Pesquisar este blog

quinta-feira, outubro 21, 2010

Fome


Acordei faminto
Sentindo-me abundante miserável
Minha verdade, cicatrizes
Entoando cantos
Nem pão, café ou coisas assim
Uma fome sem satisfação
Aprisco sem destino
Fome
Nem mãos afáveis, carinhos sem fim
Ou um coração apaixonado
Sexo suave e molhado
Tudo parecia tão opaco
Sem gosto
Desejei sentir um choque
Uma garra aguda e caridosa
Que dilacerasse meu coração
Fome
Deseja beber um gole de beleza
Sorver lentamente
Que fosse por um segundo sequer
Um olhar com significados
Uma folha levada pelo vento
Uma pequena joaninha caminhando sobre as folhas
Gotas de orvalho
Por um segundo bastaria
Mas nada disso
Cavei meu coração
E tudo que encontrei
Foram rochas
Areia
Fiquei com fome.

Luis Fabiano.



quarta-feira, outubro 20, 2010

Navalhadas Curtas.

“Era um verdadeiro momento mágico. Ela parada a porta com as mãos na cintura, uma cara feroz, misto de raiva, indignação e outras coisas. A porta aberta, tudo que via era a sombra dela projetada pelo por do sol. Gosto de por do sol.
Ela brigava comigo, pelo meu silencio, minha omissão, minha ausência e de coisas que não fiz. Mas o motivo original eu nem sei mais. O que realmente achava uma merda, naquele instante, era ela estar entre o por do sol e eu.
É nestes momentos, que xoxotas desaparecem, os desejos se calam, e deseja-se uma gota de paz, nem que seja para apreciar um por do sol.”

Luis Fabiano.

terça-feira, outubro 19, 2010


Cantora

Ela cantava em meio a turba
Saciavam-se
Comiam, bebiam e cuspiam
Gruíam asneiras entre si
A voz solitária erguia-se
Fio de carinho a
indiferença
Eles batiam palmas
robóticas
Riam indiferentes
Odiei aquele publico
Eu olhava a distancia
Mais próximo que a pele
E a alma
Encostado a um balcão
Arrimo dos bebedores
Muro das confissões
Aparadouro das lagrimas
Por momentos fechava os olhos
Deixa-me respirar
a musica
A voz se ergue novamente
Procurando estrelas
Rasgando infinitos
Mergulhando em mim
Tão solitária
Abandonada
A flor perfumando o vazio
A estrela
em uma noite de cegos

Luis Fabiano.

Pérola do dia:
Gosto de uma literatura que segure as tripas do ser humano por dentro. Que as sacuda com força, a ponto de abalar a alma, que seja desagradável e me acaricie ao mesmo tempo.”

Luis Fabiano.
Amor e Hemorroidas


O ser humano infelizmente tem suas necessidades. Algumas relevantes, outras nem tanto. Prefiro estas. Algo vinha martelando minha cabeça ultimamente. E se não fosse pelos problemas coadjuvantes, possivelmente perderia o sono.
O problema era o cú. Vinha saindo com diversas mulheres, e quando chegava aquele momento mágico da transa. Eu Dava aquela forçadinha de leve e clássica, dedos melados e etc, elas diziam: não por aí não...
-Ei baby, relaxe deixe pra mim, não vou te machucar é gostoso no final...
-Não, por favor ai não...
Então ficávamos naquele jogo de criança. Mas eu sabia que não comeria aquele rabo. Uma negativa pode acontecer, afinal nem tudo é tão bom na vida. Precisamos de coisas contrárias para crescer. Raramente as coisas são boas na vida. Raros finais cheios de felicidade, raras conquistas profícuas e que durem mais que algumas horas.
Filosoficamente relaxava. E mudava a minha posição. De volta a velha e boa xoxota. Tenho pra mim que é preciso explorar horizontes de prazer. Raras parceiras que tive, tinham coragem pra tanto. Embora todos falem do tédio, temos uma apreciação por tédio. Procuramos o tédio em tudo. Tive mulheres, que estabeleciam informalmente até mesmo dia pra transar.
Não sei porque gostavam da quarta-feira a noite. Que acontece na quarta feira ?Ou então sábado a noite? Que merda é essa? Não tem explicação. As mesmas malditas posições, a porra do papai e mamãe, e nada de inovação. Acho até que algumas me amaram, mas tinham em si a vontade de matar-me entediado. Tentavam domesticar um tigre. Nunca tente isso.Nunca se tem certeza que um tigre esta domesticado. É certeza que você irá machucar-se, como cem por cento das pessoas que envolveram-se comigo.
Cem por cento. Taí uma coisa rara, algo par ter orgulho. Um orgulho feito de ruinas, de destruição, de um barco que foi apodrecendo com o tempo, encalhado na areia.
Então em uma noite troquei de parceira. É preciso variar alguma coisa. Uma única pessoa não consegue suprir minhas ambições. Sempre deixo isso claro. Vou a muitos bares, tento não ficar conhecido por frequenta-los. Vou trocando, dando-me a chance de conhecer outros. Uns bons, outros espeluncas. Ia a procura do que realmente me interessa, o lixo humano. Onde os heróis de guerras solitárias se encontram. E lá estava ela.
Já nos conhecíamos, intimamente. Quando alguém vomita junto com você, é impossível não tornar-se intimo. Chamava-se Marylin. Era uma morena que descoloria os cabelos, muito magra e vivia para consumir-se. Alcool, drogas e solidão crônica. Não posso negar, era um belo espécime. Fazia parte do cortejo de perdedores como eu.
Cheguei próximo a ela e disse:
-Ei Marylin, tudo bom ?
-Tudo bom Fabiano, vamos tomar uma gelada?
-Tá com sede ?
-Tô seca por uma cerveja, mas preciso de companhia
-Quem não precisa? Ainda que seja um peixe no aquário, a merda de um animal qualquer em casa, mas é bom tem algo vivo por perto, que não cobre nada...
Ela começa a rir apontando o lugar na mesa. Naturalmente minha intenção, não era papo furado. Em minha cabeça, a preocupação em comer um cú ainda era a coisa importante. Não importa que fosse um cu sujo, afinal, que cú pode ser limpo?
Tomamos a primeira cerveja, a segunda, a terceira e outras. É claro, nestas condições ficamos muito sensíveis e felizes. Marylin era depressiva como a Monroe, não era tão bonita quanto ela, e nada sensual. E eu? Bem não vou comentar, afinal beleza é algo não possuo.
Acabamos indo para um quartinho que ela alugava. Realmente um quartinho, que como a vida dela era um caos. Quando a porta abriu-se, era uma visão surrealista. Roupas pra todo lodo, sujeira, lixo pelo chão. Uma cama com lençóis encardidos, foi nosso berço. Nos abraçamos, nos beijamos e fomos nos despindo como uma dança infernal. Ambos estávamos sedentos de carinho ou alguma coisa semelhante. Isso ás vezes funciona, não precisa ser carinho autêntico, mas algo parecido já é bom.
Ficamos naquilo, ela subiu pra cima de mim, rebolava encaixada .Ual, isso é bom, isso deveria ser a vida. Ela fazia meu pau parecer um eixo, ela uma piorra. Gozamos algumas vezes. Poderia ter ficado nisso. Mas vocês conhecem o ser humano. Sempre queremos mais, mais e mais. Esse é o erro. Dizia uma frase no templo de Delphos: “Nada em Excesso...”.Mas raramente tal lógica nos interessa.
Fiz mais um carinho em Marylin, fui virando ela de bunda pra mim. Ela sorriu safada e disse:
-Vai com cuidado Fabiano, pois estou meio estragada ai mas tá tudo bem...
O que você entenderia por, estou meio estragada ? A primeira coisa que pensei, que estivesse arrombada, com sensibilidade e coisas assim. É claro seria carinhoso, beijaria muito, enfiaria minha língua lá e tudo mais, serviço completo.
Mas antes, toquei lá para ver o que se passava. O que senti não era de todo agradável. Ela parecia ter um rabo de carne viva. Ei, mas que é isso? Eu perguntei:
-É que estou com parte do reto pra fora. Dói um pouquinho, mas já esteve pior, mas dá pra fazer, é uma espécie de hemorroida...
Toquei de novo naquilo com a mão. O rabo dela estava projetado para fora do cu, mais ou menos uns cinco centímetros, mas não havia sangue ali. Seria uma boa idéia? O bom senso de um bêbado é algo duvidoso. Acabei desistindo, não seria desta vez ainda.
Marylin parecia entusiasmada, mas ficamos nisso. Na verdade até broxei de ver aquilo. Como ela teria ficado assim? Não quis ampliar nossa conversa, era madrugada, aquele quarto fedia e eu queria ir embora. Deixaria Marylin sozinha, como a outra ficou. Só espero que ela não venha a suicidar-se também. Que merda de modismo é essa.

