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domingo, dezembro 18, 2011

Filetes de sangue – 9


Ela anunciou sua doença com o olhar típico da derrota. Sou de um temperamento frio o suficiente para não perder a razão. Trocamos um olhar longo, entremeado de lagrimas, como se soubéssemos da inutilidade de lutar... estaríamos mortos em vida? Não havia escolha?

Então a abracei-a mais forte que pude... quero transporta-la para dentro de mim... aperta-la contra meu coração... arrancar a chaga que a levaria eu querendo ou não. Ela quis me dizer quanto tempo... mas neguei... o que temos é eterno, pouco importa que os dias escorram em uma ampulheta macabra... criminosa... ladra.

Não me importa o tempo... não me importava nada... eu ficaria ali... uma estatua de emoção... congelado vivo num indevassável sentimento... chorei um pouco mais.

Luís Fabiano.

sábado, dezembro 17, 2011



Os Culhões dela

Ela balança as tetas sobre mim
Como se fosse as bolas de um dinossauro
Meu saco a virtude enrugada
A porra de um mundo sem crepúsculo

Disputamos quem balança mais as coisas
Suas tetas jorrando leite daqueles bicos
O canalha infantil bêbado bebendo daquela merda
Ela se sentindo mais macho que eu por isso
Não me importei
O prazer é o feto mudando dentro do útero...
Formas animais... um dia humano talvez

Uma cadela fudendo o cão nas ruas sem dó
Esse é nosso jogo de xadrez molhado
Uma luta infindável a putaria abençoada
Enquanto o resto todo se termina
Esgotam-se a esmo a carência sem brilho
Debaixo do mesmo sol de sempre

Ela gosta de ser a puta encantada
Metamorfoseada pelo impulso mais brutal
Misturando o incontidos segredos
Infâmia caridosa de uma xoxota alucinante
Minha droga... vicio e devoção
Ousadia do visgo diamantino
Leite, porra e outros fluidos
Carinhos por todos os lábios
Sem promessas ou ilhas de abandono amanha
Amanha agora

Luís Fabiano

Natal do Fio...ho,ho,ho


quinta-feira, dezembro 15, 2011

Navalhadas Curtas: Filho da puta... da vez...



Não nego a minha cretinice eventual, nem tão pouco, uma certa crueldade espontânea de minha natureza, enfiada em meus recantos mais sombrios... tudo bem, me sinto em paz.

Na calçada faltando pedaços, um casal e três crianças sujas... eles aparentando serem moradores de rua... discutem porque um ficou com a pedra maior que o outro... no carrinho desmontado, faltando rodas... duas crianças choram... a suposta mãe berra:

-Eu te falei pra comprar leite... olha isso agora... olha isso agora... culpa tua...tuaaaa...
-Fica na tua vagabunda... a criança vai esperar... é assim... tens pão ai??

Ela pega um pedaço de pão velho da bolsa... pão moído... abatido, o filho da puta não dá a criança... come o pão inteiro... e o caos esta feito...

Eu odiei sem dizer uma palavra... silencio corrosivo em mim, ácido transbordando... a criança chora... fome... desespero... drogas... miséria...

Uma calçada destruída... pedaços que me faltam sobre ela... que faltam a nós... não pude pensar em Deus... Mas lembrei do diabo.
Não nego... eu sou um outro tipo de filho da puta.

Luís Fabiano.

POLIAMOR...

POLIAMOR...



Sonhos Raiz de Vapor

Acordar uma vez mais
Olhos que se abrem como elos de uma corrente
Arrancando o indevassável luminoso
Trazendo-me de arrasto ao mundo dos gemidos
O sonho pesadelo feito carne
Asas arrancadas e pés de chumbo

O denso tomado das nuvens
Na fluência de uma guilhotina
Tentando agarrarem-se as ultimas esperanças lubrificadas
Como a vida comum das flores de plástico
Esse despertar na cegueira que vê
O verme sebento vendo a borboleta voar

Minha ereção desafiava deus
O dedo sem unha do universo
Dardos de uma culpa sem dono
Minha vida ao cais sem redenção
Trabalho, brigas, morte e amor...
O esperado com preço alto

O insano ereto sonhador quer fugir
O real falso de pedra sorri
Raízes penduradas num céu limpo
Bebendo desta terra em sono
Para não acordar mais assim
Sonhos feitos e desfeitos do meu querer
Correntes que se fecham uma outra vez.

