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quarta-feira, dezembro 14, 2011

Filetes de Sangue - 8


A tempestade  se aproximava veloz lá fora... dentro de mim ela já estava consumada. Palavras duras, articuladas com ferocidade, distante da razão, sentimentos feridos, ardidos quase vingativos. Ela mentira... mentira sobre tudo...os sentimentos. Promessas desfeitas, descosturadas... nada de união eterna.

A chuva começa a cair... não consigo odiá-la... não consigo deixar de gostar dela... ela me fere, mas esta tramada em meu coração, talvez para sempre... minhas lágrimas misturam-se a chuva... a dor de um céu inteiro dentro e fora de mim.


Luís Fabiano.
É natal Porra...



terça-feira, dezembro 13, 2011



Escorre em mim por si

Gosto da maneira que ela chega a mim
Direções imprecisas
Olhar algo feroz... indócil, doce...
Segregando desejos ocultos
De devorar-me lentamente
Fleuma incandescente
Androgenia das esperanças incontidas

Fazendo sumos destilados do gozo
Afluírem como o visgo das lesmas
A xoxota “ereta” deslizando por meu corpo
Rosa orvalhada de meu amanhecer
Gozando, mijando... suando...
Resfolegando em mim sua fome sem limites

Os pelos compridos pubianos
Elétrons faiscantes e magnéticos
Tramas de minha aranha puta
Vulva úmida, derretendo esferas do certo ou errado
Ela a mulher, a machorra, a mutante incorporada
Medindo opostos comigo
Dilatando quereres errantes

Jogo voraz impregnado pelos vapores da porra celeste
Ela em mim... eu nela
Contrapartes dos elos de éter
Esfregando carnes picantes
Enquanto cheiros se misturam
Volúpias afiadas brilham numa noite sem fim
Inicios se perdem em fins
E não sabemos onde é ela e onde sou eu
Fodidos no deleite.

Luís Fabiano.

Momento Mestre

Paulo Cesar Peréio – (bêbado...)

Sendo entrevistado pela Funéria da Mtv, programa Infortúnio




Casal de três


Terríveis são algumas verdades, a força reveladora de nossas impressões mais impossíveis. Não foram poucas vezes que me deparei com isso. O total desconhecimento de mim mesmo, o abismo orbital, de uma probabilidade algo inacreditável, que a vida terminou por me conduzir.

Eu feliz diabo, festejando o caos, rindo considerando o absurdo normal. Talvez o pior de meus defeitos, olhar com perfeita naturalidade o bizarro, achar fantástica a corrupção, vislumbrar no espelho da alma, devaneios e paixões. Diabo feliz... inferno saboroso, as marcas de um chão arenoso.

Longe de mim ser vitima. Sou apenas estupido mesmo, o ignorante que se lança no abismo ainda que se choque com asteroides, meteoros e cometas que me destruam uma vez mais... não foram poucas...

Quando comecei a namorar Manuela, parecia uma coisa normal. A exceção que o seu ex-marido era uma espécie de grude. Eles tinham uma boa relação, eu nunca senti ciúmes em minha vida, coisa alia que me causou muitos problemas com as últimas setenta e três mulheres... uma falha em meu sistema emocional, algo impreciso que a mim não causa problemas... mas as mulheres... eternamente inseguras, querem uma prova inolvidável das emoções profundas... o brutal nelas também fala, querem dinossauros mortos, querem o oponente no chão, querem uma certeza feita ferro, concreto... nunca pude oferecer isso.

Mas Manuela não esquentava com isso, ainda bem.
Nosso namoro passou a ser frequentado quase sempre pelo ex-marido. Explico: ele vinha visitar a filha, ás vezes saia, ás vezes não... então ficávamos todos na sala, rindo, brincando com a criança.

Manuela era uma mulher bonita, altura mediana, longos cabelos negros, seios protuberantes, tinha todos os dentes e sua boa era a sombra do pecado peniano... lábios de mel capaz de fazerem santos ejacularem nas estrelas.

Tudo ia muito normal, tínhamos uma boa relação, a historia do ex-marido não me importunava. Fui notando que a distancia entre eles começava a estreitar-se, olhavam-se nos olhos, sorriam com cumplicidade. No final das contas, o cara era bacana, não era uma má pessoa. Eles haviam se separado pelo ciúme dele, mas agora ao menos diante de mim, parecia um ser normal.