Luis Fabiano.
Paz? Me diga onde está.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Para fechar a semana com suavidade. Belos encontros, belos momentos devem ser compartilhados. Deixo vocês com Ana Carolina e Zizi Possi, belas vozes e um tema inspirador.


Pedaços de beleza

Ela ficava linda fumando crack
Rápida, mandava tudo pra cabeça
Ou talvez não houvesse beleza alguma
Era eu
Embriagado,
Mergulhado em tormentas sem fim
Diante disso
Poucas coisas não são belas,
Não são repletas de esperança
Tem a sua luz
Que somente você vê
então
Um beijo azedo
O corpo sujo
Ela alucinada fugindo de si mesma
A magreza sem fim
Ossos, peles e um coração
O olhar vazio
Tudo que tinha naquele momento era isso
Os carinhos de uma viciada a procura da morte
Me sentia honrado
Ela senta-se próximo a mim
Respiração ofegante
Meio ausente, meio viva, meio morta
Minha cerveja esta na metade
Aqueles ossos acariciam meu rosto
Não sei de onde surge
Mas sinto ternura demasiada
Digo :baby você esta linda hoje noite
Tudo que vejo são lagrimas
Choro também
Talvez aquilo fosse uma
Única estrela

Luís Fabiano.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Tenho um fascínio por espadas de samurai. Katanas são armas letais, nas mãos certas. Mas neste momento o fato de serem ou não letais, não me interessa. Sim esta animação do filme Kill Bill. O sensacional Tarantino, coloca graça, beleza e harmonia na arte de matar.

A animação mescla-se a cena real, a espada Katana é a artista principal. A espada de um único corte, tão profundo que torna-se letal.

Luis Fabiano.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Xingamento vazio

Detesto altercação de vozes
Berros disformes
Como mugidos de um abatido
Elas entram pela porta
Com sapatos nas mãos
Arremessando diretamente em mim
Jogariam a pia da cozinha se tivessem força
Dariam um tiro
se tivessem coragem
Esfaqueariam-me
se fossem frias
A voz esganiçada proferindo impropérios,
Obscenidades e injurias
É a musica do amor
Talvez tenham razão em tudo
Não importa
Fico observando calado o circo
Desenvolvem a cena toda
Xingam, choram, agridem
Nunca tenho vontade de agir assim
Xingar e fazer o meu circo também
Não.
Prefiro o silencio
digam o tem a dizer
Xinguem,
cuspam,
vomitem e caguem sobre mim se quiserem...
permaneço uma estátua
Depois elas se vão
Com sua bolsa semi aberta
Coisas pelo chão
Carteira, chaves e velas vermelhas
Fico olhando elas se afastarem
A paisagem é serena
Não gosto de alterar minha voz
Meu tom grave me faz bem
Penso e falo devagar
Deixo-as no silencio
Silencio do abandono
Esquecimento
O nada que sempre lhes dou
Tudo passa
Não gosto de xingamentos
É deselegante grosseria
Prefiro o vazio.

Luís Fabiano.

Pérola do dia:


Quando o Amor se transforma num comando, o ódio pode transformar-se num prazer.”

Charles Bukowski
rabiscado em uma caixa de camisa durante dois dias de porre.

terça-feira, outubro 12, 2010

O caos mostra o rabo pra mim.


