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segunda-feira, agosto 23, 2010


Uma noite, perdas e ganhos.

Existem dias que não deveriam existir. Seria melhor para todos. Dias em que os peidos fedem mais, o arroto trás o gosto de bílis. E por mais que você tome banho, á sujeira ficará encrustada em sua alma.
Tem dias que não gosto de tomar banho. Já tive mais disso. Com a idade e a necessidade, você vai perdendo certos vícios. Moldando-se a tudo, até não mais saber quem você é. Para melhor e para pior. Não pense que estou exagerando. Um olhar calmo e frio sobre isso, perceberás a mão oculta o empurrando.
Naquele dia realmente não estava de boa vontade com nada. Tinha que ir ao um casamento. Destas coisas sociais e familiares, que todos gostam de ir, para supostamente prestigiar os noivos. Mas sabemos que é uma cortesia paga com comida e bebida. No fundo é assim.
Então tratei de dar um jeito no meu terno. Creio que fiz mais isso em consideração a minha mãe e irmã. Porque pelo restante de minha família. eu não tenho vamos dizer assim, muita afinidade. Eles não gostam de mim e nem eu deles. Nos suportamos educadamente. Me taxam como a grande maioria das pessoas que me conhecem. Me chamam: louco.
A algum tempo atrás me sentia ofendido. Fui dando-me conta de minha idiotice. Hoje não sinto mais assim, muitas coisas. Gosto de gente sincera. Hoje o que me ofende é a emulação, a mentira a simulação. Isso me incomoda drasticamente. Porque percebo o ar daquilo que não é. Embora existam mentirosos muito bons. Conheço alguns.
Eu já estava um pouco mais irritado a tarde. Não sei bem porque. Tratei não preocupar-me.Não tenho pretensão de saber todos os detalhes de mim e de ninguém. O terno ficou em boas condições e pronto. Preto como um anú, discreto e com a gravata italiana dava um toque especial. Tornar-me invisível.
Quando abro a porta do quarto, meus familiares elogiam. Meu humor havia acabado definitivamente. Estava quase arrependido de ter aceito ir. Fomos para o casamento.
A igreja cheia dava mostras da importância. Para passar o tempo, fiquei lembrando da despedida de solteiro de um amigo. Ali estava mais agradável. Tinha cerveja, cinco mulheres, quinze caras. As putinhas sobre uma mesa, rebolando de fio dental enterrado em suas carnes, suando, e de vez em quando mostravam a xoxota. Cinco belas xoxotas. Me senti no paraíso. Apenas vê-las assim, me fez bem. Tão saudáveis, mexendo com graça suas bundinhas e tetinhas. Que pode ser melhor? Fiquei sentado observando, enquanto elas se esfregavam no noivo e nos amigos. Era uma satisfação da alma, meu pau não subiu.
Voltei a mim. Encontrei muita gente na igreja. Estranhamente muitos supostos inimigos meus. Eu não tenho inimigos. Eles que acham que sou. Não posso fazer nada. Mas sabia que aquela noite não poderia terminar melhor que aquilo. Azar, foda-se.
Encontrei um primo em segundo grau, que havia namorado uma de minhas ex-esposas, era apaixonado por ela. Dava em cima dela sempre. Ao menos queria comê-la. Ele me chamava de perdedor, fracassado, boçal e idiota. Hoje estava casado com outra mulher. Será que deveria me vingar? Deixa pra lá. O cara me olhou e não cumprimentou. Eu disse boa noite e olhei para linda bunda de sua esposa. Ficou nisso mesmo.
Bem a cerimonia foi boa, porem demorada. De minha parte eu olhava todo o cortejo por detrás das aparências. Um filme por detrás do filme. Isso que me interessa. A maioria das pessoas que ali estavam, eram frequentadores de todas as espécies de cultos afro-brasileiros. Tínhamos um amplo cardápio: umbandistas, quimbandistas, candomblé, nação e outros que desconheço a nomenclatura.