Temo gente normal... esses são capazes de fazer qualquer coisa improvável. Animais que improvisam, o cometa que perde o rumo e nos acerta na mais improvável possibilidade. Prefiro os viciosos, os violentos, rancorosos... esses sabemos o que são capazes.

Essa normalidade mórbida, de minha parte passaria para o próximo estágio. Então Manuela, em uma noite de álcool, propõe a mim o que parecia absurdo.
Meu sentimento por Manuela, não sei bem definir, em algum momento pensei ser amor... talvez fosse, tal fronteira difusa também sempre foi dos meus piores defeitos. Como saber o que é oque ?

-Fabiano... tenho pensado em algo ultimamente... mas sinceramente não sei o que tu vais achar...
-É, eu nunca sei o que vou achar de nada... o agrado é uma chama vacilante...
-Estes dias eu estava falando com Pedro... sabe... eu gosto dele... sabes... eu gosto de ti também... e...
-Sei...gostar é uma coisa boa...
-Pois é... e ai eu falei pra ele isso... que gosto de ti... mas que gostava dele também...
-Bacana...

Tomei mais um gole do rum sem gelo....

-Pois é... eu queria ficar com os dois...sabe... gosto de vocês... muito...
-Entendo... entendo...
-Que tu achas?
-Olha por mim tudo bem... apenas vamos disciplinar a coisa ok? Não quero transar com ele presente... de preferencia...
-Claro, claro Fabiano... já pensei nisso... ele ficará no quarto de hospedes...e tu no meu quarto...ok...
-Certo... nada de misturar estações... eu não sou tão moderno assim ok...?
-Sim tudo bem.

O que sucedeu foi uma das situações mais estranhas que vivi na minha vida. Parecíamos três irmãos que trepavam felizes... os três porquinhos em suas casas de devassidão. Realmente isso não causou problemas graves. Ela dormia dia sim e dia não comigo, eu podia ouvir os gemidos dela trepando com o ex-marido no quarto de hóspedes, e pareciam felizes.

Meus familiares acharam a coisa mais absurda do mundo. Lembro que teve um dia que saímos os três juntos, de mãos dadas... ela no meio e a direita eu... e a esquerda Pedro. A criança creio eu, que não devia entender nada.

Aquilo se arrastou por meses, todos parecíamos felizes. Mas era visível que Manuela tinha uma afeição maior pelo marido, eles tinham um filho juntos... um vinculo a mais. A beleza que divagava em uma liberdade anunciada, também o reconhecimento que as coisas mudam... achei que era de mudar.

Manuela começou a dormir mais com o marido, as regras que se adulteravam, era a nota musical do fim... eu me sentia tranquilo, alias tento manter relacionamentos tranquilos, algo que possa me dar paz... uma paz carinhosa, eflúvio das vibrações celestes deitando-se em nossa carne, conduzindo ao porto seguro, ainda que a tempestade esteja a nossa volta.

Numa tarde de novembro chamei Manuela para uma conversa:

-Manu... eu preciso dizer alguma coisa?
-Que foi Fabiano?
-Você sabe... todos mudamos não?

O olhar dela turvou-se com uma lagrima.

-Sim...todos... tu vais embora?
-Creio que sim Manu... vocês tem uma boa vida aqui... vejo isso...e acho legal...acho que devem cultivar isso mais possível...
-Mas se tu fores embora... e o Pedro mudar?
-Manu, não posso ser um prego na parede para segurar a relação... acho que você estão bem grandinhos... afinal todos temos mais de trinta...

Ela riu e a lagrima caiu.

Que coisa mais estranha os sentimentos... o improvável pode nos causar uma dor, e a trama que nos vincula ao outro é feita de cuspe divino... algo pastoso e lindo. Talvez fossemos a divina trindade...
Queria terminar aquilo sem drama. Detesto drama. Lágrimas intermináveis, objetos atirados, facas voando... cuecas molhada no para-brisa. Não.

E assim foi, Manuela ficou chorando em silencio... um choro suave, uma liberdade dolorosa capaz de nos mover e fazer sentir. Juntei minhas coisas e nunca mais voltei lá.

Ela me escreve as vezes e-mail, e sei que estão felizes... porra, no final não é isso que importa?


