o ramo verde nascendo no concreto frio... as improváveis coisas que existem como um traço longínquo de nossa alma a procura de salvação... as lembranças das raras coisas boas que fazemos por ai....

Gostava daquele garoto, tentava lançar em minha alma a ganga das compreensões possíveis quando uma situação não esta ao nosso alcance mudar... essa era uma verdade cruel de Deus... tem coisas que não está em nossa vontade mudar... essa porra simplesmente não muda!!

Infelizmente nos dias que se seguiram Zéfiro simplesmente desapareceu... uma neblina devassada pelo amanhecer de dias natalinos. Laços mentais tentando capturar nuvens... assim me sentia. Zéfiro fora engolido por Pelotas... onde estaria? Estaria bem? Estaria vivo?

E eu que comecei a sequencia de textos falando sobre Zéfiro, contando como uma fotografia textual do opaco de sua vida... termino sem fim... uma historia que se contou... um natal sem presentes... um garoto com os sonhos fuzilados pelos dias...deixo a vocês a mesma sensação que estou sentindo...

fim...

Luís Fabiano.


Navalhadas Curtas: As vezes apenas grana...


Um amigo meu... o Ed, como o chamo ordinariamente, me falava seus planos esplendidos para o final de ano:

-Pois é Fabiano... to indo fazer uma viagenzinha sabe...
-É... acho legal para os outros viajar...
-Que isso rapaz... deverias sair um pouco... vou pra Tailândia...
-Ok... viajar contando trocados não me interessa... manda um abraço para aquelas massagistas...
-Esse é o ponto Fabiano... vou pra Tailândia pra comer... tailandesas oficiais... é turismo sexual... há ,há...
-Não vais ver as torres Petronas?
-Que torres?
-Esquece Ed... vai lá... e tente não ser preso por lá...ok...
-Vou pra lá... curtir... beber...me drogar...e trepar com mulheres e transexuais... viver a vida é isso...

Fiquei olhando pra ele... não sabia exatamente o que sentia, talvez ele tivesse certo... solteiro... quarentão... e com uma boa grana... afinal cada um tem seus objetivos na vida, uns querem ver a Monalisa outros trepar longe daqui... bem qual é o problema?

No fundo ambos são iguais. Apenas que, a Monalisa você fode de um outro jeito...
Cada um que limpe a sua própria merda e tente resgatar um pouco de paz, isso que fica.

Luís Fabiano.

domingo, dezembro 18, 2011



Pérola do dia :

“ Quem bebe é porque quer ficar bêbado... toda e qualquer outra explicação é o verniz do cinismo.”

Luís Fabiano.














* O melhor Rum Cubano.
Filetes de sangue – 9


Ela anunciou sua doença com o olhar típico da derrota. Sou de um temperamento frio o suficiente para não perder a razão. Trocamos um olhar longo, entremeado de lagrimas, como se soubéssemos da inutilidade de lutar... estaríamos mortos em vida? Não havia escolha?

Então a abracei-a mais forte que pude... quero transporta-la para dentro de mim... aperta-la contra meu coração... arrancar a chaga que a levaria eu querendo ou não. Ela quis me dizer quanto tempo... mas neguei... o que temos é eterno, pouco importa que os dias escorram em uma ampulheta macabra... criminosa... ladra.

Não me importa o tempo... não me importava nada... eu ficaria ali... uma estatua de emoção... congelado vivo num indevassável sentimento... chorei um pouco mais.

Luís Fabiano.

sábado, dezembro 17, 2011



Os Culhões dela

Ela balança as tetas sobre mim
Como se fosse as bolas de um dinossauro
Meu saco a virtude enrugada
A porra de um mundo sem crepúsculo

Disputamos quem balança mais as coisas
Suas tetas jorrando leite daqueles bicos
O canalha infantil bêbado bebendo daquela merda
Ela se sentindo mais macho que eu por isso
Não me importei
O prazer é o feto mudando dentro do útero...
Formas animais... um dia humano talvez

