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sexta-feira, setembro 03, 2010


Elas vêm

De uma a uma
Duas a duas
Três a três
Ou mais
Cheias de promessas vazias
Que acreditam como não acreditam em nada
Sorriem e ficam bêbadas
Trepam como qualquer ordinária
Dizem amor, amor
Fácil como vomitar
E tudo acaba
Acabam comigo e com
O irretornável tempo
Seu amor me mata
Elas estão felizes
Um abraço aqui
Um beijo ali
Eu pensando se mato ou não
Uma barata

Luís Fabiano.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Eric Clapton - Wonderful Tonight


Virtudes de areia

Marisa parecia perfeita demais para ser verdadeira. Tenho em uma percepção acurada da cretinice humana. Os semelhantes se reconhecem. Quando nos vimos á primeira vez sorria com graça e suavidade, gestos quase ensaiados.
Muito bonita, gosto afinado, a voz metálica traduzia uma correção que me causava engulho. Nossos santos não se “bateram” logicamente. Normalmente iria ignorá-la. Por todos estes fatores, e mais o que a acompanhava. Um marido forte.
Nesta época gostava de confusão. Dizia a plenos pulmões que esperava que minha vida fosse um caos. Com o tempo o caos me encontrou. A simplicidade de tudo parecia desaparecer.
Não era, mas aos poucos foi tornando-se. Com as merdas existências, você aprende, que é preciso domar vulcões, acariciar maremotos e trepar quando um terremoto sacudir a sua cama.
E por uma destas fatalidades do destino. Marisa veio trabalhar comigo. Então você duvida que o diabo esta a espreita? Estava disposto a colocar suas virtudes a prova. Na ocasião que fomos apresentados, apenas um olhar gateado, ela se traiu.
Tudo que se precisa, é que o tempo trabalhe. Fui sutil. Não fui mostrando as armas assim repentinamente. Até mesmo porque ela não era o tipo que me atraia. Esperei a confiança vir. Tornar-me amigo. As confissões entre amigos.
Naquele instante existencial, eu estava na minha segunda separação. Tinha animo e liberdade para ser um canalha a vontade. Tentações existem. Alguns vícios são latentes. Eu não era tentador, nunca fui mas também não tinha nada a perder.
Um mês depois de convivermos, sabia quase tudo se sua vida. Até mesmo do problema de humor do marido, suas ausências intimas e do pau pequeno. Era muito educado na frente de todos, a tratava com todo respeito na aparências. A vestia como uma Barbie. Porem quando entravam dentro de casa, acabava a encenação. Conheço muita gente assim.
Não preciso dizer que fiquei deliciado com a desgraça que cada um leva em oculto. Isso fazia lembrar das minhas próprias. A sensação de não estar errado realmente me excitou.
Então o cara não passava de um filho da puta. Com uma mulher bonita, que até ali era a pedra angular da virtude feminina.
Creio esse ser o maior problema das convivências. Tudo que vemos é uma ilusão criada por ideias sublimes ou terríveis. Porem com o tempo tais ideais vão diluindo-se como gelo no verão. E em poucos instantes, tudo converteu-se em um nada raso. Destas coisas vulgares que somos feitos eu e você.
Os dias passaram céleres. Marisa de mármore de Carrara, converteu-se um basalto, depois e numa rocha vulgar, no final não passava de um tijolo quebrado. Creio que a coisa que mais acho odiosa é exatamente isso. Ela foi ficando comum. Sem o brilho de minha mente, o lustre de minhas idéias, ela não passava de uma mortal.
A maior briga humana é exatamente essa, desmistificar seus ídolos ,sejam eles quem forem. Perceberem que tudo não passa de um brilho que a maioria das vezes lhes emprestamos.
Um dia, ela passou perto de mim, minhas mãos roçaram parte de seus seios.
-Opa, desculpe, foi sem querer...
-Tá tudo bem.
-Marisa, não foi sem querer...
-Tá brincando né Fabiano?
-Não. Falo sério.
-Tudo bem, mesmo assim estás desculpado.
-Desculpado? Você deveria dar um premio... tocar nestas tetas horríveis...
Começamos a rir. Mas uma brincadeira tão ingênua releva falhas, ás vezes vontades. Diante de um toque muitas coisas acordam, inclusive as ruins. Ela sorria bonito quando era natural. Sem aquela plástica que usava para parecer tão respeitável. As tetas eram boas.
No dia seguinte ela chegou triste no trabalho. A tristeza de alguém sempre é a felicidade de outrem. Certamente as grosserias de Nestor devem ter passado da conta. Esse cara merecia vários pares de chifres. Para ele, Marisa não passava de sua propriedade. Um móvel. Ele esqueceu tudo ou nunca sequer pensou nisso. Detesto esse tipo. Costuma ser aquele passional idiota, que irá matar, esfolar, enforcar e depois se mata quando traído. Os amores dos tempos hodiernos. Matar-se por amor? É bonito, mas creio que Marisa não seria a pessoa que me faria fazer isso.
A abracei e ela chorou. Estávamos sozinhos na sala. Ela repetia a ladainha:
-Não aguento mais...não entendo porque ele age assim...
-Marisa, não tem o que entender. A maneira dele gostar de ti é gostando de si mesmo.
Ela me olha terna, não resisto e a beijo. Ela não resiste nada. Mal sabia que as suas dores poderiam aumentar e muito.
Passei a ser seu “consolo” nas horas difíceis da vida. Na continuidade ficamos mais íntimos. Transar com ela foi bom, porem longe estava de ser a melhor trepada de minha vida. Era passiva demais, sem atitude, esperava os carinhos gratuitamente. Sem mordidas ferozes, Isso me causa enfado. Gosto das agressivas, que vem pra cima. Que berram, que choram, que xingam com palavrões.
Ficamos nisso um bom tempo. Mas Marisa continuava submissa ao marido, que um dia lhe tirou do emprego. No dia final ela me abraça e se despede chorando. Chorava demais. Dizia que seria difícil nos vermos, mas as vezes, bem as vezes talvez...
Não senti falta dela. Na verdade facilitou meu trabalho. As tais despedidas são sempre cheias de dramas. Não sentia amor ou mesmo gostava dela o suficiente para sentir falta. Aquele era um autêntico caso de amor comigo mesmo. Com meu ego, com minhas tolices e algumas vaidades. Marisa era apenas um catalizador daquilo que tinha de pior.
Depois dela vieram outras. Menos ostentosas, porem com grande disposição para o pecar com a alma. Brutais e lindas e que ainda assim pouco acrescentaram. Sempre quando olho uma nova xoxota, fico perguntando para ela mentalmente: Ei, que você tem a me dizer? Fico olhando aquele buraquinho escuro vermelhinho, em alguns caso o buraco é considerável.
Que será que irá sair lá da próxima vez??