Luís Fabiano.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Momento Boa Música

Renato Teixeira -  Olhos Profundos

Navalhadas Curtas: O Dom das Carícias


Tenho me sentado, em meus intervalos rotineiros a tarde, em um bar chamado Dom da Palavra... lugar calmo, aprazível, mas longe de ser o meu estilo hostil. Ali nada de relevante acontece pra mim... nem violência, nem bêbados, garrafas voando. La sinto-me quase pateticamente civilizado.

Um intervalo limpo, sem álcool ou charutos. Mas ontem algo ocorreu... pensei: me sinto vivo. Estava sentado, e duas mulheres deram entrada... leves, belas, pernas expostas... sentaram-se e ficaram se acarinhando distraidamente, beijos e mãos serpenteantes. Foi lindo.

Minha cabeça viciosa, decifrando orgias invisíveis através delas... saboreavam-se como se quisessem pegar a alma uma da outra. Eu o voyeur maldito, o grotesco palpitante a espera do milagre.

Nada poderia ser melhor... a tarde abençoada do nada, anjos caridosos num céu nublado que chovia xoxotas... graças a Deus.


Luís Fabiano.
Filetes de Sangue - 8


A tempestade  se aproximava veloz lá fora... dentro de mim ela já estava consumada. Palavras duras, articuladas com ferocidade, distante da razão, sentimentos feridos, ardidos quase vingativos. Ela mentira... mentira sobre tudo...os sentimentos. Promessas desfeitas, descosturadas... nada de união eterna.

A chuva começa a cair... não consigo odiá-la... não consigo deixar de gostar dela... ela me fere, mas esta tramada em meu coração, talvez para sempre... minhas lágrimas misturam-se a chuva... a dor de um céu inteiro dentro e fora de mim.


Luís Fabiano.
É natal Porra...



terça-feira, dezembro 13, 2011



Escorre em mim por si

Gosto da maneira que ela chega a mim
Direções imprecisas
Olhar algo feroz... indócil, doce...
Segregando desejos ocultos
De devorar-me lentamente
Fleuma incandescente
Androgenia das esperanças incontidas

Fazendo sumos destilados do gozo
Afluírem como o visgo das lesmas
A xoxota “ereta” deslizando por meu corpo
Rosa orvalhada de meu amanhecer
Gozando, mijando... suando...
Resfolegando em mim sua fome sem limites

Os pelos compridos pubianos
Elétrons faiscantes e magnéticos
Tramas de minha aranha puta
Vulva úmida, derretendo esferas do certo ou errado
Ela a mulher, a machorra, a mutante incorporada
Medindo opostos comigo
Dilatando quereres errantes

Jogo voraz impregnado pelos vapores da porra celeste
Ela em mim... eu nela
Contrapartes dos elos de éter
Esfregando carnes picantes
Enquanto cheiros se misturam
Volúpias afiadas brilham numa noite sem fim
Inicios se perdem em fins
E não sabemos onde é ela e onde sou eu
Fodidos no deleite.

Luís Fabiano.

Momento Mestre

Paulo Cesar Peréio – (bêbado...)

Sendo entrevistado pela Funéria da Mtv, programa Infortúnio




Casal de três


Terríveis são algumas verdades, a força reveladora de nossas impressões mais impossíveis. Não foram poucas vezes que me deparei com isso. O total desconhecimento de mim mesmo, o abismo orbital, de uma probabilidade algo inacreditável, que a vida terminou por me conduzir.

Eu feliz diabo, festejando o caos, rindo considerando o absurdo normal. Talvez o pior de meus defeitos, olhar com perfeita naturalidade o bizarro, achar fantástica a corrupção, vislumbrar no espelho da alma, devaneios e paixões. Diabo feliz... inferno saboroso, as marcas de um chão arenoso.

Longe de mim ser vitima. Sou apenas estupido mesmo, o ignorante que se lança no abismo ainda que se choque com asteroides, meteoros e cometas que me destruam uma vez mais... não foram poucas...

Quando comecei a namorar Manuela, parecia uma coisa normal. A exceção que o seu ex-marido era uma espécie de grude. Eles tinham uma boa relação, eu nunca senti ciúmes em minha vida, coisa alia que me causou muitos problemas com as últimas setenta e três mulheres... uma falha em meu sistema emocional, algo impreciso que a mim não causa problemas... mas as mulheres... eternamente inseguras, querem uma prova inolvidável das emoções profundas... o brutal nelas também fala, querem dinossauros mortos, querem o oponente no chão, querem uma certeza feita ferro, concreto... nunca pude oferecer isso.