Uma cadela fudendo o cão nas ruas sem dó
Esse é nosso jogo de xadrez molhado
Uma luta infindável a putaria abençoada
Enquanto o resto todo se termina
Esgotam-se a esmo a carência sem brilho
Debaixo do mesmo sol de sempre

Ela gosta de ser a puta encantada
Metamorfoseada pelo impulso mais brutal
Misturando o incontidos segredos
Infâmia caridosa de uma xoxota alucinante
Minha droga... vicio e devoção
Ousadia do visgo diamantino
Leite, porra e outros fluidos
Carinhos por todos os lábios
Sem promessas ou ilhas de abandono amanha
Amanha agora

Luís Fabiano

Natal do Fio...ho,ho,ho


quinta-feira, dezembro 15, 2011

Navalhadas Curtas: Filho da puta... da vez...



Não nego a minha cretinice eventual, nem tão pouco, uma certa crueldade espontânea de minha natureza, enfiada em meus recantos mais sombrios... tudo bem, me sinto em paz.

Na calçada faltando pedaços, um casal e três crianças sujas... eles aparentando serem moradores de rua... discutem porque um ficou com a pedra maior que o outro... no carrinho desmontado, faltando rodas... duas crianças choram... a suposta mãe berra:

-Eu te falei pra comprar leite... olha isso agora... olha isso agora... culpa tua...tuaaaa...
-Fica na tua vagabunda... a criança vai esperar... é assim... tens pão ai??

Ela pega um pedaço de pão velho da bolsa... pão moído... abatido, o filho da puta não dá a criança... come o pão inteiro... e o caos esta feito...

Eu odiei sem dizer uma palavra... silencio corrosivo em mim, ácido transbordando... a criança chora... fome... desespero... drogas... miséria...

Uma calçada destruída... pedaços que me faltam sobre ela... que faltam a nós... não pude pensar em Deus... Mas lembrei do diabo.
Não nego... eu sou um outro tipo de filho da puta.

Luís Fabiano.

POLIAMOR...

POLIAMOR...



Sonhos Raiz de Vapor

Acordar uma vez mais
Olhos que se abrem como elos de uma corrente
Arrancando o indevassável luminoso
Trazendo-me de arrasto ao mundo dos gemidos
O sonho pesadelo feito carne
Asas arrancadas e pés de chumbo

O denso tomado das nuvens
Na fluência de uma guilhotina
Tentando agarrarem-se as ultimas esperanças lubrificadas
Como a vida comum das flores de plástico
Esse despertar na cegueira que vê
O verme sebento vendo a borboleta voar

Minha ereção desafiava deus
O dedo sem unha do universo
Dardos de uma culpa sem dono
Minha vida ao cais sem redenção
Trabalho, brigas, morte e amor...
O esperado com preço alto

O insano ereto sonhador quer fugir
O real falso de pedra sorri
Raízes penduradas num céu limpo
Bebendo desta terra em sono
Para não acordar mais assim
Sonhos feitos e desfeitos do meu querer
Correntes que se fecham uma outra vez.

Luís Fabiano.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Momento Boa Música

Renato Teixeira -  Olhos Profundos

Navalhadas Curtas: O Dom das Carícias


Tenho me sentado, em meus intervalos rotineiros a tarde, em um bar chamado Dom da Palavra... lugar calmo, aprazível, mas longe de ser o meu estilo hostil. Ali nada de relevante acontece pra mim... nem violência, nem bêbados, garrafas voando. La sinto-me quase pateticamente civilizado.

Um intervalo limpo, sem álcool ou charutos. Mas ontem algo ocorreu... pensei: me sinto vivo. Estava sentado, e duas mulheres deram entrada... leves, belas, pernas expostas... sentaram-se e ficaram se acarinhando distraidamente, beijos e mãos serpenteantes. Foi lindo.

Minha cabeça viciosa, decifrando orgias invisíveis através delas... saboreavam-se como se quisessem pegar a alma uma da outra. Eu o voyeur maldito, o grotesco palpitante a espera do milagre.

Nada poderia ser melhor... a tarde abençoada do nada, anjos caridosos num céu nublado que chovia xoxotas... graças a Deus.


Luís Fabiano.