Luís Fabiano
A paz é um buraco escuro
.

quarta-feira, setembro 01, 2010


Navalhadinha:

Ela estava a minha frente na fila. A calça justíssima, colada no útero. A fila não era mais importante. De-repente ela saí da fila, rápida deixando pra trás o maior fedor da historia. A bunda mais linda dava os peidos mais fedorentos.
Acho que tudo queria naquele momento, é cheirar de perto a origem da fossa.

Luís Fabiano.

Precisamos deles?

Aquela puta sempre assim
Roupas justas
Cabelos alinhados, perfumada
Unhas brilhantes
Manequim
Atrás do caixa desprezível
Cara azeda e bunda linda
Coração de ferro
Não se pode ter tudo
Olha-me como a um verme
A voz seca em lábios sedosos
É má
Gostaria que ela fosse decapitada
Porque o resto é muito bom.

O maldito encanador chega
O vazamento era pior
Briga com os canos, água pela porra toda
Reclama demais
Sua família, sua mulher e os canos furados de sua vida
Não o suporto
Quero que vá embora rápido
Deixe o um chafariz no sanitário cagado
Ótimo, apenas vá

Na loja a vendedora horrível
Quer me empurrar qualquer coisa
Eu que me foda mais tarde,
Ela quer vender
Ela não me vê, sou sua comissão
Saí de perto, não torre a paciência
Enfie a loja no rabo

Puta que pariu
Precisamos deles
Infelizmente precisamos deles e todo o resto

Luis Fabiano.

segunda-feira, agosto 30, 2010


Amor instantâneo

Quando entrei, ela me fixa
Fui a trabalho
Seco e óbvio, uma máquina
Ela sorri facinho
É gentil demais
Atenção demasiada
Quer saber de mim
Que faço, como faço porque faço
Saio da indiferença que me é normal
O animal e mim acorda lentamente
Tigre silencioso
Começo sentir seu cheiro
Como um veneno que adormece o cérebro
O serviço é esquecido
Fico naquele papo besta
Cujo objetivo único, fazer o pau subir e as pernas abrirem
Amor amor amor
Ela aceita tudo que digo
-Quero tirar a virgindade de uma égua...
-Que lindo. Que lindo. Tu és lindo.
Rimos como imbecis da natureza
Ela aproxima-se, é fatal
Beijo cheio de toda a canalhice do mundo
O serviço esperava
Minhas mãos percorrem a bunda imensa
Os dedos escondem-se em todas as fendas
Geme, me chama de amor e delira
Sou eterno amor
Goza como uma porca virgem
E nunca mais quer se livrar de mim
Me quer ontem, hoje e amanha
Como for

Luís Fabiano.

Vibrador de carne.