Mais uma vez tudo converte-se em patologia. Minha e alheia. Não me resta mais duvida que todas as doenças do ser humano, são provenientes de suas desarticuladas emoções. O aspecto fisiológico é secundário. Obviamente que não pretendo fazer um tratado de doenças psicossomáticas. A profundidade disto pouco me interessa. Prefiro o raso. Minha vivencia, é próxima da grosseria onde as coisas acontecem ou não. Que é viver prático. A poeira que acumula-se nos móveis, o cheiro de merda no banheiro, o cagalhão que nega-se a descer.
Tomo outro caminho, nada técnico e menos psicológico. Como sempre, falo de mim. O exemplo talvez mais dantesco e patológico que conheço. Não tenho como princípio culpar os outros pelo que me ocorre. Pelo conhecimento que tenho, já sei que o único responsável para as desditas de minha vida, sou eu mesmo.
As pessoas que feliz ou infelizmente me envolvi, que conheci, que aproximaram-se, foram apenas protagonistas. Como tudo que me cerca. Não tenho como pensar de outra maneira. Mas comecei dizendo que tudo converte-se em patologia, porque assim o é. Um simples papo com alguém desconhecido, pode me catapultar aos páramos infernais. De forma quase imediata. Um envolvimento cresce, como um feto abortado no ventre. Trazendo com ele, o pior que o ser humano pode apresentar. Falo desta forma por estar calejado. Filme que assisto sempre. Mudam os atores. Seus personagens incansavelmente representam o teatro do caos. Deus o malabarista louco, dançando em uma corda de fogo, abaixo o abismo negro.
Elas me ligam interminavelmente...dia, noite e madrugada. Mandam infinitas mensagens, rasgando-se no meio, por algumas gotas de atenção. Enchem o meu rabo de elogios e esperam o retorno de algo. Mas em meu coração nunca batem promessas. Eu não tenho nada a oferecer, a não ser minhas palavras momentâneas. Sem ontem e muito menos amanhã. Esse talvez, meu erro mais crasso, as coisas caminham em uma zona penumbrosa, de luscos e fuscos. Num piscar de olhos tudo é amor, fácil, fácil.
Não creio mais no amor humano. Tenho a certeza que o ser humano não sabe amar. Tudo é uma tentativa. Assim sendo, converti-me no mais cético humano, faço minhas as palavras do Magalhães: “o ser humano, de mil talvez salve-se um.”
Embora o assunto fosse outro, mas quando se trata de ser humano, quase tudo é a mesma coisa. São previsíveis e frágeis, a espera de algo. Patético. Ás vezes me lamento, por ser humano. Como lamento tantas coisas em minha vida. Mas tal lamento passa mais rápido como um peido. E tudo fica bem.
Percebo que existem situações que são inescapáveis da vida. Como uma fatalidade, uma sina, um destino maldito. Fico pulando em uma perna só, para escapar daqui e dali e tudo dá errado. Não culpo ninguém. Talvez seja karma, e eu precise manter a “carma” para não fazer merda pior.
Então, de-repente parece que tudo se acalma. Tudo torna-se misteriosamente silencioso, o caos se cala, o choro misturado ao catarro sessa. O telefone não toca, os e-mails desaparecem, os sms não acontecem. Porra, como isso é bom. Como um pequeno pedaço de chocolate na hora certa. Por momentos, tudo que tenho é a lua, algumas estrelas, minha garrafa de rum e silencio.
Mas tudo que é bom, não é feito para durar. O bom é volátil, e o tempo encarrega-se de converter em uma merda. Talvez ele seja o culpado. Não briguem com Criador, mas sim com o tempo. Esse mesmo tempo, que vai nos enterrar a todos.
Não vai?? Mas que merda.

Luis Fabiano.
Dica de Filme: Coco Chanel & Stravinsky


Filme interessante. Uma historia de amor tórrido e sensual, que transcende tão somente prazeres momentâneos. Aqui existe um amor pela arte, e a arte é assim. Quando nos apaixonamos por ela, somo tal qual insanos, inebriados pelo vício. Trágicos e felizes.
Diante disso, o que é demasiadamente humano, torna-se opaco, leve, para que possa ganhar alturas incomensuráveis, lugar onde nossos sonhos habitam harmoniosos.
Um filme onde muitos se ferem e a arte ganha. Poderia ser diferente? Creio que não.

Luis Fabiano.

segunda-feira, outubro 11, 2010

O cheiro da vida.