Luís Fabiano.

segunda-feira, dezembro 12, 2011



Eles falam em mim

Não sei quem são eles
Quando os vejo falar comigo
Minha parte pior ou melhor
Alguns com mais alma
Etéreos humanos do nada
Vapores comoventes do meu coração

Talvez seja assim
O verbo errante
Pureza destilada
Morre-se um pouco para dar vida
O sacrifício incontido pelo amor
A dor sem dor
Eles me olham nos olhos

Sou o pai maldito e obsceno
Arrancando os filhos de minhas entranhas
Merda e sangue
Meu devaneio feito vida
Minha vida feito sonho
Sonho a flor erguida
Minhas sementes entregues a si

Enquanto o não eu é um fantasma
O verme do encantado e translucido
Fundindo aos anseios do anjo
Na vulgar beberagem de sorver a vida
A emulação plasmando o espírito.

Luís Fabiano.



Ps – acordei bêbado entre sonhos difusos, sei lá que merda era aquela... mas aqueles caras não eram boa gente.

Navalhadas Curtas: A ruiva Complacente


Muito tempo se passou. Mas eu lembro de uma piscina que estive a convite de amigos. A proprietária, uma linda mulher, demonstrou-se muito preocupada. Estava na época com uma namorada... não tão bela quanto a dona da casa, a comparação foi fatal.

Então Estela dispara usando um biquíni muito cavado:

-Estejam a vontade... peço a vocês desculpas, eu não me depilei... vocês não se importam com pelos, não é?

Aquela era uma boa oportunidade para dizer a verdade, mas creio que a verdade em certos momentos pode ser constrangedora, respondemos com uma educação estudada:

-Que nada... Estela... a vontade...
-Há... que bom... estejam a vontade também.

Mas agora eu já estava definitivamente capturado, meus olhos não se desviavam do púbis de Estela... aquilo foi fantástico... esqueci da namorada... da piscina... do sol, tudo. Os pelos delicados de Estela, saiam pelo lado do biquíni, enchendo de esperança aquela tarde causticante.

A apoteose, foi a excelente punheta que bati no banheiro dela, romanticamente em sua homenagem, por mim os pelos ruivos de Estela jamais deviam sair dali.


Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica








Pau da Esperança - Tetas da Consolação

Havíamos perdido quase tudo
Restos carcomidos num amanha ausente
O tempo macabro, revelando escamas afiadas
Num aquário asfixiante
Era ótimo...
Tínhamos nosso inferno pessoal

A cada amanhecer revelando sombras
Sou um tipo de estomago forte
Um fantasma arrastado correntes
Com algum sorriso na cara
Pensava: como nos tornamos isso?
Como chegamos aqui?
Cagavamos e comíamos a merda novamente
Para poder cagar...

Acho que éramos covardes
Num jogo de culpas fiel
Aprisionando fracassos, lustrando
As galerias passadas do que um dia sonhamos
Nem respeito ou gentilezas ficaram
Ratos saboreando restos no escuro

Então vinha a noite
Bebíamos... ela tomava bolinha
Afogava-me em rum numa esperança mortal
E quando não éramos mais nem ela e eu
Trepavamos como noivos alucinados do inferno
Sugava suas tetas na esperança de arrancar-lhe a alma pelos bicos
Ela bebia até a última gota de porra e lambia as minhas bolas
Batíamo-nos no rosto, num espancamento de um amor morto

Então silencio dos exaustos
Quando a sobriedade contaminava
As ilusões uma neblina ao amanhecer
Dissipando as orações
Sobrevinha a guerra outra vez
Talvez aguardássemos a próxima insanidade
Uma montanha russa brincando com nossas essências
Enquanto nos perdíamos um pouco mais.

 
Luís Fabiano.

domingo, dezembro 11, 2011

Clipe - O Salto
O Rappa


Conto Maldito de Natal-Parte 2



Conto Maldito de Natal


Parte 2

Então como ave fatal do desterro, a proximidade entre eu e Zéfiro, trouxe as laminas da verdade, uma verdade horrível. Não que me sentisse surpreso, uma coisa é verdade, tudo muda dentro de nossas concepções, quando o cheiro terrível da merda infernal chega ao nosso nariz. Não há mais distancias seguras para nós, somos viajores da mesma embarcação que nos conduz ao fim.

Desço para colocar o lixo, Zéfiro encostado no lixão... meio que misturado a ele. Olho o seu rosto e entendi na hora. A primeira pedra na sua vida. Uma pedra que talvez fosse o alicerce para sua própria prisão.

Ele me olhou e sorriu chapado:

-E aí tio... to curtindo... há ,há... to curtindo é muito loco...