Gilda me liga na manha cinza de um domingo. Cedo demais pra mim. A muito começo a não gostar de telefones. Eles sempre me dão péssimas notícias. Ligações de madrugada ou pela manhã cedo não podem ser boas.Pode ser um trauma, ouvi muitas ameaças por telefone.
Ela queria confessar-se. Eventualmente me aluga como seu pseudo-psicólogo, padre, pastor, pai de santo. Seu casamento estava desabando lentamente como um barranco velho, á muito tempo.
Que ela quer? Conselhos? Puta que pariu, não consegui manter nenhum relacionamento descente por mais de alguns meses. Mais por culpa minha. Aquilo certamente fazia parte da ressaca de domingo. No sábado rum, carne e solidão. Sentia-me realizado. E agora Gilda.
Minha voz matinal é a melhor, rouca e grave:
-Fale Gilda...diga lá o que houve? Bom dia ou não...
-Oi Fabiano, tudo bom? Como tu estás ?
Começo a rir.
-Você ligou pra saber como eu estou ?? Só isso, nossa quanta gentileza...faça o seguinte vá pro final da historia por favor...o tempo é sono...
-Tu ta mal humorado ?
-Deveria?
-Não, sabes como é, eu descobri outra amante do Julio...
-Porra, este cara é um Dom Juan, preciso falar com ele para descobrir o segredo.
Ela começa a chorar no telefone. Somos amigos de escola, ela sempre foi frágil demais. Emoções a flor da pele são um problema. Quem não cuida bem de suas melhores emoções naturalmente se ferra muito na vida. Sofre demais até entender como cuidar-se melhor. O telefone parecia diluir-se.
Não sentia pena ou mesmo ficava tocado. Mas precisava dizer alguma coisa.Ela queria ouvir alguma coisa. Minha vontade era mandá-la calar a boca. Mas minha educação é mais pela minha indiferença a estas coisas.
-Eí Gilda, se acalme, talvez seja o momento de você tomar uma atitude real, não é? Depois da terceira amante, creio que, ou você aceita e relaxa na boa com a concorrência. Ou dá um foda-se geral. Manda o cara embora e assume a encrenca. Mas é importante ter uma atitude clara para contigo mesma. Uma atitude nítida vai te deixar em paz de qualquer jeito. Tanto com uma ou com outra decisão.
-Pra ti é fácil falar. Tu nunca sentiu ciúme, nunca se sentiu traído, nunca deu bola pra isso.Se te traíssem tanto ta fazia. Nem sei se tu amou algum dia...
-Gilda a ressaca já é tediosa demais.Eu não tenho culpa do Julio gostar de comer outras. Eu gosto. Você não gostou do conselho, vá em paz e me deixe dormir.
-Tu não estas entendendo ou tu é um idiota mesmo. Quero sair contigo.
-Sei, agora? Que papo estranho.
-Não, mas quero fazer isso contigo.Tu é meu amigo não é ?
Tentei lembrar detalhes do corpo de Gilda. Ela era o tipo grande, alta e gorda. Era meio vesga. Estranhamente não senti vontade de trepar com ela. Defeitos físicos pra mim são virtudes. Acho que quanto mais defeitos melhor. E embora ela tivesse um olho no gato e outro no peixe, tinha boas tetas. Toquei no pau e nada aconteceu. Esse é um autentico termômetro.
-Esqueça Gilda. Creio que tens problemas pra resolver com o Julhão comedor.Depois que tua cabeça tiver melhor, bem quem sabe né...
Ela ainda chorava, fungava minhas entranhas pelo fone. Ressacas podem sempre ser pioradas. O fone ficou em silencio. Eu não tinha mais nada pra dizer que ela quisesse escutar. Minha cabeça doía, meu pau mole, queria dormir mais, e tudo que tinha era o silencio na linha.
-Desculpa Fabiano. Desculpa. Acho que não deveria ter ligado, eu precisava falar algo...desculpa.
-Tudo bem.
Ela desliga o telefone. Abro a janela, a manha cinza invade meu quarto. Conselhos matinais e de ressaca, para tudo terminar em uma trepada? Não no domingo. As vezes me esqueço de desligar o telefone, preciso lembrar disso com mais freqüência.

Luis Fabiano.
A paz é o telefone Off
.

sábado, agosto 28, 2010


Conversas Malditas:

Limpa a garganta e diz:
-Com toda licença poética.Tenho pra mim que as mulheres foram, são e se perpetuarão putas.
-É.
-O problema, é que antes faziam isso com mais graça, com mais beleza. Sutileza sensual. Hoje é só vulgaridade. Hoje é um açougue informal. Sem preliminares, a carne joga-se dos ganchos...
Risos.

Luís Fabiano.

sexta-feira, agosto 27, 2010

Pra mim a melhor da semana.
Encontrar Tim Maia é um grande prazer. Fechar a semana assim neste ritmo, com sua poderosa voz e a grande banda Vitória Régia, é fechar com chave de ouro.
Curtam devagar é muito bom.



Auge

Ela tossia com ardor
Os pulmões chiavam um pouco
E tudo estava bem
Era o auge
Agora caminhava na ponte
Olhava para baixo
Sorria para morte
Pular ou não
O auge
Ela me bate na face
Direita e esquerda
Cospe e sai de perto
Sou um verme, diz
Meu, teu auge
Vagava sem emprego
Sem amigos,
sem beijos ou abraços fáceis
Um papel na lixeira, mais um
Indiferente, inexistente
Auge
Respirava com dificuldade
O ultimo hausto chegava
Todos olhavam
A espera “dela” chegar
Fecha os olhos
Auge
Deitados na cama
O pau de chumbo
Não aponta o céu
Ela consola
Ele lamenta
Nada acontece
Auge
Nos olhamos pela última vez
Ela desaparece como vento
Eu fico e choro
Auge.

Luis Fabiano.