As batalhas da vida ás vezes não são tão nobres. Em se tratando de mim, raramente são. Via a televisão, com indiferença bovina, mascando aquela merda toda pelos olhos. Depois iria ruminar aquilo, eterna e infinitamente dentro de mim.
A notícia era de uma criança que tinha todos os problemas e saúde que você possa imaginar. Com menos de três anos, já tinha tido dez ataques cardíacos, inúmeras paradas respiratórias, tinha dificuldade de alimentar-se, e outras tantas coisas que não lembro.
O que lembro é da mãe da criança. Dizia para a câmera neste tom: “não interessa como, mas vou estar com o meu filho até o fim, eu o amo mais que tudo. Deus me deu essa missão, e vou cumpri-la para que ele fique bem sempre, não o importa o custo, eu faço.”
Não preciso dizer que ela debulhou-se em lágrimas depois disso. Não me senti tocado. A notícia se mistura no turbilhão de tantas outras tragédias, que fica difícil escolher o que sentir primeiro.Depois vieram as noticias da estrada, as mortes, a violência, assaltos. Quando se vê televisão, não se pode dar muita atenção a nada direito. A grande maioria das noticias é pura mentira cênica. Ás vezes as coisas não são assim tão grandes, mas é preciso dar uma maquiada, aplicar um photoshop, colocar um pouco de sangue aqui e ali, e as coisas ficam interessantes.
Comecei a rir do meu raciocínio hediondo, quase cruel. Não podia fazer nada. E o que você pode fazer? Bem, se não podia fazer nada a respeito da merda do mundo que vivemos, daria um jeito em mim, sair fazer alguma merda por aí. Minhas noites nunca são muito promissoras, alias nada em minha vida é promissor. E me sinto orgulhoso e satisfeito com isso.
Sai roncando meu motor suavemente, pelas ruas de uma outra Pelotas.A noturna. Estava disposto a fazer algo, apenas não sabia o que. Por momentos sinto uma compulsão por isso. Minha atração pela merda. Todo tipo. Como quem mastiga um chiclete de cocô.
Fiz os caminhos de bares abertos em um dia semana. Todos muito decadentes claro. Blue Bird, vomitava lésbicas, travestis, drogados, putas ,tribos diversas, uns metaleiros. Por todos os cantos. Parei um pouco ali. Bebendo uma cerveja, apreciando o visual, a cena de cada um. Todo o tipo de coisa que não se vê durante o dia.
Existe um tipo humano que só sai a noite. Os vampiros. Achou que sou um também, mas de uma outra espécie. Talvez a pior. Fiquei um bom tempo ali, e mesmo com uma fauna tão diversa, nada aconteceu. Sai acompanhado de minha eterna solidão. Acabei indo para em outro bar, nas proximidades do porto.
Pedi outra cerveja, ali ás companhias femininas estavam melhores aparentemente. Gente sorridente demais. Entupindo o nariz de pó ou fumando crack. Para mim pouco interessa o que fazem. Ás vezes em tais ocasiões, sobra alguma coisa. Mulheres bêbadas, drogadas ou com depressão profunda, me atraem. Os tipos anormais e doentes.
As de boa vida, as comportadas que buscam algo normal me assustam muito. Essas são capazes de matar. No caso, me matar. Não pensem vocês, eu tenho experiência, sei o que estou falando. Convivência com muitas desgraçadas.
Eu estava a ponto de ir embora. Pois nada acontecia. Mas que merda, hoje nada vai acontecer? Ás vezes é assim, a magica não acontece e você vai pra casa, bate uma punheta se tiver animo, e todos são felizes para sempre.
Pensava em tais probabilidades, quando uma morena de cabelos cacheados, que estava acompanhada de algumas pessoas, me olhou com aquele olhar típico. Apenas sorri pra ela. Ela retribuiu. Talvez minha sorte começasse a mudar. Pra melhor ou pior? Taí uma coisa que nunca sei. Mas também nada ou resultado algum me surpreende. Ganhando ou perdendo. Perderia.
Ficamos naquela sedução de longe, apontei o lugar vazio na minha mesa. Não queria conversar com as amiguinhas dela. Nada de me enturmar. Só me enturmo para aparentar simpatia, quando isso é inescapável.
Ela senta-se a mesa, conversamos aquele papinho besta. Era estudante da universidade Federal, não era da cidade. Sustentada pelos pais, e curtia festas no porto e drogas. Etc...etc..blá, blá blá. Ela foi bebendo eu também. Com vinte e três anos, que ela queria comigo? O tio. Acabamos ficando bem íntimos. Coisas da bebida. Em um dado momento nos aproximamos nos beijamos e estávamos felizes. Os estranhos mais felizes deste mundo. Para mim que não creio em felicidade, aquele pedaço de bar, a morena meio bêbada, seu sorriso de safada promissora, algumas cervejas. Que mais felicidade eu precisava? Sentia-me no topo Everest.
Satisfeito. Não precisa nem transar com ela. Lembrei das batalhas da vida. Achei que iria leva-la para um motel. Mas a sorte sorriu pra mim novamente. E fomos para o apartamento dela. Uma kitineti ,que cabia apenas nos dois ali. Deus era bom. O demônio havia tirado férias.
Nos amaçamos, beijamos e fomos nos despindo.Com fome um do outro, cegados pelo álcool e pelos desejos primitivos. Eu fiquei pensando, ela me levou fácil para o apartamento dela. E seu fosse um assassino? Ou se ela fosse uma assassina? Se essa puta fosse uma devoradora de bolas? Ela me capava, e comia no almoço o meu saco assado? Renovei minha fé na vida.Po um momento.
Mas agora foda-se, é tarde demais. Porem minha sorte começou a mudar novamente. Quando finalmente tirei a calcinha dela, em meio ao escuro, senti o cheiro mais forte e terrível que já havia sentindo. Aquela mulher não se lavava á muito tempo. O cheiro era uma fossa entupida de carniça apodrecida. Eu até duvidei que viesse da buceta dela tal aroma. Mas era pura verdade. Aquilo fedia muito. Não tenho nada contra cheiros fortes, eu gosto e acho estimulante. Porem Valeska havia exagerado. Eis minha batalha na vida. Não titubeie, enfiei minha cara naquela carniça viva, sentindo o cheiro de podridão espalhando no meu rosto, no meu cavanhaque, na minha boca, na lingua.
Suguei, engoli, beijei e claro depois a beijei-a na boca. Tive um breve momento, vontade de vomitar, mas segurei, engoli novamente. Ela gozou algumas vezes, e ambos apagamos imersos nos cheiros.
Acordei com o gosto mais estranho na boca, um gosto horrível. Valeska roncava ao meu lado. Fui até o banheiro fiz um bochecho para me livrar daquilo. Que tragédia. Lembrei da noticia, que havia visto antes de sair. A batalha de uma criança para sobreviver. Cada um tem suas batalhas. A minha não era muito nobre, quase nunca é.
Me vesti e voltei pra casa. O cheiro de Valeska parecia entranhado em mim. O fedor de Valeska estava dentro de mim. Bom, agora não importava. Eu havia sobrevivido, talvez amanhã quando eu acordar eu tome um banho.

Luís Fabiano.

sábado, outubro 09, 2010

Pérola do dia :

“A intimidade entre um homem e uma mulher, é medida pelos peidos que trocam debaixo das cobertas, e depois, pelos beijos e abraços carinhosos ao sabor do perfume.”

Luis Fabiano.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Pra fechar a porra da semana, deixo aqui a cena da banda alemã Rammstein  cantando Meil Teil - Minha Parte.
Eles são a cara deste mundo terrível, recomendo:


Sol Engarrafado

Abro os olhos
E não sei onde estou
Que móveis são esses?
Essa cama?
Estou molhado
Acho que me mijei ...
Um teto rosado,
acho que é um quarto no céu...
A cabeça dói, alguma coisa embrulha o estomago
Olho para lado
existe uma bunda grande e nua,
branca como papel
que bunda é essa aí ?
Não sei
Toco-a devagar é gostosa, macia
E mesmo perturbado
Meu chumbo se ergue ao alto
Nem tudo estava perdido então
Sabia que não poderia ser bonita
Nunca são,
são como eu, o caos
Tento acomodar-me, e procurar o olho do barro
Minha boca seca não tinha cuspe para amaciar carne
Foi a seco mesmo
Ela dorme como um cadáver fresco, que bom
Nem sente que entrei ali
Faço alguns movimentos
E gozo
Começo a rir, pois essa pessoa quando acordar
Vai sentir uma leve ardência no rabo,
uma cama molhada
Meu membro esfolado arde também
Volto a desconhecida realidade
A lembrança da noite passada vai acordando
Já sei quem é ela,
mas ainda não conheço a casa
Tudo que vejo são garrafas de cerveja vazias
Nas janelas, encostadas, enfileiradas
Abandonadas a esmo
Como tudo que lançamos ao esquecimento
Aquela visão era linda
O sol nascente, projetava seus primeiros raios
Através delas
A cor escura ,com luz por detrás
Eu pelado, tentando levantar
Antes que a dona da bunda acorde
Vesti-me e ganhei a rua
A verdade ás vezes é horrível
Onde andará o aprisco de minhas
Mais caras emoções?
Outra vez a rua e minha eterna solidão
Preciso voltar agora

Luis Fabiano.

quinta-feira, outubro 07, 2010


Mais do mesmo.