Fiquei incomodado:

-Que tu fizeste Zéfiro...?
-Pedra tio... pedra boa...que uma?
-Não amigo... eu passo... tu sabes o que isso faz dentro de ti?
-Faz eu me sentir bem... faz eu não sentir fome... faz eu pensar em coisa legais...
-Não... Zéfiro... tu vai precisar desta merda pro resto da vida...
-Que vida tio? Eu não sou nada... tu ainda não viu...
-Não precisa ser assim...

Eu era um animal atado a um moedor de carne, que lentamente ia me tragando para dentro de tuas entranhas, me engoliria vivo, transformaria meu viver em massa disforme de dor e sangue.

Uma clausura imposta pela impossibilidade de alçar o voo. Realmente não sabia o que fazer... não queria dar um foda-se e voltar para o quinto andar indiferente.

Minhas palavras eram vapor tentando deter um trem sem controle. Senti um gosto amargo:

-Tio o senhor vai me ajudar?
-Não sei como Zéfiro... embora tu não saibas... quando fazemos certas escolhas em nossa vida... essa decisão ou te libertará... ou se transformará em uma cadeia... no teu caso... crack... vai ser a tua cadeia...cara... para com isso.

Ele me olha e cospe no chão algo sanguinolento. Se ergue e fica me olhado... um olhar indecifrável. Queria ouvir mais da sua historia. Não pensava em escrever, mas existem tão poucas pessoas que tem algo a dizer... algo que valha a pena. Não me interessa dores ignóbeis de uma futilidade ferida, gente que desconhece a vida, gente que desconhece o cheiro real vida que não é filtrado pelos perfumes caros.

Zéfiro me aperta a mão, e vai cambaleando pelas ruas de Pelotas. Lembrei do clipe do Rappa, a música o Salto... onde um pai anda com seu filho por todos os lados, não consegue emprego, não tem dinheiro para pagar a hospedaria... bebe um pouco de cachaça, anda para todos os lados onde as portas se fecham como olhos cegos de Deus... então sobe em um prédio alto com a criança nos braços...e...pula...e a cidade tremeu...como uma bomba atômica.

Ali estava diante de mim uma verdade que começa seu caminho para a perda, o descontrole sendo gestado nas entranhas de Pelotas. Não penso que o estado deva ser responsabilizado. A grande transformação social que se dará...não virá via estado. Mas homens e mulheres comuns... começarem a importarem-se uns com os outros como seres humanos... um humano que esta para além das leis que regulamentam o estado.

Minha mente utópica pensa tais coisas, a consciência coletiva parida da conscientização individual.
Por um momento a situação de Zéfiro me incomodou muito, mexeu como meus raros sentimentos, eu desejei arranca-lo das ruas , arrancar sua dor, tentar dar-lhe um futuro, uma chance de ser diferente...minha utoia errante...
Joguei o lixo no latão, e minhas lagrimas se misturaram ao odor fétido que todos produzimos.

Luís Fabiano.

Segue...



" A emoção é uma cilada que assalta o coração".


Luís Fabiano

sábado, dezembro 10, 2011

Momento Boa Música

Interpretação delirante de Marília Pera




Um cão em mim

Não gosto de ver animais aprisionados
Zoológico dos horrores
Eu amarrado a medos agudos
Grades negras ao por do sol
O cão na coleira do seu dono
Olhou-me nos olhos

O dono sorria feliz
Cordas da certeza entre as mãos
O amor que não foge por não ter como
Nosso estilo de entender felicidade
Enquanto nossas teias grudam em tudo

A liberdade nos aterroriza no canto
O cão errante atravessando uma rua movimentada
Segurança sem peias
Gostar feito grades cerradas
Olhar sem coleira
Amor sem amor

O cão rosnou pra mim
Escravo rebelado criando inimigos
Agarrando-se ao que restou de si
Ruinas feridas do imaginário
Natureza com dono
Acho que o entendo
Pois dentro de nós também existe
Uma fera carinhosa quase em desespero
A espera que a porta se abra.

 
Luís Fabiano.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Trecho solto...

“ Desliguei o telefone. Pensei em Sara. Ela e eu não éramos casados. Eu estava no meu direito (estar com outras mulheres). Eu era escritor. Eu era um velho sórdido. As relações humanas nunca funcionavam mesmo.