Cada um, com sua própria cruz

O sonho estava ótimo. Uma cachoeira que descia abundante sobre o vale. Eu me banhava em suas aguas caudalosas. Até aí tudo bem. Então a verdade quando acordei, estava mijado. Mais que uma criança de colo até o pescoço e sem fraldas.
Daniela que estava ao meu lado. Dormia pesado e bêbada. Nosso costume. Só foi dar-se conta aos quarenta e cinco do segundo tempo. Tomou um bom e cheiroso banho de mijo. A bem da verdade não fiquei chateado pelo xixi. Estas coisas a agua resolvem facilmente. Mas o sonho, aquela cachoeira dourada, o sol a pino, eu me sentindo purificado. Por fim a miserável realidade. Dei-me conta que é exatamente assim.
Irremediavelmente abro os olhos, digo:
-Puta merda...puta merda...que merda...
Neste meio tempo Daniela acordou. Foi como se tivesse tomado um choque na bunda, salta da cama pingando o dourado perfume. Sua expressão era profundamente transtornada. Com as mãos na cintura, e uma camisola transparente sexy. Ainda olhei detalhes.
-Que merda Fabiano, tu mijou tudo, olha isso aí...puta que pariu...
-Cerveja demais e poucas idas ao banheiro, desculpe.
-Desculpe? Levanta daí, que horror. Olha o cheiro. Um homem velho se mijando como bebê, tu não acha que já passou da idade ? Vais usar fraldas também ?
-Calma Dani. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Eu levo isso pra lavanderia e tudo certo. Que tanto problema?
-É a primeira vez e última. Esse é o teu problema Fabiano, nada é problema pra ti, nada...tudo tu acha normal tá tudo bem, deixe assim...és assim o tempo todo. O mundo pode tá se caindo e apenas dizes, tudo bem...tudo bem...
Senti que caminhava em túnel de merda escorredia. O mijo começava a gelar minha alma. E aquela discussão iria longe demais. Eu estava deitado e ficando sem paciência. Ela louca, e ambos molhados. Éramos irmãos. Começava a entender o significado da gota d’água que transborda o copo. Certamente um copo de mijo.
Fui levantando devagar ao som das marteladas de Dani. Não sei estou perdendo o sentido, mas não sentia nojo . Alias que eu me lembre não sinto nojo de nada, destas coisas palpáveis. Meu nojo é subjetivo. Sinto nojo das torpes intenções humanas. Da mão oculta que bate, e se esconde.
A verdade porem é que Dani bebia tanto quanto eu. E agora tentava moralizar a situação. A hipocrisia dela me causava asco. Se tivesse sido o contrário, eu beberia até a última gota do xixi dela, com todo prazer, rindo. Besteira.
Fui pro banheiro, tirei a camiseta, a única peça que estava. Ela reclamava dos lençóis, do travesseiro, do colchão, tudo molhado. Eu queria rir mas era impossível. Seria colocar gasolina no incêndio. Afinal de contas eu já tinha mijado em outras camas.
-Olha isso, tu tá mijando tudo onde tu caminhas, cara que merda cara, olha isso...
Sonhos perdidos. Dani e eu estávamos em final de carreira. Algumas noite e ambos morremos. Ela me suportava na casa dela. Achou que eu era um homem perfeito por uns dias. Sempre acham isso. Esquecem completamente que minha educação e gentileza, procedem mais de meu desprezo, que de supostas qualidades que tenha.
Por fim Dani dispara:
-Chega, pra mim chega. Tu me desculpa, mas acho que deve pegar tuas roupinhas e ir embora agora.
-Tudo bem.
Já esperava isso. O sonho sempre é algo mais brilhante e colorido. A realidade mesmo rica é sempre miserável e pobre, perde para imaginação. Fico com a miséria, ela é turva, grosseira e muitas vezes deturpada. Mas eventualmente algo ali brilha, algo nos encanta, algo nos faz ver estrelas por um segundo. É por isso que vivo, para tentar ver estrelas.

Luís Fabiano.
A paz brilha um instante e satisfaz tudo.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Para lembrar: Mais uma vez Tarantino e a grande Salma Hayek.
Dance diaba, dance com a cobra nas mãos. O filme é Um Drink No Inferno. Eu sugaria a unha do pé dela suja.



quarta-feira, agosto 25, 2010


Pérola do dia:

“ O que sinto não condiz com o que penso, que também não condiz com o que sou. ”

Fabiano.
Saudade

Ontem fui
Hoje sei
Amanha não
Caçador de estrelas vazias, cálidas
Passos lentos,
sem destino
Tenho o que sou, nada mais
Quero respirar profundamente
Deixar que as feridas sequem ao vento
E que elas brilhem, depois
Me afaguem talvez
como outrora
Ainda sem querer
Apenas sejam o que são.
Uma coisa apenas
No final
Seja eu.

Luís Fabiano.

Nem melhor, nem pior.

Quando olhei nos seus olhos, entendi em um segundo o que suas palavras não conseguiam expressar. E aí você não sabe exatamente o que é o melhor ou tão pouco o pior. Pensei que tudo resumia-se a ser certo ou errado.
Conheci Matilda e percebi que tudo nela, tinha um cheiro de artificialismo. A verdade tem cheiro característico. Nem sempre é bom. As vezes é um peido azedo, doutras cheiro de mar e salino. Lembro que ela detestava o próprio corpo gordo. Eram reclamações e mais reclamações. Uma ladainha interminável.
Dei atenção nos primeiros momentos. Depois aquilo tornou-se uma mesa de centro. Sabemos que tá ali, mas não tem a menor importância. Creio que foi aí que os dentes dela começaram a aparecer . Fui dando-me conta que era uma autentica filha da puta. Ou talvez ela fosse apenas tão egoísta como eu. O que nos tornava iguais. Gosto dos filhos da puta.
A verdade que Matilda não era bonita. Mas eu nunca fui muito bom nisso. Beleza estética. Olho tudo com outros olhos. Além do mais, ela não iria passar de uma namorada. Tive, tenho e terei muitas mulheres. Ela queria subir de posto. Queria noivado e toda a porra. Queria amor eterno, casamento e dividir a merda toda. Não tenho mais disposição para isso. Aprendi a olhar para tudo e todos, como tivessem cem anos. Em cem anos nada é o que é e nem tem tanta importância assim.
Não suportei a cotidiana irritação e cobrança dela. Um belo dia tivemos uma conversa frontal como uma guerra anunciada:
-Quando nós vamos casar Fabiano?
-Nunca.
-Como assim? Porque ?Que isso?
-Eu não pretendo casar, nem contigo e nem com ninguém. Não creio mais em nada disso, meus sonhos emocionais estão mortos.