Ela veio me procurar aparentemente desesperada. Os dramas humanos se repetem sempre. A mesma coisa acontece com tudo e todos. Muda o endereço e a historia ganha nova maquiagem. Mas os mesmos protagonistas estão ali. Chorando, raivosos, insatisfeitos, traídos, vivos, mortos, querendo dinheiro, pensando uma maneira de fazer algo para salvar-se. Sempre isso. Modorra, tédio e lágrimas. E no fim a morte.
Carmela é uma dessas mulheres de porte supostamente fantástico. Com uma casca nobre e elegante. Mas tudo era casca. Aparências e mais aparências. Todos que a observam de longe tem uma falsa impressão de poder, glória e satisfação de uma vida perfeita . Mas nada é assim. Não conheço uma viva alma na terra tão satisfeita assim. Sempre a elogie. Nossa historia nunca passou da amizade colegial. Foram varias as vezes que tentei transar com ela. Hoje nos consideramos como irmãos. Mas como ela não é minha irmã, eu a comeria sempre dramas.
No meu intervalo, nos encontramos e comecei o assunto com ela assim:
-Certo Carmela, comece pelo final da historia, por favor...
Seu rosto ansioso dizia tudo. Como uma tempestade repentina.
-Calma Fabiano, tu é sempre assim, seco e direto quase como se não tivesse emoção...
-O tempo é curto, se não aproveitarmos, nada servirá, gosto de ti Carmela sabes...
-Bom, hoje o Ronaldo(o noivo) terminou tudo, com tudo pronto pro casamento,festa,data marcada, convites entregues...
Não tem coisa mais irônica em minha vida que isso. Algumas pessoas pedem conselhos sentimentais para pessoas como eu, que fracassaram em cem por cento de seus relacionamentos. Não tive nenhum que não tenha fracassado. Não culpo a ninguém, a não ser a mim mesmo. Os motivos são variados, pouco relevantes, oque interessa e que acabaram.
-Sei, e ele disse o motivo?
-Disse que não dava mais, que não tinha amor suficiente para casar, que...(começa a chorar)
Amor suficiente para casar? Que será que esse cara achava que era amor? Se ele imaginar que aquele encantamento do inicio seja o padrão, ela tava fudida mesmo.
-Carmela, se ele tá sendo sincero, que posso dizer? É isso mesmo. Ele tá certo. Nestes momentos se quer sempre tentar salvar os restos de algo. Acredita-se em salvação, e tudo mais. Acho bonito, mais pouco provável. Possivelmente sentirás muito, farás todo o drama do fim. Todas fazem. Vais insistir em ficar com ele, vais procurá-lo varias vezes contra a vontade dele, vais chorar até pela xana. Depois vais ficar com raiva. Vais achar motivos para que ele não preste blá,blá,blá...e nada disso vai ser a verdade, porem será a tua verdade neste momento. Daqui a alguns meses passa. É isso.Tudo passa, a pior merda sempre seca.
-Mas eu não queria ...
-Ninguém quer terminar, mas a coisa é simples. Quando um não quer, já acabou. Não estou sendo cínico, é exatamente assim que penso. E também penso Carmela, que eu não seja o melhor conselheiro para estas coisas de relação. Olha pra minha vida? Fiz as escolhas mais difíceis. Não tenho nenhum arrependimento, neste aspecto sou condizente, quanto ao resto, nada deu certo. Minha visão é fria, cética em relação a isso. Acredito que todos sejam filhos da puta. E você sabe, julgamos as pessoas nós mesmos, mas eu não me sinto mal por isso, também sou um.
Ela enxugava as lágrimas, disse que sabia a resposta que iria ouvir de mim. Que por vezes tudo que se quer escutar é justamente isso. A lâmina fria do aço que transpassa o coração. Adorei a colocação. Lembrei de minha espada descansando em casa, a Katana. Lâmina de um só corte frio, não sou digno dela. Não sou digno de tantas coisas.
Voltei a mim e a Carmela.
Mesmo chorando ela era bonita. A blusa com um decote generoso,as tetas sempre foram boas. Enfiei meu olhar por ali, descortinando um sutiã rosado. O sofrimento dela, sua dor havia empalidecido diante de mim. Eu a consolaria se precisasse. Talvez agora eu a comesse se tivesse chance.
Ficamos em silencio, tomando o café pesado. Os olhos tristes dela eram um charme natural.,A dor tem muitos lados e nem todos são horríveis.
-E ai o que farás? Disse eu...
-Vou apenas perguntar a ele se foi sincero, se foi a decisão final...
Comecei a rir. Quantas porradas são necessárias para termos certeza que levamos uma porrada vida? Ela não gostou muito do meu riso sarcástico. Não poderia fazer nada, nem mesmo considerava falta de respeito. Mas ela me conhecia bem. Levantou, pagou nossa conta, me deu um grande abraço, o rosto parecia mais leve. E disse a porta:
-Tu continuas o mesmo cretino de sempre, o bom e velho Fabiano.
-Obrigado.

Luis Fabiano.

Navalhadas Curtas: A Gorda.