Todos faziam a sinal da cruz de Jesus, com cara de católicos praticantes desde a infância. Sorri para mim mesmo. Bem, talvez eles sejam melhores que eu, afinal creem alguma coisa. Minha crença esta seca a muito, como um deserto. Vivo por minhas idéias, é tudo que tenho.
Finalmente a cerimonia acaba. Todos saem felizes e querendo respirar na rua. Meu mau humor, a gravata, a garganta seca. Fui levando tudo para festa. Creio que ali foi a pá de cal. Nos sentamos todos bonitinhos em cadeiras muito arrumadas. Todos comportando-se como não se comportavam na vida real. Tudo demais, educação demais, gentileza demais e pose demais. Inclusive minha mãe. Tudo tão certinho, tudo tão correto, tudo tão perfeito. Me senti cansado e mais que irritado. A culpa era minha. Talvez até pudesse abstrair disso. Tenho facilidade para isso. Finjo muito bem. Mas não hoje, não estava afim de negociar comigo mesmo.
Dei um tempo estratégico na festa, o suficiente para noivos chegarem, cumprimentar e desaparecer mais rápidos que um jato de porra. Já estava pensando no que iria fazer. Tirar aquela roupa, ir solitariamente para uma churrascaria. Minha irmã tenta tirar uma foto, quer que eu sorria. Impossível, não gosto de sorrisos para fotos. Gosto de sorrisos naturais.
Por fim consigo sair da festa ileso ou quase. Chego até meu carro e tem um bilhete no vidro. Que isso? Nele estava escrito: Eu vou te matar, podes esperar.
Não estava assinado, mas parecia uma brincadeira ou não. Apenas pensei: ei amigo entre na lista. Deixe o perdedor em paz. Amassei e joguei fora na rua.
Fui para casa tirar a roupa. Me livrei dela. Vesti um bom jeans, uma camiseta e uma jaqueta. Estava perfeito. Fui a pé para churrascaria. Estou saindo do apartamento para rua, sou atacado por um cara desconhecido:
-E aí dos meu, me consegue ai algo pra mim?
-Não tenho.
-Que isso dos meu, vais me quebra essa aí? To precisando pro leite das criança.
-Cara hoje não tenho.
-Que isso cara, tais te fazendo aí...sei que tu tens... deixa eu ver ai...
-Sai cara.
Então esse cara que não sei de onde saiu, me puxa pela jaqueta. Imediatamente agi, fiz totalmente sem pensar, dei um soco que lhe pegou no queixo. Ele cai no chão. Foi muito rápido e um bom soco. Imaginei que o filho da puta fosse levantar. Mas estava a disposto a pisoteá-lo se ele fizesse menção disso. Mas não, ele apenas rosnou:
-Tá cara deu...não precisava isso...pra que isso...sai fora...
Não pedi desculpas. Não me sentia arrependido, o cara não deu-se conta que aquele sábado a noite, ele era a literalmente a gota d’água. Quando você esta no limite, as vezes pode acontecer isso. Você acaba ferindo, mas depois já e tarde demais. Pela adrenalina do momento minha irritação havia passado. Na verdade sentia-me feliz, consciência em paz. Segui pra churrascaria, sentia a alma leve. Hoje eu não havia perdido, hoje não.

Luís Fabiano.
Perca tudo na vida, mas não se perca da paz.

Um comentário:

Dóris disse...

Festas de casamento, aniversário são sempre chatas...salvo algumas excessões. Prefiro ser convidada para este tipo de festas por "estranhos" do que por parentes.

Menos mal que sua noite terminou bem...rs rs rs,saiu a francesa da tal festa, e a caminho da churrascaria ainda conseguiu dar uma porrada num pedinte.
A PAZ interior é tudo que precisamos...não se perca da sua.

Abraço cheio de PAZ.