Alí lágrimas demais, amargura e pura decepção. Ela me deu uma porrada na cara por iludi-la. Nunca prometo nada, por isso fico livre. Não consegui ficar bravo com ela. Chorava copiosamente, transformando a maquiagem em uma pintura. Era uma Monalisa borrada. Os olhos negros, manchados, por fim me expulsou porta fora. Me deixei levar fácil. Não sentia-me culpado. Achei que aquilo era o fim. Mais um fim.
Comigo o fim nunca é exatamente o fim. Sempre existem rebarbas, arremates. Todos geralmente cansativos e regados a mais lágrimas. As trepadas descontroladas, os gritos, novos xingamentos e por fim uma briga final. Todas seguiram este padrão. Sou bom de criar padrões. No final sempre se comportam da mesma maneira. Então mais ódio. Eu as deformo pelos meus defeitos.
Nunca mais vi Matilda. Nosso ultimo encontro, trepamos e depois ela imaginou que uma trepada dava direitos as diretrizes deu meu coração. Isso não existe. Não tenho nem coração e nem tão pouco diretrizes. Vivo o que surge e neste interim é impossível controlar-me.
Depois que saímos do motel a deixei em casa, ela dispara:
-Então amanha nos vemos? Poderíamos almoçar juntos, como antes...
Ela queria o passado. Fazíamos muito isso. Passado deve estar sempre bem enterrado. Apenas respondi:
-Não iremos almoçar. Não como fazíamos antes. Nada é como era antes. Um dia agente torna a sair novamente se tu quiser. E nada mais.
-Mais que merda Fabiano...tu és um merda. Tu não leva nada a sério. Ninguém pode confiar em ti.
-Ei calma, tudo isso por um foda? Confiança?
Ela desce do carro, e da maior porrada com a porta. A porta ficou inteira. E esse foi nosso fim. Uma viagem dramática repleta de chateações. Isso é uma marca de minhas relações. Depois em alguns casos mais graves, vêm as depressões, alguma doença somática e em alguns casos a loucura. Acho que sou uma espécie de veneno.
Matilda ainda estava gordinha naquele dia. Vestia-se bem e usava um perfume chamado Anais-Anais. Creio que o perfume era uma ironia. Ela não gostava de sexo anal. Fresca demais. Certamente que não iriamos casar. Não tinha nada suficiente. Nem amor, nem cumplicidade, nem mesmo dividimos os peidos um com o outro. Tinha vergonha de mijar na minha frente. Tais coisas são sempre a ponta de iceberg.
Hoje a reencontrei. Sem duvida ela não é mais mesma. Pelo tom de nossa conversa ainda continua sendo uma filha da puta. Apenas uma filha da puta doente. Mas essencialmente ainda é a mesma. Eu fazia minha caminhada poética. Quando vi aquela mulher seca, arrastando-se como um caracol sem brilho. A reconheci pelo rosto. Ainda veste-se bem. Porem não tem mais graça.
-Oi Matilda...tudo bom ?
-Oi Fabiano, tudo bem, vamos indo..né...
Pela resposta, precisava dizer mais alguma coisa? Me preparei para ouvir, o que mais as pessoas sabem fazer. Contar suas tragédias. Ninguém conta nada bom. Todos são enfáticos, viscerais ao colocar suas merdas na vitrine existencial. Lambuzam-se de merda, esfregam nos transeuntes, um autêntico show de misérias.
-Que houve Matilda?
-Tô doente.
-Bom, isso dependendo do que for pode se lutar e ficar bom.
-Esse é o inicio do problema, tenho uma doença desconhecida. Me deixa fraca, sem energia e por vezes dá dores em todos os ossos. Fiz diversos exames e nada. Tudo é um mistério. Vários exames que fiz deram que estou normal. Olha pra mim? To normal? Tem gente pensando que estou inventando, que estou louca...louca...tu acha que estou louca ?? Hein?
Não deveria mas acabei rindo. Todos os loucos dizem que são normais.
-Não Matilda, porem agora estas com o corpo que sempre quisesse ter não é mesmo ? Lembra? Tu dizias que queria ficar bem magrinha...
Começa a chorar como uma criança. Acho que arranquei a casca de uma ferida. Faço isso sem querer ás vezes. Cada vez que tento ser Poliana é um autentico desastre.Por isso passei a me abster de ser gentil ou mesmo educado. Passo um bom verniz em mim, todos acreditam no que veem, e isso basta. A vida segue feliz.
Achei melhor ir embora. Uma educação limpa como papel higiênico no rolo. Disse:
-Desculpe Maltida. Não foi minha intenção provocar nada.
-Tu sempre dizes isso ( fungando o nariz)...é impressionante ..
-Matilda, não dê uma de coveiro as avessas.
-Idiota.
Não iria discutir mais nada. Desta vez sem adeus. Tardes poéticas convertem-se em tarde de inferno em um piscar de olhos. O sol morria lentamente, Monalisa anoréxica, chorava como uma tempestade sem fim, merdas nas esquinas, todos passando batidos e correndo. Nem beleza, nem luar. Porque sempre tem que ser assim? Deixei-a para trás, mas já estava todo vomitado.

Luis Fabiano.
Cave um pouco em você mesmo, e encontrará merda fresca.

terça-feira, agosto 24, 2010




Ela chega venenosa
Vestido negro
Sem sutiã
Bicos de ferro
Calcinha enfiada nas carnes
Autêntico tanque de guerra
Um pelotão de fuzilamento
Eu ali
Sempre quis morrer
Conheço todos os jogos
Seu andar doce mente tudo
O Toque do salto
Perfura meu coração
Rasga minha mente
Como facas a procura da alma
Sabemos onde isso nos leva
O pior é sempre saber onde isso nos leva.

Luís Fabiano.

segunda-feira, agosto 23, 2010


Uma noite, perdas e ganhos.