Só as primeiras duas semanas tinham alguns tchans; a partir dai, os parceiros perdiam o interesse. Caiam as máscaras e as verdadeiras pessoas começavam a aflorar: maníacas, imbecis, dementes, vingativas, sádicas, assassinas.

A sociedade moderna tinha criado seres á sua imagem e semelhança, e eles se festejavam mutuamente num duelo com a morte, dentro de uma cloaca.

Eu já tinha notado que a duração máxima de uma historia entre duas pessoas, era de dois anos e meio. O rei Mongut do Sião tinha nove mil esposas e concubinas; o rei Salomão, do Velho Testamento, tinha 700 esposas; Augusto, o Forte da Saxônia, tinha 365 mulheres, uma para cada dia do ano. Segurança em números”.

Bukowski – Mulheres
Pérola do dia:




“ Minha fidelidade é ao que penso e sinto com relação a alguém, quanto ao corpo, este não tem a menor importância”.


Luís Fabiano.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Momento Mestre

Nelson Rodrigues -  A vida como ela é

- A Divina Comédia -





Anjos de Carne

Debruçado sobre cordas finas
Meu pensamento
O molambo
Tenta ascender
Esgueirando-se nas dobras da memória
Lassidão e cansaço misturam-se em saudade que ecoam

Fiquei rememorando filhos emprestados que tive
Seres que conseguiram arrancar o melhor de mim
Um canalha santificado por anjos
Mamadeiras, fraldas e choros da madrugada
Hinos de um Fabiano que desconheço
Quando penso nisso... nem parecia eu

O silencio contemplativo sem vias para a letra
A beleza muda estupenda calada em dobras de carinho
Segurança de uma pipa em meus braços
Olhos que se fecham para sonhar feliz
Minhas asas que batem sem destino
Nos segredos do vento errante

Não sei onde andam... que fazem... e como estão
Melhor assim... como o útil da hora certa
Creio que não seria um bom pai permanente
Emprestado talvez...
Meus egoísmos são lancinantes gritos de apelo
Minhas mãos que acariciam
Também inocula veneno que faz chorar
Talvez a natureza tenha acertado

Creio que a existência é o fragmento
Do universo a espera de seu verso
E enquanto fumo um black e bebo meu rum
Vou agradecendo a Deus ou ao outro
A cálida enseada que se tornou
Aprisco sereno
Dos carinhos que jamais tive.

 
Luís Fabiano.

As mulheres se definem de um modo simples em minha vida: existem boas pernas, belos sorrisos, boa bunda, xoxotas doces, tetas estelares e rabos de mel.

Muito complexo juntar tudo isso em um único corpo só, e ainda por cima colocar uma alma lá dentro... não sejamos tão exigentes.
Tudo se vive aos pedaços, sempre foi assim em minha vida, nunca acreditei que pudesse ser diferente ”.


LF.
Pérola do dia:


" Por trás de todo sexo, violência e escatologia… existe uma compaixão e um lirismo que só os mesquinhos não enxergam."


 Marcelo Mirisola



Navalhadas Curtas: Amores modernos


Sento em bares costumeiramente, como vagabundo.Não tenho propósito algum, geralmente sozinho, fico olhando o movimento das pessoas, ás vezes cai algo na minha rede. Gosto disso, ás vezes bebo algo pra flexionar a visão. Porra, flexionar é tudo na vida. Somos rígidos demais conosco... e culpas pesam no final.

Então ele ficou me olhando. Senti a parada. Não retribuí o olhar, fico na minha desencanado, fiquei procurando uma boa bunda pra olhar... bunda é minha ilha e templo.
Ai ele levantou e veio na minha direção... pediu licença e sentou. Pensei comigo: lá vamos nós...

-Oie... tudo bom?
-Cara, na boa, mas acho que não...
-Nem posso tentar?
-A não ser que você fabrique uma xoxota instantânea, peitos gostosos e etc... comigo não tem jogo brother, mas nada contra.
-Tá só uma coisa: eu adoro negão... se mudar de ideia to ali.
-Vai tranquilo cara, não mudarei de ideia.

O cara foi embora eu me senti bem. Fiquei lembrando das outras vezes que essas coisas aconteceram e nem dei papo, parti para agressividade direto, que merda quanta força.
Com o tempo você aprende que na vida as coisas são questão de jeito, não força.

Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica...


quarta-feira, dezembro 07, 2011

Filetes de Sangue – 7


Existem presenças que são insubstituíveis. Tinha um vizinho muito idoso. Vizinho de conversar no muro. Grande cara, naqueles dias que a vida difícil pra mim, pressões de todos os lados. Ele com seus cabelos grisalhos, abria a porta olhava o céu como querendo ver algo... dava um bom dia sorrindo.

Eu era constantemente mal humorado. Aquele sorriso era uma afronta a minha estupidez, mas ele me ignorava completamente feliz e seguia sorrindo e dando bom dia pleno.

Os dias escorriam rápidos. Porem um dia eu não estava mal humorado e sentei no degrau que sempre sentava pela manha, fiquei esperando o vizinho dar seu bom dia. Ele não apareceu mais, nunca mais.

Naquela noite ele havia partido, creio que para o céu que tanto gostava de olhar. Senti-me roubado, como uma oportunidade simples que escapa... Ficaram tantos porquês, lembro que esperei por ele muito naquele dia, e aquele silêncio foi muito um caminho longo.



Luís Fabiano.


Putas também gozam

Ela olhava como Virgem Maria da parede
A boca sardônica da inquieta ambição
Vasos que se perdem nas quedas
Eu me tornando nada
Flores do sentimento devassado cotidianamente
Entre os reais do agora, em um mar de porra eterna

Gostei quando vi seus olhos de falsa inocência
Não me importo de ser enganado
Gostei quando arqueava o corpo sobre meu pau
Tentando disparar a flecha rapidamente
Mas canalhas não gozam rápido
Enfiei bem a coisa nela

Fui martelando pra dentro
Como um picador de gelo lento
Tentando ferir-lhe a alma
Não fiz de propósito
Sou uma ave com a sede das nuvens
Mesmo no pior procuro a transcendência
Almejando carinhos do éter
E gozadas do demônio

Ela gemia baixinho...
Perdendo as forças...
Querendo e não querendo
A expressão de uma mulher tendo prazer é impagável
Estava curtindo aquilo
Esquecendo os cinquenta reais

Por fim ela aperta meu pau como um torno hidráulico
E solta um grito fantástico
Relaxamos como mães que recém pariram
Ficamos olhando para o teto sujo do quarto
Esperando a descida de Deus
Sorri pra ela e disse: você gozou...
Sim - disse ela - mas não há desconto.
Humanidade não tem preço.


Luís Fabiano.

Trecho solto...

“ Uma dor inumana imponderável, que se alojou na cabeça, pulsando forte como um tambor. Ao entardecer, voltando para casa, longo caminho a minha frente, chorei de novo, arrependido por não haver falado o que deveria. Fato da natureza :se você não fala, o não falado apodrece dentro de você, saindo depois pelas fezes. O arrependimento é inútil. Talvez você sinta vontade de cair de cara no vaso, tentando resgatar o não verbalizado. Besteira.

Aguarde a oportunidade para falar, cantar sua ária redentora, seu texto libertário.Xingue, seja xingado, mas não deixe nada boiando no lodo da indiferença. Peça perdão, perdoe... Seja pecador ou santo, jamais uma ameba.”


Extraído do Livro: VAMPIROS – Manoel Magalhães.

Navalhadas Curtas: Vicio de vicio


Não tenho nada contra usuários de drogas, álcool, cigarros e outras coisas. Tudo bem, cada um faz o que quer da porra do corpo. Mas viciados são foda.

Estava em uma festinha normal. Esse pessoal intelectualóides, falando da “new” esquerda ultrademocrática, papo insuportável, que ficam repedindo como uma punheta sem gozada. Tive vontade de mijar sobre eles...ainda não fiz, mas farei.

Então uma lá puxa um baseado, e oferece educadamente a todos. O problema não era o baseado, mas a total falta de tesão ao sugar aquela merda. Ela acendeu e fumou sequer sem prestar atenção no que fazia, sem romance, sem tesão, sem viagem. Isso eu acho o pior que tudo.

A pessoa acende seu cigarro, seu baseado, serve seu drink... e faz tudo tão automático, não curte a coisa... faz uso como se tivesse cagando, ela não esta presente no que esta fazendo, cumpre apenas um papel viciado inodoro e sem esperanças.

Entendo que a vida deva ser curtida ate o talo, como a mesma esperança e ânsia da primeira tragada, da primeira trepada a primeira ejaculação, fazendo a porra voar dez metros... isso.