Mas Manuela não esquentava com isso, ainda bem.
Nosso namoro passou a ser frequentado quase sempre pelo ex-marido. Explico: ele vinha visitar a filha, ás vezes saia, ás vezes não... então ficávamos todos na sala, rindo, brincando com a criança.

Manuela era uma mulher bonita, altura mediana, longos cabelos negros, seios protuberantes, tinha todos os dentes e sua boa era a sombra do pecado peniano... lábios de mel capaz de fazerem santos ejacularem nas estrelas.

Tudo ia muito normal, tínhamos uma boa relação, a historia do ex-marido não me importunava. Fui notando que a distancia entre eles começava a estreitar-se, olhavam-se nos olhos, sorriam com cumplicidade. No final das contas, o cara era bacana, não era uma má pessoa. Eles haviam se separado pelo ciúme dele, mas agora ao menos diante de mim, parecia um ser normal.

Temo gente normal... esses são capazes de fazer qualquer coisa improvável. Animais que improvisam, o cometa que perde o rumo e nos acerta na mais improvável possibilidade. Prefiro os viciosos, os violentos, rancorosos... esses sabemos o que são capazes.

Essa normalidade mórbida, de minha parte passaria para o próximo estágio. Então Manuela, em uma noite de álcool, propõe a mim o que parecia absurdo.
Meu sentimento por Manuela, não sei bem definir, em algum momento pensei ser amor... talvez fosse, tal fronteira difusa também sempre foi dos meus piores defeitos. Como saber o que é oque ?

-Fabiano... tenho pensado em algo ultimamente... mas sinceramente não sei o que tu vais achar...
-É, eu nunca sei o que vou achar de nada... o agrado é uma chama vacilante...
-Estes dias eu estava falando com Pedro... sabe... eu gosto dele... sabes... eu gosto de ti também... e...
-Sei...gostar é uma coisa boa...
-Pois é... e ai eu falei pra ele isso... que gosto de ti... mas que gostava dele também...
-Bacana...

Tomei mais um gole do rum sem gelo....

-Pois é... eu queria ficar com os dois...sabe... gosto de vocês... muito...
-Entendo... entendo...
-Que tu achas?
-Olha por mim tudo bem... apenas vamos disciplinar a coisa ok? Não quero transar com ele presente... de preferencia...
-Claro, claro Fabiano... já pensei nisso... ele ficará no quarto de hospedes...e tu no meu quarto...ok...
-Certo... nada de misturar estações... eu não sou tão moderno assim ok...?
-Sim tudo bem.

O que sucedeu foi uma das situações mais estranhas que vivi na minha vida. Parecíamos três irmãos que trepavam felizes... os três porquinhos em suas casas de devassidão. Realmente isso não causou problemas graves. Ela dormia dia sim e dia não comigo, eu podia ouvir os gemidos dela trepando com o ex-marido no quarto de hóspedes, e pareciam felizes.

Meus familiares acharam a coisa mais absurda do mundo. Lembro que teve um dia que saímos os três juntos, de mãos dadas... ela no meio e a direita eu... e a esquerda Pedro. A criança creio eu, que não devia entender nada.

Aquilo se arrastou por meses, todos parecíamos felizes. Mas era visível que Manuela tinha uma afeição maior pelo marido, eles tinham um filho juntos... um vinculo a mais. A beleza que divagava em uma liberdade anunciada, também o reconhecimento que as coisas mudam... achei que era de mudar.

Manuela começou a dormir mais com o marido, as regras que se adulteravam, era a nota musical do fim... eu me sentia tranquilo, alias tento manter relacionamentos tranquilos, algo que possa me dar paz... uma paz carinhosa, eflúvio das vibrações celestes deitando-se em nossa carne, conduzindo ao porto seguro, ainda que a tempestade esteja a nossa volta.

Numa tarde de novembro chamei Manuela para uma conversa:

-Manu... eu preciso dizer alguma coisa?
-Que foi Fabiano?
-Você sabe... todos mudamos não?

O olhar dela turvou-se com uma lagrima.