Existem dias que não deveriam existir. Seria melhor para todos. Dias em que os peidos fedem mais, o arroto trás o gosto de bílis. E por mais que você tome banho, á sujeira ficará encrustada em sua alma.
Tem dias que não gosto de tomar banho. Já tive mais disso. Com a idade e a necessidade, você vai perdendo certos vícios. Moldando-se a tudo, até não mais saber quem você é. Para melhor e para pior. Não pense que estou exagerando. Um olhar calmo e frio sobre isso, perceberás a mão oculta o empurrando.
Naquele dia realmente não estava de boa vontade com nada. Tinha que ir ao um casamento. Destas coisas sociais e familiares, que todos gostam de ir, para supostamente prestigiar os noivos. Mas sabemos que é uma cortesia paga com comida e bebida. No fundo é assim.
Então tratei de dar um jeito no meu terno. Creio que fiz mais isso em consideração a minha mãe e irmã. Porque pelo restante de minha família. eu não tenho vamos dizer assim, muita afinidade. Eles não gostam de mim e nem eu deles. Nos suportamos educadamente. Me taxam como a grande maioria das pessoas que me conhecem. Me chamam: louco.
A algum tempo atrás me sentia ofendido. Fui dando-me conta de minha idiotice. Hoje não sinto mais assim, muitas coisas. Gosto de gente sincera. Hoje o que me ofende é a emulação, a mentira a simulação. Isso me incomoda drasticamente. Porque percebo o ar daquilo que não é. Embora existam mentirosos muito bons. Conheço alguns.
Eu já estava um pouco mais irritado a tarde. Não sei bem porque. Tratei não preocupar-me.Não tenho pretensão de saber todos os detalhes de mim e de ninguém. O terno ficou em boas condições e pronto. Preto como um anú, discreto e com a gravata italiana dava um toque especial. Tornar-me invisível.
Quando abro a porta do quarto, meus familiares elogiam. Meu humor havia acabado definitivamente. Estava quase arrependido de ter aceito ir. Fomos para o casamento.
A igreja cheia dava mostras da importância. Para passar o tempo, fiquei lembrando da despedida de solteiro de um amigo. Ali estava mais agradável. Tinha cerveja, cinco mulheres, quinze caras. As putinhas sobre uma mesa, rebolando de fio dental enterrado em suas carnes, suando, e de vez em quando mostravam a xoxota. Cinco belas xoxotas. Me senti no paraíso. Apenas vê-las assim, me fez bem. Tão saudáveis, mexendo com graça suas bundinhas e tetinhas. Que pode ser melhor? Fiquei sentado observando, enquanto elas se esfregavam no noivo e nos amigos. Era uma satisfação da alma, meu pau não subiu.
Voltei a mim. Encontrei muita gente na igreja. Estranhamente muitos supostos inimigos meus. Eu não tenho inimigos. Eles que acham que sou. Não posso fazer nada. Mas sabia que aquela noite não poderia terminar melhor que aquilo. Azar, foda-se.
Encontrei um primo em segundo grau, que havia namorado uma de minhas ex-esposas, era apaixonado por ela. Dava em cima dela sempre. Ao menos queria comê-la. Ele me chamava de perdedor, fracassado, boçal e idiota. Hoje estava casado com outra mulher. Será que deveria me vingar? Deixa pra lá. O cara me olhou e não cumprimentou. Eu disse boa noite e olhei para linda bunda de sua esposa. Ficou nisso mesmo.
Bem a cerimonia foi boa, porem demorada. De minha parte eu olhava todo o cortejo por detrás das aparências. Um filme por detrás do filme. Isso que me interessa. A maioria das pessoas que ali estavam, eram frequentadores de todas as espécies de cultos afro-brasileiros. Tínhamos um amplo cardápio: umbandistas, quimbandistas, candomblé, nação e outros que desconheço a nomenclatura.
Todos faziam a sinal da cruz de Jesus, com cara de católicos praticantes desde a infância. Sorri para mim mesmo. Bem, talvez eles sejam melhores que eu, afinal creem alguma coisa. Minha crença esta seca a muito, como um deserto. Vivo por minhas idéias, é tudo que tenho.
Finalmente a cerimonia acaba. Todos saem felizes e querendo respirar na rua. Meu mau humor, a gravata, a garganta seca. Fui levando tudo para festa. Creio que ali foi a pá de cal. Nos sentamos todos bonitinhos em cadeiras muito arrumadas. Todos comportando-se como não se comportavam na vida real. Tudo demais, educação demais, gentileza demais e pose demais. Inclusive minha mãe. Tudo tão certinho, tudo tão correto, tudo tão perfeito. Me senti cansado e mais que irritado. A culpa era minha. Talvez até pudesse abstrair disso. Tenho facilidade para isso. Finjo muito bem. Mas não hoje, não estava afim de negociar comigo mesmo.
Dei um tempo estratégico na festa, o suficiente para noivos chegarem, cumprimentar e desaparecer mais rápidos que um jato de porra. Já estava pensando no que iria fazer. Tirar aquela roupa, ir solitariamente para uma churrascaria. Minha irmã tenta tirar uma foto, quer que eu sorria. Impossível, não gosto de sorrisos para fotos. Gosto de sorrisos naturais.
Por fim consigo sair da festa ileso ou quase. Chego até meu carro e tem um bilhete no vidro. Que isso? Nele estava escrito: Eu vou te matar, podes esperar.
Não estava assinado, mas parecia uma brincadeira ou não. Apenas pensei: ei amigo entre na lista. Deixe o perdedor em paz. Amassei e joguei fora na rua.
Fui para casa tirar a roupa. Me livrei dela. Vesti um bom jeans, uma camiseta e uma jaqueta. Estava perfeito. Fui a pé para churrascaria. Estou saindo do apartamento para rua, sou atacado por um cara desconhecido:
-E aí dos meu, me consegue ai algo pra mim?
-Não tenho.
-Que isso dos meu, vais me quebra essa aí? To precisando pro leite das criança.
-Cara hoje não tenho.
-Que isso cara, tais te fazendo aí...sei que tu tens... deixa eu ver ai...
-Sai cara.
Então esse cara que não sei de onde saiu, me puxa pela jaqueta. Imediatamente agi, fiz totalmente sem pensar, dei um soco que lhe pegou no queixo. Ele cai no chão. Foi muito rápido e um bom soco. Imaginei que o filho da puta fosse levantar. Mas estava a disposto a pisoteá-lo se ele fizesse menção disso. Mas não, ele apenas rosnou:
-Tá cara deu...não precisava isso...pra que isso...sai fora...
Não pedi desculpas. Não me sentia arrependido, o cara não deu-se conta que aquele sábado a noite, ele era a literalmente a gota d’água. Quando você esta no limite, as vezes pode acontecer isso. Você acaba ferindo, mas depois já e tarde demais. Pela adrenalina do momento minha irritação havia passado. Na verdade sentia-me feliz, consciência em paz. Segui pra churrascaria, sentia a alma leve. Hoje eu não havia perdido, hoje não.