“A tentativa de suicídio as vezes é inconsciente. Em certos momentos você esta procurando prazer e de-repente, uma tonelada cai em cima de ti. Me meti com aquela mulher enorme, porque tenho espirito de aventura. Ela não tinha opção. E ambos estamos bêbados.
Ela veio pra cima de mim, enfiando meu pequeno membro dentro de si. Me senti sem ar, ela respirava como um compressor velho, arfando merdas e dizia com voz anasalada:
-Vai, vai, mete esse negócio em mim...vai...vai...Fabiano vai...
-Já tá tudo dentro de ti gorda...
-Vai, mete, mete, quero te sentir fundo dentro de mim. Mais...mais..mais...vai
-Mais o que ? Acabou meu pau amor, é isso aí que tem...
Eu mal conseguia respirar, quanto mais manter a ereção. Ela era tão grande, que nem sabia onde eu estava metendo, na frente ou atrás. Tudo havia virado um mar de líquidos e meleca. Era bom, pra mim. Mas creio que ela nem sentiu nada. Tive que rir. A gorda queria um pau que eu não tenho...”

Luís Fabiano.

quarta-feira, outubro 06, 2010


Mais uma noite

Dirijo de madrugada
As canções do radio
Parecem adivinhar motivos
Pescar intenções feridas
As três horas da manha
Pouca coisa pode ser boa
Pessoas e animais se confundem
Na esquina densa,
fumam crack sorridentes
ganhando o mundo fantástico
Adiante,
a putinha nova, mostra a bunda raquítica
Fazendo seu marketing do inferno
Com as bênçãos do diabo
Eu sigo entorpecido
Sonhando com a chuva
Com o lixo esgueirando-se
no esgoto
Com o ar fresco
E minha alma leve
A musica romântica insiste
Os olhos não vistos
A saudade tá aqui
Ronca o motor
Pássaros cantam,
numa noite sem estrelas
Me sinto cansado
O corpo pesa, a visão embaralha-se
Cervejas demais
E uma direção lenta.
Queria estar perdido
Mas jamais estive
Fico me perguntando
onde estão as flores ?

Luís Fabiano.

Noite perfeita

Ela sorria com doçura
Livre e suave
A brisa de uma noite
As estrelas que dançam
Tudo é tão bom
Cheiros, beijos e carinhos
Ao fundo Sade cantava
A mesa,
Um manjar do corpo
Feito para alma
O perfume excitava
pecados capitais
Se era pecar,
Deus não sabia o que estava fazendo
Nos deliciamos um no outro
Esquecemos tudo
Entregues ao abandono que preenche
Solitários
Cubanos tocam
A cerveja esquenta
Palavras emudecem
A sinfonia de gemidos, suspiros
E silêncios
Meu olhar mergulha nela
Ficamos imersos
Sem pensar no fim
Disse: Os seres humanos
Não são perfeitos, mas por vezes
Eles conseguem emular perfeição
E é tão bom quando acontece...
Momentos assim renovo
Minhas escassas esperanças em tudo
Ao fim
Bukowski fala
Vou ás lagrimas, engasgado
Com a beleza
Demos aquele adeus
Sem querer dar

Luís Fabiano.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Consuelo.


Não tenho a menor duvida que a ressaca moral é infinitamente superior ao vinho barato. Tal como o vinho, deixa um gosto ácido na boca. Reconheço que tenho pouquíssimos escrúpulos. Os poucos que sobraram, defendo com unhas e dentes, se houver necessidade. Comigo mesmo, trabalho em uma zona de indiferença a quase tudo. Entendo o tipicamente humano.
Porem, depois de tudo que ela narrou tudo, ficou difícil eu toca-la novamente. A historia não era nova. Seguia os padrões que acompanham a tragédia humana. Por favor não me entendam mal, não é moralismo barato. Mas tudo tem uma maneira de ser feito.
Por vezes o ato não grandioso de uma alma, tem por intenção proteger-se da dor. Porem quando tal ato é feito com uma indiferença mecânica, a dimensão humana foi abandonada, esquecida, relevada. E nada pior que um anti-humano.
Sentados naquele bar vagabundo, com uma cerveja meio choca e cigarros chegando ao fim, a escoria humana desfilava com classe. Com seu nariz fino de tanto cheirar pó, seus dedos queimados das pontas de baseado, e copos vazios como seus corações. Nada disso é chocante. Comum demais. São os heróis, tentando sobreviver, antes de afogar-se em um balde de merda.
Consuelo estava alta como sempre. Nos conhecemos a anos, pela noite, por ai. Temos aquele envolvimento de amizade e sexo eventual, que costuma ser perfeito. Para pessoas que não buscam graves envolvimentos. Tivemos nossos grandes momentos, de loucura e tesão. Mas agora ela entrara por um via difícil de acompanha-la. Vivia alucinada demais. Isso talvez justificasse muita coisa.
A bem da verdade, drogados perdem o interesse por sexo. Não transamos mais. Depois que ela começou a pegar mais pesado, ficamos na amizade. Como mulher não era mais atraente. Vinha destruindo o corpo dia a dia. Nem tentei entender porque. Consuelo tinha motivos de sobra, e todas as justificativas. A vida inteira ,foi uma merda, e agora era final de carreira. Literalmente.
Em uma de nossas boas conversas, perguntei se gostaria de ser salva de tudo aquilo?
-Claro que não. Nem tenho pressa que acabe. Não sou vitima de nada, eu escolhi isso, eu gosto disso e quero permanecer nisso.
-Você sabe que as pessoas não acreditam em chapados, não é ?
-Fodam-se as pessoas. Quero apenas que me deixem em paz, cada um com suas drogas. Me deixem com as minhas.
Sorri para ela. Eram declarações fortes. Ela era uma mulher, mas tinha muito culhão. Foi exatamente isso que nos aproximou. Gosto de gente com personalidade. Ela poderia ser tudo, menos mosca morta.
Um dia ambos meio altos, nos aproximamos demais, sentindo a excitação um do outro, como animais no cio, cheirando a prazer. Realmente foi bom. Tudo ficou na amizade sempre. Eventualmente, vamos a algum bar para conversar. Ela conta suas tragédias, me alimenta com seu pior. Eu fico ali como um vampiro de dentes afiados. Me delicio. Tudo que venho observando, é sua decadência controlada. Como um dia de sol, que vai apagando-se sem perspectiva de amanhecer. Gosto de Consuelo.
Então veio a prostituição. Era grana que ela usava para comprar, anfetaminas, cocaína e mais algum aditivo. Só de ver sua quantidade de drogas, ficava pensando como aquele corpo aguentava tanto? Ela era uma “super mulher”. Era claro que começou a descuidar-se perigosamente. Transava com tudo e com todos. Pegava a grana e saia feliz como Alice no País das Maravilhas, uma maravilha psicodélica.
E ai chegamos ao ponto. Veio a primeira gravidez indesejada, de algum ilustre desconhecido. Ou desconhecida. A esta altura, não fazia diferença se ela houvesse transando com um ET. Como consequência, vieram os abortos a granel. Os primeiros três eu entendi. O restante não sei.
A noite de Consuelo ficava mais escura, seu coração mais duro, e uma ponta de crueldade aparecia ali disfarçada. Não julgo nada, não tenho nem moral e nem cacife para isso.
Naquele bar ordinário. Ela levantou foi até o banheiro, sorria tranquilamente. Depois de uns dez minutos. Pensei que estivesse cagando. Ela volta meio pálida. Sorri para ela, que houve? Pelo jeito você tava ruim do estomago. Que você comeu?
Ela acende o último cigarro. Dá uma longa tragada e com um sorriso sarcástico dispara:
-Nada disso, fui matar mais um. Tava fazendo um tempo conversando contigo esperando a coisa fazer efeito. Por favor, mais uma cerveja aqui...
Fiquei em silencio. Acho que pela primeira vez me senti tocado com algo assim. Tentei entende-la, tentei abstrair, tentei achar normal. Não havia conseguido engolir bem. Como um vômito prestes a explodir. Queria ir embora dali o mais rápido possível. Talvez eu estivesse amolecendo. Ou a idade começasse a fazer diferença neste mar de loucuras.
Embora goste de Consuelo, preciso ficar sem vê-la por um tempo. Não sei quanto tempo vai durar, talvez muito. Sou assim mesmo, um dia levanto e mando tudo a puta que pariu. Então começo tudo de novo, como um círculo sem fim.
Até a próxima ressaca.