-Sim...todos... tu vais embora?
-Creio que sim Manu... vocês tem uma boa vida aqui... vejo isso...e acho legal...acho que devem cultivar isso mais possível...
-Mas se tu fores embora... e o Pedro mudar?
-Manu, não posso ser um prego na parede para segurar a relação... acho que você estão bem grandinhos... afinal todos temos mais de trinta...

Ela riu e a lagrima caiu.

Que coisa mais estranha os sentimentos... o improvável pode nos causar uma dor, e a trama que nos vincula ao outro é feita de cuspe divino... algo pastoso e lindo. Talvez fossemos a divina trindade...
Queria terminar aquilo sem drama. Detesto drama. Lágrimas intermináveis, objetos atirados, facas voando... cuecas molhada no para-brisa. Não.

E assim foi, Manuela ficou chorando em silencio... um choro suave, uma liberdade dolorosa capaz de nos mover e fazer sentir. Juntei minhas coisas e nunca mais voltei lá.

Ela me escreve as vezes e-mail, e sei que estão felizes... porra, no final não é isso que importa?


Luís Fabiano.

segunda-feira, dezembro 12, 2011



Eles falam em mim

Não sei quem são eles
Quando os vejo falar comigo
Minha parte pior ou melhor
Alguns com mais alma
Etéreos humanos do nada
Vapores comoventes do meu coração

Talvez seja assim
O verbo errante
Pureza destilada
Morre-se um pouco para dar vida
O sacrifício incontido pelo amor
A dor sem dor
Eles me olham nos olhos

Sou o pai maldito e obsceno
Arrancando os filhos de minhas entranhas
Merda e sangue
Meu devaneio feito vida
Minha vida feito sonho
Sonho a flor erguida
Minhas sementes entregues a si

Enquanto o não eu é um fantasma
O verme do encantado e translucido
Fundindo aos anseios do anjo
Na vulgar beberagem de sorver a vida
A emulação plasmando o espírito.

Luís Fabiano.



Ps – acordei bêbado entre sonhos difusos, sei lá que merda era aquela... mas aqueles caras não eram boa gente.

Navalhadas Curtas: A ruiva Complacente


Muito tempo se passou. Mas eu lembro de uma piscina que estive a convite de amigos. A proprietária, uma linda mulher, demonstrou-se muito preocupada. Estava na época com uma namorada... não tão bela quanto a dona da casa, a comparação foi fatal.

Então Estela dispara usando um biquíni muito cavado:

-Estejam a vontade... peço a vocês desculpas, eu não me depilei... vocês não se importam com pelos, não é?

Aquela era uma boa oportunidade para dizer a verdade, mas creio que a verdade em certos momentos pode ser constrangedora, respondemos com uma educação estudada:

-Que nada... Estela... a vontade...
-Há... que bom... estejam a vontade também.

Mas agora eu já estava definitivamente capturado, meus olhos não se desviavam do púbis de Estela... aquilo foi fantástico... esqueci da namorada... da piscina... do sol, tudo. Os pelos delicados de Estela, saiam pelo lado do biquíni, enchendo de esperança aquela tarde causticante.

A apoteose, foi a excelente punheta que bati no banheiro dela, romanticamente em sua homenagem, por mim os pelos ruivos de Estela jamais deviam sair dali.


Luís Fabiano.
Poesia Fotográfica








Pau da Esperança - Tetas da Consolação

Havíamos perdido quase tudo
Restos carcomidos num amanha ausente
O tempo macabro, revelando escamas afiadas
Num aquário asfixiante
Era ótimo...
Tínhamos nosso inferno pessoal

A cada amanhecer revelando sombras
Sou um tipo de estomago forte
Um fantasma arrastado correntes
Com algum sorriso na cara
Pensava: como nos tornamos isso?
Como chegamos aqui?
Cagavamos e comíamos a merda novamente
Para poder cagar...

Acho que éramos covardes
Num jogo de culpas fiel
Aprisionando fracassos, lustrando
As galerias passadas do que um dia sonhamos
Nem respeito ou gentilezas ficaram
Ratos saboreando restos no escuro

Então vinha a noite
Bebíamos... ela tomava bolinha
Afogava-me em rum numa esperança mortal
E quando não éramos mais nem ela e eu
Trepavamos como noivos alucinados do inferno
Sugava suas tetas na esperança de arrancar-lhe a alma pelos bicos
Ela bebia até a última gota de porra e lambia as minhas bolas
Batíamo-nos no rosto, num espancamento de um amor morto

Então silencio dos exaustos
Quando a sobriedade contaminava
As ilusões uma neblina ao amanhecer
Dissipando as orações
Sobrevinha a guerra outra vez
Talvez aguardássemos a próxima insanidade
Uma montanha russa brincando com nossas essências
Enquanto nos perdíamos um pouco mais.