Luís Fabiano.
Perca tudo na vida, mas não se perca da paz.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Pra fechar a semana então Pedro luis e a Parede cantando Bezerra da Silva - O verdadeiro Canalha,

Manchas e um poodle


Manchas e um poodle.

A mente por vezes é uma enorme catapulta. Você pensa em algo, imediatamente é lançado pra lá. Com toda a pose e achaques. Com as bênçãos de Deus ou as maldições do diabo. Tudo isso fez sentido quando eu olhei um punhado de merda seca, entre as roupas dela. Longa historia.
Eu dirigia devagar, gosto de andar devagar e pensando. Lá estava eu indo atender mais uma cliente. Não quero entrar nos detalhes de minhas clientes. Mas, mais de noventa por cento dos meus clientes são mulheres. Dei-me conta disso estes dias. Sou muito lento para perceber as coisas.
Não sei se significa alguma coisa. Mas mesmo que eu não toque em todas, me sinto bem próximo. Gosto de mulheres. Todos os tipos, expressões e formas. Não tenho preconceitos.
Cem por cento delas está só, ou pelo menos não tem marido. São separadas, possuem namorados esporádicos, uma trepada ou outra, mas nada sério.
Todas frequentam falidas páginas de relacionamento. Algumas tem um desespero quase incontido. Como uma incontinência urinaria. Outras realmente piraram a muito. Solidão demais eu acho. Nada pior que uma buceta lagrimosa, a espera de seu pau encantado que nunca vem. É o que mais tem.
Fui lembrando de características semelhantes entre elas. Todas possuem animais de estimação. Cães ou gatos. Costumam trata-los melhor que de crianças abandonadas ou mendigos do inferno. Falam como se os bichos fossem bebês.
Tive muitas surpresas ao atendê-las. Uma vez, uma me esperou de robe em cetim rosado. Não tinha nada por baixo. A garrafa de vinho já tinha passado da metade. Ela queria, eu fiquei afim, sou sensível. Não arrumei o computador, mas sujamos a sala dela de vinho e porra. Boa cliente, ainda pagou.
Deixo os pensamentos inúteis para trás. Chego á casa da cliente. Um bom apartamento no centro da cidade. Ela fazia o mesmo perfil. A idade estava chegando, a queda hormonal fatal, começava a aplicar-lhe os primeiros golpes.
Os olhos opacos, as peles sem viço, uma planta cuja a raiz vai secando. Ela poderia resolver isso facilmente. Mas parecia não querer. Um pouco deprimida. Ficou um pouco jogada depois que o marido a trocou por uma de vinte. Clássico perfil imbecil masculino.
Lembrei de Lucrécia, uma amiga. Hoje com quase setenta anos. Eventualmente ainda nos pegamos, ela gosta de sexo e faz muito bem. E nada de xoxota com textura de lixa. É melada, muito melada, uma moça de vinte anos. Geme como uma égua no cio enquanto suas carnes balançam ao som da batida de minhas bolas.
Toco a campainha.
-Oi Fabiano, tudo bom ? Vai entrando...
-Tudo tranquilo.
Entrei e ela me levou ao seu quarto, onde estava o computador. Falou dos problemas que estava apresentando. O quarto estava bagunçado. Roupas atiradas na cama. Disse pra mim não reparar aquilo. Realmente não reparo. Falou pra mim ficar bem a vontade(ela não sabe o que esta dizendo), pois iria para o banho. Fiquei.
O concerto foi relativamente rápido. Porem não pude deixar de notar uma calcinha usada sobre a cama. Azulzinha e sujinha, com detalhes em renda e pequena, muito pequena.
Arrastado pela curiosidade e instintos animais, a peguei da cama. Coloquei direto no meu nariz. Um cheiro forte, acre, denso maravilhoso. Senti-me transportado ao céu. Abri a pequena peça, ela estava manchada. Um pouquinho de merda seca, e algo amarelado na parte frontal. Mijo ou gozo.
No quarto pequeno poodle, me olhava curioso. Apenas levantava as orelhas mas não fazia nada. Se fosse um pitbull? Coloquei a peça onde estava. A cliente surge enrolada em uma toalha de banho.
Porque ela fez isso? Disse que havia esquecido de mim, e se desculpa. Tudo bem. Pra mim é normal todos me esquecem, mais rápido que um jato de mijo.
Ela pega a roupa e vai para outro quarto vestir-se. Quando volta dá-se conta da calcinha suja e tenta recolhe-la com descrição. Mas meu olhar é fatal. Ela sorri sem graça. E pede desculpas. Digo:
-Tudo bem, acontece, fique a vontade.
-Quanto é?
Pensei em dizer: é sessenta e mais a essa calcinha suja aí. Mas fiquei só no sessenta mesmo. Hoje eu fiquei só no sessenta. Acho que eu deveria ter gozado naquela calcinha.
Luís Fabiano.