Se é pra viver como se não tivesse vivendo... no automático, então é melhor esta morto... nada pior que a ausência que escorre nas sombras sem luz, nos portais rechaçados do inconsciente, a aceitação passiva de uma vida sem vida... o casamento cansado, a velhice sem desejos a morte sem feto.


Luís Fabiano.
Momento Boa Música

Zona de Promesas -  Mercedes Sosa e Gustavo Cerati

Legendagem e edição - Luís Fabiano


terça-feira, dezembro 06, 2011


Conto Maldito de Natal


Parte 1

Conheci Zéfiro, quando a vida já tinha feito um estrago imenso em si. E em mim também, se penso no passado algo se convulsiona em minha intimidade. Como viver sem lanhar-se? Sem lanhar? Gostaria que fosse possível, gostaria que houvesse tempo suficiente para aprendermos a viver pacificamente uns com os outros...

Zéfiro é um guri como dizemos aqui no sul. Um andarilho das ruas de Pelotas, que tenta sobreviver a tudo, a sua solidão, ao lixo e aos dias ruins. Nossa relação começou, porque sempre o via na volta do latão de lixo próximo a minha casa.

Em primeiro momento ele não era ninguém diante dos meus olhos, uma sombra que respirava. Mas dia após dia quando eu ia levar o lixo, lá estava ele. Olhos são coisas fantásticas.

Quando o vi realmente, foram os olhos brilhantes, não de esperanças, não de alegria, mas um brilho de uma estrela que vai se apagando. Fomos conversando coisas desimportantes. Sempre fazemos isso quando começamos a falar com alguém... algumas dessas conversas nos conduzem a nada outras...

Então dia após dia, ele passou a me contar um pouco da sua trajetória de doze anos de vida. Puta merda doze anos, e ele tinha vivido mais coisas que muitas pessoas do alto confortável de suas vidas nem sonhavam. Tinha visto o horror de perto...

Ele me foi contando tudo em partes. Como nossas vidas, o que foi dizendo não constitui nenhuma novidade, por que vemos essa merda todos os dias na teve... e trocamos de canal. Zéfiro não tem como mudar o canal... não tem.

A mãe era maluca, bêbada, drogada viciada. Crack não é novidade de agora. Apenas a mídia da um pouco de atenção porque as “pessoas melhores” estão sentindo o reverberar da calamidade.
Mas não tanto... afinal é natal agora... a porra do papai Noel precisa de espaço... precisamos comprar coisas... e ser feliz não é? Ainda que a porra da vida esteja caindo por cima de nossas vidas...

Desculpem não quero parecer amargo, mas a historia dele me mexeu. Então Zéfiro foi criado em meio o caos, o pai não existia, pois a mãe trepava com qualquer um. Uma vadia viciada, que tentava gozar possivelmente, algum momento de vida. Agarramos-nos ao que podemos. Isso soa estranho... mas todos estamos querendo um bom momento na vida, uns preferem as pinturas de Da Vinci outros uma trepada com um estranho, que lhe dê uma grana e talvez consiga gozar se o cara for bom... raramente, só descarregam a porra com um cachorro do inferno e se vão.

Mas dona Zuleica tentava do jeito dela, não julgo. Ele me disse que ouvia aos cinco ou quatro anos os gemidos dela, as risadas dela na escuridão... aqueles homens batendo, urrando, e se ele falasse algo ...se dissesse algo, vinham os tapas.

Fui notando que ele falava pouco... mantem muito silencio. Era isso, ele esta sempre esperando o tapa quando fala algo a mais... um tapa que machuca. Ele não ri das minhas piadas idiotas, mas aqueles olhos falam.

Ele morava num barraco no Getúlio Vargas. Alias um mundo a parte. As suas memorias de lá são terríveis. Lembrei-me da minha infância. Não tenho memorias ruins, vivi em paz, uma criança com brinquedos, não passei fome, tive muitos amigos, mas fui cruel as vezes com alguns, mereceram. Meu senso de justiça sempre foi muito pessoal, nada passional.

O Zéfiro é muito baixo e magro, pés descalços e sujos, um cabelo escuro e grudado. E aquele rosto sem um sorriso. Doze anos... sem risos. Fala com voz firme e olhando pra baixo.

Perguntei a ele em que ele acreditava:

-Nada... e nem em ninguém.
-É sei como é... faço isso também...
-Mas tu deveria acreditar...
-Por quê?
-Tu tens tudo... se precisar tu vai pra cima deles...
-Não é assim... não gosto de brigas... faço o possível para desviar de gente que me provoque, é mais fácil... e seguro pra todos.
-É se tu diz...