Luís Fabiano.




domingo, outubro 03, 2010

Eleição


Votação


Nunca me preocupei com politica. E ainda não vejo motivo algum para que isso ocorra. Sou como eles e você. Se me pagarem bem, até transo com alguma politica, facilmente. Melhor não vou citar nomes, para não me incomodar.

Sem convicção alguma de cunho partidário, tudo que vamos vendo, é eles conduzirem tudo para uma merda sem fim. Lembro quando era um pouco mais jovem, ver debates políticos parecia interessante. Os tais candidatos tinham convicção, tinham paixão por suas ideologias, embora todos não passassem de pilantras. Ao menos eram apaixonados.
Hoje, que vemos?

Um debate que todos falam exatamente a mesma coisa. Todos são educadinhos e infelizmente, politicamente corretos! Quem vê um, vê todos. Eu devo estar ficando anacrônico. Mas não vou falar mais neste assunto, começa a dar-me engulho no estomago. Conheço gente apaixonada assim, no meu entender profundamente ignorante, acreditando que as cosias irão melhorar, se eleger esse ou aquele?!  A prova do quanto desconhecemos a nós mesmos.

Porem nem tudo está perdido. Eu fui votar hoje, apenas para aparentar ser um bom cidadão. Com o voto eletrônico a brincadeira perdeu a graça. Não foram poucas vezes que na época das cédulas eleitorais, fazia poesias para politica, os escrutinadores, já que o resto não me interessa mesmo. Mas não hoje. O voto é tão limpo, tão seguro, tão rápido, tão...bem.

O lugar onde voto é longe. E trás lembranças de minha infância. Algumas são boas. Mas retornar ao passado é uma merda. Seja o passado que for.
Quando cheguei á sessão eleitoral, aquilo estava lotado. Tive o prazer de contar trinta e duas pessoas a minha frente. Nestes momentos a mente inventa algo para escapar ao tempo. Uns tem tiques nervosos, ficam batendo pé, outros movimentam a chave, outros ficam falando merda na fila. Tinha dois idiotas, que ficavam chamando um ao outro de magnata.

-E ai magnata...é magnata..
-Diz ai magnata...

Ficavam nisso. Os magnatas mais fodidos que já tinha visto. Entenderia se fossem dois adolescentes falando assim. Mas não. Como podem perceber, a tortura tem vários ângulos.
Como era esperado, passei a olhar as mulheres da fila. Nada melhor para passar o tempo. 

Fiz minha própria eleição da melhor bunda. Fui olhando uma a uma. A grande maioria era desprezível, como grande parte da humanidade. Pensei em convidar os “Magnatas” para participarem daquilo. Melhor não, os excluí do pleito.

Sou um cara volúvel, não tenho digamos um padrão de gosto. Mas é bom que a bunda tenha gordura. Podem ser as magrinhas também, se tiverem um bom formato. Mas nada substitui as bundas que balançam, gelatinosas e repletas de estrias e celulite. Sou sincero, eu gosto muito. Tinha uma gordinha na minha frente que era exatamente assim. Uma boa candidata.

Mas quem ganhou foi uma coroa com uma calça justa, com uma bunda enorme. Perfeita. A calça era tão junta que lhe entrava no útero. Marcava tudo expondo traços de um fio dental maravilhoso.

Ela estava sozinha, e o tempo havia passado. Olhei fixamente para, dando mostras de um leve sorriso. Ela percebeu e retribuiu com afabilidade gentil e educada. Ela entra pra votar e vai embora levando o prêmio. Era minha vez entrei, votei em menos de dez segundos e sai.
Acho que minha eleição é muito melhor.

Luís Fabiano.

sábado, outubro 02, 2010

Consolos

Consolos


Ela entra na sex shop
Compra um grande pau de
borracha
Ele entra na farmácia,
Quer calmantes para misturar
ao uísque
Outro acende o baseado
Que brilha em uma noite
sem estrelas
Vida virando fumaça.
Diante de uma vitima
Ele pergunta o ultimo desejo
Sarcástico
A mãe chora sem consolo
O bebê foi atropelado
Ela quer dinheiro
agora
Vânia deita-se na banheira com os punhos cortados
e sorri
Enquanto no canto escuro, uma risada sinistra
Ela acreditava no amor, esperou o príncipe
Que despedaçou
seu coração
Lágrimas e mais lágrimas
Sempre
Em desespero, a mendiga fétida berra para o céu
E ninguém ouve merda nenhuma
Ele esta surdo
No templo todos se olham felizes
Ele esta ali
Na rua, ele abre a garrafa de cachaça
Bebe até adormecer,
anestesiado
Nos banheiros do abismo,
a agulha entra
Fundo na veia
Convulsão.
Coloco a mão em minha carteira
vazia como meu coração.
Ela sai da Sex Shop feliz,
Quer chegar em casa
logo.