Eis tudo que vejo

Tento olhar para os fatos da vida com certa calma. Muito embora algo rosne dentro de minhas tripas. Uma calma simulada muitas vezes. Maquiagem de puro desespero. Penso: não queria que assim fosse .
Olho a face das pessoas, as que conheço, as estranhas e as outras. Semelhantes trágicos que todos carregamos em algum lugar. Limpos, bonitos, bem vestidos e andrajosos. Não julgo nada. Sou mais um leproso entre leprosos. Uma alma cansada, entre os pilares de nossa pseudo sociedade perfeita. Caminhamos todos juntos, tentando não enlouquecer. Apenas tentando.
Naquela esquina, vi a farsa que permeia as relações humanas. Olhei-a nos olhos. A mão que se esconde ferina em tapa oculto. Os dentes afiados como navalhas, escondidos prontos para rasgar. Reconheço que os justos também estão por ai. Mas onde estão ? Que não os vejo? Que ninguém os vê? Quem os vê?
E isso é o espelho de tudo. Da sociedade, das instituições, da autoridade, da ciência. E todo o resto que aplaude.
Então ele foi pra casa. Era exemplar pai de família. Sua amante ficou na esquina sorridente com a calcinha enfiada no rabo, o próximo encontro. Ele faz pompas de sua irrefutável moral.Um faz de conta de si mesmo. Sua esposa acredita, os filhos acreditam. Eu também.
Ela defende o criminoso. Sabe de sua verdade, seus motivos, sua crueldade, insanidade e oque for. Ele é preso, ele é estuprado, ele é tratado como lixo, ele é um animal que ficará pior. Ele guarda a raiva em si, um dia sairá. Nada tem a perder. Nem eu. E você?
A instituição faz de conta que funciona. As pessoas fazem de conta que é justa. E todos nós aceitamos porque também fazemos de conta que acreditamos.
O outro comete o mesmo crime. O dinheiro entope-lhe o rabo. Um melhor advogado, uma melhor estrutura, a justiça já não é a mesma. Nada de igualdade, vamos com calma Doutor... Quer um cafézinho? É possível abrandar a pena, o senhor é membro ilustre da sociedade? Então. Fique tranquilo, eu também sou.
Ela adoece. O hospital estrangulado, agonizando vomitando gente por todos os lados. Que dor forte, mas não é urgente aparentemente. O olhar rápido do atendente, não vê nada. Nem sangue, nem saliva, nem coração.
Tecla seu maldito computador. Que merda, o sistema parou? Vamos reiniciar tudo novamente. Espere um pouco ok? Na fila. Um pouco. Eu espero.
A ambulância grita, pedaços humanos destruídos, fragmentados. Horrível acidente. Tudo se perdeu. Ela ainda esta ali, mas agora já pode morrer, que Deus a receba nos portões do céu, por que a terra a dispensou, foda-se. A mim também.
Médicos saem pra fumar, cagar, mijar. Fumam. Mas não é estranho? Alguém que me diz que não fume, e fuma? Não fume você se filho da puta, me deixe em paz. Ninguém acredita nele e em ninguém. Tudo assim. Um faz de conta que a saúde é importante, mas não tanto assim. Talvez um dia seja. Porque nada é tão importante. Nem eu e nem você.
Chego em meu serviço. O chefe enlouquecido, com raiva do mundo, com raiva da vida, com raiva de Deus. Desconta em mim, e em todos. Teve uma ejaculação precoce a noite passada, uma broxada talvez, ou qualquer outra coisa assim, que importa o motivo. Precisa motivo? O amor por sua mulher acabou, ele finge que ama, ela finge que acredita. Alguém precisa levar a culpa disso. Todos levamos, esta dentro do salário.
Tem mais, sempre tem mais. Olho políticos bem vestidos, bonitos quase feitos de plástico. Sorriso pronto e eterno, com uma caneta na mão mais potente que um AR-15. Uma assinatura e tudo feito, limpo. Acabam as economias para saúde, emprego, segurança. Não é assim? Estamos pensando em vocês eleitores! Não conseguimos dormir, o estado é o pai. Um pai ausente que mata por subterfúgios, por omissão, pelo silencio. Mais um dos que fingem que as coisas funcionam. Não funcionam. A politica é a maneira de dizer que as coisas funcionam sem funcionarem. No fundo são todos iguais.
Ambulâncias que gritam, amante sorrindo na esquina, criminoso não arrependido, médicos fumantes, computadores de merda que travam, instituições falidas.
É preciso olhar com piedade para todos. Não sei como. Nada de ser bom samaritanismo. Mas é preciso entender a fragilidade do ser humano. Sua débil vontade. Lutamos para que as coisas deem certo. Mas no fundo sabemos que nem sempre é assim. O pênalti é cobrado pra fora. O soco pega no queixo,nocout. E precisamos dormir descansar.

Luis Fabiano.
Hoje,paz o caralho.