 
Luís Fabiano.

domingo, dezembro 11, 2011

Clipe - O Salto
O Rappa


Conto Maldito de Natal-Parte 2



Conto Maldito de Natal


Parte 2

Então como ave fatal do desterro, a proximidade entre eu e Zéfiro, trouxe as laminas da verdade, uma verdade horrível. Não que me sentisse surpreso, uma coisa é verdade, tudo muda dentro de nossas concepções, quando o cheiro terrível da merda infernal chega ao nosso nariz. Não há mais distancias seguras para nós, somos viajores da mesma embarcação que nos conduz ao fim.

Desço para colocar o lixo, Zéfiro encostado no lixão... meio que misturado a ele. Olho o seu rosto e entendi na hora. A primeira pedra na sua vida. Uma pedra que talvez fosse o alicerce para sua própria prisão.

Ele me olhou e sorriu chapado:

-E aí tio... to curtindo... há ,há... to curtindo é muito loco...

Fiquei incomodado:

-Que tu fizeste Zéfiro...?
-Pedra tio... pedra boa...que uma?
-Não amigo... eu passo... tu sabes o que isso faz dentro de ti?
-Faz eu me sentir bem... faz eu não sentir fome... faz eu pensar em coisa legais...
-Não... Zéfiro... tu vai precisar desta merda pro resto da vida...
-Que vida tio? Eu não sou nada... tu ainda não viu...
-Não precisa ser assim...

Eu era um animal atado a um moedor de carne, que lentamente ia me tragando para dentro de tuas entranhas, me engoliria vivo, transformaria meu viver em massa disforme de dor e sangue.

Uma clausura imposta pela impossibilidade de alçar o voo. Realmente não sabia o que fazer... não queria dar um foda-se e voltar para o quinto andar indiferente.

Minhas palavras eram vapor tentando deter um trem sem controle. Senti um gosto amargo:

-Tio o senhor vai me ajudar?
-Não sei como Zéfiro... embora tu não saibas... quando fazemos certas escolhas em nossa vida... essa decisão ou te libertará... ou se transformará em uma cadeia... no teu caso... crack... vai ser a tua cadeia...cara... para com isso.

Ele me olha e cospe no chão algo sanguinolento. Se ergue e fica me olhado... um olhar indecifrável. Queria ouvir mais da sua historia. Não pensava em escrever, mas existem tão poucas pessoas que tem algo a dizer... algo que valha a pena. Não me interessa dores ignóbeis de uma futilidade ferida, gente que desconhece a vida, gente que desconhece o cheiro real vida que não é filtrado pelos perfumes caros.

Zéfiro me aperta a mão, e vai cambaleando pelas ruas de Pelotas. Lembrei do clipe do Rappa, a música o Salto... onde um pai anda com seu filho por todos os lados, não consegue emprego, não tem dinheiro para pagar a hospedaria... bebe um pouco de cachaça, anda para todos os lados onde as portas se fecham como olhos cegos de Deus... então sobe em um prédio alto com a criança nos braços...e...pula...e a cidade tremeu...como uma bomba atômica.

Ali estava diante de mim uma verdade que começa seu caminho para a perda, o descontrole sendo gestado nas entranhas de Pelotas. Não penso que o estado deva ser responsabilizado. A grande transformação social que se dará...não virá via estado. Mas homens e mulheres comuns... começarem a importarem-se uns com os outros como seres humanos... um humano que esta para além das leis que regulamentam o estado.

Minha mente utópica pensa tais coisas, a consciência coletiva parida da conscientização individual.
Por um momento a situação de Zéfiro me incomodou muito, mexeu como meus raros sentimentos, eu desejei arranca-lo das ruas , arrancar sua dor, tentar dar-lhe um futuro, uma chance de ser diferente...minha utoia errante...
Joguei o lixo no latão, e minhas lagrimas se misturaram ao odor fétido que todos produzimos.

Luís Fabiano.

Segue...



" A emoção é uma cilada que assalta o coração".


Luís Fabiano