Luís Fabiano.
Faço minhas as palavras de Nelson Motta: “Janis tinha uma voz rascante, cantava despedaçando a garganta e a alma.” Não houve nenhuma cantora como Janis Joplin,então...

sexta-feira, outubro 01, 2010


Confidências

Não me queixo de nada. Aprendi a suportar as agruras da vida dançando entre a indiferença e o silencio. Detesto os que choramingam a vida inteira. Expondo suas vísceras orgulhosamente aos transeuntes. Dizem: ei, olha a minha merda fresca aqui? Você esta vendo o quanto fede? Você sente o cheiro? Ta sentindo?
Normalmente a estes, tenho sempre uma palavra dura para compensar sua fragilidade. Não há do que queixar-se. A vida não é, não foi e nunca será de barbada. Cada um de nós tem sua conta de merda pra comer. Saboreei. Não espere que alguém se apiede de você. E não torre a paciência dos outros.
Mas era sempre assim. Nos lugares mais diversos da vida, reúnem-se todos os tipos de filho da puta. Nos aproximamos por afinidade. Na época trabalhava em um hospital, fazendo serviço sujo. Uma sujeira limpa. Limpar restos humanos, cheios de merda e sangue. Um verdadeiro manjar. Não fazia sozinho. Tinha o Marcos, a Beti sua namorada . Beti era a enfermeira gostosa. Uma morena com tetas maravilhosas.
Marcos e eu conversamos durante aquele serviço na pia. Um momento ele vendo Beti afastar-se diz:
-Cara tô comendo a enfermeira do terceiro andar, lembra?
-Sei, a loira? Mas ela é demais, quanto ela te cobrou?
-Que isso. Nada de cobrança, apenas conversa, e um jeito de sairmos sem que o marido dela saiba e que a Beti não fique sabendo.
-Bem faça, você abre precedentes camarada, vá em frente.
Marcos não era meu amigo. Colega de serviço. Eu não havia perguntado nada a ele. Sabemos que as pessoas trepam pelos mais variados motivos. Eu fazia simplesmente porque é bom estar lá dentro.
Vejam como são as coisas, depois daquele dia passei a olhar Beti com outros olhos. Amaciei meu tratamento para com ela, claro ela notou. Namorada de Marcos a cinco meses. Digamos não era uma mulher difícil. Ele não tratava o material como devia. Entrei na jogada rapidinho.
Dias depois, nós limpávamos tripas e outras coisas, então disparei:
-Marcos, tô comendo uma enfermeira aí...
-Diz aí cara, quem é??
-Não posso, ela tem um namorado de uns seis meses mais ou menos, jurei segredo.
-Tá certo cara, mas depois me conta.
-Claro.
Ele sorria feliz, eu também. Ele não percebeu nada ou fez que não percebeu. De qualquer forma eu achei engraçado. Não estava sendo perdedor naquele momento. Minha relação paralela com Beti, abriu novos precedentes.
Depois de uma rodada de sexo. Aquela conversa sem sentido depois do ato. Ela confessa:
-Sabe Fabiano, eu vivo, mas não sei muito porque, vivo porque vivo eu acho.
-Bem vinda o clube. Você acha que as pessoas sabem exatamente o porque vivem ?
-Penso muito na morte, desde de muito jovem.
-Você não precisa pensar na morte, deixe que ela pense em você, afinal este compromisso já está marcado (rindo...)
-Acho que tu não entendeu, eu tenho vontade de morrer...não sei porque vivo, não acho que a vida valha a pena.
Me aborreci. Papo era aquele depois que tinha gozado? Fiquei com nojo dela. Detesto suicidas cagões. Se tivesse uma arma ali, daria ela fazer o serviço.
-Beti, você tem um filho, se isso não é suficiente pra viver, invente algo, acredite em algo que estimule a isso, mas não fique nessa. Indefinição é uma chatice. Você sabe, ou não sabe. Pensa, vou dar a boceta ou cú ? O que é melhor?
Ela me olha não entendendo muito minhas grotescas comparações. Achei melhor tomar um banho e ir embora. Ás vezes as pessoas não tem nada a oferecer. A duração máxima delas é de duas horas limite. A maioria das pessoas que conheço é assim.
No outro dia Marcos ainda estava feliz com a loira do terceiro andar. Para mim Beti se tornara uma chata cujo o sexo não me interessava mais. Restavam-me as tripas sangrentas.
A vida é universo dentro do outro. Tinha uma amiga que trabalhava no hospital, a Elisa. Ela era espirita de carteirinha. Porem isso não credência ninguém. Eventualmente ela me chamava para ver pacientes terminais darem o ultimo suspiro. Ela gostava de fazer preces finais.Ajudar nos desenlace, como dizia. Sempre na área dos indigentes.
Eu achava engraçado isso. Indigentes, pessoas que caíram na Terra de paraquedas, e não tinham nada ou ninguém por eles. Isso deve ser uma merda. Como nasceram, de onde vieram? Agora morriam na mais profunda solidão.
Ela me chamava para acompanhar isso. Eu fazia minha prece, talvez esperando que na minha hora derradeira alguém reze, embora ache difícil. Quando ví aquele senhor carcomido pelo tempo, respirando com dificuldade, no leito de morte, os olhos semi-cerrados, babulciando coisas repletas de culpa. A morte já estava de plantão.
Elisa fazia o pai nosso. Ele dizia baixinho e roucamente:
-Eu matei, eu matei, eu matei...
-Quem o senhor matou –perguntei.
-Meu filho, meu filho...
Não sabia se aquilo era verdade. Ninguém iria saber. Mas creio que isso não importava. Nestas horas tais coisas ganham um ar de indiferença. Hora de acertar as contas com Deus ou Diabo. Eu lamentava que ele tivesse confessando isso a mim. No fundo eu o queria bem, mas na hora da morte é bom ter alguém bom por perto. Alguém que signifique algo pra ti. Tantas histórias perdidas. A respiração frágil dele enchia o espaço, desejei que fosse em paz. Creio que no final só queremos isso.

Luis Fabiano.