Nossas conversas foram se tornando mais intimas. Uma conversa rápida de cinco ou sete minutos, onde compartilhávamos nossos momentos. Gostei dele, sou antipático por natureza, prefiro assim, não são todas as pessoas que me interessam só as que têm algo a dizer.

Segue.

Luis Fabiano


segunda-feira, dezembro 05, 2011


Navalhadas Curtas: Terapia dos incuráveis...


Sentados a mesa de um boteco vagabundo, eu falava com Sérgio... amigo e psicólogo... ( não meu psicólogo, meu terapeuta vem de Havana e engarrafado...)
Ele trata seus pacientes bem, é uma boa pessoa, mas como qualquer humano de qualidade, tem vícios... acho que isso o torna melhor...

-Não te entendo Fabiano... é difícil ter uma única mulher, mas ter cinco... as vezes seis...sete é quase suicídio inconsciente...
-Nada... é tranquilo, elimine as piores e se de as boas... e as coisas funcionam... com sinceridade doa a que doer... é tudo...
- Sei... e as fodas?
-Não é preciso fuder sempre.... seja tranquilo, nem sempre o sexo acontece, mas carinho é fundamental, olhares ternos é bom, conversar é bom... o sexo é só uma consequência...
-Tá... mas quantas tu comes por dia?
-Calma ai... não é assim, ta achando que meu pau é agenda? As duas ou três em um dia... tudo vai do tempo...
-Como tu consegue?
-É... mas tem segredo, é preciso gostar delas... gostar é o afrodisíaco, gostar da alma, dos olhos a xoxota vem depois...
-Cara não sirvo pra isso... tenho a esposa e uma amante eventual e chega...
-OK

Eu comecei a rir... e você mente pra elas? - Perguntei.

-Claro... ao menos para uma delas...
-Que merda hein... esposa sempre se fode... acho que você precisa se tratar...

Luís Fabiano.
Filetes de Sangue – 6


Então ela me olhou nos olhos... olhar cheio de medo, agonia e dor... o inescapável momento onde se suporta a dor ou cria-se mais dor.

Ela tinha perdido tudo... o emprego e depois um certo amor, e agora estávamos ali. Não queria ter ajudado a empurra-la mais para o abismo, mas como o prever o fim?
Merda de amor que sempre termina?

Ela tinha uma gilete nas mãos, e um dos braços já sangrava, como depositar esperanças em um deserto? Decidi me tornar cumplice... uma vez que não consegui dar o que precisou para viver... então eu abraçaria na morte, e ambos esperaríamos o último suspiro unidos pela separação.


Luís Fabiano.

sábado, dezembro 03, 2011

Pérola do dia:


“ Não acho que as pessoas devam se converter ao bem para ficar “ igual ” a todos, eu prefiro um vingador passional com alma miserável, que a emulação da bondade.”

Luís Fabiano.

sexta-feira, dezembro 02, 2011


Navalhadas Curtas: Vizinha Patusca


Dizem que o elevador é meio mais seguro de viajar, Ok. O problema é quem esta dentro. Tenho uma vizinha ( não direi o andar para evitar problemas),que ela tem o prazer de bisbilhotar a vida alheia.
Gosta de fazer perguntas que não lhe dizem respeito. Isso normalmente não me irrita, mas existem dias e dias... ela faz isso com todos os moradores...

Entro no elevador e lá esta ela:

-Boa noite... o senhor tá chegando?
-É to...
-De onde o senhor vem ?

Ai a coisa atravessou...

-Venho de um puteiro... inclusive eu estou um pouco excitado ainda(tocando nos genitais)...como a senhora pode notar...

Ela para de me olhar na hora... e fica um silencio confortável no elevador. Aquilo é a musica que gosto.
Fiquei pensando: porra a ditadura não é tão má assim... quando você esta do lado de cá da cerca...a paz era um pouco estranha, mas não se pode ter tudo.

Luís Fabiano.
Áudio Poema

- Capando a alma-

Poema e voz - Luís Fabiano.



Pérola do dia :


“ Quanto mais rios você atravessa, mas você aprende sobre eles – quer dizer, se você consegue sobreviver agua translúcida e as rochas ocultas. De vez em quando, era um osso duro de roer, a vida.”

Bukowski.